quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Coletiva de imprensa do Papa Francisco no voo de retorno do México


No voo de regresso a Roma (Itália), depois de sua visita apostólica ao México, de 12 a 17 de fevereiro, o Papa Francisco concedeu como sempre uma coletiva de imprensa aos jornalistas que viajaram com ele. O Pontífice abordou diversos assuntos, entre os quais, o encontro em Cuba com o Patriarca russo Kirill, a comunhão aos divorciados em nova união, a situação atual da Europa, o vírus Zika ou a pedofilia de sacerdotes. A seguir, a transcrição da coletiva de imprensa:

Pergunta: Santo Padre, no México existem milhares de desaparecidos, todavia o caso dos 43 de Ayotzinapa, é um caso emblemático. Gostaria de pedir-lhe porque não encontrou seus familiares e também uma mensagem para os familiares dos milhares de desaparecidos.

Resposta: Se leres as mensagens, há referências continuas aos assassinatos, às mortes, à vida tomada por todas estas gangues do narcotráfico, dos traficantes de seres humanos. Ou seja, o problema é apresentado. Falei das chagas que o México está sofrendo, não? Houve tentativas de receber alguns. Eram tantos grupos, mesmo opostos entre eles, com lutas internas. Portanto, prefiro dizer que na Missa se veem todos, na Missa de Juárez, se preferirem, ou em qualquer outra. Todavia, teria tido esta disponibilidade. Era praticamente impossível receber todos os grupos, que, de um lado, eram opostos entre eles.

É uma situação difícil de entender, para mim claramente que sou estrangeiro, verdade? Mas creio que, também a sociedade mexicana seja vítima de tudo isso: dos crimes, deste fazer desaparecer as pessoas, de descartar as pessoas. Sobre isso eu falei. Sendo um discurso público, podes constatar ali. É uma dor muito grande que trago, porque este povo não merece um drama como este.

Pergunta: O tema da pedofilia, como sabe, tem raízes muito perigosas no México, muito dolorosas. O caso de padre Maciel deixou fortes sinais, sobretudo nestas vítimas. As vítimas continuam a sentir-se não protegidas da Igreja; muitos deles continuam a ser homens de fé, e alguns até mesmo seguiram o sacerdócio. Pergunto o que pensa deste tema, se em qualquer momento pensou em encontrar as vítimas e, em geral, esta ideia que aos sacerdotes, quando são descobertos por um caso desta natureza, sejam somente trocados de paróquia e nada mais. Como vê este tema? E muito obrigado.

Resposta: Bem, começo da segunda. Um bispo que troca um sacerdote de paróquia quando se reconhece um caso de pedofilia, é um inconsciente, e o melhor que pode fazer é apresentar sua renúncia. Claro? Segundo, voltando ao caso Maciel. E aqui, me permito de prestar homenagem ao homem que lutou em momentos em que não tinha a força para se impor, até que não conseguiu se impor: Ratzinger. O cardeal Ratzinger – um aplauso para ele! É um homem que teve toda a documentação. Quando era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, teve tudo em suas mãos, fez investigações, obteve, obteve, obteve... mas não pode guiar a execução. Porém, se vocês recordarem, dez dias antes de morrer, São João Paulo II – naquela Via-Sacra da Sexta-feira Santa – disse a toda a Igreja que era preciso limpar as “porcarias” da Igreja, as imundícies. E a Missa “Pro Eligendo Pontefice” – não é um bobo, sabia que era um candidato – não usou máscaras e disse exatamente a mesma coisa. Ou seja, foi o corajoso que ajudou tantos a abrir esta porta.

Assim quero que vocês recordem dele porque, às vezes, nos esquecemos deste trabalho escondido, daqueles que prepararam a estrada para desvelar esta página.

Terceiro, estamos trabalhando bastante. Com o cardeal secretário de Estado, estamos conversando, e também com o grupo dos novos cardeais conselheiros que, podem ouvir, decidiram nomear um terceiro secretário adjunto à Doutrina da Fé, para que se ocupe somente destes casos. A Congregação, de fato, não é suficiente com tudo aquilo que tem que se feito. Portanto, que saiba administrar isto. Além disso, foi constituída a Corte de Apelação, presidida por mons. Scicluna, que se esta ocupando dos casos em segunda instância, quando se recorrer. O primeiro recurso, de fato, é feito pela “feria quarta” da Doutrina da Fé – líamos – reúne-se na quarta-feira.

