terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Judas e Pedro


A principal diferença entre as histórias de Judas e de Pedro está no seu desfecho. Os dois traíram, ambos se afastaram de Jesus. Mas Pedro terminou bem: reassumiu a sua condição de Apóstolo e chegou a ser a Rocha firme de que Deus necessitava para a sua Igreja. Ao passo que Judas terminou mal, num horrível suicídio. Por que essa diferença?

A queda de Judas representa para nós uma advertência. Assim o afirma o autor, com toda a razão. Com efeito, causa vertigem pensar que um homem bom, escolhido e preparado por Deus para realizar uma grande missão, um homem que conviveu intimamente com o próprio Jesus e que tinha todas as condições para ser fiel até o fim e muito santo, tenha caído tão fundo.

Essa advertência torna-se ainda mais forte, se nos lembrarmos de que não foi só Judas que traiu. Os outros Apóstolos, também traíram o Senhor, embora de outro modo, e até o próprio Pedro, o Príncipe dos Apóstolos, traiu Cristo. Ele que tinha recebido a missão de ser a rocha incomovível sobre a qual se deveria edificar a Igreja ao longo dos séculos, negou covardemente o Senhor.

Judas e Pedro. Duas histórias que nos colocam diante do mistério do mal, dos abismos de maldade que existem no coração de todo o ser humano. Sem dúvida, uma advertência importante.

UM PARALELO

As quedas de Judas e de Pedro apresentam um grande paralelismo. Em ambos os casos, houve uma longa história de claudicações que culminaram quer na traição, quer na negação. Mas há também diferenças significativas.

Judas, antes de cair, corrompeu-se totalmente. No início, seguia Jesus com retidão. Havia na sua alma, como na dos outros Apóstolos, ambições humanas alheias à missão de Cristo e interesses pessoais mesquinhos, mas estavam num segundo plano; o que importava acima de tudo era colaborar com o Senhor.

No entanto, com o passar do tempo, essa situação foi-se invertendo: as ambições pessoais de Judas, não devidamente subjugadas à medida que “erguiam a cabeça”, foram pouco a pouco ganhando terreno até que, em dado momento, o Apóstolo percebeu com nitidez que a proposta de Jesus não se coadunava em absoluto com elas. Então, em lugar de retificá-las, preferiu mantê-las e colocá-las em primeiro lugar na sua vida. Em hipótese alguma teria conseguido responder como os filhos de Zebedeu: “Podemos”, se tivesse sido convidado como eles a beber do cálice da Cruz. Ou talvez o tivesse feito... mentindo.

A partir daí, foi-se desenvolvendo na sua alma um processo de infecção generalizada pelo câncer de um tremendo egoísmo. Seu coração foi-se endurecendo e distanciando aceleradamente de Cristo. A sua consciência foi-se embotando: começou a roubar o dinheiro da bolsa da que era encarregado, e, perdida a confiança em Jesus, passou a olhá-lo com olhos cada vez mais críticos, até chegar, após sucessivas decepções, a odiar Aquele a quem tanto admirara. Finalmente veio a traição vil.

Pedro, pelo contrário, nunca perdeu essa retidão interior. Começou a seguir Jesus num arranque abnegado de generosidade, por amor. E por amor seguiu-o até ao fim. No entanto, a sua natureza generosa e ardente era frágil, e Pedro, apesar de tantas advertências carinhosas mas claras de Cristo, preferiu ignorá-las presunçosamente. E foi essa presunção que o perdeu. O seu itinerário até à queda correu pela linha das atitudes de autosuficiência, das “desafinações” em relação ao espírito do Mestre, que a longo prazo apontavam para a infidelidade em situações extremas. E assim chegou à sua tríplice negação.

