terça-feira, 19 de julho de 2016

Este padre celebrou um casamento “ilegal” – e não se arrepende!


“A minha perspectiva é a da fé do pastor que ajudou uma das suas ovelhas a morrer feliz”. É assim que o padre Maurice Franc explica que não se arrepende em absoluto do que fez.

Ele é pároco em Notre Dame du Rocher, na cidade francesa de Biarritz, e, no dia 14 de junho celebrou o matrimônio de um casal que não estava previamente unido por ato civil. Na França, isto é proibido pelo artigo 433-21 do código penal – herdado da Revolução: esse artigo determina que todo casamento deve ser reconhecido civilmente pela prefeitura e que só depois é permitido realizar cerimônias religiosas.

Mas o padre aceitou unir os esposos porque a mulher estava com câncer em fase terminal.

“Sophie teve dificuldades para se expressar durante o consentimento mútuo; o ‘sim’ que ela pronunciou foi tão comovente quanto solene. Só de lembrar, me escapam as lágrimas”, compartilha, emocionado, o sacerdote. “A última coisa que Sophie viveu realmente foi aquele ‘sim’”.

A cerimônia aconteceu no quarto da mulher, prostrada na cama. “Éramos quinze pessoas no quarto. Não tinha nada de clandestino”, afirma o padre, desmentindo taxativamente as insinuações de certos meios de comunicação.

A mulher, de cinquenta anos, teve de ser tratada com sedativos naquela mesma tarde e faleceu dois dias depois.

A Biblioteca do Vaticano já está na internet


A Biblioteca Apostólica Vaticana, mais conhecida simplesmente como “Biblioteca do Vaticano”, foi criada oficialmente em 1475, embora na verdade seja muito mais antiga.

Foi em 1451, quando o Papa Nicolau V, bibliófilo (colecionador de livros), procurou tornar Roma, novamente, um centro acadêmico de importância mundial, fundando uma biblioteca relativamente modesta com mais de 1.200 volumes, que incluíam sua coleção pessoal de clássicos da antiguidade clássica grega e romana, e uma série de textos trazidos de Constantinopla.

 
Hoje, a Biblioteca do Vaticano possui cerca de 75.000 códices, 85.000 incunábulos (ou seja, as edições feitas entre a invenção da imprensa e o século XVI) e um total de mais de um milhão de livros, da era pré-cristã à contemporânea, tanto em línguas ocidentais quanto orientais, cobrindo assuntos que vão desde a literatura e a teologia, até matemática e ciências sociais, para citar alguns.

E agora tudo isso está sendo digitalizado. Pouco a pouco. E está disponível para qualquer pessoa com acesso à Internet. E gratuito para download, aliás, no formato JPEG.

Golpe de Estado na Turquia: um resumo dos últimos dias


As autoridades turcas prenderam no sábado milhares de soldados suspeitos de envolvimento na tentativa de golpe militar contra o presidente Erdogan, que pediu várias vezes ao longo dos últimos dias para as pessoas que o apóiam irem às ruas “para defender sua democracia”.

Enquanto isso, as forças de segurança do Estado turco ainda procuravam extinguir alguns focos de resistência armada.

Binali Yildirim, primeiro-ministro turco, informou à imprensa que, no final de semana, foram presos cerca de três mil soldados supostamente envolvidos no golpe que tem, até o momento e de acordo com várias fontes, cerca de 265 mortes e cerca de 1.140 feridos.

Além disso, Yildirim reiterou que, após a tentativa de golpe (que ele descreveu como uma “mancha para democracia turca”) “a situação está completamente sob controle”, e disse que “estes covardes (isto é, os soldados envolvidos no golpe) terão o castigo que merecem”.

Para isto, a Turquia já reivindicou à Grécia a extradição de oito envolvidos, que fugiram a bordo de um helicóptero para Alexandrópolis.

