A festa de hoje foi especialmente instituída no Ano Jubilar
de 1925 pelo Papa Pio XI com a Carta Encíclica “Quas Primas” (QP), para nos mostrar Jesus como
único soberano de uma sociedade que parece querer viver de costas para Deus. A publicação desta encíclica coincidiu com o 16º centenário do Concílio de Nicéia, que proclamara a divindade do
Filho de Deus; este Concílio inseriu também em sua fórmula de fé as palavras: “cujo
reino não terá fim”, afirmando assim a dignidade real de Cristo (cf. QP 2).
Jesus Cristo, sendo a Verdade, é também o rei
da verdade, isto é, verdade é o que ele diz. O ser humano sempre mantém essa
sadia curiosidade por conhecer a verdade. No filme “A Paixão de Cristo” de M.
Gibson há um momento em que Pilatos pergunta a Jesus: Quid est veritas? – O que
é a verdade? Tanto no filme como na Escritura se pode ver que “falando isso,
saiu de novo” (Jo 18,38). Dá a impressão de que no fundo ele não queria saber a
resposta. E, no entanto, o ser humano sempre tem o desejo de conhecer a
resposta para os seus interrogantes, ainda que seja verdade que às vezes tente
abafar esse desejo.
No Evangelho de hoje, se percebe esse desejo a
través da conjunção “se”: “se é o Cristo, o escolhido de Deus!” – manifestam os
príncipes dos sacerdotes; “se és o rei dos judeus” – dizem os soldados; “se és
o Cristo” – diz um dos malfeitores crucificados com Jesus. Parece existir uma
dúvida que no fundo é um “grito silencioso” que poderia ser traduzido dessa
maneira: “Por favor, Senhor, se manifesta; por favor, me diz quem é você. Não
aconteça que pela minha ignorância, venha eu a perecer. Se você é o Cristo, me
salva”. Frequentemente, diante da aparente indiferença em relação à escuta do
Evangelho, devemos escutar esse apelo oculto, silencioso, um grito suplantado.
O chamado “bom ladrão” teve coragem de
expressar nitidamente o desejo do seu coração: “Jesus, lembra-te de mim, quando
tiveres entrado no teu Reino!” Não devemos temer as revoltas humanas contra
Deus. Temos a esperança de que, um dia, essas pessoas possam dizer como esse
pecador que, como era um bom ladrão, soube “roubar” o céu nos últimos minutos
de vida. Tenhamos por certo: a verdade de Cristo é que o que todos os homens e
mulheres desejam, sabendo ou não.
A verdade, na Sagrada Escritura, não é somente
uma luz na inteligência evidente para o sujeito, mas principalmente um apoio
para toda a vida. O símbolo da verdade na Escritura é a rocha, a solidez da
pedra. Na verdade de Deus nós podemos apoiar-nos para levar uma vida justa e
bela, humana e sobrenaturalmente.
Cristo é o rei da verdade, mas é custoso
deixar que essa verdade penetre até o mais profundo do nosso ser para ser nosso
apoio, guia e modelo. Queremos conhecer a verdade, mas temos medo de
comprometer-nos com ela, tememos que a verdade conhecida nos arranque do nosso
habitual comodismo e das nossas costumeiras tradições. Quando Cristo bate à
porta do nosso coração nos sentimos alegres, mas também – à medida que ele vai
pedindo um maior espaço – percebemos como nos incomoda. No entanto, graças a
Deus, somos conscientes de que a felicidade desejada só se encontra nessa
verdade abraçada.