Pedro, tal como Judas, tinha uma visão demasiado humana da sua missão e do próprio Cristo. Não atribuía a devida importância à oração – Jesus tivera que censurá-lo no Horto das Oliveiras por ter adormecido e deixado de vigiar em sua companhia –; freqüentemente julgava sem a perspectiva da fé – movido por um carinho superficial e emotivo por Cristo, tentara demovê-lo do cumprimento cabal da vontade do Pai no sacrifício da Cruz –; pensava presunçosamente que nunca abandonaria o seu Mestre, ainda que todos os outros o fizessem. O resultado foi que, na noite da Sexta-feira Santa, num gesto atrevido em que se misturavam amor e presunção, seguiu Jesus até à casa do Sumo-sacerdote, o reduto do inimigo, e foi surpreendido pela própria fraqueza, caindo, impotente, nas três negações.

Estamos, portanto, diante de duas modalidades de queda, ambas inquietantes. Uma, a de um homem que era bom e que se deixou corromper por ambições egoístas até à mais completa dureza de coração; e a outra, a de um homem igualmente bom, que sem deixar de ser reto chegou, por presunção, a tornar-se extremamente vulnerável. 

Quem nos deu a vida também nos ensinou a orar


Os preceitos evangélicos, irmãos caríssimos, não são outra coisa que ensinamentos divinos, fundamentos para edificar a esperança, bases para consolidar a fé, alimento para revigorar o coração, guias para mostrar o caminho, garantias para obter a salvação. Enquanto instruem na terra os espíritos dóceis dos que creem, eles os conduzem para o Reino dos céus.

Outrora quis Deus falar e fazer-nos ouvir de muitas maneiras pelos profetas, seus servos. Mas muito mais sublime é o que nos diz o Filho, a Palavra de Deus, que já estava presente nos profetas e agora dá testemunho pela sua própria voz. Ele não manda mais preparar o caminho para aquele que há de vir, mas vem, ele próprio, mostrar-nos e abrir-nos o caminho para que nós, outrora cegos e imprevidentes,errantes nas trevas da morte, iluminados agora pela luz da graça, sigamos o caminho da vida, sob a proteção e guia do Senhor.

Entre as exortações salutares e os preceitos divinos com que orienta seu povo para a salvação, o Senhor ensinou o modo de orar e nos instruiu e aconselhou sobre o que havemos de pedir. Quem nos deu a vida, também nos ensinou a orar com a mesma bondade com que se dignou conceder-nos tantos outros benefícios, a fim de que, dirigindo-nos ao Pai com a súplica e oração que o Filho nos ensinou, sejamos mais facilmente ouvidos.

Jesus havia predito que chegaria a hora em que os verdadeiros adoradores adorariam o Pai em espírito e em verdade. E cumpriu o que prometera. De fato, tendo nós recebido por sua graça santificadora o Espírito e a verdade, podemos adorar a Deus verdadeira e espiritualmente segundo os seus ensinamentos.

Pode haver, com efeito, oração mais espiritual do que aquela que nos foi ensinada por Cristo, que também nos enviou o Espírito Santo? Pode haver prece mais verdadeira aos olhos do Pai do que aquela que saiu dos lábios do próprio Filho que é a Verdade? Assim, orar de maneira diferente da que o Senhor nos ensinou não é só ignorância, mas também culpa, pois ele mesmo disse: Anulais o mandamento de Deus a fim de guardar as vossas tradições (cf. Mc 7,9).
Oremos, portanto, irmãos caríssimos, como Deus, nosso Mestre, nos ensinou. A oração agradável e querida por Deus é a que rezamos com as suas próprias palavras, fazendo subir aos seus ouvidos a oração de Cristo.

Reconheça o Pai as palavras de seu Filho, quando oramos. Aquele que habita interiormente em nosso coração, esteja também em nossa voz; e já que o temos junto ao Pai como advogado por causa de nossos pecados, digamos as palavras deste nosso advogado quando, como pecadores, suplicarmos por nossas faltas. Se ele disse que tudo o que pedirmos ao Pai em seu nome nos será dado (cf. Jo 14,13), quanto mais eficaz não será a nossa súplica para obtermos o que pedimos em nome de Cristo, se pedirmos com sua própria oração! 


