Mensagem
do Papa Francisco ao Diretor-Geral
da Organização Internacional do Trabalho,
por ocasião da 103ª Sessão em Genebra, Suíça
Quarta-feira, 28 de maio de 2014
Quarta-feira, 28 de maio de 2014
Ao
Senhor Guy Ryder
Diretor-Geral da
Organização Internacional do Trabalho (OIT)
No
início da criação, Deus criou o homem como guardião de sua obra, encarregando-o
de cultivá-la e protege-la. O trabalho humano é parte da criação e continua a
obra criadora de Deus. Esta verdade nos leva a considerar que o trabalho é um
dom e um dever. O trabalho, portanto, não é apenas uma mercadoria, mas ele tem
sua própria dignidade e valor. A Santa Sé manifesta o seu apreço a contribuição
da OIT para a defesa da dignidade do trabalho humano no contexto do
desenvolvimento social e econômico por meio da discussão e cooperação entre
governos, trabalhadores e empregadores. Estes esforços estão a serviço do bem
comum da família humana e promovem a dignidade dos trabalhadores em todos as
partes.
Esta
Conferência se reúne em um momento crucial na história econômica e social, que
apresenta desafios para o mundo todo. O desemprego está se expandindo
tragicamente as fronteiras da pobreza (cf. Discurso à Fundação Centesimus Annus Pro Pontífice,
25 de maio de 2013). Isto é particularmente desanimador para os jovens
desempregados, que podem facilmente sentirem-se desmoralizados, perdendo
a consciência do seu valor e sentirem-se alienados da sociedade. Esforçando-nos
para aumentar as oportunidades de emprego, afirmamos a convicção de que “no
trabalho livre, criativo, participativo e solidário, o ser humano expressa e
reforça a dignidade de suas vida” (Evangelii gaudium, 192).
Outro
grave problema, relacionado com o anterior, que o nosso mundo
enfrenta é o da migração em massa: já é considerável o número de homens e
mulheres forçados a procurar trabalho longe de sua terra natal e é motivo de
preocupação. Apesar de sua esperança de um futuro melhor, eles frequentemente
se deparam com incompreensão e exclusão, sem mencionar quando fazem a
experiência de tragédias e desastres. Tendo enfrentado esses sacrifícios, estes
homens e mulheres muitas vezes não conseguem encontrar emprego digno e se
tornam vítimas de uma certa “globalização da indiferença”. A situação deles os
expõe a outros perigos, como o horror do tráfico de pessoas, trabalho forçado e
escravidão. É inaceitável que, em nosso mundo, o trabalho feito por escravos
tenha se tornado moeda corrente. (cf. Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e
do Refugiado, 24, Setembro de 2013). Isso não pode continuar! Tráfico de seres
humanos é um chaga, um crime contra a humanidade. É hora de unir forças e
trabalhar em conjunto para libertar as vítimas desse tráfico e erradicar
este crime que afeta a todos nós, desde as famílias à Comunidade Mundial
(cf. Discurso aos novos embaixadores creditados junto da Santa Sé, 12 de
dezembro de 2013).
É
também o momento de reforçar as formas existentes de cooperação e estabelecer
novas formas de aumentar a solidariedade. Isto requer: um compromisso renovado
com a dignidade de cada pessoa; uma implementação mais determinada de normas
internacionais do trabalho; planejamento para um desenvolvimento centrado na
pessoa humana como protagonista central e principal beneficiária; uma
reavaliação das responsabilidades das empresas multinacionais nos países em que
atuam, incluindo as áreas de gestão de lucro e de investimento; e um esforço
coordenado para encorajar os governos a facilitarem a movimentação de migrantes
em benefício de todos, eliminando assim o tráfico de seres humanos e as
perigosas condições de viagem. Uma eficaz cooperação nestas áreas será
notavelmente facilitada pela definição de futuros objetivos sustentáveis de
desenvolvimento.
Como
recentemente expressei ao Secretário-Geral e os Chefes Executivos das
Nações Unidas: “As metas futuras de desenvolvimento sustentáveis deveriam ser
formuladas e implementadas com generosidade e coragem, para que possam incindir
efetivamente sobre as causas estruturais da pobreza e da fome, e assim
conseguir resultados substanciais na proteção do meio
ambiente, garantir trabalho decente para todos e dar
proteção adequada para a família, elemento essencial de qualquer
desenvolvimento humano e social sustentável”.
Caros
amigos, a Doutrina Social da Igreja Católica se coloca como apoio às
iniciativas da OIT, que se destinam a promover a dignidade da pessoa humana e
da dignidade do trabalho. Encorajo-vos em seus esforços para enfrentar os
desafios do mundo de hoje, mantendo-se fiéis a esses nobres objetivos. Ao mesmo
tempo, invoco a bênção de Deus sobre tudo o que realizais para proteger e
melhorar a dignidade do trabalho para o bem comum da família humana.
Boletim da Santa Sé
Tradução: Liliane Borges
Nenhum comentário:
Postar um comentário