No voo de
regresso a Roma (Itália), depois de sua visita apostólica ao México, de 12 a 17
de fevereiro, o Papa Francisco concedeu como sempre uma coletiva de imprensa
aos jornalistas que viajaram com ele. O Pontífice abordou diversos assuntos,
entre os quais, o encontro em Cuba com o Patriarca russo Kirill, a comunhão aos
divorciados em nova união, a situação atual da Europa, o vírus Zika ou a
pedofilia de sacerdotes. A seguir, a transcrição da coletiva de imprensa:
Pergunta: Santo Padre, no México existem milhares de
desaparecidos, todavia o caso dos 43 de Ayotzinapa, é um caso emblemático.
Gostaria de pedir-lhe porque não encontrou seus familiares e também uma
mensagem para os familiares dos milhares de desaparecidos.
Resposta:
Se leres as mensagens, há referências continuas aos assassinatos, às mortes, à
vida tomada por todas estas gangues do narcotráfico, dos traficantes de seres
humanos. Ou seja, o problema é apresentado. Falei das chagas que o México está
sofrendo, não? Houve tentativas de receber alguns. Eram tantos grupos, mesmo
opostos entre eles, com lutas internas. Portanto, prefiro dizer que na Missa se
veem todos, na Missa de Juárez, se preferirem, ou em qualquer outra. Todavia,
teria tido esta disponibilidade. Era praticamente impossível receber todos os
grupos, que, de um lado, eram opostos entre eles.
É uma situação difícil de entender, para mim
claramente que sou estrangeiro, verdade? Mas creio que, também a sociedade
mexicana seja vítima de tudo isso: dos crimes, deste fazer desaparecer as
pessoas, de descartar as pessoas. Sobre isso eu falei. Sendo um discurso
público, podes constatar ali. É uma dor muito grande que trago, porque este
povo não merece um drama como este.
Pergunta: O tema da pedofilia, como sabe, tem raízes
muito perigosas no México, muito dolorosas. O caso de padre Maciel deixou
fortes sinais, sobretudo nestas vítimas. As vítimas continuam a sentir-se não
protegidas da Igreja; muitos deles continuam a ser homens de fé, e alguns até mesmo
seguiram o sacerdócio. Pergunto o que pensa deste tema, se em qualquer momento
pensou em encontrar as vítimas e, em geral, esta ideia que aos sacerdotes,
quando são descobertos por um caso desta natureza, sejam somente trocados de
paróquia e nada mais. Como vê este tema? E muito obrigado.
Resposta: Bem,
começo da segunda. Um bispo que troca um sacerdote de paróquia quando se
reconhece um caso de pedofilia, é um inconsciente, e o melhor que pode fazer é
apresentar sua renúncia. Claro? Segundo, voltando ao caso Maciel. E aqui, me
permito de prestar homenagem ao homem que lutou em momentos em que não tinha a
força para se impor, até que não conseguiu se impor: Ratzinger. O cardeal
Ratzinger – um aplauso para ele! É um homem que teve toda a documentação. Quando
era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, teve tudo em suas mãos, fez
investigações, obteve, obteve, obteve... mas não pode guiar a execução. Porém,
se vocês recordarem, dez dias antes de morrer, São João Paulo II – naquela
Via-Sacra da Sexta-feira Santa – disse a toda a Igreja que era preciso limpar
as “porcarias” da Igreja, as imundícies. E a Missa “Pro Eligendo Pontefice” –
não é um bobo, sabia que era um candidato – não usou máscaras e disse
exatamente a mesma coisa. Ou seja, foi o corajoso que ajudou tantos a abrir
esta porta.
Assim quero que vocês recordem dele porque, às
vezes, nos esquecemos deste trabalho escondido, daqueles que prepararam a
estrada para desvelar esta página.
