A Quaresma é
o tempo litúrgico que precede e prepara a celebração da Páscoa, a principal
festa cristã. É tempo de escuta da Palavra de Deus, de conversão pessoal, de
recordação do Batismo, de reconciliação com Deus e com os irmãos, e de um
recurso mais frequente às “armas da penitência cristã”: a oração, o jejum e a
esmola (cf. Mt 6,1-6.16-18).
Embora seja um tempo penitencial, a Quaresma não é
um tempo triste e depressivo. É ocasião de sermos mais dóceis à graça de Deus
para derrotarmos o homem velho que atua em nós; ocasião de renunciarmos ao
pecado que habita nos nossos corações e de nos afastarmos de tudo o que nos
separa da vontade de Deus e, por conseguinte, da nossa verdadeira felicidade.
Desde os princípios do Cristianismo, os cristãos
procuraram intensificar a sua vida interior, mediante a oração e a penitência,
para participarem com mais plenitude e alegria do Tríduo Pascal, “memória da
Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, coração do mistério de nossa salvação”,
nas palavras do Papa Bento XVI. Existem indícios de que, já em fins do século
II, a Páscoa era precedida por alguns dias de rigorosas penitências da parte
dos fiéis. De acordo com Eusébio de Cesaréia (ca. 332), autor de uma das
primeiras histórias eclesiásticas de que se tem notícia, a Quaresma foi
estabelecida oficialmente para toda a Igreja no século IV.
A sua duração (da Quarta-feira de Cinzas ao Domingo
de Ramos) inspira-se na simbologia do número quarenta na tradição da Sagrada
Escritura: quarenta foram os dias que durou o dilúvio, quarenta foram os anos
que o povo hebreu passou no deserto, quarenta dias Moisés e Elias passaram nas
montanhas. Há ainda muitas outras passagens da Bíblia em que aparece o número
quarenta, e todas estão sempre associadas à idéia de tempo de penitência.
Durante a Quaresma, a Igreja “quer convidar-nos sobretudo a reviver com Jesus
os quarenta dias que passou no deserto, rezando e jejuando, antes de empreender
sua missão pública” (Papa Bento XVI).
COMO VIVER A
QUARESMA
Durante este tempo especial de purificação, a
Igreja propõe-nos uma série de meios concretos que nos ajudam a viver a
dinâmica quaresmal e que já mencionamos acima: a oração, o jejum e a esmola.
Em primeiro lugar, a oração, condição indispensável
para o encontro com Deus. É no diálogo íntimo com o Senhor que o cristão deixa
a graça divina penetrar no seu coração e, como a Virgem Maria, se abre à ação
do Espírito com uma resposta livre e generosa (cf. Lc 1,38). Na Quaresma,
devemos meditar a Palavra de Deus com mais profundidade e é conveniente levar à
oração temas relacionados com a Paixão de Cristo e os próprios relatos
evangélicos; também é altamente recomendável a devoção da Via Sacra. Se
pudermos (e quase sempre podemos), façamos o esforço de frequentar mais vezes
os Sacramentos, especialmente o da Confissão. Não nos esqueçamos de que a
Igreja também nos pede neste tempo litúrgico que rezemos mais pela conversão de
todas as almas (principalmente daqueles que nos são mais próximos).
O jejum e as demais mortificações que podemos fazer
nas circunstâncias ordinárias da nossa vida também constituem um meio concreto
de viver o espírito de Quaresma. Não devemos procurar fazer grandes
penitências. O que, sim, podemos fazer é oferecer a Deus os incidentes
cotidianos que nos incomodam, aceitando com alegria os contratempos que podem
apresentar-se: o trânsito lento, as escadas que parecem intermináveis, a chuva
inoportuna. Além disso, podemos renunciar às nossas pequenas comodidades – uma
sobremesa de que gostamos mais, um assento melhor na condução, um programa de
televisão – por amor de Deus. Vale lembrar que a Quarta-feira de Cinzas e a
Sexta-feira da Paixão são dias em que a Igreja pede que todos os fiéis jejuem e
abstenham-se de carne.
Por fim, dentre as práticas quaresmais que a Igreja
nos propõe, o exercício da caridade ocupa um lugar especial. É o que nos
recorda São Leão Magno: “Estes dias da Quaresma convidam-nos de maneira
premente ao exercício da caridade; se queremos chegar à Páscoa santificados no
nosso ser, devemos pôr um interesse especialíssimo em adquirir esta virtude,
que contém em si todas as outras e cobre uma multidão de pecados”.
A caridade deve ser vivida de maneira especial com
aqueles que temos mais perto de nós, no ambiente concreto em que nos movemos.
Trata-se de sorrir àqueles com quem não nos damos muito bem (talvez por nossa
culpa), de aumentar o espírito de serviço, de convidar um amigo a fazer uma
visita a uma família pobre, etc. Principalmente, pode ser uma oportunidade para
aproximarmos de Deus os nossos familiares e amigos: esse é o maior bem que lhes
podemos fazer.
Também devemos ter em conta que a Quaresma é um
tempo propício para lutarmos contra os nossos defeitos mais arraigados. Podemos
aproveitar esta época litúrgica para crescer em conhecimento próprio, fazendo
um exame mais aprofundado da nossa vida para descobrir o que nos aproxima ou
afasta de Deus. Depois, marcaremos metas palpáveis de melhora e nos
esforçaremos por atingi-las. Se alguma vez falharmos, recorreremos com
humildade e contrição ao sacramento da Penitência e recomeçaremos com alegria.
Se fizermos a nossa parte, que é lutar sempre confiantes na ajuda de Deus, Ele
não deixará de nos conceder as graças necessárias para uma verdadeira conversão.
A VIRGEM
MARIA NA QUARESMA
A Virgem dolorosa está intimamente associada a
Cristo crucificado no plano salvífico de Deus. Como Cristo é o homem de dores
(Is 53,3), por quem Deus quis reconciliar consigo todos os seres: os do céu e
os da terra, fazendo a paz pelo sangue da sua cruz (Col 1,20), assim Maria é a
“mulher de dores”, que Deus quis associar ao seu Filho, como sua mãe e
partícipe da sua Paixão.
Desde a infância do Senhor, todos os dias da Virgem
transcorreram sob o sinal da espada (cf Lc 2,35). Por isso, a Quaresma é também
um tempo oportuno para crescermos no nosso amor filial por Aquela que ao pé da
Cruz entregou o seu Filho, e se entregou Ela mesma com Ele, para a nossa
salvação. Podemos expressar este amor filial durante a Quaresma pela prática
das devoções marianas próprias deste tempo: as “Sete dores de Maria”; a devoção
a “Nossa Senhora das Dores” (cuja memória litúrgica é celebrada na sexta-feira
da V semana de Quaresma); e a recitação do Santo Rosário, especialmente dos
mistérios dolorosos.
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Fonte: ACI
Digital
Disponível
em: Quadrante
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