segunda-feira, 7 de março de 2016

A tragédia de mãe e filho que, sem saberem das suas identidades, se casaram e tiveram outros filhos


A sacralidade da família, que chega à plenitude no cristianismo, não pode ser negada nem mesmo pela sociedade pagã.

O filósofo Aristóteles a considerou o mais perfeito exemplo de tragédia grega. O psicanalista Freud a usou como imagem de uma das mais influentes definições da psicanálise clássica, o complexo de Édipo. Michel Foucault a estudou para analisar nas suas linhas e entrelinhas as práticas judiciárias da Grécia Antiga.

Estamos falando de “Édipo Rei“, um dos máximos clássicos da literatura grega – e universal – de todos os tempos. A peça de teatro tem quase 2.500 anos: foi escrita por Sófocles em 427 a.C. e é a primeira de uma série de tragédias que inclui “Antígona” e “Édipo em Colono”.

Em “Édipo Rei”, Sófocles conta a história de uma profecia segundo a qual o pequeno Édipo, quando crescer, vai matar seu pai, o rei Laio, e se casar com a própria mãe, a rainha Jocasta. A família procura driblar o destino e Édipo acaba sendo criado longe, por pais adotivos, desconhecendo a própria origem. Mas o destino, quase uma entidade autônoma na visão de mundo da Grécia Antiga, não se deixa ludibriar. 

A história que Spotlight não contou


Foi no final de outono de 2001. A cobertura de notícias sobre os ataques de 11 de setembro perdia a sua força e meia dúzia de jornalistas de investigação trabalhavam juntos em uma sala de imprensa em Boston. Estavam reunidos em torno da seguinte grande história:

Desde o começo do verão, a equipe havia rastreado evidências acreditáveis de abusos sexuais cometidos por mais de 70 sacerdotes nessa Arquidiocese. Nenhum dos casos havia sido divulgado. A história era grande, mas ainda não era suficiente.

Segundo o filme “Spotlight”, o qual relata como Boston Globe divulgou o escândalo de abusos sexuais do clero em 2002, o editor Marty Baron não só estava interessado em dar um golpe na Igreja. Ele queria fazer mais dano.

Em uma cena chave, Baron disse a sua equipe: “Provem que os sacerdotes estavam sendo protegidos de ser processados e que eram designados uma e outra vez”.

O filme termina quando a primeira edição de Globe sobre o escândalo chega nas ruas no domingo, 6 de janeiro de 2002. A propaganda diz: “Igreja permite abusos dos sacerdotes durante anos: Consciente dos antecedentes de Geoghan, a Arquidiocese o designa de paróquia em paróquia”.

Como o título do filme sugere, o filme “destaca” (spotlights) o trabalho dos jornalistas para evidenciar a má gestão das denúncias de abusos sexuais em Boston ao mais alto nível. Entretanto, o que o filme não fez foi contar a história do que aconteceu depois disso.

Depois das revelações sobre as investigações de Globe, o Bispo de Belleville, Wilton Gregory, então presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos da América, emitiu uma declaração formal expressando uma “dor profunda pela responsabilidade destes abusos cometidos por alguns de nossos sacerdotes sob nossa vigilância”.

Em junho daquele ano, os bispos dos Estados Unidos decidiram que seria necessária uma política coordenada e uma resposta da conferência episcopal, e aprovaram por unanimidade a “Carta para a Proteção de Crianças e Jovens”.

É importante compreender que, antes de 2002, a maneira pela qual uma diocese investigava as acusações de abusos sexuais estava nas mãos do bispo local (a Arquidiocese de Denver emitiu primeiro seu Código de Conduta em 1991).

Com a nova Carta, iniciaram procedimentos uniformes para administrar as acusações de abusos sexuais não só do clero, mas também de professores leigos, funcionários das paróquias e qualquer outro adulto que tivesse contato com a juventude em nome da Igreja. Em uma ação sem precedentes, comprometeram-se a prover um “ambiente seguro” para todos as crianças nas atividades patrocinadas pela Igreja.