Terceiro, estamos trabalhando bastante. Com o
cardeal secretário de Estado, estamos conversando, e também com o grupo dos
novos cardeais conselheiros que, podem ouvir, decidiram nomear um terceiro
secretário adjunto à Doutrina da Fé, para que se ocupe somente destes casos. A
Congregação, de fato, não é suficiente com tudo aquilo que tem que se feito.
Portanto, que saiba administrar isto. Além disso, foi constituída a Corte de
Apelação, presidida por mons. Scicluna, que se esta ocupando dos casos em
segunda instância, quando se recorrer. O primeiro recurso, de fato, é feito
pela “feria quarta” da Doutrina da Fé – líamos – reúne-se na quarta-feira.
Quando há o recurso, volta-se à primeira instância
e isto não é justo. Então, o segundo recurso, perfeitamente legal, já com o
advogado de defesa. Mas é preciso apurar porque temos tantos atrasos nos casos,
porque aparecem casos. Quarto, sobre outra coisa sobre a qual se esta
trabalhando muito bem é a Comissão para a tutela dos menores.
Não é rigorosamente fechada aos casos de pedofilia,
mas à tutela dos menores. Ali, me reuni com uma inteira manhã com seis dos
integrantes – dois alemães, dois irlandeses e dois ingleses: homens e mulheres,
abusados, vítimas, não, e me reuni conta tantas vítimas... onde foi? No
Equador? (Em Filadélfia). Em Filadélfia, me desculpem! Em Filadélfia! Também
lá, uma manhã, tive um encontro com as vítimas e sei que se está trabalhando.
Mas eu agradeço a Deus que esta página tenha sido
revelada, e é preciso continuar a revelá-la, e tomar consciência. E, por fim,
quero dizer que é uma monstruosidade, porque um sacerdote é consagrado para
levar uma criança a Deus e lá se “aproveita” dela como em um sacrifício
diabólico, destruindo-a.
Bem, no que diz respeito a Maciel, voltando à
Congregação, foi feito uma intervenção, e hoje a Congregação, o governo da
Congregação, fez uma “semi-intevenção”. O Superior geral é eleito pelo
Conselho, pelo Capítulo Geral, mas o Vigário é eleito pelo Papa. Dois
conselheiros gerais são eleitos pelo Capítulo Geral e outros dois são eleitos
pelo Papa, de modo tal que se ajude a controlar a história precedente.
Pergunta:
Hoje falou com muita eloquência dos
problemas dos migrantes. Do outro lado da fronteira, todavia, existe uma
campanha eleitoral muito acirrada. Um dos candidatos à Casa Branca, o
republicano Donald Trump, em uma entrevista recentemente disse que o senhor é
um homem político e inclusive disse que talvez o senhor seja também uma peça de
xadrez, um instrumento do governo mexicano para a política de imigração... Ele
declarou que, se eleito, quer construir 2,5 mil quilômetros de cercas ao longo
da fronteira, quer deportar 11 milhões de imigrantes ilegais, separando assim
famílias, etc. Então, queria perguntar, antes de tudo, o que pensa sobre estas
acusações contra o senhor e se um católico estadunidense pode votar em uma
pessoa assim?
Resposta:
Graças a Deus que disse que sou um político, porque Aristóteles define a pessoa
humana como “animal politicus”: ao menos sou uma pessoa humana, eh? E que sou
uma peça de xadrez, mas, talvez, não sei... deixo isso a seu juízo, a juízo das
pessoas. E, depois, uma pessoa que pensa somente em levantar muros, seja onde
seja, e não a fazer pontes, não é cristã. Isso não está no Evangelho.
Depois, aquilo que me dizias, o que aconselharia, votar ou não votar: não me
envolvo. Somente digo: este homem não é cristão, se diz isto assim. É preciso
ver se ele disse assim as coisas, não? E por isso dou o benefício da dúvida.
