quarta-feira, 21 de setembro de 2016

México: 2 padres foram sequestrados e assassinados em Veracruz


As autoridades do estado mexicano de Veracruz informaram que dois sacerdotes católicos foram sequestrados e assassinados por homens armados, isto ocorreu na última segunda-feira, 19.

Os sacerdotes Pe. Alejo Nabor Jiménez Juárez e Pe. José Alfredo Juárez da Cruz foram sequestrados, junto com o seu motorista, na igreja Nossa Senhora de Fátima, na localidade de Poza Rica.

Os sequestradores e supostos assassinos libertaram o motorista dos presbíteros. Mais tarde as autoridades encontraram os corpos dos dois sacerdotes assassinados próximo a estrada que une Papantla e Poza Rica. As autoridades investigam este lamentável acontecimento em uma zona na qual, segundo informam os meios locais, o crime organizado está bastante presente.

A respeito, os bispos da Conferência Episcopal Mexicana (CEM), expressaram “suas condolências, proximidade e oração” pelo assassinato dos sacerdotes, em um comunicado enviado ao Bispo de Papantla, Dom José Trindade Zapata Ortiz.

“Manifestamos a nossa dor e indignação ante a violência perpetrada contra eles”, assinalam os prelados e afirmam que “nestes momentos de dor, impotência e tragédia provocada pela violência, elevamos nossa prece ao céu pelo eterno descanso dos nossos irmãos”. 

Nome de Deus nunca pode justificar a violência, diz Papa


APELO A FAVOR DA PAZ

Homens e mulheres de diferentes religiões, congregamo-nos, como peregrinos, na cidade de São Francisco. Aqui em 1986, há trinta anos, a convite do Papa João Paulo II, reuniram-se Representantes religiosos de todo o mundo, pela primeira vez de modo tão participado e solene, para afirmar o vínculo indivisível entre o grande bem da paz e uma autêntica atitude religiosa. Daquele evento histórico, teve início uma longa peregrinação que, tocando muitas cidades do mundo, envolveu inúmeros crentes no diálogo e na oração pela paz; uniu sem confundir, gerando amizades inter-religiosas sólidas e contribuindo para extinguir não poucos conflitos. Este é o espírito que nos anima: realizar o encontro no diálogo, opor-se a todas as formas de violência e abuso da religião para justificar a guerra e o terrorismo. E todavia, nos anos intercorridos, ainda muitos povos foram dolorosamente feridos pela guerra. Nem sempre se compreendeu que a guerra piora o mundo, deixando um legado de sofrimentos e ódios. Com a guerra, todos ficam a perder, incluindo os vencedores.

Dirigimos a nossa oração a Deus, para que dê a paz ao mundo. Reconhecemos a necessidade de rezar constantemente pela paz, porque a oração protege o mundo e ilumina-o. A paz é o nome de Deus. Quem invoca o nome de Deus para justificar o terrorismo, a violência e a guerra, não caminha pela estrada d’Ele: a guerra em nome da religião torna-se uma guerra contra a própria religião. Por isso, com firme convicção, reiteramos que a violência e o terrorismo se opõem ao verdadeiro espírito religioso.

Colocamo-nos à escuta da voz dos pobres, das crianças, das gerações jovens, das mulheres e de tantos irmãos e irmãs que sofrem por causa da guerra; com eles, bradamos: Não à guerra! Não caia no vazio o grito de dor de tantos inocentes. Imploramos aos Responsáveis das nações que sejam desativados os moventes das guerras: a ambição de poder e dinheiro, a ganância de quem trafica armas, os interesses de parte, as vinganças pelo passado. Cresça o esforço concreto por remover as causas subjacentes aos conflitos: as situações de pobreza, injustiça e desigualdade, a exploração e o desprezo da vida humana. 

Terroristas atacam igreja e morrem oito pessoas na Nigéria


Um grupo de homens armados disparou nos fiéis quando estavam entrando em uma igreja no domingo, 18 de setembro, na localidade de Kwamjilari, no estado de Borno, ao norte da Nigéria. O ataque causou a morte de oito pessoas.

Embora ainda não saibam quem cometeu este atentado, tudo indica que pode haver sido terroristas do Boko Haram, conforme informaram fontes locais na última segunda-feira.

De acordo com declarações do jornal nigeriano ‘Vanguard’, recolhidas pela agência EFE, “alguns fiéis estavam nos arredores da igreja e os homens armados abriram fogo e mataram oito pessoas".

