Alguns se enganam a si
mesmos com uma presunçosa interpretação das palavras do Senhor, que disse:
"Onde quer que se encontrem dois ou três reunidos em meu nome, eu mesmo
estou com eles" (Mt 18,20).
São falsificadores do Evangelho e intérpretes mentirosos. Apegam-se ao que é dito depois, esquecendo o que foi dito antes, lembram-se de uma parte da frase e, astutamente, deixam do lado a outra. Assim como eles se separaram da Igreja, do mesmo modo truncam o sentido de uma única sentença.
De fato, o que queria dizer nosso Senhor? Para inculcar aos seus discípulos a união e a paz, diz ele: "Eu vos afirmo que, se dois de vós concordarem na terra em pedir qualquer coisa, ela lhes será outorgada por meu Pai que está nos céus" (Mt 18,19). E continua: "Onde quer que se encontrem dois ou três reunidos em meu nome, eu mesmo estou com eles", mostrando que o que mais vale na oração não é o número dos que oram, mas a sua união de espírito.
"Se dois de vós
concordarem na terra", diz ele. Antes exige a união, põe na frente a paz:
o seu primeiro e mais firme preceito é que entre nós haja acordo. E como poderá
estar de acordo com alguém aquele que está em desacordo com o corpo da Igreja e
a totalidade dos irmãos?
Como poderão estar reunidos dois ou três em nome de Cristo, se é patente que
estão separados de Cristo e do seu Evangelho? De fato não somos nós que nos
apartamos deles, mas eles de nós. E quando, em seguida, formando entre si
vários grupos, deram origem a heresias e cismas, abandonaram a Cabeça e a fonte
da verdade.