No avião que o trouxe de volta ao Vaticano, ontem [26], o Papa
Francisco conversou durante quase uma hora com os jornalistas que o
acompanharam na Terra Santa.
Abusos contra menores
“Neste
momento, há três bispos sob investigação e um deles, já condenado, tem a pena
em estudo. Não há privilégios neste tema dos menores. Na Argentina, chamamos os
privilegiados de ‘filhos de papai’. Pois bem, sobre este tema não haverá filhos
de papai. É um problema muito grave. Um sacerdote que comete um abuso, trai o
corpo do Senhor. O padre deve levar o menino ou a menina à santidade. E o menor
confia nele. E ao invés de levá-lo à santidade, abusa. É gravíssimo. É como
fazer uma missa negra! Ao invés de levá-lo à santidade, o leva a uma problema
que terá por toda a vida. Na próxima semana, no dia 6 ou 7 de julho haverá uma
missa com algumas pessoas abusadas, na Santa Marta, e depois haverá uma
reunião, eu com eles. Sobre isto se deve prosseguir com tolerância zero.”
Celibato dos padres
“Há
padres católicos casados, nos ritos orientais. O celibato não é um dogma de fé,
é uma regra de vida, que eu aprecio muito e creio que seja um dom para a
Igreja. Não sendo um dogma de fé, há sempre uma porta aberta.”
Eventual renúncia
“Eu
farei o que o Senhor me dirá de fazer. Rezar, buscar a vontade de Deus. Bento
XVI não tinha mais forças e, honestamente, é um homem de fé, humilde como é,
tomou esta decisão. Setenta anos atrás os bispos eméritos não existiam. O que
acontecerá com os Papas eméritos? Devemos olhar para Bento XVI como uma
instituição, abriu uma porta, a dos Papas eméritos. A porta está aberta, se
haverá outros ou não, somente Deus sabe. Eu creio que um Bispo de Roma, ao
sentir que lhe faltam forças, deva fazer as mesmas perguntas que o Papa Bento
fez.”
Ortodoxos
“Com
Bartolomeu falamos de unidade, que se faz em caminho, jamais poderemos fazer a
unidade num congresso de Teologia. Ele confirmou-me que Atenágoras realmente
disse a Paulo VI: ‘vamos colocar todos os teólogos numa ilha e nós
prosseguiremos juntos’.
Devemos nos ajudar, por exemplo, com as igrejas, inclusive em
Roma, onde muitos ortodoxos usam igrejas católicas. Falamos do concílio
pan-ortodoxo, para que se faça algo sobre a data da Páscoa. É um pouco
ridículo: ‘Quando ressuscita o seu Cristo? O meu na semana que vem. O meu, ao
invés, ressuscitou na semana passada’. Com Bartolomeu falamos como irmãos, nos
queremos bem, contamos as dificuldades do nosso governo. Falamos bastante da
ecologia, de fazermos juntos um trabalho conjunto sobre este problema.”
Outros temas
Francisco
falou ainda da alegada investigação sobre um desvio de 15 milhões de euros dos
fundos do Instituto para as Obras de Religião, em que estaria envolvido o
antigo Secretário de Estado do Vaticano.
“A
questão desses 15 milhões está ainda em estudo, não é claro o que aconteceu”,
afirmou.
O Papa
disse que quer “honestidade e transparência” na administração financeira do
Vaticano e que a nova Secretaria para a Economia, dirigida pelo Cardeal Pell,
vai “levar por diante as reformas que foram sugeridas” por várias comissões
para evitar “escândalos e problemas”. Nesse sentido, recordou que cerca de 1,6
mil contas foram fechadas no IOR nos últimos tempos.
Francisco
confirmou que, além da viagem à Coreia do Sul em agosto, voltará à Ásia em
janeiro de 2015, para visitar o Sri Lanka e as regiões afetadas pelo tufão nas
Filipinas. O Papa mostrou-se preocupado com a falta de liberdade religiosa
neste continente, falando num número de “mártires” cristãos que supera os dos
primeiros tempos da Igreja.
_________________________________
Rádio Vaticano
Nenhum comentário:
Postar um comentário