Quando há o recurso, volta-se à primeira instância e isto não é justo. Então, o segundo recurso, perfeitamente legal, já com o advogado de defesa. Mas é preciso apurar porque temos tantos atrasos nos casos, porque aparecem casos. Quarto, sobre outra coisa sobre a qual se esta trabalhando muito bem é a Comissão para a tutela dos menores.

Não é rigorosamente fechada aos casos de pedofilia, mas à tutela dos menores. Ali, me reuni com uma inteira manhã com seis dos integrantes – dois alemães, dois irlandeses e dois ingleses: homens e mulheres, abusados, vítimas, não, e me reuni conta tantas vítimas... onde foi? No Equador? (Em Filadélfia). Em Filadélfia, me desculpem! Em Filadélfia! Também lá, uma manhã, tive um encontro com as vítimas e sei que se está trabalhando.

Mas eu agradeço a Deus que esta página tenha sido revelada, e é preciso continuar a revelá-la, e tomar consciência. E, por fim, quero dizer que é uma monstruosidade, porque um sacerdote é consagrado para levar uma criança a Deus e lá se “aproveita” dela como em um sacrifício diabólico, destruindo-a.

Bem, no que diz respeito a Maciel, voltando à Congregação, foi feito uma intervenção, e hoje a Congregação, o governo da Congregação, fez uma “semi-intevenção”. O Superior geral é eleito pelo Conselho, pelo Capítulo Geral, mas o Vigário é eleito pelo Papa. Dois conselheiros gerais são eleitos pelo Capítulo Geral e outros dois são eleitos pelo Papa, de modo tal que se ajude a controlar a história precedente. 

Pergunta: Hoje falou com muita eloquência dos problemas dos migrantes. Do outro lado da fronteira, todavia, existe uma campanha eleitoral muito acirrada. Um dos candidatos à Casa Branca, o republicano Donald Trump, em uma entrevista recentemente disse que o senhor é um homem político e inclusive disse que talvez o senhor seja também uma peça de xadrez, um instrumento do governo mexicano para a política de imigração... Ele declarou que, se eleito, quer construir 2,5 mil quilômetros de cercas ao longo da fronteira, quer deportar 11 milhões de imigrantes ilegais, separando assim famílias, etc. Então, queria perguntar, antes de tudo, o que pensa sobre estas acusações contra o senhor e se um católico estadunidense pode votar em uma pessoa assim?

Resposta: Graças a Deus que disse que sou um político, porque Aristóteles define a pessoa humana como “animal politicus”: ao menos sou uma pessoa humana, eh? E que sou uma peça de xadrez, mas, talvez, não sei... deixo isso a seu juízo, a juízo das pessoas. E, depois, uma pessoa que pensa somente em levantar muros, seja onde seja,  e não a fazer pontes, não é cristã. Isso não está no Evangelho. Depois, aquilo que me dizias, o que aconselharia, votar ou não votar: não me envolvo. Somente digo: este homem não é cristão, se diz isto assim. É preciso ver se ele disse assim as coisas, não? E por isso dou o benefício da dúvida.

Pergunta: O encontro com o Patriarca russo Kirill e a assinatura da Declaração comum foi visto no mundo inteiro como um passo histórico. Mas agora, hoje já, na Ucrânia os greco-católicos sentem-se traídos e falam de um “documento político”, de apoio à política russa. Em campo, a guerra das palavras se acendeu novamente. Pensa de poder ir a Moscou? Foi convidado pelo Patriarca? Ou talvez de ir a Creta para saudar o Concilio pan-ortodoxo, na primavera?

Resposta: Começo pelo final. Estarei presente, espiritualmente e com uma mensagem – gostaria de saudá-los pessoalmente no Concílio pan-ortodoxo: são irmãos; mas devo respeitar. Mas sei que eles querem convidar observadores católicos: e isto é uma bela ponte. Mas por trás dos observadores católicos estarei eu, rezando com os melhores augúrios que os ortodoxos sigam adiante, adiante porque são irmãos e os seus bispos são bispos como nós.

