No dia a dia, diversas vezes nos deparamos com
atitudes que não dão glória a Deus. Qual a raiz de tantas inclinações para o
mal, de tantos desejos desordenados e de tantos outros defeitos da natureza
humana? O orgulho, que, desde a queda de nossos primeiros pais, alastrou-se
pelo mundo como uma peste no meio do jardim. Esse vício é a raiz de todos os
pecados e por isso o homem necessita combatê-lo constantemente, sem que possa
ver-se livre dele “senão meia hora após a morte”, (1) comenta Monsenhor João
Scognamiglio Clá Dias. Contudo, antes ainda da queda de Adão, outro ato de orgulho
havia causado a perdição eterna de outros seres, superiores ao homem na ordem
da Criação.
Os anjos
pecaram porque quiseram ser como Deus
“Non serviam!
― Não servirei! Subirei até o alto dos Céus, estabelecerei o meu trono acima
dos astros de Deus, sentar-me-ei sobre o monte da aliança! Serei semelhante ao
Altíssimo!” (Is 14, 13-14).
Este odioso brado de revolta ― inspiração de todos
os gritos de insubmissão da História ― fez-se ouvir no Céu. Era Lúcifer, o anjo
que portava a luz. Tal era sua excelência que a Igreja aplica a ele as palavras
de Ezequiel: “Tu és o selo de semelhança
de Deus, cheio de sabedoria e perfeito na beleza; tu vivias nas delícias do
paraíso de Deus e tudo foi empregado para realçar a tua formosura!” (Ez 28,
12-12).
Se Lúcifer estava
assim tão perto de Deus, qual o motivo de tamanha revolta?
Segundo vários autores, fora revelado aos anjos que
o Verbo Eterno Se uniria à natureza humana, “elevando-a
assim até o trono do Altíssimo; e uma mulher, a Mãe de Deus, tornar-se-ia
medianeira de todas as graças, seria exaltada por cima dos coros angélicos e
coroada Rainha do universo”. (2)
Tal revelação foi, no fundo, uma prova para todos
os anjos. E alguns não quiseram aceitar, “pecaram por orgulho; manifestaram-se,
ipso facto, desejosos de se nivelar com Deus, pois Lhe negaram a plena e
suprema autoridade”. (3)
Lúcifer quis ultrapassar o mistério que seu
entendimento não alcançava… Julgou que o Senhor ignorava a superioridade da
natureza angélica ao preferir unir-Se a um ser tão inferior a Si. E ao
constatar que ele, o arquétipo dos Anjos, ver-se-ia na obrigação de adorar um
homem ― ainda que divino ―, rebelou-se. Como observa São Bernardo, “aquele que do nada fora tirado,
comparando-se, cheio de altivez, pretendeu roubar o que pertencia ao próprio
Unigênito do Pai”. (4)