Homilia
Praça do Santuário Mariano de Caacupé
Sábado, 11 de julho de 2015
“Estar aqui com vocês é me sentir em casa, aos pés da nossa Mãe, a Virgem dos Milagres de Caacupé. Num santuário, nós, filhos, nos encontramo com a nossa Mãe e nos lembramos de que somos irmãos uns dos outros. É um lugar de festa, de encontro, de família. Vimos apresentar as nossas necessidades, vimos agradecer, pedir perdão e recomeçar. Muitos batismos, muitas vocações sacerdotais e religiosas, muitos namoros e matrimônios nasceram aos pés da nossa Mãe. Muitas lágrimas e despedidas. Vimos sempre com a nossa vida, porque aqui estamos em casa e o melhor de tudo é saber que há alguém que nos espera.
Como tantas outras vezes, viemos porque queremos renovar a paixão de viver a alegria do Evangelho.
Como não reconhecer que este Santuário é parte vital do povo paraguaio, de vocês. Assim o sentis, assim o rezais, assim o cantais: ‘No teu Éden de Caacupé, é o teu povo, Virgem pura, que Te dá o seu amor e fé’. E estamos hoje, como Povo de Deus, aos pés da nossa Mãe para Lhe dar o nosso amor e fé.
No Evangelho, acabamos de ouvir o anúncio do Anjo a Maria com estas palavras: Alegra-Te, ó cheia de graça, o Senhor está contigo. Alegra-Te, Maria; alegra-Te! Perante essa saudação, Ela ficou perplexa e Se interrogava sobre o seu significado. Não entende grande coisa do que estava acontecendo; mas soube que vinha de Deus e disse: Sim.
Um sim que não foi nada fácil de viver, como sabemos. Um sim, que não a cumulou de privilégios nem distinções; antes, como Lhe dirá Simeão na sua profecia, ‘uma espada [Lhe] trespassará a alma’ (Lc 2, 35). E sabemos que a trespassou… Por isso A amamos tanto, encontrando n’Ela uma verdadeira Mãe que nos ajuda a manter viva a fé e a esperança no meio das situações mais complicadas. Seguindo a profecia de Simeão, nos fará bem rever brevemente três momentos difíceis na vida de Maria.
1. O nascimento de Jesus. Não havia lugar para eles. Não tinham uma casa, uma morada para receber o seu filho. Não havia lugar, onde pudesse dar à luz. Nem família por perto, estavam sozinhos. O único lugar disponível era um curral de animais. E, na sua memória, ecoavam certamente as palavras do Anjo: Alegra-Te, Maria, o Senhor está contigo. E poderia ter Se perguntado: Onde está Ele agora?
2. A fuga para o Egito. Tiveram de partir, Se exilar. Em Belém, não só não havia lugar nem família, mas até mesmo as suas vidas corriam perigo. Tiveram que sair, partindo para uma terra estrangeira. Foram emigrantes pela cobiça e a ganância do Rei Herodes. E lá poderia ter Se perguntado: Onde está aquilo que o Anjo me disse?
3. A morte na cruz. Não deve haver situação mais difícil para uma mãe do que acompanhar a morte de um filho. São momentos lancinantes. Lá, ao pé da cruz, vemos Maria, como qualquer mãe, firme, sem abandonar, mas acompanhando seu filho até ao momento extremo da morte e morte de cruz. E, em seguida, contendo e sustentando os discípulos.
Vemos a sua vida e nos sentimos compreendidos, entendidos. Podemos nos sentar, rezar e usar uma linguagem comum a tantas situações que vivemos diariamente. Podemos nos identificar com muitas situações da sua vida. Contar-Lhe as nossas coisas, porque Ela as entende.
Ela é a mulher de fé, é a Mãe da Igreja, Ela acreditou. A sua vida é testemunha de que Deus não decepciona, não abandona o seu Povo, embora existam momentos ou situações onde parece que Ele não está. Ela foi a primeira discípula que acompanhou seu Filho e sustentou a esperança dos apóstolos nos momentos difíceis. Foi a mulher que esteve atenta e soube dizer – quando parecia ser o fim da festa e da alegria: ‘Não têm vinho!’ (Jo 2, 3). Foi a mulher que soube ir e ficar com a sua prima Isabel ‘cerca de três meses’ (Lc 1, 56), para essa não estar sozinha no parto. Essa é nossa Mãe, boa e generosa.