Pergunta: O encontro com o Patriarca russo Kirill e a
assinatura da Declaração comum foi visto no mundo inteiro como um passo
histórico. Mas agora, hoje já, na Ucrânia os greco-católicos sentem-se traídos
e falam de um “documento político”, de apoio à política russa. Em campo, a
guerra das palavras se acendeu novamente. Pensa de poder ir a Moscou? Foi
convidado pelo Patriarca? Ou talvez de ir a Creta para saudar o Concilio
pan-ortodoxo, na primavera?
Resposta:
Começo pelo final. Estarei presente, espiritualmente e com uma mensagem –
gostaria de saudá-los pessoalmente no Concílio pan-ortodoxo: são irmãos; mas
devo respeitar. Mas sei que eles querem convidar observadores católicos: e isto
é uma bela ponte. Mas por trás dos observadores católicos estarei eu, rezando
com os melhores augúrios que os ortodoxos sigam adiante, adiante porque são
irmãos e os seus bispos são bispos como nós.
Depois, Kirill é meu irmão. Nos saudamos, nos
abraçamos e tivemos um colóquio de uma hora, duas horas, a velhice não vem
sozinha, eh? Duas horas, nas quais falamos como irmãos, sinceramente e ninguém
sabe sobre o que se falou, somente aquilo que dissemos ao final, publicamente,
do que provamos no conversar.
Terceiro: aquele artigo, aquelas declarações na
Ucrânia. Quando eu o li, fiquei um pouco preocupado, porque era Svjatoslav
Šev?uk que disse que o povo ucraniano, ou alguns ucranianos ou tantos ucranianos,
sentiram-se profundamente desiludidos e traídos. Antes de tudo, conheço bem
Svjatoslav: em Buenos Aires, por quatro anos, trabalhamos juntos. Quando ele
foi eleito – aos 42 anos, eh? Um homem bom! – foi eleito arcebispo maior,
voltou a Buenos Aires para pegar suas coisa. Veio até mim e me deu de presente
um ícone – pequeno assim – de Nossa Senhora da Ternura e me disse: “Esta me
acompanhou por toda a vida: quero deixa-la a ti, que me acompanhou nestes
quatro anos”. É uma das poucas coisas que fiz trazer de Buenos Aires e que está
na minha escrivaninha. Ou seja, é um homem pelo qual tenho respeito e
familiaridade, nos tratamos de “você”, e assim... Segundo: por isso me pareceu
um pouco estranho. E recordei uma coisa que disse aqui, a vocês: para entender
uma notícia, uma declaração, é preciso procurar a hermenêutica de tudo. Mas,
quando disseste isso? Em uma declaração de 14 de fevereiro passado, domingo:
domingo passado.
Uma entrevista que fez, selecionada pelo padre… não
recordo, um sacerdote ucraniano. Na Ucrânia, selecionada, e publicada. Aquela
notícia, a entrevista é de uma página, duas e um pouco a mais: mais ou menos.
Aquela notícia está no terceiro e último parágrafo, assim pequeno.
Eu li a entrevista, e direi isto: Šev?uk é a parte
dogmática, se declara filho da Igreja, em comunhão com o Bispo de Roma, com a
Igreja; fala do Papa, da proximidade do Papa, e dele, da sua fé, não?, e da fé
também do povo ortodoxo: na parte dogmática, nenhuma dificuldade, é ortodoxa no
bom sentido da palavra, ou seja, Doutrina católica, não?
Depois, como em todas as entrevistas – esta, por
exemplo – cada um tem o direito de dizer as suas coisas, e isto não o fez sobre
o encontro, porque sobre o encontro, diz: “Mas, é uma coisa boa e devemos
seguir em frente”. Neste segundo capítulo, as ideias pessoais que tem uma
pessoas. Por exemplo, isto que eu disse sobre os bispos que transferem os
padres pedófilos, o melhor que podem fazer é demitir-se, é uma coisa... não é
dogmática, mas é aquilo que eu penso. E assim ele tem as suas ideias pessoas
que são para dialogar, e tem o direito de haver.