O número de mortos não é definitivo, porque algumas testemunhas viram como muitas pessoas feridas fugiam para a floresta, pois segundo outro residente de Kwamjilari, “os agressores também atearam fogo nas casas e campos de milho que estavam quase prontos para a colheita”.

Em outro ataque perpetrado na mesma região nigeriana, aproximadamente 6 pessoas morreram em uma emboscada em um comboio comercial no estado de Borno, que estava escoltado pelas forças militares.

Acredita-se que este atentado também foi cometido por membros do grupo terrorista Boko Haram. 

Papa e líderes religiosos em Assis pedem pela paz: "Não há futuro com a guerra".


Visita do Papa a Assis para o Dia Mundial de Oração pela Paz
Cerimônia conclusiva na Praça São Francisco 
Terça-feira, 20 de setembro de 2016


Santidades,

Ilustres Representantes das Igrejas, Comunidades cristãs e Religiões,
Amados irmãos e irmãs!

Com grande respeito e afeto vos saúdo e agradeço a vossa presença. Viemos a Assis como peregrinos à procura de paz. Trazemos conosco e colocamos diante de Deus os anseios e as angústias de muitos povos e pessoas. Temos sede de paz, temos o desejo de testemunhar a paz, temos sobretudo necessidade de rezar pela paz, porque a paz é dom de Deus e cabe a nós invocá-la, acolhê-la e construí-la cada dia com a sua ajuda.

«Felizes os pacificadores» (Mt 5, 9). Muitos de vós percorreram um longo caminho para chegar a este lugar abençoado. Sair, pôr-se a caminho, encontrar-se em conjunto, trabalhar pela paz: não são movimentos apenas físicos, mas sobretudo da alma; são respostas espirituais concretas para superar os fechamentos, abrindo-se a Deus e aos irmãos. É Deus que no-lo pede, exortando-nos a enfrentar a grande doença do nosso tempo: a indiferença. É um vírus que paralisa, torna inertes e insensíveis, um morbo que afeta o próprio centro da religiosidade produzindo um novo e tristíssimo paganismo: o paganismo da indiferença.

Não podemos ficar indiferentes. Hoje o mundo tem uma sede ardente de paz. Em muitos países, sofre-se por guerras, tantas vezes esquecidas, mas sempre causa de sofrimento e pobreza. Em Lesbos, com o querido Irmão e Patriarca Ecumênico Bartolomeu, vimos nos olhos dos refugiados o sofrimento da guerra, a angústia de povos sedentos de paz. Penso em famílias, cuja vida foi transtornada; nas crianças, que na vida só conheceram violência; nos idosos, forçados a deixar as suas terras: todos eles têm uma grande sede de paz. Não queremos que estas tragédias caiam no esquecimento. Desejamos dar voz em conjunto a quantos sofrem, a quantos se encontram sem voz e sem escuta. Eles sabem bem – muitas vezes melhor do que os poderosos – que não há qualquer amanhã na guerra e que a violência das armas destrói a alegria da vida.

Nós não temos armas; mas acreditamos na força mansa e humilde da oração. Neste dia, a sede de paz fez-se imploração a Deus, para que cessem guerras, terrorismo e violências. A paz que invocamos, a partir de Assis, não é um simples protesto contra a guerra, nem é sequer «o resultado de negociações, de compromissos políticos ou de acordos econômicos, mas o resultado da oração» [João Paulo II, Discurso, Basílica de Santa Maria dos Anjos, 27 de outubro de 1986, 1: Insegnamenti IX/2 (1986), 1252]. Procuramos em Deus, fonte da comunhão, a água cristalina da paz, de que está sedenta a humanidade: essa água não pode brotar dos desertos do orgulho e dos interesses de parte, das terras áridas do lucro a todo o custo e do comércio das armas.

