terça-feira, 27 de maio de 2014

Discurso do Papa na visita ao presidente de Israel


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA
DISCURSO
Visita de cortesia ao Presidente do Estado de Israel 
no Palácio Presidencial em Jerusalém
Segunda-feira, 26 de maio de 2014

Senhor Presidente,

Excelências,

Senhoras e Senhores!

Estou-lhe grato, Senhor Presidente, pela recepção que me reservou e pelas suas amáveis expressões de boas-vindas e sinto-me feliz por poder encontrá-lo de novo aqui em Jerusalém, cidade que guarda os Lugares Santos caros às três grandes religiões que adoram o Deus que chamou Abraão. Os Lugares Santos não são museus nem monumentos para turistas, mas lugares onde as comunidades dos crentes vivem a sua fé, a sua cultura, as suas iniciativas de caridade. Por isso, devem ser salvaguardados perpetuamente na sua sacralidade, protegendo assim não só o legado do passado, mas também as pessoas que os frequentam hoje e hão-de frequentá-los no futuro. Que Jerusalém seja verdadeiramente a Cidade da paz! Que resplandeçam plenamente a sua identidade e o seu carácter sagrado, o seu valor religioso e cultural universal, como tesouro para toda a humanidade! Como é belo quando os peregrinos e os residentes podem aceder livremente aos Lugares Santos e participar nas celebrações!

O Senhor Presidente é conhecido como homem de paz e artífice de paz. Exprimo-lhe o meu reconhecimento e a minha admiração por esta sua posição. A construção da paz exige, antes de mais nada, o respeito pela liberdade e a dignidade de cada pessoa humana, que judeus, cristãos e muçulmanos acreditam igualmente ser criada por Deus e destinada à vida eterna. A partir deste ponto firme que temos em comum, é possível prosseguir o compromisso por uma solução pacífica das controvérsias e conflitos. A este propósito, renovo os meus votos de que se evitem, por parte de todos, iniciativas e acções que contradizem a declarada vontade de chegar a um verdadeiro acordo e de que não nos cansemos de buscar a paz com determinação e coerência.

Há que rejeitar, firmemente, tudo o que se opõe à prossecução da paz e duma convivência respeitosa entre judeus, cristãos e muçulmanos: o recurso à violência e ao terrorismo, qualquer género de discriminação por motivos raciais ou religiosos, a pretensão de impor o próprio ponto de vista em detrimento dos direitos alheios, o anti-semitismo em todas as suas formas possíveis, bem como a violência ou as manifestações de intolerância contra pessoas ou lugares de culto judeus, cristãos e muçulmanos.

Discurso do Papa na visita ao memorial do Holocausto


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA
DISCURSO
VISITA AO MEMORIAL DE YAD VASHEM 
– MEMORIAL DO HOLOCAUSTO -
Segunda-feira, 26 de maio de 2014

«Adão, onde estás?» (cf. Gen 3, 9).

Onde estás, ó homem? Onde foste parar?

Neste lugar, memorial do Shoah, ouvimos ressoar esta pergunta de Deus: «Adão, onde estás?».

Nesta pergunta, há toda a dor do Pai que perdeu o filho.

O Pai conhecia o risco da liberdade; sabia que o filho teria podido perder-se… mas talvez nem mesmo o Pai podia imaginar uma tal queda, um tal abismo!

Aquele grito «onde estás?» ressoa aqui, perante a tragédia incomensurável do Holocausto, como uma voz que se perde num abismo sem fundo…

Homem, quem és? Já não te reconheço.

Quem és, ó homem? Quem te tornaste?

De que horrores foste capaz?

Que foi que te fez cair tão baixo?

Não foi o pó da terra, da qual foste tirado. O pó da terra é coisa boa, obra das minhas mãos.

Não foi o sopro de vida que insuflei nas tuas narinas. Aquele sopro vem de Mim, é algo muito bom (cf. Gen 2, 7).

Não, este abismo não pode ser somente obra tua, das tuas mãos, do teu coração… Quem te corrompeu? Quem te desfigurou?

Quem te contagiou a presunção de te apoderares do bem e do mal?

Quem te convenceu que eras deus? Não só torturaste e assassinaste os teus irmãos, mas ofereceste-los em sacrifício a ti mesmo, porque te erigiste em deus.

Discurso do Papa na visita ao Grão-Mufti de Jerusalém


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA
DISCURSO
VISITA AO GRÃO-MUFTI DE JERUSALÉM
ESPLANADA DAS MESQUITAS – ISRAEL
SEGUNDA-FEIRA, 26 DE MAIO DE 2014

Excelência,

Queridos Amigos Muçulmanos!