Sabemos tudo isso pelo Evangelho; mas também sabemos que, nesta terra, é a Mãe que esteve ao nosso lado em muitas situações difíceis. Este Santuário guarda como um tesouro a memória de um Povo que sabe que Maria é Mãe, que esteve e está ao lado dos seus filhos.
Esteve e está nos nossos hospitais, nas nossas escolas, nas nossas casas. Esteve e está nos nossos trabalhos e nos nossos caminhos. Esteve e está à mesa de cada lar. Esteve e está na formação da Pátria, fazendo-nos uma Nação. Sempre com uma presença discreta e silenciosa. Quando olhamos uma imagem, santinho ou medalha, o sinal de um terço, sabemos que não andamos sozinhos, que Ela nos acompanha. Por que motivo? Porque Maria quis estar no meio de seu Povo, com os seus filhos, com a sua família. Seguindo sempre Jesus, no meio da multidão. Não quis, como boa mãe, abandonar os seus; antes pelo contrário, sempre apareceu onde um filho podia ter necessidade d’Ela. E isso, só porque é Mãe.
Uma Mãe que aprendeu a ouvir e a viver, no meio de tantas dificuldades, aquele ‘não temas, o Senhor está contigo’. Uma Mãe que continua a nos dizer: ‘Fazei o que Ele vos disser’. Esse é o seu convite constante e contínuo: ‘Fazei o que Ele vos disser’. Não tem um programa próprio, não vem nos dizer nada de novo. Apenas a sua fé acompanha a nossa fé.
Vocês sabem disso, experimentaram o que estamos partilhando convosco. Todos vocês, todos os paraguaios têm a memória viva de um Povo que encarnou essas palavras do Evangelho. E quero me referir de modo especial a vocês, mulheres e mães paraguaias, que, com grande coragem e dedicação, souberam levantar um país derrotado, afundado, submerso pela guerra. Vocês têm a memória, o DNA daquelas que reconstruíram a vida, a fé, a dignidade do seu povo. Como Maria, viveram situações muito, muito difíceis, que, vistas sob uma lógica comum, poriam em causa toda a fé. Pelo contrário vocês, como Maria, impelidas e sustentadas pelo seu exemplo, continuaram crentes, inclusive ‘com uma esperança para além do que se podia esperar’ (Rm 4, 18). Quando tudo parecia se desmoronar, diziam juntamente com Maria: Não temamos! O Senhor está conosco, está com o nosso povo, com as nossas famílias; façamos o que Ele nos disser. E, assim, encontraram ontem e encontram hoje força para não deixar que esta terra caia no caos. Deus abençoe essa tenacidade, Deus abençoe e anime a fé de vocês, Deus abençoe a mulher paraguaia, a mais gloriosa da América.
Como povo, viemos à nossa casa, à casa da Pátria paraguaia, para ouvir mais uma vez estas palavras que nos fazem muito bem: ‘Alegra-te, o Senhor está contigo’. São um apelo a não perder a memória, as raízes, os inúmeros testemunhos que receberam de povo crente, comprovado pelas suas lutas. Uma fé que se fez vida, uma vida que se fez esperança e uma esperança que vos leva a ‘primeirear’ na caridade. Sim, como Jesus, ‘primeireou’ no amor. Sejam vocês os portadores desta fé, desta vida, desta esperança. Sejam vocês, paraguaios, os forjadores deste hoje e do amanhã.
Voltando o olhar para a imagem de Maria, convido vocês a dizer juntos: ‘No teu Éden de Caacupé, é o teu povo, Virgem pura, que Te dá o seu amor e fé’. Todos juntos: ‘No teu Éden de Caacupé, é o teu povo, Virgem pura, que Te dá o seu amor e fé’. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos de alcançar as promessas e graças de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.”
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Canção Nova
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