Tendes Cristo em vós




Não sejamos insensíveis à bondade de Cristo. Se Ele imitasse o nosso modo de proceder, já teríamos perecido. Tornemo-nos, portanto, seus verdadeiros discípulos, aprendendo a viver segundo o cristianismo. Aquele que é chamado por outro nome que não seja este, não é de Deus. Afastai o mau fermento, velho e corrompido, e transformai-vos em fermento novo, que é Cristo Jesus. Seja Ele o sal da vossa vida, para que nenhum de vós se corrompa, porque o cheiro vos denunciaria. É absurdo professar a fé em Cristo Jesus e seguir as práticas judaicas. Não foi o cristianismo que acreditou no judaísmo, mas o judaísmo no cristianismo, no qual se congregam todos os que creem em Deus.

Tudo isto vos escrevo, irmãos caríssimos, não por ter conhecimento de que haja entre vós quem se comporte mal; mas embora me considere inferior a vós, quero apenas prevenir-vos, para que não vos deixeis cair nos laços de uma doutrina vã; ao contrário, é necessário que tenhais a plena certeza do nascimento, da paixão e da ressurreição do Senhor, que ocorreu no tempo do governo de Pôncio Pilatos. Tudo isto foi realizado verdadeira e indubitavelmente em Jesus Cristo, nossa esperança, da qual não permita Deus que algum de vós se afaste.

Assim possa eu contar convosco em todas as circunstâncias, se disso for digno. Digo isto, porque, se é certo que estou preso, nem por isso posso comparar-me com qualquer de vós que não estais presos. Sei que não vos envaideceis com este louvor, porque tendes Jesus Cristo em vós. Mais ainda, quando vos louvo, sei que vos envergonhais, como está escrito: O justo acusa-se a si mesmo.

Procurai fortalecer-vos solidamente na doutrina do Senhor e dos Apóstolos, a fim de que tudo quanto fizerdes seja bem sucedido, na vida da carne e do espírito, na fé e na caridade, no Pai e no Filho e no Espírito, no principio e no fim, com o vosso digníssimo bispo, com a esplêndida coroa espiritual do vosso presbitério e com os diáconos, tão gratos a Deus. Sede submissos ao vosso bispo e uns aos outros, como Jesus Cristo, enquanto homem, Se submeteu ao Pai, e os Apóstolos a Cristo, ao Pai e ao Espírito, para que a vossa unidade seja perfeita na carne e no espírito.

Porque sei que estais cheios de Deus, não vos faço longas exortações. Lembrai-vos de mim nas vossas orações, para que chegue até Deus; e lembrai-vos também da Igreja da Síria, (à qual não sou digno de pertencer, e por isso preciso da vossa oração e caridade, unidas em Deus), para que Deus Se digne, por meio da vossa Igreja, derramar o seu orvalho sobre a Igreja da Síria.

De Esmirna, donde vos escrevo esta carta, saúdam-vos os fiéis de Éfeso, que estão aqui presentes para glória de Deus; como vós, em tudo me reconfortaram juntamente com Policarpo, bispo de Esmirna. Também as outras Igrejas vos saúdam para louvor de Jesus Cristo. Permanecei unidos em Deus, possuindo o espírito indissolúvel, que é Jesus Cristo.



Da Epístola de Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir, aos Magnésios
(Nn. 10, 1 – 15: Funk 1, 199-203) (Sec I)

A Arca da Aliança está mesmo na Etiópia?


Os monges que vivem na pequena igreja de Santa Maria de Sião, também conhecida como a “Capela da Arca”, na cidade etíope sagrada de Aksum, são proibidos de ir além das barras que rodeiam a capela.

Eles não podem abandonar a tarefa que lhes foi confiada: vigiar a “Tabot”, como são conhecidas na Etiópia as Tábuas da Lei, até o dia em que morrerem.

Abba Gebre Meskel, 56 anos, tem desempenhado a missão há três décadas.

Arqueologia e lenda

De acordo com o Livro do Êxodo, as Tábuas da Lei contêm os Dez Mandamentos que Deus deu a Moisés no alto do Monte Sinai. Alguns pesquisadores datariam o evento no ano 1440 a.C.

Lendas apócrifas e tradições do norte da África e de algumas regiões do Oriente Médio atribuem poderes sobrenaturais às tábuas. Em torno dessas lendas, foram tecidas outras várias, incluindo a alegada obsessão nazista com ocultismo e relíquias (o que daria a Indiana Jones uma das suas missões mais famosas).