Do Tratado sobre a Oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir

(Cap.1-3: CSEL 3,267-268)             (Séc.III)

Os desastres naturais são um castigo divino?


Milhões de pessoas inocentes sofrem os efeitos de acidentes ou desastres naturais. Não sabemos a razão pela qual Deus permite os desastres naturais, mas Ele não é indiferente ao sofrimento. Sabemos que, no começo, Deus criou a natureza e a abençoou. Quando Adão e Eva pecaram, o mal entrou no mundo e esta desordem também afetou a natureza (criando a possibilidade de que haja desastres naturais). As catástrofes não são “obra de Deus” no sentido de queridas por Ele como tais. Inclusive nestas situações de desastre, o sofrimento de Cristo está unido ao das pessoas, porque Jesus tenta levar todos até Ele.

Muitas pessoas sofrem quando as catástrofes as atingem, incluindo aquelas que nunca cometeram pecados graves ou tiveram más condutas.

João Paulo II, em sua carta apostólica “Salvifici doloris”, usa a história bíblica de Jó para ensinar que o sofrimento nem sempre é um castigo. Explica que Jó foi atingido por “inúmeros sofrimentos” e que seus amigos diziam que ele provavelmente tinha feito algo mau para merecer isso. Segundo eles, o sofrimento sempre é o castigo por um crime realizado; é enviado por um Deus absolutamente justo e por motivos de justiça.

“Este, a seu ver – afirma João Paulo II – , pode ter sentido somente como pena pelo pecado; e portanto, exclusivamente no plano da justiça de Deus, que paga o bem com o bem e o mal com o mal”. Acontece a mesma coisa quando as pessoas dizem que as catástrofes naturais são “obra de Deus”.

João Paulo II diz que a história de Jó demonstra que esta afirmação é falsa. Escreve: “Se é verdade que o sofrimento tem um sentido como castigo, quando ligado à culpa, já não é verdade que todo o sofrimento seja consequência da culpa e tenha caráter de castigo. A figura do justo Jó é disso prova convincente no Antigo Testamento. A revelação, palavra do próprio Deus, põe o problema do sofrimento do homem inocente com toda a clareza: o sofrimento sem culpa. Jó não foi castigado; não havia razão para lhe ser infligida uma pena, não obstante ter sido submetido a uma duríssima prova”.

Um exemplo do Novo Testamento: Cristo fala desta situação quando 18 pessoas morreram quando uma torre caiu. Ele disse: “E aqueles dezoito que morreram quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram mais culpados do que qualquer outro morador de Jerusalém? Eu vos digo que não” (Lc 13, 4-5). Aqui, Jesus nos recorda que os que sofrem não são necessariamente mais pecadores que os que não sofrem.

Quando Deus criou a natureza, tudo era bom. Mas quando o pecado entrou no mundo,  também a natureza se viu afetada. A corrupção da criação perfeita por meio do pecado deu espaço aos desastres naturais.

Antes da queda de Adão e Eva (e, portanto, de toda a humanidade), existia uma harmonia entre o homem, os animais e a natureza, e o homem tinha a tarefa de cuidar da criação. O primeiro capítulo da Bíblica nos conta: “Deus viu tudo quanto havia feito e achou que era muito bom” (Gn 1, 31). 

Santo Onésimo


O Santo que hoje nos ajuda na edificação de nossa vida chama-se Onésimo. Era um escravo dos homens e tornou-se um servo de Deus. A santidade de Onésimo está descrita nas páginas da Bíblia, pelo testemunho de São Paulo.