Tudo aquilo que ele diz é sobre o documento: este é
o problema. Sobre o encontro... “mas, este é o Senhor, o Espírito que segue
adiante, o abraço...”: tudo vai bem. O Documento? É um documento discutível, e
também há um acréscimo: que a Ucrânia vive um momento de guerra, de sofrimento,
com tantas interpretações. Eu citei o povo ucraniano pedindo orações e
proximidade tantas vezes, seja no Angelus como nas Audiências de quarta-feira.
Mas o fato histórico de uma guerra vivida como... cada um tem sua ideia, como é
esta guerra, quem a começou, como se faz, como não se faz... É evidente que
este é um problema histórico mas também um problema pessoal, existencial
daquela País e fala do sofrimento. E ali, eu insiro este parágrafo: se entende
os fiéis, porque Svjatoslav diz: “Tantos fiéis me chamaram ou escreveram
dizendo que estão profundamente desiludidos e traídos por Roma”: se entende que
um povo naquela situação sinta isso, não: Mas, o Documento é discutível sobre
esta questão da Ucrânia, mas lá se diz que se termine a guerra e que se caminhe
a acordos; eu, pessoalmente, defendi que os Acordos de Minsk prossigam, e não
se apague com o cotovelo aquilo que foi escrito com as mãos, eh? A Igreja de Roma,
o Papa sempre disse: “Procurem a paz”.
Recebi ambos os presidentes – paridade, não? E por
isso, quando ele diz que ouviu isso do seu povo, eu o entendo: o entendo. Mas
não é “a” notícia. “A notícia” é tudo. Se vocês lerem toda a entrevista, verão
que existem coisas dogmáticas sérias, que permanecem, há um desejo de unidade,
de ir adiante, ecumênico, ele é um homem ecumênico... Existem algumas
opiniões... Ele me escreveu, quando soube da viagem, do encontro, mas como
um irmão, dando as suas opiniões de irmão... Não me desagrada o
Documento, assim; não me desagrada no sentido que devemos respeitar as coisas
que cada um tem a liberdade de pensar e naquela situação tão difícil. E de
Roma... agora o núncio está na fronteira onde se combate, ajudando os soldados,
os feridos; a Igreja de Roma enviou tantas ajudas, tantas ajudas lá; e sempre
paz, acordos, se respeite o Acordo de Minsk... e assim. Este é o todo. Mas, não
se assustem com aquela frase: esta é uma lição, que uma notícia deve ser
interpretada com a hermenêutica do todo, não da parte.
Moscou? Eu preferiria… porque se digo uma coisa
devo dizer uma outra e outra e outra: preferiria que aquilo sobre o que falamos
nós, sozinhos, seja somente aquilo que dissemos em público. Este é um dado. E
se digo isto, deverei dizer mais... não! Aquilo que eu disse em público, aquilo
que ele disse em público, isto é aquilo que se pode dizer do colóquio privado.
Do contrário, não seria privado. Mas posso dizer: saí feliz. E ele também.
Pergunta: A minha pergunta é sobre a família, tema que
o senhor afrontou nesta viagem. No Parlamento italiano está em discussão a lei
sobre as uniões civis, tema que tem levado a fortes embates políticos, mas
também a um forte debate na sociedade e entre os católicos. Neste particular, gostaria
de saber o seu pensamento sobre o tema da adoção da parte das uniões civis, e
portanto, sobre os direitos das crianças e dos filhos em geral.
Resposta:
Antes de tudo, não sei como estão as coisas no Parlamento italiano... O Papa
não se envolve na política italiana. Na primeira reunião que tive com os
bispos, em maio de 2013, uma das três coisas que disse: “Com o governo
italiano, se virem vocês”. Porque o Papa é para todos, e não pode se meter na
política concreta, interna de um país: este é o papel do Papa, não? E aquilo
que penso é aquilo que pensa a Igreja e disse em tantas... porque este não é o
primeiro país que faz esta experiência: são tantos. Eu penso aquilo que a
Igreja sempre disse sobre...