Mas o fato é que, após a destruição do Templo de Salomão em Jerusalém, ninguém sabe ao certo onde foi parar a Arca da Aliança. Depois de desaparecer sem deixar vestígios nem registros conhecidos, seu paradeiro (caso ela tenha sobrevivido à destruição do Templo) ainda é um dos maiores mistérios da arqueologia.

No entanto, quase 45 milhões de cristãos ortodoxos etíopes têm a certeza de que a Arca da Aliança foi levada para Aksum, no norte da Etiópia, e é guardada desde então por esses monges na humilde igreja de Santa Maria de Sião.

Santo Arsênio




Arsênio pertencia à uma nobre e tradicional família de senadores, nasceu no ano 354 em Roma. Foi ordenado sacerdote pessoalmente pelo Papa Dâmaso. Em 383 o próprio imperador Teodósio o convidou para cuidar da educação e formação de seus filhos Arcádio e Honório, em Constantinopla. Arsênio permaneceu na corte por onze anos, até 394. Enfim, conseguiu a exoneração do cargo e retirou-se para o deserto no Egito.

A partir do século quarto a vida de eremita passou a ser o sacrifício mais perfeito para a purificação. OS eremitas eram cristãos que se isolavam no deserto, em oração e penitência, numa vida solitária e contemplativa como forma de servir a Deus.

Arsênio se tornou um deles. O seu refúgio, no deserto egípcio da Alexandria, era dos mais procurados pelos cristãos, que buscavam na sabedoria e santidade de alguns ermitãos, conselhos e paz para as aflições da alma, mesmo que para isto tivessem que fazer longas e cansativas peregrinações.

Mas a paz e a tranquilidade daqueles religiosos teve fim com a invasão de uma tribo das redondezas. Arsênio então abandonou o local. Entre 434 e 450 viveu isolado, só nos últimos anos aceitou a companhia de uns poucos discípulos. Ele acabou recebendo de Deus, o dom das lágrimas. Em oração ou penitência, quando se emocionava com o Evangelho, caía em prantos.

Morreu em 450. 


Amado Santo Arsênio, vós que deixastes todas as vitórias do mundo para serdes vitorioso somente em Deus, intercedei para alcancemos a graça dessas santas virtudes que tivestes e que o silêncio seja mantido quando nos insultarem e o amor superar todos o obstáculos que encontrarmos, dando reais testemunhos de nossa verdadeira adesão a Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Homilética: 17º Domingo do Tempo Comum - Ano C: "A oração do discípulo".




Caros irmãos e irmãs, o Evangelho deste domingo nos apresenta Jesus recolhido em oração.  Ele tinha o costume de passar noites e noites em oração; horas e horas em intimidade com o Senhor.  Em todos os momentos da vida Jesus estava rezando. Ele fazia da sua vida uma oração e da oração a sua vida.  Este exemplo de Cristo despertou em um dos seus discípulos o desejo de aprender a rezar como ele, por isto lhe disse: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11,1), e Jesus respondeu: “Quando orardes, dizei: Pai Nosso…”.  E ensinou a eles a oração do Pai Nosso (cf. Lc 11, 2-4).

A Oração do Pai nosso é a mais bela de todas as orações, sendo rezada milhões de vezes por dia pelos cristãos, em toda a terra, às vezes até de maneira muito espontânea, em certos momentos de dor ou de alegria coletiva.  É também o mais profundo itinerário daquilo que significa a oração, pois nos faz começar invocando Deus como nosso Pai. É a intimidade que deve existir entre filho e Pai; e entre Pai e filho.  Deus é Pai de todos nós, por isto a oração está no plural, para indicar que toda oração deve ser para todos.

Uma das maiores graças que recebemos pelo sacramento do batismo, está no fato de podermos tratar Deus como Pai.  Quando chamamos a Deus de “nosso Pai”, precisamos lembrar de que devemos ter um comportamento de filhos de Deus.  Podemos invocar a Deus como “Pai” porque, pelo batismo, somos incorporados e adotados como filhos de Deus.  Jesus nos ensina a chamar Deus de Pai e a recorrer a Ele como filhos. Em Deus vemos um pai cheio de bondade e amor.