Santo Onésimo era escravo do rico Filêmon, e antes de conhecer Jesus fugiu da casa do senhor até encontrar-se em Roma com São Paulo, que estava preso evangelizou o fugitivo. Filêmon, sua esposa e filho, em certa ocasião foram atingidos por Jesus através de São Paulo. Ao enviar Onésimo, já convertido ao cristianismo, de volta para casa, São Paulo escreveu:

"De bom grado o teria conservado comigo, a fim de que ele me sirva em teu lugar na prisão, onde estou por causa do Evangelho; entretanto, nada quis fazer sem o teu consentimento, para que tal benefício não tenha ares de forçado, mas o provenha de tua livre vontade. Portanto, se me consideras teu irmão na fé, recebe-o como a mim próprio"( Filêmom, capítulos 18 e 19 ).
Santo Onésimo permaneceu no trabalho com São Paulo até ser sagrado bispo em Éfeso, e sofrer o martírio por apedrejamento em 109. São Onésimo foi um grande testemunho da ressurreição de Cristo.

A vida de Santo Onésimo nos ensina a tratar bem os irmão que sofrem por causa das injustiças sociais, os que são pequenos e oprimidos.  

ORAÇÃO


Pai Santo, desde o começo dos tempos os pequenos e pobres foram seus preferidos. Somos gratos por que nos destes santo Onésimo como modelo de simplicidade e santidade. Permita-nos, pela sua bondade, servir aos mais esquecidos do mesmo modo que Onésimo serviu os cristãos de seu tempo. Por Cristo nosso Senhor. Amém.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Livro reúne memórias e cartas de mais de 50 anos de amizade entre o Papa João Paulo II e a amiga polonesa Wanda Pólltawska


Ele a chamava de “Dusia”. Ela o intitulava “Irmão”.. Duas vidas, duas pessoas, dois destinos, mas uma união na qual prevaleceram a amizade pura, a cumplicidade, o carinho e o respeito mútuos. Em Diário de uma amizade – A família Półtawski e Karol Wojtyła, da PAULUS, Wanda Półtawska torna pública a sua fraterna relação com um jovem sacerdote que anos depois se tornaria papa João Paulo II.

A obra foi lançada originalmente em 2009, na Polônia, com o título Beskidzkie rekolekcje. Em 2010, foi publicada na versão italiana, com o título Diário di un’amicizia – La famiglia Półtawski e Karol Wojtyła. Finalmente, em 2011, o livro que apresenta as lembranças da médica polonesa e as cartas trocadas com o Santo Padre ao longo de sua vida chegou ao Brasil.

A autora conta que viveu horrores no campo de concentração de Ravensbrück, localizado na antiga Alemanha Oriental, sendo submetida pelos médicos nazistas a uma cirurgia com fins experimentais e a pesados sofrimentos físicos. Depois de muitas atrocidades e com a derrota da Alemanha ela pôde, enfim, regressar à Polônia. Porém, não conseguia encontrar para si um lugar tranquilo no mundo e, profundamente marcada por essa experiência, dedicou-se à medicina e à psiquiatria com o objetivo de decifrar o porquê de os homens serem capazes de tamanha selvageria.

Casada e com muitos afazeres por conta da profissão, Wanda relata que não alcançava a paz interior; a vida familiar e profissional não lhe bastava. Procurava alguém que a entendesse e ajudasse, até que, naquela busca incessante, deparou-se com a figura de um padre: Karol Wojtyła. “Não aconteceu nada de extraordinário, mas o modo de tratar, o tom e aquilo que ele disse atingiram o alvo e corresponderam àquilo de que eu necessitava. Tive imediatamente a certeza de que voltaria àquele sacerdote, pois me compreendia. Lembro-me daquela incrível sensação de alívio pelo fato de que existia alguém que finalmente me compreendia, após tantos encontros com várias pessoas, muitas vezes cheias de boa vontade, mas que não compreendiam coisa alguma. Finalmente aquela alegria, talvez ainda não alegria, mas certamente alívio e paz.” Daí em diante, o então padre Wojtyła tornou-se seu confessor e diretor espiritual. 

