Estamos em contagem regressiva para as eleições municipais.
Faz tempo que não faço isto, mas hoje me veio a ideia e me deu vontade de abrir
o dicionário, impresso, digital, eletrônico e virtual, para rememorar e fazer
entender, mais e melhor: para que se quer ser vereador? Qual é mesma a função
de um vereador? Por que é tão propagado e pouco entendido? Por que é tão
desejado e pouco exercido? Por que é tão endeusado e pouco cobrado? É realmente
para o bem comum ou é pela crise de emprego que assola o Brasil que muitos
querem ser vereadores? Por que será então? A pergunta que não pode deixar de
ser feita e de ser respondida é novamente esta: para
que se quer ser vereador? Lembrado,
antes de tudo, que a palavra “candidato” significa “cândido”,
“limpo”, “puro”, “sem mancha”, “sem segunda intenção e “sem ambiguidade”.
O governo de um município é subdividido em dois
Poderes, distintos e complementares: o Poder Legislativo, desempenhado pelos
vereadores, e o Poder Executivo, desempenhado pelo prefeito. Há controvérsia no
entendimento da origem da palavra portuguesa “vereador”. Uma das explicações possíveis é que “vereador” vem do grego antigo “verea”(+ dor) e significa vigiar, verificar, orientar e acompanhar a
vereda e o caminho que a gestão municipal deve trilhar. O vereador é, portanto,
um agente-gestor público qualificado, um membro, eleito pelo voto popular, da
Câmara Municipal. E, como agente-gestor, representa o cidadão no trato das
coisas públicas do município. As palavras mais usadas para definir as suas
quatro funções básicas, descritas com letras garrafais, são as seguintes: “legislar”, “fiscalizar”, “assessorar” e “julgar” os
procedimentos da gestão municipal. É tudo isto, ou, somente isto. Mais do que
isto não é função de vereador.
A cidade não é uma entidade fantasma, impessoal,
invisível, insensível, amorfa, incolor e indolor. É uma célula viva e humana,
tanto quanto os seus humanos munícipes e cidadãos. Segundo o padre João Batista
Libânio, a cidade possui seis lógicas: as lógicas do espaço, do centro e da
periferia, a serem cuidados, construídos, habitados e preservados; as lógicas
do tempo e do lazer de seus habitantes; as lógicas da cultura, da
multiculturalidade e do pluralismo religioso; as lógicas da participação, da mobilidade
e da mobilização; as lógicas das crises éticas, dos valores e dos bens humanos,
artísticos e culturais; e as lógicas do trabalho e do poder.
Diferentemente dos outros seres vivos, o ser humano
foi erguendo e alargando sua casa, juntando-se com as casas dos vizinhos, dando
origem as ruas, vilas e cidades. E, com isto, foram criadas as regras de
convivências e de relacionamentos humanos, recíprocos, maduros, respeitosos,
legais e leais. A Bíblia fala fluentemente de duas cidades figurativas e
simbólicas: Babilônia, símbolos da morada do mau, dos desprezíveis, das
perversidades, das mazelas e das depravações humanas; e Jerusalém, símbolos da
morada de Deus, da beleza, da harmonia, da justiça e da paz. Babilônia não
existe mais, se autodestruiu. Jerusalém ainda sobrevive, mesmo com todos os
problemas. Santo Agostinho chama estes dois tipos de “cidade
dos homens” e “cidade
de Deus”. É que toda cidade tem o
seu “para
quê”. Palmas também tem, no seu design, o seu “para quê”. Para quê,
Palmas? Palmas nasceu politicamente sob um signo cristão: “São João de Palmas”.
A cruz de Cristo e um simples altar foram transplantados no coração de Palmas,
nas encruzilhadas dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, para dizer
que Deus ama esta cidade!
Portanto, no fogo cruzado das tensões porque passa o
Brasil, decorrentes das crises política, social, econômica e ética, estas
eleições municipais, que são as mais próximas das pessoas e de seus problemas,
se revestem de um significado profético. São eleições que batem às nossas
portas, que têm a ver com saúde, educação, segurança, moradia, trabalho, água,
luz, saneamento básico, esgotamento sanitário, mobilidade, sustentabilidade...
São eleições caseiras: da comida no prato e da água no copo.