A Copa do Mundo está se
aproximando e a sociedade brasileira confirma sinais de que não tratará o
futebol simplesmente com a habitual euforia. O “país do futebol”, cansado com o
modo obsoleto de se fazer política, está emoldurando o mundial com a exigência
de se promover mudanças. Não bastará, como de costume, fixar o olhar na bola. É
imprescindível debater as questões sociais, investindo em transformações
profundas. A euforia própria do futebol, com sua alegria que bem vivida
congraça e inspira união de corações, precisa receber marcas incidentes.
Trata-se de adicionar um componente cidadão que contribua para as reformas que
o Brasil, especialmente o pobre, espera e precisa. Desta vez, a tática usada
desde o Império Romano de distrair o povo das questões sociais e políticas com
o entretenimento não pode funcionar.
Com frequência
acompanhamos as notícias na imprensa sobre os jogos da Copa que, por exigência
de seu órgão superior, poderiam ser realizados em oito estádios. Por isso
mesmo, ninguém consegue entender a razão dos investimentos na construção
extremamente onerosa aos cofres públicos dos estádios que são considerados
desnecessários para o evento. Se confirmada a notícia, trata-se de outro
indício da incompetência governamental no planejamento da destinação dos
recursos que precisam ser suficientes para atender não apenas o futebol, mas,
sobretudo, as necessidades inegociáveis e inadiáveis da saúde pública,
educação, transporte, habitação, numa lista interminável de demandas e
urgências.
O país do futebol tem
nas mãos a oportunidade de não permitir que se manipule a euforia bonita e
contagiante deste esporte. Uma tática obsoleta de “pão e circo” para desviar o
olhar cidadão das questões que merecem críticas, respostas urgentes,
encaminhamentos mais participativos e solidários. O discurso das ruas do ano
passado, emoldurando a Copa das Confederações, efetivamente inaugurou esse novo
tempo. São muitas as opiniões que apontam que os legados da Copa não serão como
mostram as propagandas. De fato, o não cumprimento, ao longo de sete anos, a
partir da escolha do Brasil para sediar o mundial, das promessas de
investimento na infraestrutura, estradas, aeroportos, transporte urbano, com
especial atenção para as conturbações das grandes regiões metropolitanas, um
caos na vida do povo, é um legado negativo, que mostra a incompetência e a
morosidade dos que estão gerindo a máquina pública.