"Mundo de hoje precisa reaprender valor da gratuidade", diz Papa no Chiapas


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO AO MÉXICO
Santa Missa com as comunidades indígenas de Chiapas 
em San Cristóbal de Las Casas
Segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016


«Li smantal Kajvaltike toj lek – a lei do Senhor é perfeita, reconforta a alma» (Sal 19/18, 8): assim começa o salmo que escutámos. A lei do Senhor é perfeita; e o salmista encarrega-se de enumerar tudo o que esta lei gera de bom em quem a escuta e segue: reconforta a alma, torna sábios os simples, alegra o coração, é luz para iluminar o caminho.

Esta é a lei que o povo de Israel recebera das mãos de Moisés, uma lei que ajudaria o povo de Deus a viver na liberdade a que fora chamado. Lei que queria ser luz para os seus passos e acompanhar o peregrinar do seu povo; um povo que experimentara a escravidão e a tirania do Faraó, que experimentara a amargura e os maus-tratos, até que Deus disse «basta», até que Deus disse: «mais não». «Eu vi a aflição, ouvi o clamor, conheci a sua angústia» (cf. Ex 3, 9). Manifesta-se aqui o rosto do nosso Deus, o rosto do Pai que sofre com a dor, os maus-tratos, a injustiça na vida de seus filhos; e a sua Palavra, a sua lei torna-se símbolo de liberdade, símbolo de alegria, sabedoria e luz. Experiência, realidade que ecoa numa frase nascida da sabedoria criada nestas terras desde os tempos antigos e assim transcrita no Popol Vuh: «a aurora veio sobre todas as tribos reunidas. E logo a face da terra foi purificada pelo sol» (33). A aurora veio para os povos que sucessivamente caminharam sob as mais variadas trevas da história.

Nesta frase, há um anseio de viver em liberdade; um anseio que tem o sabor da terra prometida, onde a opressão, os maus-tratos e a degradação não sejam moeda corrente. No coração do homem e na memória de muitos dos nossos povos, está inscrito o anseio por uma terra, por um tempo em que o desprezo seja superado pela fraternidade, a injustiça seja vencida pela solidariedade e a violência seja cancelada pela paz.

O nosso Pai não só compartilha este anseio, mas Ele mesmo o suscitou e suscita dando-nos o seu Filho Jesus Cristo. N’Ele encontramos a solidariedade do Pai, que caminha ao nosso lado. N’Ele vemos como aquela lei perfeita assume uma carne, assume um rosto, assume a história, para acompanhar e sustentar o seu povo; faz-se Caminho, faz-se Verdade, faz-se Vida, para que as trevas não tenham a última palavra e a aurora não cesse de vir sobre a vida dos seus filhos.

De muitas formas e maneiras se procurou silenciar e cancelar este anseio, de muitas maneiras procuraram anestesiar-nos a alma, de muitas formas pretenderam pôr em letargo e adormecer a vida das nossas crianças e jovens com a insinuação de que nada pode mudar ou trata-se de sonhos impossíveis. Contra estas formas, a própria criação sabe levantar a sua voz: «Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que “geme e sofre as dores do parto” (Rm 8, 22)» (Enc. Laudato si’, 2). 

“Carinhoterapia”: a receita do Papa Francisco para ajudar a aliviar a enfermidade


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO AO MÉXICO
Visita ao hospital pediátrico Federico Gómez
Domingo, 14 de fevereiro de 2016


Senhor Presidente,
Senhora Primeira Dama,
Senhora Secretária da Saúde,
Senhor Diretor,
Membros do Patronato,
Famílias aqui presentes,
Amigas e amigos, queridas crianças, boa tarde!

Agradeço a Deus que me dá a oportunidade de vir visitar-vos, de me encontrar convosco e as vossas famílias neste Hospital; de poder partilhar um pouco da vossa vida, da vida de todas as pessoas que trabalham como médicos, enfermeiros, funcionários e voluntários que vos atendem, tanta gente que está trabalhando por vocês.

Há uma passagem no Evangelho que nos narra a vida de Jesus quando era criança. Era bem pequenino, como alguns de vós. Um dia os seus pais, José e Maria, levaram-No ao Templo para O apresentarem a Deus. Então encontram um ancião que se chamava Simeão, que ao ver o Menino, com muita determinação e velhinho e com grande alegria e gratidão, toma-O nos braços e começa a bendizer a Deus. Ao ver o menino Jesus, duas coisas nasceram nele: um sentimento de gratidão e o desejo de bendizer.Ou seja, dar graças a Deus e teve vontade de bendizer.