Estou grato por poder encontrar-vos neste lugar sagrado. De coração vos agradeço pelo amável convite que me quisestes fazer e, de modo particular, agradeço a Vossa Excelência e ao Presidente do Conselho Supremo Muçulmano.Seguindo os passos dos meus Antecessores e, em particular, a luminosa esteira da viagem de Paulo VI há cinquenta anos – a primeira viagem de um Papa à Terra Santa –, desejei ardentemente vir como peregrino visitar os lugares que viram a presença terrena de Jesus Cristo. Mas esta minha peregrinação não seria completa, se não contemplasse também o encontro com as pessoas e as comunidades que vivem nesta Terra e, por isso, sinto-me particularmente feliz por me encontrar convosco, Amigos Muçulmanos.

Neste momento, o meu pensamento volta-se para a figura de Abraão, que viveu como peregrino nestas terras. Embora cada qual a seu modo, muçulmanos, cristãos e judeus reconhecem em Abraão um pai na fé e um grande exemplo a imitar. Ele fez-se peregrino, deixando o seu povo e a própria casa, para empreender aquela aventura espiritual a que Deus o chamava.

Um peregrino é uma pessoa que se faz pobre, que se põe a caminho, propende para uma grande e suspirada meta, vive da esperança duma promessa recebida (cf. Heb 11, 8-19).

Esta foi a condição de Abraão, esta deveria ser também a nossa disposição espiritual. Não podemos jamais considerar-nos auto-suficientes, senhores da nossa vida; não podemos limitar-nos a ficar fechados, seguros nas nossas convicções. Diante do mistério de Deus, somos todos pobres, sentimos que devemos estar sempre prontos para sair de nós mesmos, dóceis à chamada que Deus nos dirige, abertos ao futuro que Ele quer construir para nós.

Discurso do Papa em celebração ecumênica no Santo Sepulcro


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA
DISCURSO
CELEBRAÇÃO ECUMÊNICA NO SANTO SEPULCRO
Recordação dos 50 anos do abraço entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágonas
Domingo, 25 de maio de 2014

Nesta Basílica, para a qual todo o cristão olha com profunda veneração, atinge o seu clímax a peregrinação que estou a realizar juntamente com o meu amado irmão em Cristo, Sua Santidade Bartolomeu. Realizamo-la seguindo os passos dos nossos venerados antecessores, o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras, que, com coragem e docilidade ao Espírito Santo, permitiram há cinquenta anos, na Cidade Santa de Jerusalém, o histórico encontro entre o Bispo de Roma e o Patriarca de Constantinopla.

Saúdo cordialmente a todos vós aqui presentes. De modo particular, agradeço vivamente por ter tornado possível este momento a Sua Beatitude Teófilo, que quis dirigir-me amáveis palavras de boas-vindas, bem como a Sua Beatitude Nourhan Manoogian e ao Reverendo Padre Pierbattista Pizzaballa.

É uma graça extraordinária estarmos aqui reunidos em oração. O Túmulo vazio, aquele sepulcro novo situado num jardim, onde José de Arimateia devotamente depusera o corpo de Jesus, é o lugar donde parte o anúncio da Ressurreição: «Não tenhais medo! Sei que buscais Jesus, o crucificado; não está aqui, pois ressuscitou, como tinha dito. Vinde, vede o lugar onde jazia e ide depressa dizer aos seus discípulos: “Ele ressuscitou dos mortos”» (Mt 28, 5-7).

Este anúncio, confirmado pelo testemunho daqueles a quem apareceu o Senhor Ressuscitado, é o coração da mensagem cristã, transmitida fielmente de geração em geração, como desde o início atesta o apóstolo Paulo: «Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que Eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras» (1 Cor 15, 3-4).

Discurso de boas-vindas do Papa Francisco em Israel



VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA
DISCURSO
Cerimônia de boas vindas no Aeroporto
Internacional de Tel Aviv
Domingo, 25 de maio de 2014

Senhor Presidente,

Senhor Primeiro-Ministro,

Excelências, Senhoras e Senhores!

