1.
O
Primado do Papa
Na grande diversidade de nações da Europa na Idade
Média havia um traço de união entre todos os reinos: a profissão da mesma fé
católica. Este, segundo Régine Pernoud, foi o grande fator que fez surgir a
Cristandade que se concretizava no Sacro Império Romano-Germânico.
Todas as nações da Europa pertenciam, em tese, ao
Sacro Império, e o seu chefe político era escolhido dentre os príncipes
cristãos, pela Dieta ou assembléia dos dignitários. O primeiro imperador foi
Otão I, em 962.
Como a religião era denominador comum, ao Papa
competia o magistério espiritual do Sacro Império: como chefe da Igreja, ele
intervinha no Império todas as vezes em que as leis afetassem a moral cristã.
Não raro também era invocado como árbitro supremo nas questões políticas; esse
costume se estendeu até os tempos modernos, pois Alexandre VI resolveu a
pendência entre a Espanha e Portugal pelo Tratado de Tordesilhas (1494).
Quando o Imperador alemão Henrique IV investiu
sacerdotes indignos em bispados alemães, o Papa São Gregório VII o excomungou,
desligando seus súditos da obediência a ele devida.
Foi então que Henrique IV dirigiu-se ao castelo de
Canossa com trajes de peregrino, em noite de inverno, para pedir perdão ao Papa
por seus crimes de venda dos cargos eclesiásticos (simonia).
Joseph De Maistre esclarece que “os papas não
disputavam aos imperadores a investidura feudal, mas sim a investidura
episcopal”, pelo báculo e pelo anel, para que os benefícios eclesiásticos não
se convertessem em feudos políticos.
O ato simbólico de Henrique IV, na neve, em Canossa
(1077), foi o marco da supremacia do Papa sobre os poderes temporais, na Idade
Média.
2. O perigo
islâmico: as Cruzadas, uma guerra defensiva
As Cruzadas são apresentadas por alguns historiadores
como guerras de conquista da Europa contra os árabes. Mas não é bem verdade. As
Cruzadas surgiram porque os países árabes, depois de unirem todas as tribos
numa mesma nação islâmica continuaram a luta pelo poder total de Alá e seu
Profeta, marchando em direção aos Balcãs e à península ibérica. Desde o século
VII que os adeptos da doutrina muçulmana, ou Islamismo, liderados por Maomé —
que intitulava a si próprio “Profeta de Alah” —, iniciaram a Guerra Santa,
conquistando a Arábia, a Palestina, ocupando os Lugares Santos de Belém, Nazaré
e Jerusalém, depois o Egito e daí passando à Espanha, onde foram chamados
“mouros”.
Daí surge o antagonismo. Eles ameaçaram
Constantinopla, e acabaram por tomá-la no fim da Idade Média. Ameaçaram a
Espanha, onde queriam entrar e por séculos o vinham tentando. Dominaram o norte
da África, e começaram a proibir o acesso aos lugares santos. Assim, a Europa
estava praticamente cercada pelos turcos. E foi isso que motivou as Cruzadas.
Eram consideradas como uma guerra defensiva,
portanto justa; consequentemente, os cavaleiros partiam com a consciência
tranquila, pois não se tratava de uma guerra de conquista.