domingo, 12 de julho de 2015

O Papa Francisco, os comunistas e os pobres


O Papa Francisco não disse que os comunistas roubaram os pobres da Igreja, como afirmaram alguns meios de comunicação. Na entrevista concedida à jornalista italiana Franca Giansoldati, do jornal romano Il Messaggero, o que o Papa disse foi exatamente isto:

“Eu digo somente que os comunistas roubaram a nossa bandeira. A bandeira dos pobres é cristã. A pobreza está no centro do Evangelho. Os pobres estão no centro do Evangelho. Tomemos Mateus 25, o protocolo sobre o qual seremos julgados: tive fome, tive sede, estive na prisão, estava doente, nu. Ou vejamos as Bem-Aventuranças, outra bandeira. Os comunistas dizem que tudo é comunista. Sei, sei, vinte séculos depois.” Rindo, acrescentou: “Então, quando eles falam, poderíamos dizer: então vocês são cristãos”.

O que o Papa diz está claro. Ele não diz que os comunistas roubaram “os pobres” de nós, e sim “a bandeira dos pobres”, ou seja, a bandeira da sua defesa, da defesa da sua dignidade e dos seus direitos, a defesa da justiça social, a defesa dos empobrecidos da terra. E já passaram anos suficientes após a queda daqueles sistemas comunistas que oprimiam seus povos, para poder dizer isso sem criar mal-entendidos.

Ainda que tanto o marxismo como ideologia materialista como sistema totalitário sejam defendidos e estejam em vigor em alguns países do mundo, a verdade é que já são história. Mas é precisamente por isso que não tem que nos estranhar a afirmação do Papa, que não mede palavras. 

sábado, 11 de julho de 2015

Os adultos devem ser como as crianças, diz Papa em hospital


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO EQUADOR, BOLÍVIA E PARAGUAI
(5-13 DE JULHO DE 2015)

VISITA AO HOSPITAL GERAL PEDIÁTRICO “NIÑOS DE ACOSTA ÑU”

DISCURSO DO SANTO PADRE

Assunção, Paraguai
Sábado, 11 de Julho de 2015


Senhor Diretor,
Queridas crianças,
Membros do pessoal,
Amigos todos!

Obrigado pela recepção tão calorosa que me fizeram! Obrigado por este tempo que me concedeis passar convosco!

Queridas crianças, quero fazer-vos uma pergunta, para ver se me ajudais. Disseram-me que sois muito inteligentes, pelo que me animei a fazê-la: Jesus zangou-se alguma vez? Lembrais-vos quando foi? Eu sei que é uma pergunta difícil, dou-vos uma ajuda. Foi quando não deixaram aproximar-se d’Ele as crianças. É a única vez, em todo o Evangelho de Marcos, que se usa esta palavra (Mc 10, 13-15). Significa quase o mesmo que a nossa expressão: encheu-se de ira. Já alguma vez vos zangastes? Pois bem! Foi assim que ficou Jesus, quando não deixaram vir para junto d’Ele as crianças, crianças como vós. Ele ficou muito zangado. As crianças contam-se entre os predilectos de Jesus. Não significa que não gostava dos mais velhos, mas que Se sentia feliz quando podia estar com elas. Fazia-Lhe muito bem a amizade e companhia delas. E não só queria tê-las perto; mais do que isso: deu-as como exemplo. Disse aos discípulos: «Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu» (Mt 18, 3).

As crianças estavam longe, os mais velhos não as deixavam aproximar-se, mas Jesus chamou-as, abraçou-as e pô-las no meio para que todos aprendêssemos a ser como elas. Hoje Ele diria o mesmo a nós. Fixa-nos e diz: Aprendei delas.

Devemos aprender de vós, da vossa confiança, alegria, ternura; da vossa capacidade de luta, da vossa fortaleza; da vossa capacidade incomparável de resistir. Sois uns lutadores. E, quando alguém tem tais «guerreiros» à sua frente, sente-se orgulhoso. Não é verdade, ó mães? Não é verdade, ó pais e avós? Ver-vos dá-nos força, dá-nos coragem para ter confiança, para avançar. 