Pergunta: Santo Padre, há algumas semanas há muita
preocupação em muitos países latino-americanos, mas também na Europa, sobre o
vírus “Zika”. O risco maior seria para as mulheres grávidas: há angústia.
Algumas autoridades propuseram o aborto, ou de se evitar a gravidez. Neste
caso, a Igreja pode levar em consideração o conceito de “entre os males, o
menor”?
Resposta:
O aborto não é um “mal menor”. É um crime. É descartar um para salvar o outro.
É aquilo que a máfia faz, eh? É um crime. É um mal absoluto. Sobre “mal menor”:
mas, evitar a gravidez é – falemos em termos de conflito entre o quinto e o
sexto Mandamento. Paulo VI, o Grande, em uma situação difícil, na África,
permitiu às religiosas de usar anticoncepcionais para os casos de violência.
Não confundir o mal de evitar a gravidez, sozinho, com o aborto. O aborto não é
um problema teológico: é um problema humano, é um problema médico. Mata-se uma
pessoa para salvar uma outra – nos melhores dos casos. Ou por conforto, não?
Vai contra o Juramento de Hipócrates que os médicos devem fazer. É um mal em si
mesmo, mas não é um mal religioso, ao início: não, é um mal humano. Além disso,
evidentemente, já que é um mal humano – como todos assassinatos – é condenado.
Ao invés, evitar a gravidez não é um mal absoluto: e, em certos casos, como
neste, como naquele que mencionei do Beato Paulo VI, era claro. Ainda, eu
exortaria os médicos para que façam tudo para encontrar as vacinas contra estes
mosquitos que trazem este mal: sobre isto se deve trabalhar.
Pergunta: Santidade, dentro de poucas semanas, o
senhor vai receber o Prêmio Carlos Magno, um dos prêmios mais prestigiosos da
Comunidade Europeia. Também o seu predecessor, São João Paulo II, recebeu este
prêmio: fazia questão. E fazia questão também de promover a unidade europeia,
que agora parece um pouco aos pedaços, primeiro com a crise do euro e agora com
a crise dos refugiados: o senhor tem talvez uma palavra para nós, nesta
situação de crise europeia?
Resposta:
Primeiro, sobre o Prêmio Carlos Magno. Eu tinha o hábito de não aceitar
honorificências ou doutorados, desde sempre: não por humildade, mas porque não
gosto destas coisas. Um pouco de loucura é bom ter, e não gosto. Mas neste
caso, não digo “forçado”, mas “convencido” com a santa e teológica teimosia do
cardeal Kasper, que foi eleito por Aachen (Alemanha) para me convencer. E eu
disse: “Sim, mas no Vaticano”. E... disse isso; e ofereço o prêmio para a
Europa: que seja uma condecoração, um prêmio para que a Europa possa fazer
aquilo que eu desejei em Estrasburgo: mais fácil que não seja a “avó-Europa”,
mas a “mãe-Europa”.
Segundo. Outro dia, lendo as notícias sobre esta
crise e isto: eu leio pouco, folheio somente um jornal – não digo o nome para
não provocar ciumeiras, mas sabe-se... leio quinze minutos e depois peço
informações à Secretaria de Estado. Uma palavra que me agradou, e me agradou –
não sei quem a aprova, quem não – “a refundação da União Europeia”. E pensei
aos grandes pais, eh? Mas, hoje, onde há um Schuman, um Adenauer? E estes
frande, que no pós-guerra “fundaram” a União Europeia… E eu gosto, esta ideia
da refundação: oxalá se se pudesse fazer! Porque a Europa, não diria que é
“única”, mas tem uma força, uma cultura, uma história que não pode ser
desperdiçada, e devemos fazer tudo para que a União Europeia tenha a força e
também a inspiração de fazer ir adiante. Não sei: é isso que eu penso.