Outros componentes importantes foram uma política de “tolerância zero” para abusos sexuais, investigação de antecedentes para todos os funcionários da Igreja, obrigação de informar às autoridades civis, a retirada imediata dos acusados de seus ministérios, melhoramento na formação dos seminaristas e, o mais importante, ajuda às vítimas. 

Santas Perpétua e Felicidade


Neste dia a Igreja entra em comunhão com os Santos do Céu rezando: "Ó Deus, pelo vosso amor, as mártires Perpétua e Felicidade resistiram aos perseguidores e superaram as torturas do martírio".

No ano 202 o imperador Severo mandou matar os cristãos que não quisessem adorar os falsos deuses. Perpétua estava celebrando uma reunião religiosa em sua casa de Cartago quando chegou a polícia do imperador e a levou prisioneira, junto com sua escrava Felicidade

Perpétua era uma jovem mãe, de 22 anos que tinha um bebê de poucos meses. Pertencia a uma família rica e muito estimada por toda a população. Enquanto estava na prisão, a pedido de seus companheiros mártires, foi escrevendo um diário de tudo o que ia acontecendo.

Felicidade era uma escrava de Perpétua. Era também muito jovem e na prisão deu à luz uma menina, que depois os cristãos se encarregaram de criar muito bem.

Na prisão escreveu Perpétua: "Fiquei horrorizada, nunca tinha experimentado tal sensação de escuridão. O calor era insuportável e éramos muitas pessoas em um subterrâneo muito estreito. Parecia que ia morrer de calor e de asfixia e sofria por não poder ter junto a mim o meu filho que era de tão poucos meses e que necessitava muito de mim. O que eu mais pedia a Deus era que nos concedesse a graça de sofrer e lutar por nossa santa religião".

Então chegou seu pai, o único da família que não era cristão, e de joelhos lhe rogava e lhe suplicava que não persistisse em chamar-se cristã. Que aceitasse a religião do imperador. Que o fizesse por amor a seu pai e a seu filhinho. Ela se comovia intensamente mas terminou dizendo-lhe: “Pai, como se chama esta vasilha que há aí na frente?” "Uma bandeja", respondeu o pai. “Pois bem, essa vasilha deve ser chamada de bandeja, e não de pote ou colher, porque é uma bandeja. E eu que sou cristã, não posso me chamar pagã, nem de nenhuma outra religião, porque sou cristã e o quero ser para sempre".

E acrescenta o diário escrito por Perpétua: "Meu pai era o único da minha família que não se alegrava porque nós íamos ser mártires por Cristo".

Felicidade grávida alcançou a graça que pedia, já que seu filho nasceu antes do martírio. Um carcereiro debochava dizendo: "Agora se queixa pelas dores do parto. E quando chegarem das dores do martírio o que fará? Ela respondeu-lhe: "Agora sou fraca porque sofre a minha pobre natureza. Mas quando chegar o martírio a graça de Deus me acompanhará, e me encherá de força". E encheu-se de júbilo por poder sofrer o martírio juntamente com seus companheiros.

Batizadas na prisão, Santas Perpétua e Felicidade, foram condenadas pela firmeza da fé, foram lançadas na arena, onde uma vaca furiosa as feriu. Ao ver a jovem mãe atirada de um lugar para outro, e o leite gotejando de seus seios, o povo horrorizou-se, pedindo o fim do espetáculo. Depois disso foram degoladas. O ano era 203.  

ORAÇÃO


Deus todo-poderoso, que destes às mártires Santas Perpétua e Felicidade a graça de sofrer pelo Cristo, ajudai também a nossa fraqueza, para que possamos viver firmes em nossa fé, como eles não hesitaram em morrer por vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

domingo, 6 de março de 2016

EUA: juiz protege direito de sacerdotes a guardar segredo de confissão


A lei do estado de Luisiana (Estados Unidos) já não poderá obrigar os sacerdotes católicos a violar o segredo de confissão, assim reafirmou um juiz deste estado na sexta-feira passada.