Depois, Kirill é meu irmão. Nos saudamos, nos abraçamos e tivemos um colóquio de uma hora, duas horas, a velhice não vem sozinha, eh? Duas horas, nas quais falamos como irmãos, sinceramente e ninguém sabe sobre o que se falou, somente aquilo que dissemos ao final, publicamente, do que provamos no conversar.

Terceiro: aquele artigo, aquelas declarações na Ucrânia. Quando eu o li, fiquei um pouco preocupado, porque era Svjatoslav Šev?uk que disse que o povo ucraniano, ou alguns ucranianos ou tantos ucranianos, sentiram-se profundamente desiludidos e traídos. Antes de tudo, conheço bem Svjatoslav: em Buenos Aires, por quatro anos, trabalhamos juntos. Quando ele foi eleito – aos 42 anos, eh? Um homem bom! – foi eleito arcebispo maior, voltou a Buenos Aires para pegar suas coisa. Veio até mim e me deu de presente um ícone – pequeno assim – de Nossa Senhora da Ternura e me disse: “Esta me acompanhou por toda a vida: quero deixa-la a ti, que me acompanhou nestes quatro anos”. É uma das poucas coisas que fiz trazer de Buenos Aires e que está na minha escrivaninha. Ou seja, é um homem pelo qual tenho respeito e familiaridade, nos tratamos de “você”, e assim... Segundo: por isso me pareceu um pouco estranho. E recordei uma coisa que disse aqui, a vocês: para entender uma notícia, uma declaração, é preciso procurar a hermenêutica de tudo. Mas, quando disseste isso? Em uma declaração de 14 de fevereiro passado, domingo: domingo passado.

Uma entrevista que fez, selecionada pelo padre… não recordo, um sacerdote ucraniano. Na Ucrânia, selecionada, e publicada. Aquela notícia, a entrevista é de uma página, duas e um pouco a mais: mais ou menos. Aquela notícia está no terceiro e último parágrafo, assim pequeno.

Eu li a entrevista, e direi isto: Šev?uk é a parte dogmática, se declara filho da Igreja, em comunhão com o Bispo de Roma, com a Igreja; fala do Papa, da proximidade do Papa, e dele, da sua fé, não?, e da fé também do povo ortodoxo: na parte dogmática, nenhuma dificuldade, é ortodoxa no bom sentido da palavra, ou seja, Doutrina católica, não?

Depois, como em todas as entrevistas – esta, por exemplo – cada um tem o direito de dizer as suas coisas, e isto não o fez sobre o encontro, porque sobre o encontro, diz: “Mas, é uma coisa boa e devemos seguir em frente”. Neste segundo capítulo, as ideias pessoais que tem uma pessoas. Por exemplo, isto que eu disse sobre os bispos que transferem os padres pedófilos, o melhor que podem fazer é demitir-se, é uma coisa... não é dogmática, mas é aquilo que eu penso. E assim ele tem as suas ideias pessoas que são para dialogar, e tem o direito de haver.

Tudo aquilo que ele diz é sobre o documento: este é o problema. Sobre o encontro... “mas, este é o Senhor, o Espírito que segue adiante, o abraço...”: tudo vai bem. O Documento? É um documento discutível, e também há um acréscimo: que a Ucrânia vive um momento de guerra, de sofrimento, com tantas interpretações. Eu citei o povo ucraniano pedindo orações e proximidade tantas vezes, seja no Angelus como nas Audiências de quarta-feira. Mas o fato histórico de uma guerra vivida como... cada um tem sua ideia, como é esta guerra, quem a começou, como se faz, como não se faz... É evidente que este é um problema histórico mas também um problema pessoal, existencial daquela País e fala do sofrimento. E ali, eu insiro este parágrafo: se entende os fiéis, porque Svjatoslav diz: “Tantos fiéis me chamaram ou escreveram dizendo que estão profundamente desiludidos e traídos por Roma”: se entende que um povo naquela situação sinta isso, não: Mas, o Documento é discutível sobre esta questão da Ucrânia, mas lá se diz que se termine a guerra e que se caminhe a acordos; eu, pessoalmente, defendi que os Acordos de Minsk prossigam, e não se apague com o cotovelo aquilo que foi escrito com as mãos, eh? A Igreja de Roma, o Papa sempre disse: “Procurem a paz”.