Homilia do Papa Francisco no Santuário Mariano de Caacupé


Homilia
Praça do Santuário Mariano de Caacupé
Sábado, 11 de julho de 2015


“Estar aqui com vocês é me sentir em casa, aos pés da nossa Mãe, a Virgem dos Milagres de Caacupé. Num santuário, nós, filhos, nos encontramo com a nossa Mãe e nos lembramos de que somos irmãos uns dos outros. É um lugar de festa, de encontro, de família. Vimos apresentar as nossas necessidades, vimos agradecer, pedir perdão e recomeçar. Muitos batismos, muitas vocações sacerdotais e religiosas, muitos namoros e matrimônios nasceram aos pés da nossa Mãe. Muitas lágrimas e despedidas. Vimos sempre com a nossa vida, porque aqui estamos em casa e o melhor de tudo é saber que há alguém que nos espera.

Como tantas outras vezes, viemos porque queremos renovar a paixão de viver a alegria do Evangelho.

Como não reconhecer que este Santuário é parte vital do povo paraguaio, de vocês. Assim o sentis, assim o rezais, assim o cantais: ‘No teu Éden de Caacupé, é o teu povo, Virgem pura, que Te dá o seu amor e fé’. E estamos hoje, como Povo de Deus, aos pés da nossa Mãe para Lhe dar o nosso amor e fé.

No Evangelho, acabamos de ouvir o anúncio do Anjo a Maria com estas palavras: Alegra-Te, ó cheia de graça, o Senhor está contigo. Alegra-Te, Maria; alegra-Te! Perante essa saudação, Ela ficou perplexa e Se interrogava sobre o seu significado. Não entende grande coisa do que estava acontecendo; mas soube que vinha de Deus e disse: Sim.

Um sim que não foi nada fácil de viver, como sabemos. Um sim, que não a cumulou de privilégios nem distinções; antes, como Lhe dirá Simeão na sua profecia, ‘uma espada [Lhe] trespassará a alma’ (Lc 2, 35). E sabemos que a trespassou… Por isso A amamos tanto, encontrando n’Ela uma verdadeira Mãe que nos ajuda a manter viva a fé e a esperança no meio das situações mais complicadas. Seguindo a profecia de Simeão, nos fará bem rever brevemente três momentos difíceis na vida de Maria.

Se a Renovação trabalha para si mesma, isto é do maligno, do pai da mentira, afirma o Papa.


DISCURSO DO PAPA FRANCISCO
AOS MEMBROS DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA

Praça São Pedro
Sexta-feira, 3 de Julho de 2015


Caríssimos irmãos e irmãs!

Boa tarde e sede bem-vindos. Também a água seja bem-vinda porque foi o Senhor que a fez. Aprecio muito a resposta que destes ao convite que vos fiz no mês de Janeiro para nos encontrarmos aqui na praça de São Pedro. Obrigado por esta entusiasta e calorosa resposta. No ano passado no estádio partilhei com todos os presentes algumas reflexões que hoje gostaria de recordar, porque é sempre bom recordar, a memória: a identidade da Renovação carismática católica, da qual nasceu a associação Renovação no Espírito. Fá-lo-ei com as palavras do Cardeal Léon-Joseph Suenens, grande protector da Renovação carismática, tal como a descreve no segundo livro das suas memórias. Antes de tudo, neste lugar ele recorda a extraordinária figura de uma mulher que fez tanto no início da Renovação carismática, era a sua colaboradora que gozava também da confiança e do afeto do Papa Paulo VI. Refiro-me a Veronica O’Brien: foi ela quem pediu ao Cardeal para ir aos Estados Unidos a fim de observar o que estava a acontecer, para ver com os seus olhos aquilo que ela considerava obra do Espírito Santo. Foi então que o Cardeal Suenens conheceu a Renovação carismática, que definiu um «fluxo de graça», e foi a pessoa-chave para a manter na Igreja. O Papa Paulo VI na Missa de segunda-feira de Pentecostes de 1975 agradeceu-lhe com as seguintes palavras: «Em nome do Senhor agradeço-lhe por ter conduzido a Renovação carismática ao centro da Igreja». Não é uma novidade de há alguns anos, a Renovação carismática tem esta longa história e na homilia daquela mesma Missa o Cardeal disse: «Possa a Renovação carismática desaparecer como tal e transformar-se numa graça de Pentecostes para toda a Igreja: para ser fiel à sua origem, o rio deve perder-se no oceano». O rio deve perder-se no oceano. Sim, se o rio não escorre a água apodrece; se a Renovação, esta corrente de graça não acabar no oceano de Deus, no amor de Deus, trabalha para si mesma e isto não é de Jesus Cristo, isto é do maligno, do pai da mentira. A Renovação vai, vem de Deus e vai para Deus.

