segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O que significa dizer que o Papa é o "vigário de Cristo"?


VIGÁRIO
substantivo masculino
1. Aquele que substitui outro.
2. Religioso que, investido dos poderes de outro, exerce em seu nome suas funções.

O Concílio Vaticano II, na Lumen gentium, recorda que o Papa, "em virtude do seu cargo de vigário de Cristo e pastor de toda a Igreja, tem nela pleno, supremo e universal poder que pode sempre exercer livremente" (n. 22). Por isso, ele "é perpétuo e visível fundamento da unidade, não só dos bispos, mas também da multidão dos fiéis" (n. 23).

Portanto, o Papa é vigário de Cristo enquanto exerce sua autoridade sobre toda a Igreja. Seu ministério é somente uma das maneiras em que Cristo se torna presente em sua Igreja, a guia e a mantém unida. Jesus, por exemplo, está presente em sua Palavra, na assembleia que celebra a liturgia e, sobretudo, na Eucaristia.

O Papa e os bispos exercem sua autoridade em nome de Cristo, como seus vigários, ao serviço de toda a Igreja. Isso não significa que sejam imunes a fraquezas, erros, pecados. 

domingo, 4 de outubro de 2015

No Angelus, Francisco explica o Sínodo e pede orações


PAPA FRANCISCO

ANGELUS

Praça de São Pedro
Domingo, 01 de Outubro de 2015


Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Acaba de terminar, na Basílica de São Pedro, a celebração eucarística com a qual demos início a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos. Os Padres sinodais, vindos de todas as partes do mundo e reunidos em torno do Sucessor de Pedro, irão refletir durante três semanas sobre a vocação e a missão da família na Igreja e na sociedade, para um atento discernimento espiritual e pastoral. Manteremos o olhar fixo em Jesus para encontrar, com base no seu ensinamento de verdade e de misericórdia, os caminhos mais oportunos para um empenho adequado da Igreja com as famílias e para as famílias, para que o desígnio original do Criador para o homem e a mulher possa ser implementado e aja em toda a sua beleza e sua força no mundo de hoje.

A liturgia deste domingo propõe o texto fundamental de Gênesis sobre a complementaridade e reciprocidade entre homem e mulher (cf. Gen 2,18-24). Por isso – diz a Bíblia - o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher e os dois se tornarão uma só carne, isto é, uma só vida, uma só existência (cf. v 24). Desta unidade, os cônjuges transmitem a vida a novos seres humanos e se tornam pais. Participam do poder criador do próprio Deus. Mas atenção! Deus é amor, e se participa da sua obra quando se ama com Ele e como Ele. Porquanto – diz São Paulo - o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (cf.  Rom 5, 5). E este é também o amor dado aos cônjuges no sacramento do matrimônio. É o amor que alimenta a relação, através das alegrias e das dores, momentos serenos e difíceis. É o amor que desperta o desejo de criar filhos, esperar por eles, acolhe-los, criá-los, educá-los. É o mesmo amor que, no Evangelho de hoje, Jesus manifesta às crianças: “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas” (Mc 10:14).

Hoje pedimos ao Senhor que todos os pais e educadores do mundo, bem como toda a sociedade, sejam instrumentos do acolhimento e do amor com que Jesus abraça os pequeninos. Ele olha seus corações com a ternura e a solicitude de um pai e ao mesmo tempo de uma mãe. Penso nas muitas crianças famintas, abandonadas, exploradas, obrigadas à guerra, rejeitadas. É doloroso ver as imagens de crianças infelizes, com o olhar perdido, que fogem da pobreza e dos conflitos, batem às nossas portas e aos nossos corações implorando ajuda. O Senhor nos ajude a não sermos uma sociedade-fortaleza, mas uma sociedade-família, capaz de acolher, com regras adequadas, mas acolher. Acolher sempre, com amor.

Convido-os a sustentar com a oração os trabalhos do Sínodo, para que o Espírito Santo faça os Padres sinodais totalmente dóceis às suas inspirações. Invocamos a intercessão materna da Virgem Maria, unindo-nos espiritualmente àqueles que, neste momento, no Santuário de Pompei recitam a "Súplica a Nossa Senhora do Rosário."

Depois do Angelus 

Ideologia de gênero e poder financeiro: o que está por trás da campanha mundial contra a família?


A Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino, em Roma, organizou no último dia 30 de setembro o debate “Ideologia de gênero: uma revolução antropológica”, com a participação de Filippo Savarese, da “Manif Pour Tous – Itália”, da psiquiatra Dina Nerozzi, do padre dominicano Giorgio Maria Carbone, especialista em Bioética, e do economista Federico Iadicicco, membro da associação ProVita.

Federico Iadicicco abordou em particular os grandes interesses financeiros que propagam o chamado “indiferentismo sexual” e, por conseguinte, atacam a constituição familiar. Entre as observações compartilhadas pelo economista italiano, destacam-se:

Grandes corporações multinacionais como a Apple, a Coca-Cola, a Pepsi, a Nike, a Motorola, a Kodak, a Open Society de George Soros, as fundações MacArthur, Ford, Goldman e Rockefeller, entre outras gigantes, bancam grandes e constantes aportes de dinheiro às chamadas “causas LGBT”.

É de interesse dessas corporações desintegrar os “organismos intermediários”, como a família, a fim de destruir paulatinamente os laços comunitários e de relacionamento, deixando o ser humano cada vez mais sozinho e sem vínculos. Quanto mais solitário for o indivíduo, mais frágil ele será, e essa fragilidade o torna um consumidor e um súdito perfeito: ele buscará na compulsão do consumo as tentativas de preencher o próprio vazio. Além disso, sem vínculos familiares, sociais e comunitários fortes, ele representa pouco ou nenhum perigo para a gigantesca indústria que governa o mundo.

Particularmente importante para essa estratégia de desintegração humana é a popularização e generalização da chamada “barriga de aluguel”: afinal, quanto mais gente ignorar a identidade da própria mãe e do próprio pai, mais frágeis ficam os vínculos de paternidade-maternidade e filiação.

O poder econômico e financeiro impõe a sua agenda aos poderes políticos, que passam a ser marionetes das grandes corporações mundiais. É chamativa, por exemplo, a grande atenção dedicada pelos organismos supranacionais à imposição da ideologia de gênero nas legislações dos países. A Organização Mundial da Saúde, que deveria estar concentrada em resolver os verdadeiros problemas de saúde que afligem o mundo, está muito mais interessada em impor diretrizes ideológicas de educação sexual para crianças e em implantar a teoria de gênero nas escolas para manipular desde cedo as novas gerações. 

Sínodo: Papa pede defesa da união «indissolúvel» homem-mulher


SANTA MISSA DE ABERTURA
DA XIV ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Basílica Vaticana
XXVII Domingo do Tempo Comum, 4 de Outubro de 2015


«Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor chegou à perfeição em nós» (1 Jo 4, 12).

As Leituras bíblicas deste Domingo parecem escolhidas de propósito para o evento de graça que a Igreja está a viver, ou seja, a Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos que tem por tema a família e é inaugurada com esta celebração eucarística.

Aquelas estão centradas em três argumentos: o drama da solidão, o amor entre homem-mulher e a família.

A solidão

Como lemos na primeira Leitura, Adão vivia no Paraíso, impunha os nomes às outras criaturas, exercendo um domínio que demonstra a sua indiscutível e incomparável superioridade, e contudo sentia-se só, porque «não encontrou auxiliar semelhante a ele» (Gn 2, 20) e sentia a solidão.

A solidão, o drama que ainda hoje aflige muitos homens e mulheres. Penso nos idosos abandonados até pelos seus entes queridos e pelos próprios filhos; nos viúvos e nas viúvas; em tantos homens e mulheres, deixados pela sua esposa e pelo seu marido; em muitas pessoas que se sentem realmente sozinhas, não compreendidas nem escutadas; nos migrantes e prófugos que escapam de guerras e perseguições; e em tantos jovens vítimas da cultura do consumismo, do «usa e joga fora» e da cultura do descarte.

Hoje vive-se o paradoxo dum mundo globalizado onde vemos tantas habitações de luxo e arranha-céus, mas o calor da casa e da família é cada vez menor; muitos projectos ambiciosos, mas pouco tempo para viver aquilo que foi realizado; muitos meios sofisticados de diversão, mas há um vazio cada vez mais profundo no coração; tantos prazeres, mas pouco amor; tanta liberdade, mas pouca autonomia... Aumenta cada vez mais o número das pessoas que se sentem sozinhas, e também daquelas que se fecham no egoísmo, na melancolia, na violência destrutiva e na escravidão do prazer e do deus-dinheiro.