Pergunta: Santo Padre, o senhor falou muito de família
e do Ano da Misericórdia, nesta viagem. Alguns se perguntam, como uma Igreja
que se diz “misericordiosa” pode perdoar mais facilmente um assassino do que
quem se divorcia e casa novamente...?
Resposta:
Mas, gostei da pergunta! Sobre a família, falaram dois Sínodos e o Papa falou
durante todo o ano na catequese das quartas-feiras. E a pergunta é verdadeira,
me agrada, porque você a fez plasticamente bem, eh! No documento pós-sinodal
que sairá – talvez antes da Páscoa – se retoma tudo aquilo que o Sínodo – em um
dos capítulos, porque existem muitos – fala sobre os conflitos ou sobre
famílias feridas, e a pastoral das famílias feridas... É uma das preocupações.
Assim como outra é a preparação ao matrimônio. Pense você, que para se tornar
padre, são oito anos de estudo, de preparação, e depois, depois de um certo
tempo, não consegue mais, pede a dispensa e vai embora e está tudo certo. Pelo
contrário, para receber um Sacramento que é para toda a vida, três quatro
palestras... A preparação ao matrimônio é muito importante: é muito, muito
importante, porque acredito que seja uma coisa que a Igreja, na pastoral comum
– ao menos no meu país, na América do Sul - não valorizou muito. Por
exemplo – agora não tanto, mas há alguns anos – na minha Pátria, havia o
costume de... se chamava “casamento em apuros”: casar rapidamente, porque vem
um filho. E para cobrir socialmente a honra da família.... Ali, não eram
livres, e tantas vezes estes matrimônios são nulos. E eu, como bispo, proibi os
sacerdotes de fazerem isto... Que nasça a criança, que continuem namorados, e
quando sentem que é para toda a vida, que sigam em frente. Mas existe uma
ausência do matrimônio.
Depois, outro capítulo muito interessante: a
educação dos filhos. As vítimas dos problemas da família são os filhos: os
filhos. Mas também vítimas dos problemas da família que nem marido nem a mulher
querem: por exemplo, a necessidade de trabalho. Quando o pai não tem tempo livre
para falar com os filhos, quando a mãe não tem tempo livre para falar com os
filhos.... Quando eu confesso um casal que tem filhos, um matrimônio, pergunto:
“Quantos filhos vocês tem?”. E alguns se assustam dizendo: “Mas, o Padre me
perguntará porque não tenho mais...”. E eu direi: “Farei para você uma segunda
pergunta: você brinca com seus filhos?”, e a maioria – quase todos! -
dizem: “Mas, Padre, não tenho tempo: trabalho o dia todo”. E os filhos são
vítimas de um problema social que fere a família. É um problema... gosto da sua
pergunta.
E uma terceira coisa interessante, no encontro com
as famílias em Morelia – não: foi em Morelia?” Não... em Tuxtla, em Tuxtla –
havia um casal de recasados em segunda-união, integrantes da pastoral da
Igreja... E a palavra-chave que usou o Sínodo – e eu a peguei – é “integrar na
vida da Igreja as famílias feridas, as famílias de recasados”, e tudo isto. Mas
não esquecer as crianças no centro, eh! São as primeira vítimas, quer pelas
feridas quer pelas condições de pobreza, de trabalho, de tudo isto.....
Nova
pergunta: Significa que poderão comungar?
Resposta: Esta
é uma coisa... é a última. Integrar na Igreja não significa “comungar”, porque
eu conheço católicos recasados que vão à igreja uma vez por ano, duas vezes: “Mas,
eu quero comungar!”, como se a comunhão fosse uma honorificência, não? Um
trabalho de integração... todas as portas estão abertas. Mas não se pode dizer,
(...) “podem comungar”. Isto seria uma ferida também aos matrimônios, ao casal,
porque não fará com que eles sigam por este caminho de integração. E estes dois
eram felizes! E usaram uma expressão muito bonita: “Nós não fazemos a comunhão
eucarística, mas fazemos comunhão na visita ao hospital, nisto e naquilo...”. A
integração deles permaneceu ali. Se há alguma coisa a mais, o Senhor dirá a
eles, mas... é um caminho, é uma estrada...”.