O Papa Paulo VI abençoou isto. O Cardeal prosseguiu dizendo: «O primeiro erro que se deve evitar é incluir a Renovação carismática na categoria de movimento. Não é um movimento específico, a Renovação não é um movimento no sentido sociológico comum, não tem fundadores, não é homogêneo e inclui uma grande variedade de realidades, é uma corrente de graça, um sopro renovador do Espírito para todos os membros da Igreja, leigos, religiosos, sacerdotes e bispos. É um desafio para todos nós. Não fazemos parte da Renovação, ao contrário é a Renovação que se torna parte de nós, sob condição de que aceitemos a graça que nos oferece». Neste ponto o Cardeal Suenens fala da obra soberana do Espírito, que sem fundadores humanos suscitou a corrente de graça em 1967. Homens e mulheres renovados que, depois de terem recebido a graça do Batismo no Espírito, como fruto desta graça deram vida a associações, comunidades de aliança, escolas de formação, escolas de evangelização, congregações religiosas, comunidades ecumênicas, comunidades de ajuda aos pobres e necessitados. 

Bolívia: caminho aberto para uma igreja que substitua a Católica


Depois de participar da missa de encerramento da JMJ Rio2013, o presidente da Bolívia, Evo Morales, regressou a seu país com novos brios para reforçar a fundação da denominada “Igreja Católica Apostólica Renovada do Estado Plurinacional”.

O bispo de Oruro, uma das dioceses onde se faz esse experimento, Dom Cristóbal Bialasic, adverte que o governo (de Morales) pretende dividir a fé dos bolivianos com isso que “não é bem uma Igreja, mas sim uma seita”.

“Sejamos sinceros – disse Dom Bialsasic –, é uma seita que se começou a formar e é promovida pelo Estado, nem tanto pelo Estado, mas pelo governo”.

O bispo afirma que é arbitrária a maneira como se quer consolidar esta iniciativa. O próprio Morales em 2008 qualificou a Igreja Católica como um “instrumento de dominação”. 

A estratégia do presidente boliviano é similar à medida do – em 1926 – regime perseguidor da Igreja no México, liderado por Plutarco Elías Calles, que nomeou o sacerdote cismático José Joaquín Pérez Budar (Santiago Juxtlahuaca, 16 de agosto de 1851 - Cidade do México, 9 de outubro de 1931) como patriarca da “Igreja católica apostólica mexicana” para substituir a Igreja Católica. 

Discurso do Papa às autoridades e ao corpo diplomático paraguaio

Discurso
Encontro com as autoridades e com o corpo diplomático
Sexta-feira, 10 de julho de 2015

Senhor Presidente,
Autoridades da República,
Membros do Corpo Diplomático,
Senhoras e Senhores!

Saúdo cordialmente Vossa Excelência, Senhor Presidente da República, e agradeço-lhe as deferentes palavras de boas-vindas e estima que me dirigiu, em nome próprio e ainda do governo, dos altos cargos do Estado e do querido povo paraguaio. Saúdo também os ilustres membros do Corpo Diplomático e, através deles, faço chegar os meus sentimentos de respeito e apreço aos respectivos países.

Um sentido «obrigado» a todas as pessoas e instituições que colaboraram, com esforço e dedicação, na preparação desta viagem para que me sentisse em casa. Não é difícil sentir-se em casa, nesta terra tão acolhedora. O Paraguai é conhecido como o coração da América, não só pela sua posição geográfica mas também pelo calor da hospitalidade e proximidade do seu povo.

Desde os seus primeiros passos como nação independente até dias ainda recentes, a história do Paraguai conheceu o sofrimento terrível da guerra, do confronto fratricida, da falta de liberdade e da violação dos direitos humanos. Tanta dor e tanta morte! Mas é admirável a tenacidade e o espírito de superação do povo paraguaio para se refazer perante tanta adversidade e prosseguir nos seus esforços por construir uma nação próspera e em paz. Aqui, no jardim deste palácio – que foi testemunha da história do Paraguai, desde quando era apenas margem do rio e era usado pelos Guaranis até aos últimos acontecimentos contemporâneos – quero prestar homenagem aos milhares de paraguaios simples, cujos nomes não aparecerão escritos nos livros de história mas que foram e continuam a ser verdadeiros protagonistas da vida do seu povo. E quero reconhecer, com emoção e admiração, o papel desempenhado pela mulher paraguaia nestes momentos dramáticos da história. Sobre os seus ombros de mães, esposas e viúvas carregaram o peso maior, souberam levar por diante as suas famílias e o seu país, infundindo nas novas gerações a esperança num amanhã melhor.