Em certo sentido, hoje vivemos a mesma experiência de Adão: tanto poder acompanhado por tanta solidão e vulnerabilidade; e ícone disso mesmo é a família. Verifica-se cada vez menos seriedade em levar por diante uma relação sólida e fecunda de amor: na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na boa e na má sorte. Cada vez mais o amor duradouro, fiel, consciencioso, estável, fecundo é objecto de zombaria e olhado como se fosse uma antiguidade. Parece que as sociedades mais avançadas sejam precisamente aquelas que têm a taxa mais baixa de natalidade e a taxa maior de abortos, de divórcios, de suicídios e de poluição ambiental e social. 

Uma Igreja, que é família, sabe apresentar-se com a proximidade e o amor dum pai, diz Papa


VIGÍLIA DE ORAÇÃO EM PREPARAÇÃO
À XIV ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS

DISCURSO DO PAPA FRANCISCO

Praça São Pedro
Sábado, 3 de Outubro de 2015


Queridas famílias, boa noite!

Que aproveita acender uma pequena candeia na escuridão que nos rodeia? Bem mais seria necessário para dissipar a obscuridade. Mas podem-se vencer as trevas?

Há certas fases da vida (uma vida que, apesar de tudo, está cheia de recursos maravilhosos) em que estas questões se impõem com toda a sua força. À vista das exigências da vida, sente-se a tentação de voltar atrás, desertar e fechar-se, até mesmo em nome da prudência e do realismo, escapando assim da responsabilidade de fazer cabalmente a própria parte.

Recordais a experiência de Elias? O cálculo humano leva o profeta a encher-se de medo, e este impele-o a refugiar-se. «Elias teve medo e saiu dali para salvar a sua vida. (...) Andou quarenta dias e quarenta noites até chegar ao Horeb, o monte de Deus. Tendo chegado ao Horeb, Elias passou a noite numa caverna, onde lhe foi dirigida a palavra do Senhor: “Que fazes aí, Elias?”» (1 Re 19, 3.8-9). Depois, no Horeb, encontrará a resposta, não no vento impetuoso que fendia as rochas, nem no terremoto, nem sequer no fogo. A graça de Deus não ergue a voz; é um murmúrio, de que se apercebem todos aqueles que estão prontos a ouvir a sua brisa suave: exorta-os a sair, a voltar para o mundo, testemunhas do amor de Deus pelo homem, para que o mundo creia…

Com este fôlego, precisamente há um ano nesta mesma Praça, invocamos o Espírito Santo, pedindo que os Padres sinodais – ao debruçar-se sobre a família – soubessem escutar e dialogar tendo os olhos fixos em Jesus, Palavra definitiva do Pai e critério de interpretação de tudo.

Nesta noite, não pode ser diferente a nossa oração. Porque, como recordava o Metropolita Ignazio IV Hazim, sem o Espírito Santo, Deus fica longe, Cristo permanece no passado, a Igreja torna-se uma simples organização, a autoridade transforma-se em domínio, a missão em propaganda, o culto em evocação, o agir dos cristãos numa moral de escravos (cf. Discurso à Conferência Ecuménica de Uppsala, 1968).

Por isso, rezemos para que o Sínodo, cuja abertura é amanhã, saiba reconduzir a uma figura de homem na sua plenitude a experiência conjugal e familiar; reconheça, valorize e proponha tudo o que nela há de belo, bom e santo; abrace as situações de vulnerabilidade, que a põem à prova: a pobreza, a guerra, a doença, o luto, as relações feridas e desfeitas de que brotam contrariedades, ressentimentos e rupturas; lembre a estas famílias, como a todas as famílias, que o Evangelho permanece uma «boa notícia» donde recomeçar. Do tesouro da tradição viva, os Padres saibam tirar palavras de consolação e directrizes de esperança para famílias chamadas a construir, neste tempo, o futuro da comunidade eclesial e da cidade do homem.