Pergunta: Muitas mídias evocaram, de forma clamorosa,
a “intensa correspondência” entre João Paulo II e a filósofa estadunidense Anna
Tymieniecka, que nutria – diz-se – um grande afeto pelo Papa polonês. Na sua
opinião, um Papa pode ter uma relação tão íntima com uma mulher? E depois, se
me permite, o senhor tem alguma importante correspondência, conhece – ou
conheceu – este tipo de experiência?
Resposta:
Isto eu sabia, esta relação de amizade entre São João Paulo II e esta filósofa,
quando estava em Buenos Aires: uma coisa que se sabia, também os livros dela
são conhecidos, e João Paulo II era um homem inquieto... Depois, eu diria que
um homem que não sabe ter uma boa relação de amizade com uma mulher – não falo
dos misóginos, eles são doentes – falta a ele alguma coisa.
E eu, por experiência própria, também quando peço
um conselho, peço a um colaborador, a um amigo, um homem, mas também gosto de
ouvir o parecer de uma mulher: e te dão tanta riqueza! Olham as coisas de um
outro modo. Gosto de dizer que a mulher é aquela que constrói a vida no ventre
e tem – mas esta é uma comparação que eu faço, não? – e tem este carisma de te
dar coisas para construir. Uma amizade com uma mulher não é pecado: uma
amizade. Uma relação amorosa com uma mulher que não seja tua mulher, é pecado.
O Papa é um homem, o Papa tem necessidade também do pensamento das mulheres. E
também o Papa tem um coração que pode ter uma amizade sadia, santa com uma
mulher. Existem santos amigos – Francisco, Clara, Teresa, João da cruz... Não
se assustem... Mas, as mulheres ainda são um pouco... não bem consideradas, não
totalmente... não entendemos o bem que uma mulher pode fazer à vida do padre e
da Igreja, no sentido de um conselho, da ajuda, de uma amizade saudável.
Pergunta: Boa noite, santidade. Eu volto para o tema
da lei que está para ser votada no Parlamento italiano: é uma lei que, no final
das contas, diz respeito também a outros Estados, porque outros Estados têm
leis que tratam da união entre pessoas do mesmo sexo. Existe um documento da
Congregação da Fé, de 2003, que dedica um amplo espaço a isto e também dedica
um capítulo ao comportamento que os parlamentares católicos devem ter diante
desta lei, e se diz expressamente que os parlamentares católicos não devem
votar esta lei. Visto que existe muita confusão sobre isto, gostaria de pedir
ao senhor, antes de tudo, se este documento de 2003 ainda tem valor, e
efetivamente qual o comportamento que um parlamentar católico deve ter? E
depois, uma outra coisa: depois de Moscou, o Cairo: existe algum outro desgelo
que se vislumbra no horizonte? Isto é, me refiro à audiência que o senhor
deseja com o “Papa dos sunitas” – podemos chamá-lo assim -, com o Imame de
al-Azhar?
Resposta: Sobre
isto, foi Dom Ayuso ao Cairo, na semana passada, para encontrar o segundo dos
Imames e também saudar o Imame. Dom Ayuso, é Secretário do Cardeal Tauran, do
Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. Eu quero encontrá-lo, sei
que ele gostaria, e estamos buscando a melhor maneira: sempre através do
Cardeal Tauran, porque este é o caminho, não? Mas, conseguiremos.