O juiz estatal de distrito Mike Caldwell disse no último dia 26 de fevereiro que a lei através da qual exige o clero reportar abusos sexuais de menores se contrapõe ao direito de liberdade religiosa do sacerdote em relação ao segredo de confissão.

A sentença nasceu da denúncia apresentada em 2008 por Rebeca Mayeux contra o Pe. Jeff Bayhi, da Diocese de Baton Rouge (Luisiana). Por meio desta, Mayeux explicou que durante uma confissão disse ao sacerdote que um paroquiano de 64 anos de idade havia abusado dela.

A denúncia judicial culpava o presbítero por ter sido negligente ao não reportar o abuso e que a Diocese se equivocou ao não o obrigar a fazer a denúncia. Segundo ‘The Associated Press’, Mayeux reclamou que o sacerdote lhe disse na ocasião “que esqueça o acontecido”.

Pe. Bayhi, encarregado de uma paróquia próxima a Baton Rouge, disse na corte que se revelasse algo da confissão seria excomungado: “Se nós algumas vez quebrarmos o sacramento, está tudo acabado. De maneira alguma o faria”.

“Se o Sacramento da Reconciliação não é sagrado, jamais confiarão novamente em nós”, acrescentou.

A lei de Luisiana exige ao clero informar os abusos sexuais, mas partes da mesma garante uma exceção quando estas acusações são reveladas durante a confissão sacramental.

A sentença do juiz Caldwell anulou outras partes do código estatal que contradizem esta exceção e obrigam a informar o abuso sexual “apesar de qualquer pedido de comunicação privilegiada (a confissão)”, como informou o ‘New Orleans Advocate’.

Ao sair do tribunal, o sacerdote expressou sua satisfação pois a sentença confirmou seu direito à liberdade religiosa. 

Palavra de Vida: “O Reino de Deus já chegou até vós” (Lc 11,20).


“O Reino de Deus já chegou até vós”. (Lc 11,20)

Era isso que o povo hebreu do tempo de Jesus estava esperando. Foi isso que Ele começou a anunciar logo no início de sua caminhada pelos povoados e cidades: “O Reino de Deus está próximo” (cf. Lc 10,9). E pouco depois: “O Reino de Deus já chegou até vós”; “O Reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17,21). Na pessoa de Jesus, era o próprio Deus que vinha para o meio de seu povo e retomava em mãos a história, com decisão e com força, para conduzi-la à sua meta. Os milagres realizados por Jesus eram os sinais disso.

No trecho do Evangelho em que se encontra esta Palavra de Vida, Ele acabara de curar um homem mudo, libertando-o do demônio que o mantinha aprisionado. Era a demonstração de que Ele viera para vencer o mal, todo mal, e para instaurar finalmente o Reino de Deus.

Na linguagem hebraica, esta locução “Reino de Deus” indicava a ação de Deus em favor de Israel, libertando-o de toda forma de escravidão e de todo mal, guiando-o rumo à justiça e à paz, inundando-o de alegria e de bem; aquele Deus que Jesus revela como “Pai” misericordioso, amoroso e cheio de compaixão, sensível às necessidades e aos sofrimentos de cada um de seus filhos.

Também nós temos necessidade de escutar o anúncio de Jesus:

“O Reino de Deus já chegou até vós”.

Olhando ao nosso redor, muitas vezes temos a impressão de que o mundo está dominado pelo mal, de que os violentos e os corruptos acabam prevalecendo. Às vezes nos sentimos à mercê de forças contrárias, de eventos ameaçadores que nos sobrepujam. Sentimo-nos impotentes diante de guerras e catástrofes ambientais, de massacres e mudanças climáticas, de migrações e de crises econômicas e financeiras.

Justamente aqui situa-se o anúncio de Jesus, convidando-nos a crer que Ele, desde já, está vencendo o mal e estabelecendo um mundo novo.