Chip e 666 – Tirando o nosso foco da verdadeira Besta


Muitos cristãos, inclusive católicos, estão apavorados com a possibilidade de que, em breve, os governos de todo o mundo obriguem os cidadãos a usar microchips sob a pele. Protestantes neopentecostais, sempre “ungidos” com aquele pudê de correta interpretação da Bíblia (aham…) estão garantindo que os chips implantados sob a pele são a concretização dessa profecia do Apocalipse:

"Conseguiu que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, tivessem um sinal na mão direita e na fronte, e que ninguém pudesse comprar ou vender, se não fosse marcado com o nome da Fera, ou o número do seu nome. Eis aqui a sabedoria! Quem tiver inteligência, calcule o número da Fera, porque é número de um homem, e esse número é seiscentos e sessenta e seis." (Ap 13,16-18)

Vejam a matéria que a TV da Igreja Universal do Reino de Deus preparou sobre o assunto (filme B de terror perde):


Depois dessa dose cavalar e quase suicida de exegese bíblica destrambelhada – ou melhor, de exeJEGUE bíblica –, vamos aos fatos. É possível que, no futuro, todos os cidadãos tenham que usar microchips sob a pele? Sim, é possível. Será algo bom? Será algo ruim? Não sabemos. Por enquanto, como disse Dom Estêvão Bettencourt,do ponto de vista religioso só podemos dizer que o uso dessa tecnologia é algo neutro (Fonte: Revista P&R, Nº 486 – Ano 2002 – p. 496).

Santa Sé dispensa padre após ele revelar ser gay


Um padre polonês, Krysztof Olaf Charamsa, membro da Congregação para a Doutrina da Fé, revelou sua homossexualidade neste sábado, 03-10-2015,  nos jornais, um dia antes do Sínodo sobre a família, para sacudir a uma Igreja ‘paranoica’ sobre este tema.

O padre nasceu em Gdymia, Polônia, e tem 43 anos. Ele reconhece que tem um parceiro. “Sei que terei que renunciar ao meu ministério, ainda que é toda minha vida”, afirma em entrevista concedida ao jornal Corriere della Sera.

Sei que a Igreja me verá como alguém que não soube cumprir com o seu dever (de castidade), que se extraviou e, como se não fosse pouco, não como uma mulher, mas com um homem”, exclama.


Mas “não faço isto para viver com meu parceiro. Faço-o por mim, por minha comunidade, para a Igreja. É uma decisão muito mais profunda que nasce da minha reflexão sobre o que prega a Igreja”.

Sobre o tema da homossexualidade, “a Igreja está atrasada em relação aos conhecimentos que alcançou a humanidade”, opina, e assegura que “não se pode esperar por outros 50 anos”.

“Está na hora da Igreja abrir os olhos frente aos homossexuais crentes e entenda que a solução que propõe, ou seja, a abstinência total e uma vida sem amor, não é humana”, declara.

“O clero é amplamente homossexual e também, infelizmente, homófobo até a paranoia, porque está paralisado pela falta de aceitação para sua própria orientação sexual”, acrescenta na edição polaca da revista Newsweek.

“Desperta, Igreja, deixa de perseguir os inocentes. Não quero destruir a Igreja, quero ajuda-la e, sobretudo, quero ajudar a quem ela persegue. Minha saída do armário deve ser um chamado ao sínodo para que a Igreja cesse suas ações paranoicas contra as minorias sexuais”, afirma.

“Gostaria de dizer ao sínodo que o amor homossexual é um amor familiar, que necessita da família. Todos, incluídos os gays, as lésbicas e os transexuais, levam no coração um desejo de amor e de família”, disse ao jornal italiano, numa mensagem dirigida aos 360 participantes do sínodo que se reunirá a partir do domingo, 04-10-2015, no Vaticano.

O padre polaco confessa que sempre se sentiu homossexual mas que, no princípio, não o aceitava e repetia o que a Igreja impunha, “o princípio segundo o qual ‘a homossexualidade não existe’”.


