terça-feira, 22 de novembro de 2016

Pensamentos sobre o Fim


Estamos para terminar o Ano Litúrgico. Mais uma vez as leituras que a Mãe Igreja nos propõe para este período falam-nos do fim – fim no sentido de término da história, mas também fim no sentido de plenitude, de finalidade.

O grande teólogo Hans Urs von Balthasar, refletindo sobre as realidades finais, afirmou: “Deus é o Fim último (Eschaton) das criaturas: Ele é o Céu para quem O alcança, o inferno para quem O perde, o juízo para quem por Ele é examinado, o purgatório para quem é por Ele purificado... E tudo isto no modo em que Ele dirigiu-Se ao mundo, isto é, no Seu Filho, Jesus Cristo, que é a possibilidade de revelação de Deus e, portanto, a síntese das coisas últimas”.


Trata-se de uma afirmação simplesmente estupenda, admirável, própria de um teólogo dos maiores! O que ele afirma?

Que as realidades últimas somente podem ser compreendidas e afirmadas a partir de Deus e Deus como Se revelou em Jesus Cristo, único Caminho para o mistério. Morte, juízo, inferno, paraíso, não são realidades neutras, compreensíveis sem uma referência a Deus e ao Seu Cristo. Veja:

O que é o Céu?


Para além de qualquer descrição (que seria insuficiente e até errônea, pois descrevendo, estaríamos falando não da realidade do Além, mas transformaríamos o céu num pobre aquém, num prolongamento do nosso mundo e desta nossa vidinha – e o Céu não é isso!) Balthasar nos diz que o Céu é Deus – e Deus como Se nos deu em Cristo O Céu é estar no "banquete" eterno no qual Deus nos sacia de Vida, reclinando a nossa cabeça de peregrinos sobre o seio de Cristo, como o Discípulo Amado, na Última Ceia. O Céu é Deus: é estar Nele, participar da Sua Vida, mergulhar no mar sem fim do Seu Coração!

– Deus Amado, Escondido e Revelado, Desejado com ânsia, Tu és meu Céu, meu refúgio, meu remanso, minha vida, meu descanso e eterna felicidade! Ganhar-Te é viver de verdade, é o gozo da plenitude sem fim e sem limites!
 

"Sobre o aborto nenhum laxismo, mas misericórdia", diz dom Fisichella


Cerca de 950 milhões de fiéis atravessaram a Porta Santa nas dioceses  e santuários de todo o mundo, uma percentual que pode ter superado 80% dos católicos. Pela primeira vez na história dos jubileus as Portas para o Ano Santo foram abertas não somente em Roma, mas ao redor do mundo. A estimativa foi apresentada pelo Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Dom Rino Fisichella, responsável pela organização do Ano Santo.

Um Jubileu que partiu sob ameaça de uma onda de violências na Europa, mas foi vivido com tranquilidade. Na coletiva de imprensa de apresentação da Carta Apostólica do Papa Francisco publicada ao final do Jubileu na manhã desta segunda-feira (21), Dom Fisichella se manifestou sobre temas fortes do documento intitulado “Misericórdia e mísera”.

Sacerdotes poderão absolver o pecado do aborto, nenhum laxismo

Entre os temas mais requisitados pelos jornalistas, a grande novidade da Carta Apostólica de que Francisco tenha concedido a todos os sacerdotes a faculdade de absolver quem incorreu no pecado do aborto. Dom Fisichella reitera que não se trata de laxismo:

Dom Fisichella – O Santo Padre reitera muito claramente para evitar equívocos de quem quiser ler somente até essa primeira parte: ‘Gostaria de enaltecer com todas as minhas forças que o aborto é um pecado grave porque põe fim a uma vida inocente. Com a mesma força posso e devo, todavia, afirmar que  não existe nenhum pecado que a misericórdia não possa alcançar e destruir quando encontra um coração arrependido que procura reconciliar-se com Deus’. Então, não há nenhuma forma de laxismo. Há, sim, uma forma com a qual a pessoa é consciente da gravidade do pecado, mas se arrependeu e quer se reconciliar com o Senhor.

A Fraternidade de São Pio X

Uma outra questão retomada na coletiva de imprensa é que prossegue, inclusive depois do Jubileu e até nova disposição à proposito, a absolvição sacramental dos pecados aos fiéis que frequentam as igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade de São Pio X.