Simeão é o «avô» que nos ensina estas duas atitudes fundamentais: agradecer e bendizer. Aqui, eu digo para vocês: os médicos bendizem vocês, cada vez que cuidam de vocês as enfermeiras, todo o pessoal, todos os que trabalham bendizem vocês, as crianças. Porém vocês também têm que aprender a bendizê-los e pedir a Jesus que cuide deles, porque eles cuidam de vocês. Eu aqui sinto-me (e não só pela idade) muito identificado com estes dois ensinamentos de Simeão. Por um lado, ao atravessar aquela porta e ver os vossos olhos, os vossos sorrisos, os vossos rostos, veio-me o desejo de dar graças. Obrigado pelo carinho com que me recebeis; obrigado pelo afeto com que sois cuidados e acompanhados.

Obrigado pelo esforço de muitos que estão a dar o seu melhor para poderdes recuperar rapidamente. É muito importante sentir-se cuidados e acompanhados, sentir-se amados e saber que estão procurando a melhor maneira de cuidar de nós. Por todas estas pessoas, digo obrigado.

E, ao mesmo tempo, quero abençoar-vos. Quero pedir a Deus que vos abençoe, que acompanhe a vós e aos vossos familiares, a todas as pessoas que trabalham nesta casa e procuram que estes sorrisos continuem a crescer cada dia; a todas as pessoas que, não só com medicamentos mas sobretudo com a «carinhoterapia», ajudam para que este tempo seja vivido com maior alegria. Tão importante “a carinhoterapia”! Tão importante” às vezes um carinho ajuda tanto a recuperar-se. 

A Quaresma


A Quaresma é o tempo litúrgico que precede e prepara a celebração da Páscoa, a principal festa cristã. É tempo de escuta da Palavra de Deus, de conversão pessoal, de recordação do Batismo, de reconciliação com Deus e com os irmãos, e de um recurso mais frequente às “armas da penitência cristã”: a oração, o jejum e a esmola (cf. Mt 6,1-6.16-18).

Embora seja um tempo penitencial, a Quaresma não é um tempo triste e depressivo. É ocasião de sermos mais dóceis à graça de Deus para derrotarmos o homem velho que atua em nós; ocasião de renunciarmos ao pecado que habita nos nossos corações e de nos afastarmos de tudo o que nos separa da vontade de Deus e, por conseguinte, da nossa verdadeira felicidade.

Desde os princípios do Cristianismo, os cristãos procuraram intensificar a sua vida interior, mediante a oração e a penitência, para participarem com mais plenitude e alegria do Tríduo Pascal, “memória da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, coração do mistério de nossa salvação”, nas palavras do Papa Bento XVI. Existem indícios de que, já em fins do século II, a Páscoa era precedida por alguns dias de rigorosas penitências da parte dos fiéis. De acordo com Eusébio de Cesaréia (ca. 332), autor de uma das primeiras histórias eclesiásticas de que se tem notícia, a Quaresma foi estabelecida oficialmente para toda a Igreja no século IV.

A sua duração (da Quarta-feira de Cinzas ao Domingo de Ramos) inspira-se na simbologia do número quarenta na tradição da Sagrada Escritura: quarenta foram os dias que durou o dilúvio, quarenta foram os anos que o povo hebreu passou no deserto, quarenta dias Moisés e Elias passaram nas montanhas. Há ainda muitas outras passagens da Bíblia em que aparece o número quarenta, e todas estão sempre associadas à idéia de tempo de penitência. Durante a Quaresma, a Igreja “quer convidar-nos sobretudo a reviver com Jesus os quarenta dias que passou no deserto, rezando e jejuando, antes de empreender sua missão pública” (Papa Bento XVI).