Viagem
do Papa Francisco a Filipinas
HOMILIA
Santa
Missa com os bispos, sacerdotes,
religiosas e religiosos
Catedral
da Imaculada Conceição – Manila
Sexta-feira,
16 de janeiro de 2015
“Tu me
amas?” [o povo: “Sim!”] Obrigado! Mas eu estava lendo a palavra de Jesus! Diz o
Senhor: “Tu me amas? (…) Apascenta os meus cordeiros” (Jo 21, 15.16). As
palavras de Jesus a Pedro, no Evangelho de hoje, são as primeiras palavras que
vos dirijo, amados irmãos bispos e sacerdotes, religiosos e religiosas, e
jovens seminaristas. Estas palavras recordam-nos algo de essencial. Todo o
ministério pastoral nasce do amor. Toda a vida consagrada é um sinal do amor
reconciliador de Cristo. Como Santa Tereza do Menino Jesus, na variedade das
nossas vocações, cada um de nós é chamado de alguma forma, como Santa Teresa do
Menino Jesus, a ser o amor no coração da Igreja.
Com grande afeto vos saúdo e peço para levardes o
meu afecto a todos os vossos irmãos e irmãs idosos e doentes e a todos aqueles
que hoje não puderam juntar-se a nós. Com a Igreja nas Filipinas que olha para
o quinto centenário da sua evangelização, sentimos gratidão pela herança
deixada por tantos bispos, sacerdotes e religiosos das gerações passadas. Eles
esforçaram-se não só por pregar o Evangelho e construir a Igreja nesta nação,
mas também por forjar uma sociedade inspirada pela mensagem evangélica da
caridade, do perdão e da solidariedade ao serviço do bem comum. Hoje vós
continuais a mesma obra de amor. Como eles, sois chamados a construir pontes,
apascentar o rebanho de Cristo e preparar vigorosos caminhos para o Evangelho
na Ásia ao alvorecer duma nova era.
«O amor de Cristo nos absorve completamente» (2 Cor
5, 14). Na primeira leitura de hoje, São Paulo diz-nos que o amor que somos
chamados a anunciar é um amor reconciliador, que jorra do coração do Salvador
crucificado. Somos chamados a ser «embaixadores em nome de Cristo» (cf. 2 Cor
5, 20). O nosso é um ministério de reconciliação. Proclamamos a Boa-Nova do
amor, da misericórdia e da compaixão infinitos de Deus. Proclamamos a alegria
do Evangelho. Uma vez que o Evangelho é a promessa da graça de Deus, a única
que pode trazer plenitude e cura ao nosso mundo arruinado, ele pode inspirar a
construção duma ordem social verdadeiramente justa e redimida.
Ser embaixador de Cristo significa, antes de mais
nada, convidar cada pessoa a um renovado encontro com o Senhor Jesus (cf.
Evangelii gaudium, 3). Este convite deve estar no centro da vossa comemoração
da evangelização das Filipinas. Mas o Evangelho é também uma exortação à
conversão, a um exame da nossa consciência, como indivíduos e como povo. Como
justamente ensinaram os vossos bispos, a Igreja nas Filipinas é chamada a
individuar e combater as causas da desigualdade e injustiça profundamente
enraizadas, que desfeiam o rosto da sociedade filipina, contradizendo
claramente o ensinamento de Cristo. O Evangelho chama os indivíduos cristãos a
conduzirem vidas honestas, íntegras e solícitas pelo bem comum. Mas chama
também as comunidades cristãs a criarem «círculos de integridade», redes de
solidariedade que possam impelir a abraçar e transformar a sociedade com o seu
testemunho profético.