Recebi ambos os presidentes – paridade, não? E por isso, quando ele diz que ouviu isso do seu povo, eu o entendo: o entendo. Mas não é “a” notícia. “A notícia” é tudo. Se vocês lerem toda a entrevista, verão que existem coisas dogmáticas sérias, que permanecem, há um desejo de unidade, de ir adiante, ecumênico, ele é um homem ecumênico... Existem algumas opiniões... Ele me escreveu, quando soube da viagem, do encontro, mas como um  irmão, dando as suas opiniões de irmão... Não me desagrada o Documento, assim; não me desagrada no sentido que devemos respeitar as coisas que cada um tem a liberdade de pensar e naquela situação tão difícil. E de Roma... agora o núncio está na fronteira onde se combate, ajudando os soldados, os feridos; a Igreja de Roma enviou tantas ajudas, tantas ajudas lá; e sempre paz, acordos, se respeite o Acordo de Minsk... e assim. Este é o todo. Mas, não se assustem com aquela frase: esta é uma lição, que uma notícia deve ser interpretada com a hermenêutica do todo, não da parte.

Moscou? Eu preferiria… porque se digo uma coisa devo dizer uma outra e outra e outra: preferiria que aquilo sobre o que falamos nós, sozinhos, seja somente aquilo que dissemos em público. Este é um dado. E se digo isto, deverei dizer mais... não! Aquilo que eu disse em público, aquilo que ele disse em público, isto é aquilo que se pode dizer do colóquio privado. Do contrário, não seria privado. Mas posso dizer: saí feliz. E ele também.

Pergunta: A minha pergunta é sobre a família, tema que o senhor afrontou nesta viagem. No Parlamento italiano está em discussão a lei sobre as uniões civis, tema que tem levado a fortes embates políticos, mas também a um forte debate na sociedade e entre os católicos. Neste particular, gostaria de saber o seu pensamento sobre o tema da adoção da parte das uniões civis, e portanto, sobre os direitos das crianças e dos filhos em geral.

Resposta: Antes de tudo, não sei como estão as coisas no Parlamento italiano... O Papa não se envolve na política italiana. Na primeira reunião que tive com os bispos, em maio de 2013, uma das três coisas que disse: “Com o governo italiano, se virem vocês”. Porque o Papa é para todos, e não pode se meter na política concreta, interna de um país: este é o papel do Papa, não? E aquilo que penso é aquilo que pensa a Igreja e disse em tantas... porque este não é o primeiro país que faz esta experiência: são tantos. Eu penso aquilo que a Igreja sempre disse sobre...

Pergunta: Santo Padre, há algumas semanas há muita preocupação em muitos países latino-americanos, mas também na Europa, sobre o vírus “Zika”. O risco maior seria para as mulheres grávidas: há angústia. Algumas autoridades propuseram o aborto, ou de se evitar a gravidez. Neste caso, a Igreja pode levar em consideração o conceito de “entre os males, o menor”?

Resposta: O aborto não é um “mal menor”. É um crime. É descartar um para salvar o outro. É aquilo que a máfia faz, eh? É um crime. É um mal absoluto. Sobre “mal menor”: mas, evitar a gravidez é – falemos em termos de conflito entre o quinto e o sexto Mandamento. Paulo VI, o Grande, em uma situação difícil, na África, permitiu às religiosas de usar anticoncepcionais para os casos de violência. Não confundir o mal de evitar a gravidez, sozinho, com o aborto. O aborto não é um problema teológico: é um problema humano, é um problema médico. Mata-se uma pessoa para salvar uma outra – nos melhores dos casos. Ou por conforto, não? Vai contra o Juramento de Hipócrates que os médicos devem fazer. É um mal em si mesmo, mas não é um mal religioso, ao início: não, é um mal humano. Além disso, evidentemente, já que é um mal humano – como todos assassinatos – é condenado. Ao invés, evitar a gravidez não é um mal absoluto: e, em certos casos, como neste, como naquele que mencionei do Beato Paulo VI, era claro. Ainda, eu exortaria os médicos para que façam tudo para encontrar as vacinas contra estes mosquitos que trazem este mal: sobre isto se deve trabalhar.

Pergunta: Santidade, dentro de poucas semanas, o senhor vai receber o Prêmio Carlos Magno, um dos prêmios mais prestigiosos da Comunidade Europeia. Também o seu predecessor, São João Paulo II, recebeu este prêmio: fazia questão. E fazia questão também de promover a unidade europeia, que agora parece um pouco aos pedaços, primeiro com a crise do euro e agora com a crise dos refugiados: o senhor tem talvez uma palavra para nós, nesta situação de crise europeia?