Depois de conhecer o seu parceiro, teve “o sentimento de se converter num padre melhor, de fazer homilias melhores, de ajudar melhor os outros e de ser cada vez mais feliz”, narra para a revista Newsweek.

sábado, 3 de outubro de 2015

O Sínodo, o papel do Papa e as dúvidas sobre o Espírito Santo


Na tarde do dia 18 de outubro de 2014, ao concluir os trabalhos do Sínodo extraordinário sobre os desafios pastorais relacionados à família, o Papa Francisco fez um breve mas denso discurso no qual resumiu algumas “tentações” que percebeu durante o debate na aula. E acrescentou: “Muitos comentaristas, ou pessoas que falam, imaginaram ver uma Igreja brigando, onde uma parte é contra a outra, duvidando inclusive do Espírito Santo, o verdadeiro promotor e garante da unidade e da harmonia na Igreja. O Espírito Santo que ao longo da história sempre guiou a barca, através dos seus ministros, mesmo quando o mar estava agitado e quando os ministros eram infiéis e pecadores”.

A alusão aos comentadores ou às pessoas que falam era dirigida a esse Sínodo “da mídia”, que representou o debate na aula como um verdadeiro “ringue”, concentrando tudo sobre a questão “comunhão sim ou não (e em algumas condições) aos divorciados recasados”. Talvez, às vésperas do Sínodo ordinário, no qual, durante três semanas, os bispos de todas as partes do mundo irão discutir e debater o tema da família, poderá ser útil também a segunda parte daquela frase do Papa: o perigo de duvidar “inclusive do Espírito Santo”, garante da unidade, que sempre guiou a barca, mesmo em tempos tempestuosos.

Outro aspecto desse discurso concentrava-se no convite para “viver tudo isso com tranquilidade e paz interior”, mesmo porque o sínodo “se desenvolve cum Petro et sub Petro, e a presença do Papa é garantia para todos”. Francisco recordou também que “a missão do Papa é garantir a unidade da Igreja; recordar aos pastores que o seu primeiro dever é o de alimentar o rebanho”, acolher. Mais ainda, é ir em busca das “ovelhas perdidas” com “paternidade e misericórdia e sem falsos medos”. O Papa é “o garante da obediência e da conformidade da Igreja à vontade de Deus, ao Evangelho de Cristo e à Tradição da Igreja”.

Recordar as palavras de Francisco, que revisam alguns fundamentos da fé católica sobre o Espírito Santo e sobre o papel do Bispo de Roma, pode ajudar a interpretar com maior distância o debate midiático (muito polarizado) que aqueceu os motores antes da abertura das sessões de trabalho do Sínodo: congressos internacionais, declarações, entrevistas, significativos ‘não’ sobre o que se pode ou não se pode fazer, evocações do espectro de um cisma, petições para declarar heréticas as posturas do outro, ameaças de autonomia de Roma no caso de o resultado não ser aquele que alguns esperavam.

No discurso final, aos padres sinodais, Francisco falou, há um ano, sobre várias “tentações”. Uma destas era a “do bondosismo destrutivo, que em nome de uma misericórdia enganadora, enfaixa as feridas sem antes curá-las e medicá-las; que trata os sintomas e não as causas nem as raízes”. Outra delas foi definida pelo Papa como “a tentação do endurecimento hostil”, isto é, “de querer fechar-se dentro do escrito (a letra) e não deixar-se surpreender por Deus, pelo Deus das surpresas (o Espírito); dentro da lei, dentro da certeza daquilo que conhecemos e não daquilo que devemos ainda aprender e atingir”.

À luz destas palavras, surpreendem, pois, as considerações propostas nos últimos dias por dois expoentes do mundo acadêmico: Gilfredo Marengo, professor de Antropologia Teológica no Pontifício Instituto João Paulo II sobre a Família, e o sociólogo Massimo Introvigne, estudioso das religiões. Nenhum deles pode ser classificado como “progressista”.

Marengo afirmou que “não convence a atitude de quantos viram com suspeitas qualquer proposta que fosse além da simples repetição dos dados do Magistério já conhecidos, empunhando perigos para a unidade da Igreja e a fidelidade à revelação”.

“Perante estes temores desproporcionais – escreve o teólogo do Pontifício Instituto João Paulo II sobre a Família – conviria recordar duas coisas. Em primeiro lugar, não se compreenderia a necessidade de uma atenção tão longa e intensa ao tema da família, assim como o Papa quis, se o resultado esperado fosse simplesmente a simples repetição de tudo o que já foi dito. Em segundo lugar, é necessária uma recepção do magistério da Igreja contemporânea sobre o matrimônio e sobre a família que não se esquece de seu peculiar perfil pastoral”.