Agradeço-vos cordialmente pela recepção no Estado de Israel, que tenho a alegria de visitar nesta minha peregrinação. Estou agradecido ao Senhor Presidente Shimon Peres e ao Senhor Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu pelas amáveis palavras que me dirigiram, e lembro com alegria os nossos encontros no Vaticano. Como sabeis, venho peregrino à distância de cinquenta anos da histórica viagem do Papa Paulo VI. Desde então muitas coisas mudaram entre a Santa Sé e o Estado de Israel: as relações diplomáticas, que existem entre nós já há vinte anos, têm favorecido o incremento de boas e cordiais relações, como testemunham os dois Acordos já assinados e ratificados e o que está em fase de aperfeiçoamento. Neste espírito, dirijo a minha saudação a todo o povo de Israel, com votos de que se realizem as suas aspirações de paz e prosperidade.

Seguindo os passos dos meus Antecessores, vim como peregrino à Terra Santa, onde se desenrolou uma história plurimilenar e tiveram lugar os principais eventos relacionados com o nascimento e o desenvolvimento das três grandes religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo; por isso, ela é ponto de referência espiritual para grande parte da humanidade. Espero, pois, que esta Terra bendita seja um lugar onde não haja espaço algum para quem, instrumentalizando e exacerbando o valor da sua filiação religiosa, se torne intolerante e violento para com a religião alheia.

Durante esta minha peregrinação à Terra Santa, visitarei alguns dos lugares mais significativos de Jerusalém, cidade de valor universal. Jerusalém significa «cidade da paz». Assim Deus a quer e assim todos os homens de boa vontade desejam que seja. Mas, infelizmente, esta cidade é ainda atormentada pelas consequências de longos conflitos. Todos nós sabemos quão urgente e necessária seja a paz, não só para Israel, mas também para toda a região. Por isso, multipliquem-se esforços e energias com a finalidade de chegar a uma solução justa e duradoura dos conflitos que causaram tantos sofrimentos. Em união com todos os homens de boa vontade, suplico a quantos estão investidos de responsabilidade que não deixem nada de intentado na busca de soluções équas para as complexas dificuldades, de tal modo que israelitas e palestinenses possam viver em paz. É preciso empreender sempre, com coragem e sem se cansar o caminho do diálogo, da reconciliação e da paz. Não há outro caminho. Por isso, renovo o apelo que dirigiu Bento XVI deste lugar: seja universalmente reconhecido que o Estado de Israel tem o direito de existir e gozar de paz e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas. Seja igualmente reconhecido que o Povo Palestinense tem o direito a uma pátria soberana, a viver com dignidade e a viajar livremente. Que a «solução de dois Estados» se torne realidade e não permaneça um sonho!

Discurso de boas-vindas do Papa em Israel


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA
DISCURSO
Cerimônia de boas vindas no Aeroporto
Internacional de Tel Aviv
Domingo, 25 de maio de 2014

Senhor Presidente,

Senhor Primeiro-Ministro,

Excelências, Senhoras e Senhores!

Agradeço-vos cordialmente pela recepção no Estado de Israel, que tenho a alegria de visitar nesta minha peregrinação. Estou agradecido ao Senhor Presidente Shimon Peres e ao Senhor Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu pelas amáveis palavras que me dirigiram, e lembro com alegria os nossos encontros no Vaticano. Como sabeis, venho peregrino à distância de cinquenta anos da histórica viagem do Papa Paulo VI. Desde então muitas coisas mudaram entre a Santa Sé e o Estado de Israel: as relações diplomáticas, que existem entre nós já há vinte anos, têm favorecido o incremento de boas e cordiais relações, como testemunham os dois Acordos já assinados e ratificados e o que está em fase de aperfeiçoamento. Neste espírito, dirijo a minha saudação a todo o povo de Israel, com votos de que se realizem as suas aspirações de paz e prosperidade.

Seguindo os passos dos meus Antecessores, vim como peregrino à Terra Santa, onde se desenrolou uma história plurimilenar e tiveram lugar os principais eventos relacionados com o nascimento e o desenvolvimento das três grandes religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo; por isso, ela é ponto de referência espiritual para grande parte da humanidade. Espero, pois, que esta Terra bendita seja um lugar onde não haja espaço algum para quem, instrumentalizando e exacerbando o valor da sua filiação religiosa, se torne intolerante e violento para com a religião alheia.

Regina Coeli com o Papa em Belém


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À TERRA SANTA
REGINA COELI
PRAÇA DA MANJEDOURA – BELÉM
Domingo, 25 de maio de 2014

Neste lugar, onde nasceu o Príncipe da paz, desejo dirigir um convite ao senhor, presidente Mahmoud Abbas, e ao senhor, presidente Shimon Peres, para fazerem comigo uma intensa oração invocando a Deus o dom da paz. Ofereço a minha casa no Vaticano para hospedar este encontro de oração.