Resposta: Primeiro, sobre o Prêmio Carlos Magno. Eu tinha o hábito de não aceitar honorificências ou doutorados, desde sempre: não por humildade, mas porque não gosto destas coisas. Um pouco de loucura é bom ter, e não gosto. Mas neste caso, não digo “forçado”, mas “convencido” com a santa e teológica teimosia do cardeal Kasper, que foi eleito por Aachen (Alemanha) para me convencer. E eu disse: “Sim, mas no Vaticano”. E... disse isso; e ofereço o prêmio para a Europa: que seja uma condecoração, um prêmio para que a Europa possa fazer aquilo que eu desejei em Estrasburgo: mais fácil que não seja a “avó-Europa”, mas a “mãe-Europa”.

Segundo. Outro dia, lendo as notícias sobre esta crise e isto: eu leio pouco, folheio somente um jornal – não digo o nome para não provocar ciumeiras, mas sabe-se... leio quinze minutos e depois peço informações à Secretaria de Estado. Uma palavra que me agradou, e me agradou – não sei quem a aprova, quem não – “a refundação da União Europeia”. E pensei aos grandes pais, eh? Mas, hoje, onde há um Schuman, um Adenauer? E estes frande, que no pós-guerra “fundaram” a União Europeia… E eu gosto, esta ideia da refundação: oxalá se se pudesse fazer! Porque a Europa, não diria que é “única”, mas tem uma força, uma cultura, uma história que não pode ser desperdiçada, e devemos fazer tudo para que a União Europeia tenha a força e também a inspiração de fazer ir adiante. Não sei: é isso que eu penso.

Pergunta: Santo Padre, o senhor falou muito de família e do Ano da Misericórdia, nesta viagem. Alguns se perguntam, como uma Igreja que se diz “misericordiosa” pode perdoar mais facilmente um assassino do que quem se divorcia e casa novamente...?

Resposta: Mas, gostei da pergunta! Sobre a família, falaram dois Sínodos e o Papa falou durante todo o ano na catequese das quartas-feiras. E a pergunta é verdadeira, me agrada, porque você a fez plasticamente bem, eh! No documento pós-sinodal que sairá – talvez antes da Páscoa – se retoma tudo aquilo que o Sínodo – em um dos capítulos, porque existem muitos – fala sobre os conflitos ou sobre famílias feridas, e a pastoral das famílias feridas... É uma das preocupações. Assim como outra é a preparação ao matrimônio. Pense você, que para se tornar padre, são oito anos de estudo, de preparação, e depois, depois de um certo tempo, não consegue mais, pede a dispensa e vai embora e está tudo certo. Pelo contrário, para receber um Sacramento que é para toda a vida, três quatro palestras... A preparação ao matrimônio é muito importante: é muito, muito importante, porque acredito que seja uma coisa que a Igreja, na pastoral comum – ao menos no meu país, na América do Sul -  não valorizou muito. Por exemplo – agora não tanto, mas há alguns anos – na minha Pátria, havia o costume de... se chamava “casamento em apuros”: casar rapidamente, porque vem um filho. E para cobrir socialmente a honra da família.... Ali, não eram livres, e tantas vezes estes matrimônios são nulos. E eu, como bispo, proibi os sacerdotes de fazerem isto... Que nasça a criança, que continuem namorados, e quando sentem que é para toda a vida, que sigam em frente. Mas existe uma ausência do matrimônio.

Depois, outro capítulo muito interessante: a educação dos filhos. As vítimas dos problemas da família são os filhos: os filhos. Mas também vítimas dos problemas da família que nem marido nem a mulher querem: por exemplo, a necessidade de trabalho. Quando o pai não tem tempo livre para falar com os filhos, quando a mãe não tem tempo livre para falar com os filhos.... Quando eu confesso um casal que tem filhos, um matrimônio, pergunto: “Quantos filhos vocês tem?”. E alguns se assustam dizendo: “Mas, o Padre me perguntará porque não tenho mais...”. E eu direi: “Farei para você uma segunda pergunta: você brinca com seus filhos?”, e a maioria – quase todos! -  dizem: “Mas, Padre, não tenho tempo: trabalho o dia todo”. E os filhos são vítimas de um problema social que fere a família. É um problema... gosto da sua pergunta.