Na oração do Pai Nosso, pedimos inicialmente que o nome de Deus seja santificado e que seu reino venha até nós.  Começamos pedindo aquilo que deve estar acima de tudo, dominando nossos afetos e aspirações.  Pedimos que o nome de Deus seja conhecido, honrado e amado por todos.  Desejamos que o nome de Deus seja conhecido como santo e seja glorificado.   E pedimos que o nome de Deus seja santificado pelas nossas alegrias, nossos sofrimentos, nosso trabalho, nossas orações e por toda a nossa vida.

A oração tem início com um louvor a Deus.  O objetivo da oração é elevar nosso pensamento para o alto, e de desprender-nos da materialidade das coisas do tempo, que muitas vezes podem nos impedir de rezar bem.  Após esta inovação a Deus como Pai, seguem os pedidos.  Os sete pedidos da Oração do Pai Nosso, normalmente são divididos em duas partes, na primeira parte pedimos pelo que é eterno e na segunda, pelo que é transitório.

O número sete na Sagrada Escritura significa a plenitude, plenitude de tudo aquilo que o homem precisa. Então, esta oração é fundamental para o cristão, pois contém aquilo que precisamos para nossa vida, para a experiência da nossa fé em Deus e os pedidos em nosso benefício: o pão de cada dia, o perdão dos nossos pecados, a libertação das tentações e de todo o mal.

Pedimos que Deus perdoe as nossas ofensas, porque também nós perdoamos uns aos outros.  E o ideal do perdão nos é apresentado por Jesus: “Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão” (Mt 5,24). E agora Jesus nos manda dizer que queremos ser perdoados, pois nós também perdoamos.  A nossa sorte está em nossas mãos: como perdoamos, assim também nos será perdoado. A oração do Pai Nosso nos ensina a dizer: “Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.   Este “como” indica que o perdão que podemos receber de Deus está condicionado ao perdão que também nós devemos oferecer ao irmão que errou contra nós.  O próprio Cristo também nos exorta: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros ‘como’ eu vos amei” (Lc 13,34).  É a unidade do perdão mútuo que torna possível a reconciliação, tendo como exemplo o próprio Cristo, que na cruz perdoou os seus adversários (cf. Lc 26,34).

Assim adquirem vida as palavras do Senhor sobre o perdão, esse amor que ama até o extremo do amor.  A oração cristã chega até o perdão dos inimigos. O perdão é um ponto alto da oração cristã; o dom da oração não pode ser recebido a não ser num coração em consonância com a compaixão divina. O perdão dá também testemunho de que, em nosso mundo, o amor é mais forte que o pecado. O perdão é a condição fundamental da reconciliação dos filhos de Deus com seu Pai e dos homens entre si (cf. CIgC 2844).

Na parte final da oração, pedimos ao Senhor: “Não nos deixeis cair em tentação”.  É um pedido que atinge a raiz do nosso pecado, que é fruto do consentimento na tentação. Pedimos ao nosso Pai que não nos “deixe cair” nas ciladas do inimigo tentador. Nós pedimos que o Senhor não nos deixe enveredar pelos caminhos que conduzem ao pecado. Este pedido implora o Espírito de discernimento e de fortaleza, para que possamos vencer a tentação.

Este “não cair em tentação” envolve uma decisão do coração. É a luta contra o mal e neste combate não conseguimos a vitória, a não ser através da oração. Foi pela força da oração que Jesus venceu o tentador no deserto, o que sequenciou até o último combate de sua agonia.  Também somos chamados a seguir este exemplo de Cristo, para isto necessitamos estar sempre em vigilância. Esta vigilância consiste em “guardar o coração”, e Jesus pede ao Pai que “nos guarde em seu nome” (cf. CIgC, n. 2863).

Isto nos faz lembrar uma significativa oração pronunciada pelo sacerdote no decorrer da Santa Missa, logo após a oração do Pai Nosso: “Livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a vossa paz. Ajudados por vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos, enquanto, vivendo a esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador”.  Com isto temos o último pedido: “Mas livrai-nos do mal”. O cristão pede a Deus, com a Igreja, que manifeste a vitória sobre tudo aquilo que nos impede de viver dignamente a nossa união com Ele.