Dom Fisichella – O Papa reitera o que escreveu na carta endereçada a mim em virtude do Jubileu. Aqui, obviamente, usa uma expressão que é singularmente significativa. O Papa diz explicitamente: ‘Estabeleço por minha própria decisão de estender essa faculdade para além do período jubilar, até novas disposições sobre o assunto’. Então, acredito que o ponto em questão seja aquele; seja mais uma vez a mão estendida. 

Cantai a Deus com arte e com júbilo


Dai graças ao Senhor com a cítara, tocai em sua honra o saltério de dez cordas. Cantai-Lhe um cântico novo. Despojai-vos do homem velho, pois conheceis já o cântico novo. Homem novo, testamento novo, cântico novo. O cântico novo não é para homens velhos. Só o aprendem os homens novos, que foram renovados pela graça despojando-se do pecado e pertencem já ao novo testamento que é o reino dos Céus. Por ele suspira todo o nosso amor e lhe canta um cântico novo. Cante-lhe um cântico novo, não a nossa língua, mas a nossa vida.

Cantai-Lhe um cântico novo, cantai-Lhe com arte e com alma. Cada qual pergunta como há-de cantar ao Senhor. Canta para Ele, mas não cantes mal. Deus não quer ouvir um cântico que ofenda os seus ouvidos. Cantai bem, irmãos. Se te pedem que cantes para um bom apreciador de música de modo que lhe agrade, não te atreves a cantar se não tens preparação musical, pelo receio de lhe desagradar, porque um bom artista notará os defeitos que a qualquer outro passam despercebidos. Quem se atreverá a cantar para Deus, tão excelente conhecedor de cantores, juiz tão completo e tão bom apreciador de música? Como poderás oferecer-Lhe tão excelente audição de canto que em nada ofendas ouvidos tão perfeitos?

Mas eis que Ele mesmo te sugere a maneira como Lhe hás de cantar. Não andes à procura de palavras, como se com elas pudesses expressar aquilo que agrada a Deus. Canta com júbilo. Cantar bem para Deus é cantar com júbilo. Que é cantar com júbilo? Compreender e não poder explicar com palavras o que se canta com o coração. Os que cantam na colheita, na vindima ou em qualquer trabalho intenso, começam a exultar de alegria com as palavras do cântico; mas depois, quando cresce a emoção, sentem que já não podem explicá-la por palavras, desprendem-se da letra das palavras e entregam-se totalmente à melodia jubilosa.

O «júbilo» é aquela melodia que traduz a incapacidade de exprimir por palavras o que sente o coração. E a quem pode consagrar-se este cântico de júbilo senão ao Deus inefável? É realmente inefável Aquele que não podes dar a conhecer por palavras. E se não tens palavras para O dar a conhecer e não deves permanecer calado, nada mais te resta senão cantar com júbilo. Sim, para que o coração possa expandir a imensidade superabundante da sua alegria sem se ver cortado pelas sílabas das palavras, cantai ao Senhor com arte e com júbilo.


Dos Comentários de Santo Agostinho, bispo, sobre os Salmos

(Ps. 32, sermo 1, 7-8: CCL 38, 253-254) (Sec. V)

As três maiores tentações para cristãos comprometidos com Jesus.


A primeira tentação é contra o amor:

Essa causa desunião e divisão. O diabo tem feito o seu melhor para criar desunião entre nós. Quando nos desunimos não somos capazes de testemunhar que Jesus Cristo é o Messias. Quando deparamos com grupos divididos, um grupo contra o outro, movimentos criticando uns aos outros. Estamos diante da tática do diabo, que é o nosso inimigo principal. O diabo sabe que o ideal de um grupo ou comunidade é tornar-se células de amor e dar testemunho que Jesus esta vivo no meio dela, esta vivo entre nós. Por essa razão fará tudo para desunir os servos de Deus.

A segunda tentação é a sede de poder:

É comum encontrar em grupos cristãos ou em comunidades, uma desenfreada busca pela liderança. Nesses casos os frutos dessa liderança são desastrosos, não há crescimento, o grupo ou a comunidade enfraquece e tende a reduzir a qualidade e a quantidade de participantes, só não morre porque, o que é de Deus permanece, e o que não é com o tempo perece!Não é raro, você encontrar no meio do caos pessoas levantadas por Deus, para liderar o seu povo com dons extraordinários na conclusão de outros que assumiram a lideranças por pura sede de poder.