E uma terceira coisa interessante, no encontro com as famílias em Morelia – não: foi em Morelia?” Não... em Tuxtla, em Tuxtla – havia um casal de recasados em segunda-união, integrantes da pastoral da Igreja... E a palavra-chave que usou o Sínodo – e eu a peguei – é “integrar na vida da Igreja as famílias feridas, as famílias de recasados”, e tudo isto. Mas não esquecer as crianças no centro, eh! São as primeira vítimas, quer pelas feridas quer pelas condições de pobreza, de trabalho, de tudo isto.....

Nova pergunta: Significa que poderão comungar?

Resposta: Esta é uma coisa... é a última. Integrar na Igreja não significa “comungar”, porque eu conheço católicos recasados que vão à igreja uma vez por ano, duas vezes: “Mas, eu quero comungar!”, como se a comunhão fosse uma honorificência, não? Um trabalho de integração... todas as portas estão abertas. Mas não se pode dizer, (...) “podem comungar”. Isto seria uma ferida também aos matrimônios, ao casal, porque não fará com que eles sigam por este caminho de integração. E estes dois eram felizes! E usaram uma expressão muito bonita: “Nós não fazemos a comunhão eucarística, mas fazemos comunhão na visita ao hospital, nisto e naquilo...”. A integração deles permaneceu ali. Se há alguma coisa a mais, o Senhor dirá a eles, mas... é um caminho, é uma estrada...”.

Pergunta: Muitas mídias evocaram, de forma clamorosa, a “intensa correspondência” entre João Paulo II e a filósofa estadunidense Anna Tymieniecka, que nutria – diz-se – um grande afeto pelo Papa polonês. Na sua opinião, um Papa pode ter uma relação tão íntima com uma mulher? E depois, se me permite, o senhor tem alguma importante correspondência, conhece – ou conheceu – este tipo de experiência?

Resposta: Isto eu sabia, esta relação de amizade entre São João Paulo II e esta filósofa, quando estava em Buenos Aires: uma coisa que se sabia, também os livros dela são conhecidos, e João Paulo II era um homem inquieto... Depois, eu diria que um homem que não sabe ter uma boa relação de amizade com uma mulher – não falo dos misóginos, eles são doentes – falta a ele alguma coisa.

E eu, por experiência própria, também quando peço um conselho, peço a um colaborador, a um amigo, um homem, mas também gosto de ouvir o parecer de uma mulher: e te dão tanta riqueza! Olham as coisas de um outro modo. Gosto de dizer que a mulher é aquela que constrói a vida no ventre e tem – mas esta é uma comparação que eu faço, não? – e tem este carisma de te dar coisas para construir. Uma amizade com uma mulher não é pecado: uma amizade. Uma relação amorosa com uma mulher que não seja tua mulher, é pecado. O Papa é um homem, o Papa tem necessidade também do pensamento das mulheres. E também o Papa tem um coração que pode ter uma amizade sadia, santa com uma mulher. Existem santos amigos – Francisco, Clara, Teresa, João da cruz... Não se assustem... Mas, as mulheres ainda são um pouco... não bem consideradas, não totalmente... não entendemos o bem que uma mulher pode fazer à vida do padre e da Igreja, no sentido de um conselho, da ajuda, de uma amizade saudável.

Pergunta: Boa noite, santidade. Eu volto para o tema da lei que está para ser votada no Parlamento italiano: é uma lei que, no final das contas, diz respeito também a outros Estados, porque outros Estados têm leis que tratam da união entre pessoas do mesmo sexo. Existe um documento da Congregação da Fé, de 2003, que dedica um amplo espaço a isto e também dedica um capítulo ao comportamento que os parlamentares católicos devem ter diante desta lei, e se diz expressamente que os parlamentares católicos não devem votar esta lei. Visto que existe muita confusão sobre isto, gostaria de pedir ao senhor, antes de tudo, se este documento de 2003 ainda tem valor, e efetivamente qual o comportamento que um parlamentar católico deve ter? E depois, uma outra coisa: depois de Moscou, o Cairo: existe algum outro desgelo que se vislumbra no horizonte? Isto é, me refiro à audiência que o senhor deseja com o “Papa dos sunitas” – podemos chamá-lo assim -, com o Imame de al-Azhar?