No mês de março de 25 anos atrás, falando a milhares de jovens, Chiara Lubich confiava a eles o seu sonho: “Tornar o mundo melhor, como se fosse uma única família, como se pertencesse a uma única pátria, a um mundo solidário, ou melhor, a um mundo unido”. Naquele tempo isso parecia uma utopia – como parece até hoje. Mas, para fazer o sonho se tornar realidade, Chiara convidava os jovens a viver o amor mútuo, na certeza de que agindo assim eles haveriam de ter entre eles “o próprio Cristo, o Todo-poderoso. E Dele vocês poderão esperar tudo”. 

2ª Dor de Nossa Senhora: A Fuga para o Egito


1. O próprio Jesus é espada de dor para Sua Mãe 

Ferida pelo caçador, aonde vai, leva a corça consigo a sua dor: carregando no corpo a seta cruel. Assim também Maria, depois do funesto vaticínio de S. Simeão levou conSigo a dor, que consistia na contínua memória da Paixão do Filho. Algrino aqui aplica o texto dos Sagrados Cânticos: Os cabelos de tua cabeça são como a púrpura do rei, que é atada em dobras (7, 8). Essa cabeleira cor de púrpura simboliza a constante contemplação da Paixão de Jesus. A Virgem a tinha tão viva diante dos olhos, como se já estivesse vendo o sangue a correr das chagas dEle. Era assim Jesus a espada que atravessava o coração de Maria. 

E, a medida que Ele Lhe parecia mais amável mais profundamente a feria a dor por ter de perdê-lO um dia. 

Consideremos agora a segunda espada de dor que feriu o coração de nossa Mãe, quando fugiu para o Egito, a fim de livrar o Menino-Deus da perseguição de Herodes. 

2. A ordem de fugir 

Mal ouviu Herodes que era nascido o Messias esperado, temeu loucamente que o recém-nascido lhe quisesse usurpar o trono. S. Fulgêncio de Ruspe censura-lhe a loucura, dizendo: Por que estás inquieto, Herodes? Esse rei, nascido agora, não vem para vencer os reis em combate. Não; ele vem para subjugá-los de um modo admirável, morrendo por eles. Esperava, pois, o ímpio rei lhe viessem os santos Magos revelar. o lugar do nascimento do real Menino, a fim de tirar-Lhe a vida. Vendo-se, contudo logrado, ordenou a morte de todos os meninos que então se achavam em Belém e seus arredores. Foi então que o anjo apareceu em sonhos a José com a ordem: Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe, e foge para o Egito (Mt 2, .13). 

Segundo o parecer de Gerson, S. José avisou a Maria na mesma noite, e tomando ambos o, Menino Jesus, puseram-se a caminho. É isso o que se deduz das palavras do Evangelho: "E levantando-se, José tomou consigo, ainda noite, o Menino e Sua Mãe e retirou-se para o Egito". Ó Deus, disse então Maria (como contempla S. Alberto Magno), assim deve fugir dos homens aquele que veio para salvá-los? Logo conheceu a aflita Mãe como já começava a verificar-se no Filho a profecia de Simeão: Eis aqui está posto este Menino como alvo a que atirará a contradição (Lc 2, 34). Viu que, apenas nascido, já O perseguiam e queriam matar. "Que pesar para o coração de Maria, escreve S. Pedro Crisólogo, ao ouvir a intimação do cruel exílio ao qual Ela e o Filho eram condenados! 

Foge dos teus para os estranhos, do templo do verdadeiro Deus para a terra dos ídolos! Há lástima que se compare à de uma criança que, apenas nascida, já se vê obrigada a fugir, levada nos braços de sua Mãe? 

Shahbaz Bhatti: Partilhar o sofrimento dos outros


Na Primavera de 2011 a Ajuda à Igreja que Sofre pediu-me para viajar até ao Paquistão para fazer a produção de documentários sobre a Igreja que sofre para a Rede Católica de Rádio e Televisão (CRTN). Um passo enorme, pensei eu. Até agora nunca tínhamos sido enviados para “a guerra”. As únicas notícias que surgiam na altura sobre o Paquistão referiam-se a assassinatos, explosões e atividades dos talibãs paquistaneses. A Páscoa aproximava-se a passos largos. Como preparação, na comunidade de Sant’Egidio líamos fragmentos do testemunho de Shahbaz Bhatti, apenas um mês depois de ter sido morto.