Santa Cecília


Hoje celebramos a santidade da virgem que foi exaltada como exemplo perfeitíssimo de mulher cristã, pois em tudo glorificou a Jesus. Santa Cecília é uma das mártires mais veneradas durante a Idade Média, tanto que uma basílica foi construída em sua honra no século V. Embora se trate da mesma pessoa, na prática fala-se de duas santas Cecílias: a da história e a da lenda. A Cecília histórica é uma senhora romana que deu uma casa e um terreno aos cristãos dos primeiros séculos. A casa transformou-se em igreja, que se chamou mais tarde Santa Cecília no Trastévere; o terreno tornou-se cemitério de São Calisto, onde foi enterrada a doadora, perto da cripta fúnebre dos Papas.

No século VI, quando os peregrinos começaram a perguntar quem era essa Cecília cujo túmulo e cuja inscrição se encontravam em tão honrosa companhia, para satisfazer a curiosidade deles, foi então publicada uma Paixão, que deu origem à Cecília lendária; esta foi sem demora colocada na categoria das mártires mais ilustres. Segundo o relato da sua Paixão Cecília fora uma bela cristã da mais alta nobreza romana que, segundo o costume, foi prometida pelos pais em casamento a um nobre jovem chamado Valeriano. Aconteceu que, no dia das núpcias, a jovem noiva, em meio aos hinos de pureza que cantava no íntimo do coração, partilhou com o marido o fato de ter consagrado sua virgindade a Cristo e que um anjo guardava sua decisão.

Valeriano, que até então era pagão, a respeitou, mas disse que somente acreditaria se contemplasse o anjo. Desse desafio ela conseguiu a conversão do esposo que foi apresentado ao Papa Urbano, sendo então preparado e batizado, juntamente com um irmão de sangue de nome Tibúrcio. Depois de batizado, o jovem, agora cristão, contemplou o anjo, que possuía duas coroas (símbolo do martírio) nas mãos. Esse ser celeste colocou uma coroa sobre a cabeça de Cecília e outra sobre a de Valeriano, o que significava um sinal, pois primeiro morreu Valeriano e seu irmão por causa da fé abraçada e logo depois Santa Cecília sofreu o martírio, após ter sido presa ao sepultar Valeriano e Tibúrcio na sua vila da Via Ápia.

Colocada diante da alternativa de fazer sacrifícios aos deuses ou morrer, escolheu a morte. Ao prefeito Almáquio, que tinha sobre ela direito de vida ou de morte, ela respondeu: “É falso, porque podes dar-me a morte, mas não me podes dar a vida”. Almáquio condenou-a a morrer asfixiada; como ela sobreviveu a esse suplício, mandou que lhe decapitassem a cabeça.

Nas Atas de Santa Cecília lê-se esta frase: “Enquanto ressoavam os concertos profanos das suas núpcias, Cecília cantava no seu coração um hino de amor a Jesus, seu verdadeiro Esposo”. Essas palavras, lidas um tanto por alto, fizeram acreditar no talento musical de Santa Cecília e valeram-lhe o ser padroeira dos músicos. Hoje essa grande mártir e padroeira dos músicos canta louvores ao Senhor no céu.



Ó, gloriosa Santa Cecília espelho de pureza e modelo de esposa cristã. Revesti-nos de inviolável confiança na misericórdia de Deus, pelos merecimentos infinitos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Dilatai o nosso coração, para que, abrasados do amor de Deus, não nos desviemos jamais da salvação eterna. Santa Cecília, rogai por nós!

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Homilética: 1º Domingo do Tempo do Advento - Ano A: "Um apelo à Vigilância".


Hoje iniciamos mais um Ano Litúrgico, no qual relembramos e revivemos os Mistérios da História da Salvação. A Igreja nos põe de sobreaviso com quatro semanas de antecedência a fim de que nos preparemos para celebrar de novo o Natal e, ao mesmo tempo, para que, com a lembrança da primeira vinda de Deus feito homem ao mundo, estejamos atentos a essas outras vindas do Senhor: no fim da vida de cada um e no fim dos tempos. Por isso o Advento é o tempo de preparação e de esperança.