Resposta: Sobre isto, foi Dom Ayuso ao Cairo, na semana passada, para encontrar o segundo dos Imames e também saudar o Imame. Dom Ayuso, é Secretário do Cardeal Tauran, do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. Eu quero encontrá-lo, sei que ele gostaria, e estamos buscando a melhor maneira: sempre através do Cardeal Tauran, porque este é o caminho, não? Mas, conseguiremos.

Sobre o primeiro tema: eu não recordo bem este documento de 2003 da Congregação para a Doutrina da Fé. Mas um parlamentar católico deve votar segundo a própria consciência “bem formada”, porque não é a consciência aquilo que me pareça... eu me recordo quando foi votado o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo em Buenos Aires, que houve ali um empate, e no final alguém disse, aconselhou ao outro: “Mas, tens isto claro?” – “Não” – “Nem eu” – “Então vamos embora” – “Se sairmos, não alcançarão o quórum”. E o outro disse: “Mas se chegarmos ao quórum, damos o voto a Kirchner!”, e o outro: “Mas, prefiro dá-lo a Kirchner e não a Bergoglio!”... e em frente... Esta não é uma consciência bem formada, eh! E em relação às pessoas do mesmo sexo, repito aquilo que disse na viagem do Rio de Janeiro e que está no catecismo da Igreja Católica”.

Pergunta: Ainda não chegamos em Roma e já estamos pensando nas futuras viagens, em fazer as malas novamente. Santo Padre, quando irás à Argentina, onde esperam pelo senhor há tanto tempo, e, quando retornarás à América Latina ou irás à China... Depois, durante esta viagem, o senhor falou muitas vezes em “sonhar”: O que o senhor sonha? E, sobretudo, qual é o seu pesadelo?

Resposta: A China… (risadas) ir até lá: gostaria muito! Quero dizer uma coisa, uma coisa certa sobre o povo mexicano. É um povo de uma riqueza, de uma riqueza tão grande, é um povo que surpreende... Tem uma cultura, uma cultura milenar... Vocês sabem que hoje, no México, são faladas 65 línguas, contando os indígenas... 65! É um povo de uma grande fé, também sofreu perseguições religiosas, existem mártires – agora vou canonizar dois, dois ou três...

É um povo... não se pode explicar simplesmente porque a palavra “povo” não é uma categoria lógica, é uma categoria mítica. E o povo mexicano, não é possível explicá-lo, esta riqueza, esta história, esta alegria, esta capacidade de festa e estas tragédias das quais vocês perguntaram. Eu não posso dizer outra coisa, que esta unidade, também que este povo tenha conseguido não fracassar, não acabar com tantas guerras, e coisas que acontecem agora... Mas ali, em Ciudad Juárez, havia um pacto de 12 horas de paz para a minha visita, depois continuarão lutando entre eles, os traficantes...

Mas um povo que tem ainda esta vitalidade, somente pode ser explicado por Guadalupe. E eu vos convido a estudar seriamente o “acontecimento Guadalupe”. Nossa Senhora está lá. Eu não encontro outra explicação. E seria bonito se vocês, como jornalistas, existem alguns bons livros que explicam, também explicam a pintura, como é, o que significa... E assim se poderá entender um pouco este povo tão grande, tão bonito.

Pergunta: Gostaria de saber o que o senhor pediu à Guadalupe, porque permaneceu muito tempo na igreja rezando para ela; depois, a segunda coisa, se o senhor sonha em italiano ou espanhol?

Resposta: Sim, eu diria que sonho em esperanto... (risos). Não sei como responder isto, realmente. Algumas vezes sim, recordo, algum sonho em outra língua, mas sonhar em língua não, mas com figuras, sim; eh, a minha psicologia é assim. Com palavras sonho pouco, não?

Pedi pelo mundo, pela paz… mas, tantas coisas... A pobrezinha ficou com a cabeça assim... Pedi perdão, pedi para que a Igreja cresça saudável, pedi pelo povo mexicano... também, uma coisa que pedi muito é que os padres sejam verdadeiros padres e as irmãs, verdadeiras irmãs e os bispos, verdadeiros bispos: como o Senhor nos quer. Isto pedi muito a ela, não? Mas depois, as coisas que um filho diz à Mãe são um pouco secretas...
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ACI Digital

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