Diversas são as nossas tradições religiosas. Mas, para nós, a diferença não é motivo de conflito, de polêmica ou de frio distanciamento. Hoje não rezamos uns contra os outros, como às vezes infelizmente sucedeu na História. Ao contrário, sem sincretismos nem relativismos, rezamos uns ao lado dos outros, uns pelos outros. São João Paulo II disse neste mesmo lugar: «Talvez nunca antes na história da humanidade, como agora, o laço intrínseco que existe entre uma atitude autenticamente religiosa e o grande bem da paz se tenha tornado evidente a todos» (Discurso, Praça inferior da Basílica de São Francisco, 27 de outubro de 1986, 6: o. c., 1268). Continuando o caminho iniciado há trinta anos em Assis, onde permanece viva a memória daquele homem de Deus e de paz que foi São Francisco, «uma vez mais nós, aqui reunidos, afirmamos que quem recorre à religião para fomentar a violência contradiz a sua inspiração mais autêntica e profunda» [João Paulo II, Discurso aos Representantes das Religiões, Assis, 24 de janeiro de 2002, 4: Insegnamenti XXV/1 (2002), 104], que qualquer forma de violência não representa «a verdadeira natureza da religião. Ao contrário, é a sua deturpação e contribui para a sua destruição» [Bento XVI, Intervenção na jornada de reflexão, diálogo e oração pela paz e a justiça no mundo, Assis, 27 de outubro de 2011: Insegnamenti VII/2 (2011), 512]. Não nos cansamos de repetir que o nome de Deus nunca pode justificar a violência. Só a paz é santa; não a guerra! 

Em Assis, Papa pede compaixão para com os “sedentos” de hoje


Visita do Papa a Assis para o Dia Mundial de Oração pela Paz
Oração ecumênica dos cristãos na Basílica Inferior de São Francisco
Terça-feira, 20 de setembro de 2016


À vista de Jesus crucificado, ressoam também para nós as suas palavras: «Tenho sede!» (Jo 19, 28). A sede é, ainda mais do que a fome, a necessidade extrema do ser humano, mas representa também a sua extrema miséria. Assim contemplamos o mistério do Deus Altíssimo, que Se tornou, por misericórdia, miserável entre os homens.

De que tem sede o Senhor? Certamente de água, elemento essencial para a vida; mas sobretudo de amor, elemento não menos essencial para se viver. Tem sede de nos dar a água viva do seu amor, mas também de receber o nosso amor. O profeta Jeremias expressou o comprazimento de Deus pelo nosso amor: «Recordo-Me da tua fidelidade no tempo da tua juventude, dos amores do tempo do teu noivado» (Jr 2, 2). Mas deu voz também ao sofrimento divino, quando o homem, ingrato, abandonou o amor, quando – parece dizer também hoje o Senhor – «Me abandonou a Mim, nascente de águas vivas, e construiu cisternas para si, cisternas rotas, que não podem reter as águas» (Jr 2, 13). É o drama do «coração árido», do amor não correspondido; um drama que se renova no Evangelho, quando, à sede de Jesus, o homem responde com vinagre, que é vinho estragado. Como profeticamente lamentou o salmista, «deram-me (…) vinagre, quando tive sede» (Sal 69/68, 22).

«O Amor não é amado»: tal era, segundo algumas crônicas, a realidade que turvava São Francisco de Assis. Por amor do Senhor que sofre, não se envergonhava de chorar e lamentar-se em voz alta (cf. Fontes Franciscanas, n. 1413). Esta mesma realidade nos deve estar a peito ao contemplarmos Deus crucificado, sedento de amor. Madre Teresa de Calcutá quis que, nas capelas de cada comunidade, estivesse escrito perto do Crucifixo: «Tenho sede». Apagar a sede de amor de Jesus na cruz, através do serviço aos mais pobres dos pobres, foi a sua resposta. Na verdade, o Senhor é saciado pelo nosso amor compassivo; é consolado quando, em nome d’Ele, nos inclinamos sobre as misérias alheias. No Juízo, chamará «benditos» aqueles que deram de beber a quem tinha sede, aqueles que ofereceram amor concreto a quem estava necessitado: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40). 

Jesus viu-o, compadeceu-se dele e o chamou


Jesus viu um homem chamado Mateus, assentado à banca de impostos, e disse-lhe: Segue-me (Mt 9,9). Viu-o não tanto com os olhos corporais quanto com a vista da íntima compaixão. Viu o publicano, dele se compadeceu e o escolheu. Disse-lhe então: Segue-me. Segue, quis dizer, imita; segue, quis dizer, não tanto pelo andar dos pés, quanto pela realização dos atos. Pois quem diz que permanece em Cristo, deve andar
como ele andou (1Jo 2,6).

E levantando-se, o seguiu (Mt 9,9). Não é de admirar que o publicano, ao primeiro chamado do Senhor, tenha abandonado os lucros terrenos de que cuidava e, desprezando a opulência, aderisse aos seguidores daquele que via não possuir riqueza alguma. Pois o próprio Senhor que o chamara exteriormente com a palavra, interiormente lhe ensinou por instinto invisível a segui-lo, infundindo em seu espírito a luz da graça espiritual. Com esta compreenderia que quem o afastava dos tesouros temporais podia dar-lhe nos céus os tesouros incorruptíveis.