As suas palavras eram notáveis: “Lembro-me, foi Sexta-feira Santa, tinha apenas 13 anos de idade, ouvi uma homilia sobre o sacrifício de Jesus, como deu a redenção e a salvação para o mundo. Foi nesse momento que pensei em refletir sobre o amor de Jesus por nós, que me levou a sacrificar a minha vida, servindo os cristãos, especialmente os pobres, necessitados, perseguidos e vitimados neste país islâmico.” Continuou: “Não quero popularidade, não quero nenhum cargo. Só quero um lugar aos pés de Jesus. Quero que a minha vida, o meu carácter, as minhas ações falem por mim e que mostrem que eu sigo a Jesus Cristo. Por causa deste desejo, eu ainda me consideraria mais feliz se – neste esforço e nesta luta para ajudar os cristãos paquistaneses perseguidos e assassinados – Jesus Cristo aceitasse o sacrifício da minha vida. Quero viver para Cristo e quero morrer por Ele.”

Senti-me envergonhada. Decidi que queria ir para o Paquistão, para tentar contar a história deste homem. Uns meses mais tarde chegávamos em Karachi, com o Padre Andrzej Halemba (chefe do departamento de projetos para o Oriente Médio) e uma equipa da AIS. Um ano mais tarde conseguimos voltar com uma equipa de filmagem.

Shahbaz Bhatti nasceu em 1968 na aldeia punjabi cristã de Khuspur – um dos poucos lugares no mapa islâmico do Paquistão. “Estudamos numa escola cristã e vivemos numa aldeia cristã, e não tínhamos problemas, mas na escola do Estado, onde a maioria dos alunos professavam uma fé diferente, era diferente. Ele ficou surpreso como tantos se mostravam reservados, dizendo que não podiam comer com os cristãos, do mesmo prato e com os mesmos talheres. Para ele foi muito, muito estranho. Ficou mesmo zangado, julgando aquilo desumano,” lembra o seu irmão Paul.

Com o tempo, e cada vez mais claramente, Shahbaz começou a compreender verdadeiramente a realidade que a minoria cristã, de apenas 2% da população, vivia no Paquistão. A maioria eram pobres, sem recurso à educação, sofrendo descriminação no trabalho, pressionados a se converterem ao Islã, tratados em desigualdade perante a lei, mas principalmente ameaçados por leis contra a blasfêmia.


O Padre Pevez Emmanuel, que conhecia Shahbaz desde criança, se lembra não só como o sentido de justiça do garoto o impressionou, mas também a profundidade da sua fé. Uma fé nutrida pela oração diária, da Palavra de Deus, assim como a solidariedade, a compaixão e a relação franca com os pobres. Embora viesse de uma família razoavelmente próspera e com estudos, passava dias inteiros com pastores de burros, trabalhadores da fábrica de tijolos e limpadores de rua, tentando compreendê-los e ajudá-los materialmente. Na escola secundária começou a atrair outros para esta sua iniciativa, e em pouco tempo fundou a "Frente de Libertação Cristã", que com o tempo se tornou a Aliança das Minorias Paquistanesas (APMA). Uma organização que abrange cristãos descriminados assim como hindus, budistas e representantes de outras minorias religiosas. Onde algo estivesse acontecendo – violência, abusos sexuais, cheias, tremores de terra… - eles estavam lá.

“Ele estava sempre pronto para ir ao encontro das vítimas, onde quer que estivessem. Via-se como ele se compadecia delas. Em alguns lugares chorou por elas. Ele sentia o que as pessoas sentiam.” Relembra o Padre Bonnie Mendes. Muitos muçulmanos, por quem tinha bastante respeito, eram seus amigos. Tinha imenso orgulho de ser paquistanês. Acreditava no Paquistão que Muhammed Ali Jinnah, o fundador do país, dizia que queria, um país baseado no Islã, mas pluralista, no qual pessoas de todas as religiões pudessem encontrar um lugar seguro. “Era definitivamente um homem com um sonho, com uma visão, que pessoas de profissões de fé diferentes pudessem aqui viver juntas.” acredita o Arcebispo Joseph Coutts de Karachi. 