A palavra ADVENTO significa “Vinda”, chegada: nos faz relembrar e reviver as primeiras etapas da História da Salvação, quando os homens se preparam para a vinda do Salvador, a fim de que também nós possamos preparar hoje em nossa vida a vinda de Cristo por ocasião do Natal. Vivemos, no Advento, o Tempo da expectativa, da espera: um renovado caminho de fé que, por um lado, faz memória do evento de Jesus Cristo e, por outro, se abre ao seu cumprimento final. E é precisamente desta dúplice perspectiva que vive o Tempo de Advento, olhando quer para a primeira vinda do Filho de Deus, quando nasceu da Virgem Maria, quer para o seu retorno glorioso, quando vier “para julgar os vivos e os mortos”, como dizemos no Credo. A expectativa: trata-se de um aspecto profundamente humano, em que a fé se torna, por assim dizer, um só com a nossa carne e o nosso coração.

A expectativa, a espera é uma dimensão que atravessa toda a nossa existência pessoal, familiar e social. A espera está presente em mil situações, desde as mais pequenas e banais, até às mais importantes, que nos empenham total e profundamente. É das suas expectativas que o homem se reconhece: a nossa “estatura” moral e espiritual pode ser medida a partir daquilo que aguardamos, daquilo em que esperamos.

Portanto, cada um de nós, especialmente neste Tempo que nos prepara para o Natal, pode perguntar-se: e eu, o que espero? Para que inclina, neste momento da minha vida, o meu coração? E esta mesma interrogação pode fazer-se a nível familiar, comunitário e nacional. O que esperamos, juntos? O que une as nossas aspirações, o que há de comum nelas? No tempo precedente ao nascimento de Jesus, era extremamente intensa em Israel a espera do Messias, ou seja, de um Consagrado, descendente do Rei Davi, que finalmente teria libertado o povo de toda a escravidão moral e política, instaurando o Reino de Deus. Mas, jamais ninguém teria imaginado que o Messias pudesse nascer de uma jovem humilde como era Maria, noiva do Justo José. Nem sequer ela mesma jamais teria pensado, e no entanto, no seu coração, a expectativa do Salvador era tão grande, a sua fé e a sua esperança eram tão fervorosas, que Ele pôde encontrar nela uma Mãe digna. De resto, foi o próprio Deus que a preparou, antes dos séculos. Existe uma misteriosa correspondência entre a espera de Deus e a de Maria, a criatura “cheia de graça,” totalmente transparente ao desígnio de amor do Altíssimo.

Isaías fala, com ênfase, da era messiânica, quando todos os povos se hão de reunir em Jerusalém para adorarem o único Deus. Jerusalém é figura da Igreja, constituída por Deus “sacramento universal de salvação” (LG 48), que abre os seus braços a todos os homens para os conduzir a Cristo e para que, seguindo os seus ensinamentos, vivam como irmãos na concórdia e na paz. Cada cristão deve ser uma voz a chamar os homens, com a veemência de Isaías, à fé verdadeira e ao amor fraterno. Convida Isaías: “Vinde, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor” (Is 2, 5).

O Evangelho (Mt 24, 37 – 44) convoca os cristãos à vigilância: “Vigiai, porque não sabeis em que dia virá o Senhor” (Mt 24, 42). São Paulo (Rm 13, 11 – 14) lembra que a salvação já está próxima. Chegou a hora de acordar, pois o dia se aproxima É preciso deixar as trevas e ser iluminados pela luz do dia, pela luz de Cristo. Trata-se da conversão: deixar as obras das trevas e fazer o bem revestindo-se do Senhor Jesus Cristo.

O critério está bem claro: se fizermos todas as coisas ordinárias tendo presente a glória de Deus não seremos surpreendidos no dia do juízo, estaremos sempre preparados para esse acontecimento. Mas, como ter sempre presente a glória de Deus? Como não andar frequentemente distraídos?

Preparemos o caminho para o Senhor que chegará em breve; e se notarmos que a nossa visão está embaçada e não distinguimos com clareza essa luz que procede de Belém, é o momento de afastar os obstáculos. É tempo de fazer com especial delicadeza o exame de consciência e de melhorar a nossa pureza interior para receber a Deus. É o momento de discernir as coisas que nos separam do Senhor e de lançá-las para longe de nós. Um bom exame de consciência deve ir até as raízes dos nossos atos, até os motivos que inspiram as nossas ações. E logo buscar o remédio no Sacramento da Penitência (Confissão)!

“Vigiai, não sabeis em que dia o Senhor virá”. Não se trata apenas da “parusia”, mas também da vinda do Senhor para cada homem no fim da sua vida, quando se encontrar face a face com o seu Salvador; e será esse o dia mais belo, o princípio da vida eterna! “Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá” (Mt 24, 44). Toda a existência do homem é uma constante preparação para ver o Senhor, que cada vez está mais perto; mas no Advento a Igreja ajuda-nos a pedir de um modo especial: “Senhor, mostrai-me os vossos caminhos e ensinai-me as vossas veredas. Dirigi-me na vossa verdade, porque sois o meu Salvador” (Sl 24). Para manter este estado de vigília, é necessário lutar, porque a tendência de todo homem é viver de olhos cravados nas coisas da terra.

