VIAGEM
DO PAPA FRANCISCO À ÁFRICA
–
QUÊNIA, UGANDA e REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA –
DISCURSO
Santa
Missa e abertura da Porta Santa
Bangui
– República Centro-Africana
Domingo,
29 de novembro de 2015
Neste Primeiro Domingo de Advento, tempo litúrgico
da expectativa do Salvador e símbolo da esperança cristã, Deus guiou os meus
passos até junto de vós, nesta terra, enquanto a Igreja universal se prepara
para inaugurar o Ano Jubilar da Misericórdia. E sinto-me particularmente feliz
pelo fato de a minha visita pastoral coincidir com a abertura no vosso país
deste Ano Jubilar. A partir desta Catedral, com o coração e o pensamento, quero
alcançar afetuosamente todos os sacerdotes, os consagrados, os agentes pastorais
deste país, que estão espiritualmente unidos conosco neste momento. Através de
vós, quero saudar todos os centro-africanos, os doentes, as pessoas idosas, os
feridos pela vida. Talvez alguns deles estejam desesperados e já não tenham
força sequer para reagir, esperando apenas uma esmola, a esmola do pão, a
esmola da justiça, a esmola dum gesto de atenção e bondade.
Mas, como os apóstolos Pedro e João que subiam ao
templo e não tinham ouro nem prata para dar ao paralítico indigente, venho
oferecer-lhes a força e o poder de Deus que curam o homem, fazem-no levantar e
tornam-no capaz de começar uma nova vida, «passando à outra margem» (cf. Lc 8,
22).
Jesus não nos envia sozinhos para a outra margem,
mas convida-nos a fazer a travessia juntamente com Ele, respondendo cada qual a
uma vocação específica. Devemos, pois, estar cientes de que esta passagem para
a outra margem só se pode fazer com Ele, libertando-nos das concepções de
família e de sangue que dividem, para construir uma Igreja-Família de Deus,
aberta a todos, que cuida dos mais necessitados. Isto pressupõe a proximidade
aos nossos irmãos e irmãs, isto implica um espírito de comunhão. Não se trata
primariamente duma questão de recursos financeiros; realmente basta
compartilhar a vida do Povo de Deus, dando a razão da esperança que está em nós
(cf. 1 Ped 3, 15), sendo testemunhas da misericórdia infinita de Deus, que –
como sublinha o Salmo Responsorial deste domingo – «é bom e (…) ensina o
caminho aos pecadores» (Sal 25/24, 8). Jesus ensina-nos que o Pai celeste «faz
com que o Sol se levante sobre os bons e os maus» (Mt 5, 45). Depois de nós
mesmos termos feito a experiência do perdão, devemos perdoar. Aqui está a nossa
vocação fundamental: «Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste»
(Mt 5, 48). Uma das exigências essenciais desta vocação à perfeição é o amor
aos inimigos, que protege contra a tentação da vingança e contra a espiral das
retaliações sem fim. Jesus fez questão de insistir sobre este aspecto
particular do testemunho cristão (cf. Mt 5, 46-47). Consequentemente os agentes
de evangelização devem ser, antes de mais nada, artesãos do perdão,
especialistas da reconciliação, peritos da misericórdia. É assim que podemos
ajudar os nossos irmãos e irmãs a «passar à outra margem», revelando-lhes o
segredo da nossa força, da nossa esperança, e da nossa alegria que têm a sua
fonte em Deus, porque estão fundadas na certeza de que Ele está connosco no
barco. Como fez com os Apóstolos na altura da multiplicação dos pães, é a nós que
o Senhor confia os seus dons para irmos distribuí-los por todo o lado,
proclamando a sua palavra que garante: «Eis que virão dias em que cumprirei a
promessa favorável que fiz à casa de Israel e à casa de Judá» (Jr 33, 14).