Um povo que esquece o seu passado, a sua história, as suas raízes, não tem futuro. A memória, firmemente apoiada na justiça e livre de sentimentos de vingança e ódio, transforma o passado numa fonte de inspiração para construir um futuro de convivência e harmonia, tornando-nos cientes da tragédia e insensatez que é a guerra. Nunca mais guerras entre irmãos! Construamos sempre a paz! Uma paz também do dia a dia, uma paz da vida quotidiana na qual todos participamos evitando gestos arrogantes, palavras ofensivas, atitudes prepotentes e, positivamente, fomentando a compreensão, o diálogo e a colaboração. 

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Discurso do Papa no Centro de Reabilitação Palmasola


Discurso do Papa durante visita ao Centro de Reabilitação Palmasola
Santa Cruz de La Sierra, Bolívia
Sexta-feira, 10 de julho de 2015

Queridos irmãos e irmãs!

Não podia deixar a Bolívia sem vir ver-vos, sem deixar de partilhar a fé e a esperança que nascem do amor entregue na cruz.

Obrigado por me receberem. Sei que se prepararam e rezaram por mim. Muito obrigado!

Nas palavras de D. Jesús Juárez e no testemunho de quem falou, pude comprovar que a dor não é capaz de apagar a esperança no mais fundo do coração e que a vida continua a jorrar com força em circunstâncias adversas.

Quem está diante de vós? Poderiam perguntar-se. Gostaria de responder-lhes à pergunta com uma certeza da minha vida, com uma certeza que me marcou para sempre. Aquele que está diante de vós é um homem perdoado. Um homem que foi e está salvo de seus muitos pecados. E é assim como me apresento. Não tenho muito mais para lhes dar ou oferecer, mas o que tenho e amo quero dar-vo-lo, quero partilhá-lo: Jesus Cristo, a misericórdia do Pai.

Ele veio para nos mostrar, fazer visível o amor que Deus tem por nós. Por vós, por mim. Um amor ativo, real. Um amor que levou a sério a realidade do seus. Um amor que cura, perdoa, levanta, cuida. Um amor que se aproxima e devolve a dignidade. Uma dignidade, que podemos perder de muitas maneiras e formas. Mas, nisto, Jesus é um obstinado: deu a sua vida por isto, para nos devolver a identidade perdida.

Lembro-me duma experiência que nos pode ajudar. Pedro e Paulo, discípulos de Jesus, também estiveram encarcerados; também foram privados da liberdade. Nessa circunstância, houve algo que os sustentou, algo que não os deixou cair no desespero, na escuridão que pode brotar da falta de sentido: foi a oração. Pessoal e comunitária. Eles rezaram, e por eles se rezava. Dois movimentos, duas ações que geram entre si uma rede que sustenta a vida e a esperança. Sustenta-nos contra o desespero e incentiva-nos a prosseguir o caminho. Uma rede que vai sustentando a vida, a vossa e a das vossas famílias. 

Cruz, foice e martelo: o presente de Morales ao papa



O presidente Morales também colocou em volta do pescoço do papa uma honraria cuja placa reproduzia a mesma imagem do Crucificado sobre a foice e o martelo. O Papa Francisco, que quase imediatamente tirou o colar, respondeu com presentes muito mais consoantes: uma reprodução do ícone "Salus Populi Romani" e cópias em espanhol da encíclica Laudato si' e da exortação apostólica Evangelii gaudium.

"O Papa Francisco – informou depois o porta-voz, padre Federico Lombardi – não manifestou nenhuma reação particular ao presidente do presidente Morales." O jesuíta também relatou que o crucifixo colocado sobre a foice e o martelo está ligado à memória do padre Luis Espinal, seu coirmão espanhol morto em 1980, em La Paz, depois de um sequestro.