No voo de
regresso a Roma (Itália), depois de sua visita apostólica ao México, de 12 a 17
de fevereiro, o Papa Francisco concedeu como sempre uma coletiva de imprensa
aos jornalistas que viajaram com ele. O Pontífice abordou diversos assuntos,
entre os quais, o encontro em Cuba com o Patriarca russo Kirill, a comunhão aos
divorciados em nova união, a situação atual da Europa, o vírus Zika ou a
pedofilia de sacerdotes. A seguir, a transcrição da coletiva de imprensa:
Pergunta: Santo Padre, no México existem milhares de
desaparecidos, todavia o caso dos 43 de Ayotzinapa, é um caso emblemático.
Gostaria de pedir-lhe porque não encontrou seus familiares e também uma
mensagem para os familiares dos milhares de desaparecidos.
Resposta:
Se leres as mensagens, há referências continuas aos assassinatos, às mortes, à
vida tomada por todas estas gangues do narcotráfico, dos traficantes de seres
humanos. Ou seja, o problema é apresentado. Falei das chagas que o México está
sofrendo, não? Houve tentativas de receber alguns. Eram tantos grupos, mesmo
opostos entre eles, com lutas internas. Portanto, prefiro dizer que na Missa se
veem todos, na Missa de Juárez, se preferirem, ou em qualquer outra. Todavia,
teria tido esta disponibilidade. Era praticamente impossível receber todos os
grupos, que, de um lado, eram opostos entre eles.
É uma situação difícil de entender, para mim
claramente que sou estrangeiro, verdade? Mas creio que, também a sociedade
mexicana seja vítima de tudo isso: dos crimes, deste fazer desaparecer as
pessoas, de descartar as pessoas. Sobre isso eu falei. Sendo um discurso
público, podes constatar ali. É uma dor muito grande que trago, porque este
povo não merece um drama como este.
Pergunta: O tema da pedofilia, como sabe, tem raízes
muito perigosas no México, muito dolorosas. O caso de padre Maciel deixou
fortes sinais, sobretudo nestas vítimas. As vítimas continuam a sentir-se não
protegidas da Igreja; muitos deles continuam a ser homens de fé, e alguns até mesmo
seguiram o sacerdócio. Pergunto o que pensa deste tema, se em qualquer momento
pensou em encontrar as vítimas e, em geral, esta ideia que aos sacerdotes,
quando são descobertos por um caso desta natureza, sejam somente trocados de
paróquia e nada mais. Como vê este tema? E muito obrigado.
Resposta: Bem,
começo da segunda. Um bispo que troca um sacerdote de paróquia quando se
reconhece um caso de pedofilia, é um inconsciente, e o melhor que pode fazer é
apresentar sua renúncia. Claro? Segundo, voltando ao caso Maciel. E aqui, me
permito de prestar homenagem ao homem que lutou em momentos em que não tinha a
força para se impor, até que não conseguiu se impor: Ratzinger. O cardeal
Ratzinger – um aplauso para ele! É um homem que teve toda a documentação. Quando
era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, teve tudo em suas mãos, fez
investigações, obteve, obteve, obteve... mas não pode guiar a execução. Porém,
se vocês recordarem, dez dias antes de morrer, São João Paulo II – naquela
Via-Sacra da Sexta-feira Santa – disse a toda a Igreja que era preciso limpar
as “porcarias” da Igreja, as imundícies. E a Missa “Pro Eligendo Pontefice” –
não é um bobo, sabia que era um candidato – não usou máscaras e disse
exatamente a mesma coisa. Ou seja, foi o corajoso que ajudou tantos a abrir
esta porta.
Assim quero que vocês recordem dele porque, às
vezes, nos esquecemos deste trabalho escondido, daqueles que prepararam a
estrada para desvelar esta página.
Terceiro, estamos trabalhando bastante. Com o
cardeal secretário de Estado, estamos conversando, e também com o grupo dos
novos cardeais conselheiros que, podem ouvir, decidiram nomear um terceiro
secretário adjunto à Doutrina da Fé, para que se ocupe somente destes casos. A
Congregação, de fato, não é suficiente com tudo aquilo que tem que se feito.
Portanto, que saiba administrar isto. Além disso, foi constituída a Corte de
Apelação, presidida por mons. Scicluna, que se esta ocupando dos casos em
segunda instância, quando se recorrer. O primeiro recurso, de fato, é feito
pela “feria quarta” da Doutrina da Fé – líamos – reúne-se na quarta-feira.
Quando há o recurso, volta-se à primeira instância
e isto não é justo. Então, o segundo recurso, perfeitamente legal, já com o
advogado de defesa. Mas é preciso apurar porque temos tantos atrasos nos casos,
porque aparecem casos. Quarto, sobre outra coisa sobre a qual se esta
trabalhando muito bem é a Comissão para a tutela dos menores.
Não é rigorosamente fechada aos casos de pedofilia,
mas à tutela dos menores. Ali, me reuni com uma inteira manhã com seis dos
integrantes – dois alemães, dois irlandeses e dois ingleses: homens e mulheres,
abusados, vítimas, não, e me reuni conta tantas vítimas... onde foi? No
Equador? (Em Filadélfia). Em Filadélfia, me desculpem! Em Filadélfia! Também
lá, uma manhã, tive um encontro com as vítimas e sei que se está trabalhando.
Mas eu agradeço a Deus que esta página tenha sido
revelada, e é preciso continuar a revelá-la, e tomar consciência. E, por fim,
quero dizer que é uma monstruosidade, porque um sacerdote é consagrado para
levar uma criança a Deus e lá se “aproveita” dela como em um sacrifício
diabólico, destruindo-a.
Bem, no que diz respeito a Maciel, voltando à
Congregação, foi feito uma intervenção, e hoje a Congregação, o governo da
Congregação, fez uma “semi-intevenção”. O Superior geral é eleito pelo
Conselho, pelo Capítulo Geral, mas o Vigário é eleito pelo Papa. Dois
conselheiros gerais são eleitos pelo Capítulo Geral e outros dois são eleitos
pelo Papa, de modo tal que se ajude a controlar a história precedente.