Com isto, podemos observar que a oração do Pai Nosso acolhe e expressa também as necessidades humanas, materiais e espirituais. E precisamente por causa das necessidades e das dificuldades de cada dia, Jesus exorta com vigor: “Portanto, eu vos digo: pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto” (Lc 11,9-10). Não é um pedir para satisfazer as próprias vontades, mas para manter viva a amizade com Deus.

Para demonstrar a eficácia da oração perseverante é que Jesus nos apresenta também, no final do Evangelho, uma pequena parábola, para nos ensinar que uma oração bem feita sempre será ouvida.  Nesta parábola Jesus nos fala em pedra e pão, peixe, serpente, ovo e escorpião.  Quer Ele nos ensinar que, se o que pedimos é bom, é útil à nossa salvação, se pedimos com fé e perseverança, Deus nos concederá.

Com isto Jesus nos ensina duas importantes lições, que devem dominar nossas orações: a perseverança e a confiança.  De noite, não é fácil atender ao amigo inoportuno.  No entanto, o pedido perseverante e confiante consegue tudo.  Jesus também quer nos ensinar que, mesmo depois de “fechada a porta”, a oração será atendida, pois sua eficácia é importante.

A oração do Pai Nosso é realmente um compêndio de todo o Evangelho.  É a mais perfeita das orações. Nela, não só pedimos tudo quanto podemos desejar corretamente, mas ainda, segundo a ordem em que convém desejá-lo. De modo que esta oração não só nos ensina a pedir, mas ordena também todos os nossos afetos (cf. CIgC 2763).


Peçamos também nós ao Senhor com a mesma consciência do discípulo do Evangelho: “Mestre, ensina-nos a rezar”, para que, através da oração, possa ser cumprida a vontade de Deus em cada um de nós.  Assim seja.

Notas sobre a vida contemplativa


Os que amam o Senhor não se fixam nas coisas vãs e carnais, porque estão completamente absortos em Deus. Se se lhes fala de Cristo, logo despertam e aplaudem.

Habituemo-nos, pois, em todo o tempo, lugar, ação, causa e negócio, a fixar a mente em Deus, por meio do amor fervo- roso e da oração humilde, e a imprimi-la, pela contemplação, a concentrá-la e a restringi-la, dizendo com a esposa: Segurá-lo-ei e não O largarei.

Sendo isto sublime e excelso, a nossa vida será tanto mais excelsa e mais sublime quanto mais for vida em Deus. Mas a vida em Deus é o amor constante e a sua contemplação. A contemplação do homem peregrino é tanto mais perfeita e esplêndida quanto mais clara e puramente ele vê que aquela luz incriada e inteiramente incompreensível, que é Deus, e se precavê de sucumbir à sua irradiação para o infinito.

A contemplação, uma vez saboreada, gera na mente um ardor veementíssimo de nela persistir ou de a ela voltar constante- mente. Daí acontece que aquele que a saboreou não consegue facilmente ser arrancado a ela, à sua visão ou afecto, segundo as palavras que dizem: Aqueles que me comem terão ainda mais fome.

Procura, pois, purificar-te dos afetos terrenos. Assim será possível que todos os afectos da mente e todo o apetite do que ama se fixem integralmente em Deus, sem que ninguém os re- traia ou impeça, quer dizer, se fixem integralmente nesse oceano imperscrutável, nesse abismo interminável e incompreensível, a que Dionísio chama divina escuridão e que outra coisa não é senão a divina luz enquanto incompreensível e desconhecida.

Embora a luz divina seja, em si, claríssima, radiosíssima e lucidíssima, contudo, a respeito da mente, que não pode suportara vista daquele esplendor e formosura, chama-se escuridão. Por isso, exclama Isaías: Vós sois verdadeiramente um Deus escondido. O Senhor fez das trevas o seu véu.

Por isso, entrar na divina escuridão consiste em estender o olhar da mente e o ápice do afecto, através da mística teórica, até Deus.



Do “Compêndio de Doutrina Espiritual” do beato bartolomeu dos Mártires, bispo
(Obras completas, vol. IX , Lisboa 2000, p. 273 ss.) Sec. XVI