E aconteceu que, estando ele em casa, muitos publicanos e pecadores vieram e puseram-se à mesa com Jesus e seus discípulos (Mt 9,10). A conversão de um publicano deu a muitos publicanos e pecadores o exemplo da penitência e do perdão.

Belo e verdadeiro prenúncio! Aquele que seria apóstolo e doutor dos povos, logo no primeiro encontro arrasta após si para a salvação um grupo de pecadores. Assim inicia o ofício de evangelizar desde os primeiros começos de sua fé aquele que viria a realizar este ofício plenamente com o merecido progresso das virtudes. Contudo se quisermos indagar pelo sentido mais profundo deste acontecimento nós o entenderemos: a Mateus foi muito mais grato o banquete na casa do seu coração, preparado pela fé e pelo amor do que o banquete terreno que ele ofereceu ao Senhor. Atesta-o aquele mesmo que diz: Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele e ele comigo (Ap 3,20).

Ouvindo a sua voz, abrimos a porta para recebê-lo, ao aceitarmos de bom grado suas advertências secretas ou evidentes e nos pormos a realizar aquilo que compreendemos como o nosso dever. Ele entra para que ceemos, ele conosco e nós com ele, porque, pela graça de seu amor, habita nos corações dos eleitos para alimentá-los sempre com a luz de sua presença. Possam assim os eleitos cada vez mais progredir no desejo do alto, e ele mesmo se alimente com os desejos deles como com pratos deliciosos.



Das Homilias de São Beda Venerável, presbítero
(Hom. 21:CCL, 122,149-151)

(Séc.VI)

A existência do mal no mundo não contradiz a existência de Deus?


- “Como se explica o mal no mundo? Parece incompatível com a existência de Deus" (Ariel - Rio de Janeiro-RJ).

A questão é das mais disputadas de todos os tempos. Contudo, ela só admite uma solução, que vamos procurar expor refletindo serenamente.

Antes de perscrutarmos a origem e a razão de ser do mal, faz-se mister definir o que é o mal.

1. O que é o mal?

1) O mal, longe de ser uma entidade positiva é um não-ser; não constitui uma afirmação, mas uma negação.

Com efeito, não há, nem pode haver, substância cuja natureza seja por si essencialmente má; esta seria algo de estranho ou absurdo no mundo: não poderia agir, porquanto nenhum ser age senão em virtude de uma perfeição que ele possui e atua. A serpente, o escorpião, a bomba atômica... só produzem sua ação nociva ou má porque neles há uma entidade positiva que o naturalista ou o físico-químico admiram profundamente. O mal, portanto, é uma negação ou ausência de ser.

2) Não é, porém, qualquer ausência de ser; é apenas a ausência do ser devido ou do ser pertencente à natureza de tal indivíduo (caso contrário, todo indivíduo seria mau por não possuir toda e qualquer das perfeições espalhadas pelo mundo). Na prática, ninguém diz que a ausência de asas no homem é um mal ou uma desgraça, mas todos reconhecem que a falta de olhos ou a cegueira no mesmo é um infortúnio, pois o homem não foi feito para ter asas e, sim, para ter olhos; a criancinha, pelo simples fato de não falar, não está afetada de um mal, ao passo que o adulto na mesma situação padece autêntico mal.

Em outros termos: o mal é a falta de conformidade do sujeito com o respectivo arquétipo ou exemplar. Essa falta de conformidade pode-se verificar na ordem física (tem-se então um corpo doente ou mutilado) ou na ordem moral (tem-se então uma ação alheia ao Fim último devido ou um pecado).

Resumindo esquematicamente:

Todo SER por si é um BEM.

O NÃO SER é:

- ou mera negação, ausência de entidade não devida: p. ex., a falta de asas no homem não é nem Bem nem Mal.

- ou carência, privação de entidade devida à natureza.

- na ordem física: p. ex., falta de vista no homem -> Mal Físico.

- na ordem moral: p. ex., falta de conformidade do ato humano a Deus, Fim Ùltimo -> Mal Moral.

3) Por conseguinte, o mal supõe sempre um bem, ao qual ele sobrevém; só se encontra onde há um valor real, e tem proporções tanto mais vultuosas quando maior é o bem no qual esteja encravado; basta lembrar a hediondez da perversão de um gênio, da corrupção de um santo. É o fato de que o mal está sempre aninhado no bem que lhe dá a aparência de entidade positiva.