Cristo é o caminho para a luz, a verdade para a vida




Diz o Senhor: Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8,12). Estas breves palavras contêm um preceito e uma promessa. Façamos o que o Senhor mandou, para esperarmos sem receio receber o que prometeu, e não nos vir ele a dizer no dia do Juízo: “Fizeste o que mandei para esperares agora alcançar o que prometi?” Responder-te-á: “Disse quem e seguisses”. Pediste um conselho de vida. De que vida, senão daquela sobre a qual foi dito: Em vós está a fonte da vida? (Sl 35,10). Por conseguinte, façamos agora o que nos manda, sigamos o Senhor, e quebremos os grilhões que nos impedem de segui-lo. Mas quem é capaz de romper tais amaras se não for ajudado por aquele de quem se disse: Quebrastes os meus grilhões? (Sl 115,7). E também noutro salmo: É o Senhor quem liberta os cativos, o Senhor faz erguer-se o caído (Sl 145,7.8).

Somente os que assim são libertados e erguidos poderão seguir aquela luz que proclama: Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, não andará nas trevas. Realmente o Senhor faz os cegos verem. Os nossos olhos, irmãos, são agora iluminados pelo colírio da fé. Para restituir a vista ao cego de nascença, o Senhor começou por ungir-lhe os olhos com sua saliva misturada com terra. Cegos também nós nascemos de Adão, e precisamos de ser iluminados pelo Senhor. Ele misturou sua saliva com a terra: E a Palavra se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14). Misturou sua saliva com a terra, como fora predito: A verdade brotou da terra (cf. Sl 84,12). E ele próprio disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6).

A verdade nos saciará quando o virmos face a face, porque também isso nos foi prometido. Pois quem ousaria esperar, se Deus não tivesse prometido ou dado?

Veremos face a face, como diz o Apóstolo: Agora, conheço apenas de modo imperfeito; agora, nós vemos num espelho, confusamente, mas, então, veremos face a face (1Cor 13,12). E o apóstolo João diz numa de suas cartas: Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é (1Jo 3,2). Eis a grande promessa!

Se o amas, segue-o! “Eu o amo, dizes tu, mas por onde o seguirei?” Se o Senhor te houvesse dito: “Eu sou a verdade e a vida”, tu que desejas a verdade e aspiras à vida, certamente procurarias o caminho para alcançá-la e dirias a ti mesmo: “Grande coisa é a verdade, grande coisa é a vida! Ah, se fosse possível à minha alma encontrar o caminho para lá chegar!”

Queres conhecer o caminho? Ouve o que o Senhor diz em primeiro lugar: Eu sou o caminho. Antes de dizer aonde deves ir, mostrou por onde deves seguir. Eu sou, diz ele, o caminho. O caminho para onde? A verdade e a vida. Disse primeiro por onde deves seguir e logo depois indicou para onde deves ir. Eu sou o caminho, eu sou a verdade, eu sou a vida. Permanecendo junto do Pai, é verdade e vida; revestindo-se de nossa carne, tornou-se o caminho.

Não te é dito: “Esforça-te por encontrar o caminho, para que possas chegar à verdade e à vida”. Decerto não é isso que te dizem. Levanta-te, preguiçoso! O próprio caminho veio ao teu encontro e te despertou do sono em que dormias, se é que chegou a despertar-te; levanta-te e anda!

Talvez tentes andar e não consigas, porque te doemos pés. Por que estão doendo? Não será pela dureza dos caminhos que a avareza te levou a percorrer? Mas o Verbo de Deus curou também os coxos. “Eu tenho os pés sadios, respondes, mas não vejo o caminho”. Lembra-te que ele também deu a vista aos cegos.



Dos Tratados sobre o Evangelho de São João,de Santo Agostinho, bispo

(Tract. 34,8-9:CCL36,315-316)            (Séc.V)