Ele a chamava de “Dusia”. Ela o intitulava
“Irmão”.. Duas vidas, duas pessoas, dois destinos, mas uma união na qual
prevaleceram a amizade pura, a cumplicidade, o carinho e o respeito mútuos. Em Diário de uma amizade – A família Półtawski
e Karol Wojtyła, da PAULUS, Wanda Półtawska torna pública a sua fraterna
relação com um jovem sacerdote que anos depois se tornaria papa João Paulo II.
A obra foi lançada originalmente em 2009, na
Polônia, com o título Beskidzkie rekolekcje. Em 2010, foi publicada na versão
italiana, com o título Diário di un’amicizia – La famiglia Półtawski e Karol
Wojtyła. Finalmente, em 2011, o livro que apresenta as lembranças da médica
polonesa e as cartas trocadas com o Santo Padre ao longo de sua vida chegou ao
Brasil.
A autora conta que viveu horrores no campo de
concentração de Ravensbrück, localizado na antiga Alemanha Oriental, sendo
submetida pelos médicos nazistas a uma cirurgia com fins experimentais e a
pesados sofrimentos físicos. Depois de muitas atrocidades e com a derrota da
Alemanha ela pôde, enfim, regressar à Polônia. Porém, não conseguia encontrar
para si um lugar tranquilo no mundo e, profundamente marcada por essa
experiência, dedicou-se à medicina e à psiquiatria com o objetivo de decifrar o
porquê de os homens serem capazes de tamanha selvageria.
Casada e com muitos afazeres por conta da
profissão, Wanda relata que não alcançava a paz interior; a vida familiar e
profissional não lhe bastava. Procurava alguém que a entendesse e ajudasse, até
que, naquela busca incessante, deparou-se com a figura de um padre: Karol
Wojtyła. “Não aconteceu nada de extraordinário, mas o modo de tratar, o tom e
aquilo que ele disse atingiram o alvo e corresponderam àquilo de que eu
necessitava. Tive imediatamente a certeza de que voltaria àquele sacerdote,
pois me compreendia. Lembro-me daquela incrível sensação de alívio pelo fato de
que existia alguém que finalmente me compreendia, após tantos encontros com
várias pessoas, muitas vezes cheias de boa vontade, mas que não compreendiam
coisa alguma. Finalmente aquela alegria, talvez ainda não alegria, mas
certamente alívio e paz.” Daí em diante, o então padre Wojtyła tornou-se seu
confessor e diretor espiritual.
Desde o início da amizade, a médica polonesa
escrevia seus pensamentos ao padre, pois, juntos, tinham o costume de meditar
pela manhã, após a missa. Karol Wojtyła escolhia um texto sobre o qual
refletiam ao longo do dia, e à tarde discutiam-no. Quando não era possível se
reunirem, o sacerdote anotava os textos destinados para cada dia e ela
descrevia aquilo que pensava sobre o assunto, para depois entregar-lhe.
Tais pensamentos, que retratam diversos períodos da
vida da autora, estão agora disponibilizados neste livro. Entre esses momentos,
a descoberta de um câncer gravíssimo, praticamente sem chance de cura, e o medo
de deixar Andrzej, seu marido, e suas quatro filhas pequenas. Além da angústia
vivida, Wanda também divide com o leitor a carta de Karol Wojtyła na qual ele
pede a Padre Pio (canonizado pelo papa João Paulo II) sua intercessão para o
caso da doença e, em seguida, a carta de agradecimento pela cura milagrosa da
amiga, antes mesmo da cirurgia.
As páginas também demonstram a alegria e a emoção
da autora, em 16 de outubro de 1978, ao saber que o cardeal Wojtyła se tornara
papa, bem como sua preocupação em retribuir a Deus a graça de tê-lo como irmão.
Já na segunda parte do livro, Wanda reúne lembranças sobre os montes Beskides.
Trata-se de textos escritos a pedido do Santo Padre a respeito desse pedaço de
terra da Polônia, onde ela e a família estiveram inúmeras vezes em retiros
liderados por Wojtyła. “Ele partiu desse local em 7 de agosto de 1978, para não
mais voltar. Partiu com desgosto: sabia que não teria voltado; nós também o
sabíamos. Mas eu voltei e ainda volto. Ele sabia que eu voltaria e me disse:
‘Se estiveres lá, nunca estarás sozinha, eu aí estarei sempre’. Tinha saudades
daquele lugar, o recordava, e, sempre que eu ia a Roma, ele me perguntava
praticamente de todas as árvores”, relembra a autora.
O presente livro, que ainda conta com as palavras
de Józef Michalik, arcebispo de Przemyśl (Polônia), não foi programado e nem
escrito com o intuito de ser impresso. Wanda hesitava em publicar suas
memórias, porém ela recebeu uma resposta de seu confessor que a incentivou: “As
vicissitudes de um santo pertencem ao povo, não são propriedade privada;
pertencem à Igreja”.
Lidos e aprovados pelo papa João Paulo II – que,
durante um almoço na presença de Józef Michalik, disse a Wanda: “Deves escrever
as tuas memórias” –, os textos da obra Diário
de uma amizade – A família Półtawski e Karol Wojtyła apontam que a direção
espiritual e a proximidade pessoal do sacerdote permitiram à autora compreender
o sentido da vida, pelo qual clamava o seu coração, além de mostrar como o amor
respeitoso de Wanda e de sua família para com o Santo Padre pôde ajudá-lo
também em sua caminhada na fé.
Wanda Półtawska nasceu no dia 2 de outubro de 1921
em Lublin. Durante a ocupação alemã, foi presa pela Gestapo e confinada no
campo de concentração de Ravensbrück, onde foi submetida a cruéis experimentos
por parte dos médicos nazistas. Após a derrota dos alemães, pôde regressar à Polônia,
onde se casou com Andrzej Póltawski, do qual teve quatro filhas. Médica
bem-sucedida, atou amizade com o jovem sacerdote Karol Wojtyła. Em 1961,
publicou o volume E tenho medo de meus sonhos, no qual narra a sua vida no
campo de concentração de Ravensbrück. Diário de uma amizade é fruto da longa
amizade com Karol Wojtyła, que continuou também quando ele se tornou papa João
Paulo II.
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Paulus
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