A experiência comprova que o mal nunca pode ser isolado. Não se encontra o mal como tal (a cegueira ou a surdez subsistentes em si mesmas), mas alguém ou alguma coisa boa em que existe a lacuna, o mal (o olho privado de visão, o aparelho auditivo carente de audição). Não há quem veja as trevas ou ouça o silêncio; estes só são apreendidos se se apreenderam previamente os respectivos contrários (luz e ruído).

Disto se segue que o mal nunca poderá, nem no indivíduo nem na sociedade, ser tão vasto que absorva e destrua todo o bem, pois em tal caso o mal extinguiria o suporte da sua existência e aniquilaria a si mesmo. O mal só pode existir respeitando em certo grau o bem; jamais conseguirá triunfar totalmente sobre o bem; para ter realidade, ele há de ser uma negação menor dentro de uma afirmação maior (concretamente, isto quer dizer que os autênticos motivos de tristeza, como são as calamidades físicas para o homem, nunca são tão ponderosos que sobrepujem os autênticos motivos de alegria; no plano moral, nunca o pecado marcará decisivamente o curso da história...).

4) Onde há ser limitado, mesclado de não-ser, há possibilidade de passar do ser para o não-ser, da vida para a morte, da integridade para a mutilação. Somente naquele que é o Ser simplesmente dito, que tem em si mesmo a justificação do seu ser, é que não pode haver deficiência ou mal; isto se dá apenas em Deus.

Na raiz de cada criatura, ao contrário, há um vazio, um não-ser. A criatura hoje existente não era, foi tirada do nada; a sua fonte e razão de ser estão fora dela. Por isto, ela pode, tende mesmo, a recair no não-ser de onde procede. Traz em si um princípio de deficiência; é boa, viva, justa, bela até certo grau apenas. Não se identifica com a Bondade, a Vida, a Justiça, a Beleza... Por conseguinte, uma criatura por si mesma (abstração feita de prerrogativa concedida pelo Criador) indeficiente ou infalível é contradição.

Eis brevemente o que se refere à existência do mal. Passemos agora à questão:

São Mateus, apóstolo e evangelista


Segundo a tradição evangélica Mateus (ou Levi) era um cobrador de impostos e por isso não era bem visto pela sociedade, sendo considerado um pecador. Um dia, depois de falar a povo, Jesus passa por Mateus, olha com firmeza nos seus olhos e disse: "Segue-me". Mateus imediatamente levantou-se, abandonou seu rendoso negócio, mudou de vida, de nome e seguiu Jesus. 

Daquele dia em diante Mateus tornou-se um dos maiores seguidores e apóstolos de Cristo, acompanhando-o em todas as suas caminhadas e pregações pela Palestina. Mateus nasceu em Cafarnaum. Não se conhece a data do seu nascimento. Seu pai, Alfeu, deu-lhe o nome de Levi. Sua cidade natal era cortada pelas principais estradas da Palestina, ponto de convergência e centro comercial da região. 

Mateus marcou a virada de sua vida com um banquete que ofereceu aos amigos. Nele compareceu Jesus, alguns fariseus e outras classes dominantes. Diziam sobre Jesus: "Como é que vosso Mestre se senta a mesa com os pecadores?” Tais críticas mereceram as famosas palavras de Jesus Cristo: "Não são os saudáveis, mas sim os doentes, que necessitam do médico. Não vim a chamar os justos, senão os pecadores." 

Diz São Clemente que Mateus era um santo de penitência e mortificações. Alimentava-se de ervas, frutas e raízes. Sofreu maus tratos e foi hostilizado na Arábia e na Pérsia. Teve os olhos arrancados e foi colocado na prisão onde aguardaria sua execução. Na prisão, onde estava acorrentado, recebe o milagre divino da restituição dos seus olhos e da sua libertação. Alcança a Etiópia, onde prega a doutrina cristã pela última vez. É repelido e encontra forte oposição dos guias religiosos pagãos etíopes. Logo em seguida é martirizado. 

No ano de 930 as relíquias mortais do apóstolo São Mateus foram transportadas para Salermo, na Itália, onde, até hoje, é festejado como padroeiro da cidade. 



São Mateus que deixastes a riqueza para seguir com entusiasmo o chamado do Mestre, fazendo da pobreza um hino de louvor a Jesus, intercedei por mim, que me encontro em aflição. Ensinai-me por fim, a ajuntar tesouros no céu e a servir a Deus e não ao dinheiro. Amém.