Todos desejamos a paz; tantas pessoas a constroem a cada dia com pequenos gestos; muitos sofrem e suportam pacientemente o cansaço de tantas tentativas para construí-la. E todos – especialmente aqueles que são colocados a serviço dos próprios povos – temos o dever de nos fazermos instrumentos e construtores de paz, antes de tudo na oração.

Construir a paz é difícil, mas viver sem paz é um tormento. Todos os homens e mulheres desta Terra e do mundo inteiro nos pedem para levar diante de Deus a sua ardente aspiração à paz.

Missa de Francisco na Praça da Manjedoura, em Belém


Viagem do Papa à Terra Santa
Santa Missa com o Papa Francisco
na Praça da Manjedoura, em Belém
Homilia
Domingo, 25 de maio de 2014


“Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura” (Lc 2, 12).

Que grande graça celebrar a Eucaristia junto do lugar onde nasceu Jesus! Agradeço a Deus e agradeço a vós que me acolhestes nesta minha peregrinação: o Presidente Mahmoud Abbas e demais autoridades; o Patriarca Fouad Twal, os outros Bispos e os Ordinários da Terra Santa, os sacerdotes, as pessoas consagradas e quantos trabalham por manter viva a fé, a esperança e a caridade nestes territórios; as delegações de fiéis vindas de Gaza, da Galileia, os imigrantes da Ásia e da África. Obrigado pela vossa recepção!

O Menino Jesus, nascido em Belém, é o sinal dado por Deus a quem esperava a salvação, e permanece para sempre o sinal da ternura de Deus e da sua presença no mundo. “Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino…”.

Também hoje as crianças são um sinal. Sinal de esperança, sinal de vida, mas também sinal de “diagnóstico” para compreender o estado de saúde duma família, duma sociedade, do mundo inteiro. Quando as crianças são acolhidas, amadas, protegidas, tuteladas, a família é sadia, a sociedade melhora, o mundo é mais humano. Pensemos na obra que realiza o Instituto Effathá Paulo VI a favor das crianças surdas-mudas palestinenses: é um sinal concreto da bondade de Deus.

Deus repete também a nós, homens e mulheres do século XXI: “Isto vos servirá de sinal», procurai o menino…”

O Menino de Belém é frágil, como todos os recém-nascidos. Não sabe falar e, no entanto, é a Palavra que Se fez carne e veio para mudar o coração e a vida dos homens. Aquele Menino, como qualquer criança, é frágil e precisa de ser ajudado e protegido. Também hoje as crianças precisam de ser acolhidas e defendidas, desde o ventre materno.

Infelizmente, neste nosso mundo que desenvolveu as tecnologias mais sofisticadas, ainda há tantas crianças em condições desumanas, que vivem à margem da sociedade, nas periferias das grandes cidades ou nas zonas rurais. Ainda hoje há tantas crianças exploradas, maltratadas, escravizadas, vítimas de violência e de tráficos ilícitos. Demasiadas são hoje as crianças exiladas, refugiadas, por vezes afundadas nos mares, especialmente nas águas do Mediterrâneo. De tudo isto nos envergonhamos hoje diante de Deus, Deus que Se fez Menino.

E interrogamo-nos: Quem somos nós diante de Jesus Menino? Quem somos nós diante das crianças de hoje? Somos como Maria e José que acolhem Jesus e cuidam d’Ele com amor maternal e paternal? Ou somos como Herodes, que quer eliminá-Lo? Somos como os pastores, que se apressam a adorá-Lo prostrando-se diante d’Ele e oferecendo-Lhe os seus presentes humildes? Ou então ficamos indiferentes? Por acaso limitamo-nos à retórica e ao pietismo, sendo pessoas que exploram as imagens das crianças pobres para fins de lucro? Somos capazes de permanecer junto delas, de “perder tempo” com elas? Sabemos ouvi-las, defendê-las, rezar por elas e com elas? Ou negligenciamo-las, preferindo ocupar-nos dos nossos interesses?

“Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino…”. Talvez aquela criança chore! Chora porque tem fome, porque tem frio, porque quer colo… Também hoje as crianças choram (e choram muito!), e o seu choro interpela-nos. Num mundo que descarta diariamente toneladas de alimentos e remédios, há crianças que choram, sem ser preciso, por fome e doenças facilmente curáveis.