Sobre o primeiro tema: eu não recordo bem este
documento de 2003 da Congregação para a Doutrina da Fé. Mas um parlamentar
católico deve votar segundo a própria consciência “bem formada”, porque não é a
consciência aquilo que me pareça... eu me recordo quando foi votado o
matrimônio entre pessoas do mesmo sexo em Buenos Aires, que houve ali um
empate, e no final alguém disse, aconselhou ao outro: “Mas, tens isto claro?” –
“Não” – “Nem eu” – “Então vamos embora” – “Se sairmos, não alcançarão o
quórum”. E o outro disse: “Mas se chegarmos ao quórum, damos o voto a
Kirchner!”, e o outro: “Mas, prefiro dá-lo a Kirchner e não a Bergoglio!”... e
em frente... Esta não é uma consciência bem formada, eh! E em relação às
pessoas do mesmo sexo, repito aquilo que disse na viagem do Rio de Janeiro e
que está no catecismo da Igreja Católica”.
Pergunta: Ainda não chegamos em Roma e já estamos
pensando nas futuras viagens, em fazer as malas novamente. Santo Padre, quando
irás à Argentina, onde esperam pelo senhor há tanto tempo, e, quando retornarás
à América Latina ou irás à China... Depois, durante esta viagem, o senhor falou
muitas vezes em “sonhar”: O que o senhor sonha? E, sobretudo, qual é o seu
pesadelo?
Resposta:
A China… (risadas) ir até lá: gostaria muito! Quero dizer uma coisa, uma coisa
certa sobre o povo mexicano. É um povo de uma riqueza, de uma riqueza tão grande,
é um povo que surpreende... Tem uma cultura, uma cultura milenar... Vocês sabem
que hoje, no México, são faladas 65 línguas, contando os indígenas... 65! É um
povo de uma grande fé, também sofreu perseguições religiosas, existem mártires
– agora vou canonizar dois, dois ou três...
É um povo... não se pode explicar simplesmente
porque a palavra “povo” não é uma categoria lógica, é uma categoria mítica. E o
povo mexicano, não é possível explicá-lo, esta riqueza, esta história, esta
alegria, esta capacidade de festa e estas tragédias das quais vocês
perguntaram. Eu não posso dizer outra coisa, que esta unidade, também que este
povo tenha conseguido não fracassar, não acabar com tantas guerras, e coisas
que acontecem agora... Mas ali, em Ciudad Juárez, havia um pacto de 12 horas de
paz para a minha visita, depois continuarão lutando entre eles, os
traficantes...
Mas um povo que tem ainda esta vitalidade, somente
pode ser explicado por Guadalupe. E eu vos convido a estudar seriamente o
“acontecimento Guadalupe”. Nossa Senhora está lá. Eu não encontro outra
explicação. E seria bonito se vocês, como jornalistas, existem alguns bons
livros que explicam, também explicam a pintura, como é, o que significa... E
assim se poderá entender um pouco este povo tão grande, tão bonito.
Pergunta: Gostaria de saber o que o senhor pediu à
Guadalupe, porque permaneceu muito tempo na igreja rezando para ela; depois, a
segunda coisa, se o senhor sonha em italiano ou espanhol?
Resposta:
Sim, eu diria que sonho em esperanto... (risos). Não sei como responder isto,
realmente. Algumas vezes sim, recordo, algum sonho em outra língua, mas sonhar
em língua não, mas com figuras, sim; eh, a minha psicologia é assim. Com
palavras sonho pouco, não?
Pedi pelo mundo, pela paz… mas, tantas coisas... A
pobrezinha ficou com a cabeça assim... Pedi perdão, pedi para que a Igreja
cresça saudável, pedi pelo povo mexicano... também, uma coisa que pedi muito é
que os padres sejam verdadeiros padres e as irmãs, verdadeiras irmãs e os
bispos, verdadeiros bispos: como o Senhor nos quer. Isto pedi muito a ela, não?
Mas depois, as coisas que um filho diz à Mãe são um pouco secretas...
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ACI Digital
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