Vários
sites da Internet, em nome de certa visão estreita e equivocada do catolicismo,
da Tradição e do próprio Magistério, têm feito graves acusações ao Concílio
Vaticano II, além de mais ou menos veladas críticas aos últimos papas, de
João XXIII a Bento XVI. Esses sites são de orientação mais ou menos próxima à
Fraternidade São Pio X, do falecido Arcebispo cismático Dom Marcel Lefebvre,
que faleceu excomungado: são todos eles tradicionalistas (não tradicionais, no
sentido correto e sadio do termo e da Tradição católica), reacionários (não
simplesmente conservadores, o que não seria mal nenhum. Reacionários porque seu
estado de espírito é destrutivo, inquisitorial, de retranca, de visão estreita,
arcaica e hostil a qualquer progresso na teologia, no dogma e na vida da
Igreja).
O refrão
desses referidos sites é individuar em todos os níveis e ambientes da vida da
Igreja erros e perigos à reta fé, espalhar anátemas e condenações e fomentar
uma estranha e ultrapassada guerra apologética, própria do início do século XX,
em nome da ameaça onipresente da heresia modernista. Para eles, paranoicamente,
todo mundo é modernista: os últimos papas, os teólogos atuais, o episcopado em
geral, o clero como um todo, os vários movimentos leigos…
É mais
que patente para qualquer pessoa de bom senso que esse pessoal vai rapidamente
tomando o caminho do cisma. Primeiro dá-se o cisma psicológico, afetivo, que
faz ver com suspeita a Igreja e seus pastores; depois, vem o cisma de fato, a
incompatibilidade entre a fé do grupelho de “iluminados” e a percepção da
Grande Igreja, aquela composta pelo Povo Santo de Deus em comunhão com seus
legítimos pastores com Pedro e sob Pedro. Em geral – mesmo quando não diz –
esse pessoal somente considera como papas sem nenhuma restrição os pontífices
até Pio XII. A fidelidade deles é ao papado do passado ou, melhor falando, ao
papado da cabeça deles. Os papas atuais são por essa gente julgados, crivados
de crítica e manipulados nas suas intenções e magistério; se alguns deles citam
Bento XVI, é de modo unilateral e desonesto, sempre manipulando o Magistério
pontifício para tentar fazer o Papa dar razão às próprias irracionalidades. Que
ninguém se iluda pela linguagem engomada e afetada que utilizam, cheia de “V.
Revma.”, “V. Excia. Revma”, “Senhor Padre”, etc. Toda essa afetação, na
verdade, somente revela um apego doentio ao arcaico e tudo que os segure no
final do século XIX e início do século XX, final do pontificado de Pio IX e
pontificado de Pio X.
Como
muitas pessoas perguntam-me sobre esses sites e pedem-me uma avaliação sobre
eles, pois que estranham a animosidade em relação à Igreja e ao Episcopado, aos
teólogos e a muitas sãs manifestações da vida eclesial, resolvi descrever de
modo esquemático e bem simples a crise modernista, suas conseqüências e o atual
estado da questão, para que o leitor possa compreender o quanto essas pessoas
nominalmente católicas, mas às portas do cisma, aparentemente tão fiéis à
Tradição e ao Magistério, mas deles tão distantes de fato, estão equivocadas e
distantes do reto sentir da Igreja de Cristo. Como me dirijo ao grande público,
procurei ser sucinto e evitar detalhes aprofundados sobre questões teológicas
que escapariam de modo geral às pessoas. Meu intento é somente fazer com que se
compreenda a posição da Igreja e o erro dos tradicionalistas reacionários.
Não nutro
nenhum desejo de polemizar ou dialogar com esses grupos, que, de tão radicais,
fechados e fundamentalistas, são impenetráveis a qualquer argumentação que não
se enquadre em seus estreitos e pobres horizontes. Tentar dialogar com eles é
como tentar dialogar com os protestantes fundamentalistas, sem tirar nem pôr. Nem
mesmo freqüento tais sites, pois de modo algum valem a pena. Meu interesse é
somente prevenir de modo argumentado e metódico aqueles que se sentem perplexos
ante a aparente solidez da argumentação desses reacionários. Assim, cumpro
somente com meu dever de defender a fé católica e ajudar o rebanho de Cristo
para que não caia nas armadilhas que tantas vezes aparecem na sua peregrinação
terrestre.