Flores,
frutos, fungos e folhas secas. Depois: sacerdotes rígidos que
"mordem"; seminaristas quase sádicos, porque, no fundo, “doentes
mentais”; mães que dão “palmadas espirituais” e bispos que só viajam e se
preocupam pouco dos problemas na diocese e que, talvez, fariam melhor em “se
demitirem”. Essas são as imagens e as metáforas que pontilham o
"compêndio" sobre a formação e o ministério dos sacerdotes que
Francisco desenhou na última sexta, 20,* durante a sua longa audiência aos
participantes do Congresso na Pontifícia Universidade Urbaniana, promovido pela
Congregação para o Clero por ocasião do 50º aniversário dos Decretos
Conciliares Optatam totius e Presbyterorum ordinis. Dois decretos que – diz o
papa – são “uma semente” lançada pelo Concílio “no campo da vida da Igreja” e
que durante estas cinco décadas “cresceram, se tornaram uma planta vigorosa,
embora com algumas folhas secas, mas, especialmente com muitas flores e frutos
que adornam a Igreja de hoje”. Juntos, esses dois são “duas metades de uma
realidade única: a formação dos sacerdotes, que dividimos em inicial e
permanente, mas que constitui por si só uma única experiência de discipulado”.
Os
padres são homens, não formados em laboratório
"O caminho de santidade de um padre começa no
seminário!”, destaca Bergoglio, identificando três fases tópicas: "tomados
dentre os homens", "constituídos em favor dos homens", presentes
“no meio dos outros homens”. “Tomados dentre os homens” no sentido de que “o
sacerdote é um homem que nasce em um certo contexto humano; ali aprende os
primeiros valores, absorve a espiritualidade do povo, se acostuma às relações”.
"Até mesmo os sacerdotes têm uma história". Não são “fungos” que
“surgem de repente na Catedral no dia da sua ordenação”, diz Francisco. É
importante, por isso, que os formadores e os próprios sacerdotes tenham em
conta tal história pessoal ao longo do caminho de formação. “Não se pode ser
sacerdote acreditando que se formou em um laboratório”, acrescenta de
improviso, “não, começa na família com a tradição da fé e todas as experiências
da família”. É necessário, portanto, que toda a formação “seja personalizada,
porque é a pessoa concreta que é chamada ao discipulado e ao sacerdócio”.
Família
primeiro centro vocacional. "Não se esqueçam mães e avós".
Acima de tudo, devemos lembrar o fundamental
“centro de pastoral vocacional” que é a família: “igreja doméstica e primeiro e
fundamental lugar de formação humana”, onde pode germinar “o desejo de uma vida
concebida como caminho vocacional”. “Não se esqueçam das vossas mães e das
vossas avós”, exorta Francisco. Depois, elenca os outros contextos
comunitários: “escola, paróquia, associações, grupos de amigos”, onde – diz –
“aprendemos a estar em relação com pessoas concretas, nos fazemos modelar da
relação com eles, e nos tornamos o que somos também graças a eles".
"Um bom sacerdote", portanto, "é
antes de tudo um homem com a sua própria humanidade, que conhece a sua própria
história, com as suas riquezas e as suas feridas, e que aprendeu a fazer as
pazes com ela, alcançando a serenidade de fundo, própria de um discípulo do
Senhor”, destaca Francisco. Por isso, “a formação humana” é necessária para os
sacerdotes, “para que aprendam a não serem dominados pelos seus limites, mas,
sim, a construir sobre os seus talentos”.
"Sacerdotes
neuróticos? Não pode... Que passem por um médico para tomar remédio”.
Além do mais um padre em paz consigo mesmo e com a
sua história “saberá difundir serenidade ao seu redor, também nos momentos
difíceis, transmitindo a beleza da relação com o Senhor”. Não é normal, de
fato, “que um sacerdote seja triste muitas vezes, nervoso ou duro de caráter”,
observa o Papa Francisco: “Não está bem e não faz bem, nem ao sacerdote, nem ao
seu povo. Mas se você tem uma doença e é neurótico, vá a um médico! A um médico
clínico que te dará um comprimido que te fará bem. Também dois! Mas, por favor,
que os fieis não falem das neuroses dos padres. E não batam nos fieis”.
Os sacerdotes são, de fato, "apóstolos da
alegria" e com a sua atitude podem “favorecer ou obstruir o encontro entre
o Evangelho e as pessoas”. “A nossa humanidade é o vaso de barro’ onde
guardamos o tesouro de Deus”; é necessário, por isso, cuidar “para transmitir
bem o seu precioso conteúdo”. Nunca um sacerdote deve “perder a capacidade de
alegria. Se a perde existe algo errado”, recomenda o Santo Padre.
E admite que "honestamente" tem medo dos
rígidos: “é melhor ficar longe dos sacerdotes rígidos, eles mordem”, diz com
ironia. “Lembro-me daquilo que disse Santo Ambrósio no século IV; onde há a
misericórdia está o espírito do Senhor. Onde há a rigidez, estão só os seus
ministros. E o ministro sem o Senhor se torna rígido. E isso é um perigo para o
povo de Deus”.