Muitas pessoas ficam desconcertadas ao verem o mal
campear no mundo, sem que Deus pareça tomar parte na angústia dos que são
vítimas da violência e da injustiça. Às vezes parece que Deus se torna mudo
diante do nosso sofrimento; mas não é assim.
Alguém já disse que “Deus não fala, mas tudo fala
de Deus”. Isto é, Deus fala pela Revelação e pela vida, mas esta linguagem tem
de ser decifrada. Seus silêncios aparentes são sábios e nos obrigam a exercitar
o ouvido da alma, e criar novas antenas e ouvidos interiores, para ouvir a sua
voz. Não é que Deus não fale, somos nós que não captamos sua palavra.
Deus não é indiferente diante dos acontecimentos
deste mundo. Sempre pesou sobre a mente dos homens a aparente indiferença de
Deus diante do desenrolar dos acontecimentos neste mundo. O povo sente-se, por
vezes, desanimado e propenso a “fazer como todo o mundo faz”, visto que ser
reto e digno parece custar muito caro e não trazer proveito. Até o salmista tem
a tentação de agir como os maus (…), mas depois entende a sua triste sorte:
“Por pouco meus pés tropeçavam; um nada, e meus
passos deslizavam. Porque invejei os arrogantes, vendo a prosperidade dos
ímpios. Para eles não existem tormentos, sua aparência é sadia e robusta; a
fadiga dos mortais não os atinge, não são molestados como os outros (…).
Refleti para compreender, e que fadiga era isto aos
meus olhos! Até que entrei nos santuários divinos: entendi o destino deles! De
fato, tu os pões em ladeiras, tu os fazes cair em ruínas. Ei-los num instante
reduzidos ao terror, deixam de existir, perecem por causa do pavor! (…), Sim,
os que se afastam de Ti se perdem (…). Quanto a mim, estar junto de Deus é o
meu bem!” (Sl 72, 2-5. 16-19. 27s)