Os pobres. Os pobres estão no centro do Evangelho,
estão no coração do Evangelho; se tiramos os pobres do Evangelho, não podemos
entender plenamente a mensagem de Jesus Cristo. Como embaixadores de Cristo,
nós, bispos, sacerdotes e religiosos, devemos ser os primeiros a acolher a sua
graça reconciliadora nos nossos corações. São Paulo explica o que isso
significa. Significa rejeitar perspectivas mundanas, olhando cada coisa de novo
à luz de Cristo. Isso comporta que nós somos os primeiros a examinar a nossa
consciência, a reconhecer as nossas falhas e quedas e a tomar o caminho da
conversão contínua, da conversão cotidiana. Como podemos proclamar a novidade e
o poder libertador da Cruz aos outros se mesmo nós não permitimos à Palavra de
Deus sacudir o nosso orgulho, o nosso medo de mudar, os nossos compromissos
mesquinhos com a mentalidade deste mundo, a nossa mundanidade espiritual (cfr
Evangelii gaudium, 93)?
Para nós, sacerdotes e pessoas consagradas, a
conversão à novidade do Evangelho implica um encontro diário com o Senhor na
oração. Os Santos ensinam-nos que isto é a fonte de todo o zelo apostólico.
Para os religiosos, viver a novidade do Evangelho significa encontrar
incessantemente na vida da comunidade e nos apostolados da comunidade o
incentivo para uma união cada vez mais estreita com o Senhor na caridade perfeita.
Para todos nós, isto significa viver de tal forma que espelhemos a pobreza de
Cristo, cuja vida estava inteiramente focalizada em fazer a vontade do Pai e
servir os outros. Naturalmente, a grande ameaça a isto mesmo é cair num certo
materialismo que pode insinuar-se dentro das nossas vidas e comprometer o
testemunho que prestamos. Somente o tornar-nos pobres, expulsando o nosso
autocomprazimento, permitirá identificar-nos com os últimos dos nossos irmãos e
irmãs. Veremos as coisas sob uma nova luz e, deste modo, poderemos responder,
com honestidade e integridade, ao desafio de anunciar a radicalidade do
Evangelho numa sociedade acostumada à exclusão, à polarização e a uma
desigualdade escandalosa.
Aqui desejo dirigir uma palavra especial aos jovens
sacerdotes, religiosos, e seminaristas presentes. Peço-vos que partilheis a
alegria e o entusiasmo do vosso amor por Cristo e pela Igreja com todos, mas
sobretudo com os da vossa idade. Mantende-vos presentes no meio dos jovens que
possam sentir-se confusos e desanimados, e todavia continuam a ver a Igreja
como sua amiga no caminho e uma fonte de esperança.
Sede solidários com aqueles que, vivendo no meio
duma sociedade molesta pela pobreza e a corrupção, sentem-se com o espírito
abatido, tentados a largar tudo, deixar a escola e viver pela estrada.
Proclamai a beleza e a verdade do matrimónio cristão a uma sociedade que é
tentada por apresentações confusas da sexualidade, do matrimónio e da família.
Como sabeis, estas realidades estão cada vez mais sob ataque de forças
poderosas que ameaçam desfigurar o plano criador de Deus e trair os verdadeiros
valores que inspiraram e moldaram quanto de belo existe na vossa cultura.
Na realidade, a cultura filipina foi plasmada pela
criatividade da fé. Por todo o lado, os filipinos são conhecidos pelo seu amor
a Deus, pela sua piedade fervorosa e a sua ardente e cordial devoção a Nossa
Senhora e ao seu terço. Este grande legado contém um forte potencial
missionário. É o modo como o vosso povo inculturou o Evangelho e continua a
acolher a sua mensagem (cf. Evangelii gaudium, 122). No vosso esforço de
preparação para o quinto centenário, construí sobre estas bases sólidas.
Cristo morreu por todos a fim de que, mortos n’Ele,
não vivamos mais para nós mesmos, mas para Ele (cf. 2 Cor 5, 15). Amados irmãos
bispos, sacerdotes e religiosos, rogo a Maria, Mãe da Igreja, que faça jorrar
de todos vós uma tal abundância de zelo, que possais gastar-vos abnegadamente
ao serviço dos nossos irmãos e irmãs. Possa, assim, o amor reconciliador de
Cristo penetrar ainda mais profundamente no tecido da sociedade filipina e, por
vosso intermédio, nos ângulos mais distantes do mundo. Amém.
Boletim da
Santa Sé
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