Fiquemos alertas! Assim será se cuidarmos com atenção da oração pessoal, que evita a tibieza e, com ela, a morte dos desejos de santidade; estaremos vigilantes se não abandonarmos os pequenos sacrifícios, que nos mantêm despertos para as coisas de Deus.


Preparemos numa atitude de humildade e vigilância a chegada de Cristo que vem. 

Igreja na Colômbia pede orações para superar a “noite escura” da guerra


O Presidente da Conferência Episcopal da Colômbia (CEC), Dom Luis Augusto Castro, pediu orações “pela paz na Colômbia”, para que o país possa superar a “noite escura” da guerra com a guerrilha Força Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

Em declarações ao Grupo ACI, Dom Castro pediu a todos os católicos que rezem “a Deus nosso Pai pela paz da Colômbia. Necessitamos de uma oração para poder superar definitivamente esta noite escura e começar um dia no qual vivamos como irmãos que se amam, não como lobos que se despedaçam”.

Depois da vitória do “Não” aos acordos de paz assinados em Havana (Cuba) entre o governo da Colômbia e as FARC, no plebiscito em 2 de outubro deste ano, ambos os lados trabalharam em um novo acordo.

O documento poderia ser referendado pelo Congresso da Colômbia, por um novo plebiscito ou pelas câmaras municipais do país.

O Presidente da CEC explicou que no novo acordo entre as FARC e o governo “há umas diferenças substanciais, mas também há alguns pontos que ficaram inamovíveis, que não se podem mudar”.

“Em relação às coisas que puderam mudar, está em primeiro lugar que se coloque um termo concreto à jurisdição especial para a paz”, que no documento anterior “era indefinida. Isso havia causado muitos protestos e foi estipulado que duraria apenas 10 anos, isso já era algo diferente, mas também muito positivo”.

Outro ponto novo, disse, é que, enquanto nos acordos anteriores se contemplava “a presença de alguns juízes internacionais – até tinham solicitado ao Papa que apresentasse um candidato para fazer parte destes juízes internacionais –, isso foi eliminado, e todos os juízes serão nacionais, juízes de muita qualidade, mas somente juízes nacionais”. 

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CARTA APOSTÓLICA

MISERICORDIA ET MISERA
DO SANTO PADRE 
FRANCISCO

NO TERMO DO JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA

FRANCISCO

a quantos lerem esta Carta Apostólica
misericórdia e paz!


MISERICÓRDIA E MÍSERA (misericordia et misera) são as duas palavras que Santo Agostinho utiliza para descrever o encontro de Jesus com a adúltera (cf. Jo 8, 1-11). Não podia encontrar expressão mais bela e coerente do que esta, para fazer compreender o mistério do amor de Deus quando vem ao encontro do pecador: «Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia».[1] Quanta piedade e justiça divina nesta narração! O seu ensinamento, ao mesmo tempo que ilumina a conclusão do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, indica o caminho que somos chamados a percorrer no futuro.

1. Esta página do Evangelho pode, com justa razão, ser considerada como ícone de tudo o que celebramos no Ano Santo, um tempo rico em misericórdia, a qual pede para continuar a ser celebrada e vivida nas nossas comunidades. Com efeito, a misericórdia não se pode reduzir a um parêntese na vida da Igreja, mas constitui a sua própria existência, que torna visível e palpável a verdade profunda do Evangelho. Tudo se revela na misericórdia; tudo se compendia no amor misericordioso do Pai.

Encontraram-se uma mulher e Jesus: ela, adúltera e – segundo a Lei – julgada passível de lapidação; Ele que, com a sua pregação e o dom total de Si mesmo que O levará até à cruz, reconduziu a lei mosaica ao seu intento originário genuíno. No centro, não temos a lei e a justiça legal, mas o amor de Deus, que sabe ler no coração de cada pessoa incluindo o seu desejo mais oculto e que deve ter a primazia sobre tudo. Entretanto, nesta narração evangélica, não se encontram o pecado e o juízo em abstrato, mas uma pecadora e o Salvador. Jesus fixou nos olhos aquela mulher e leu no seu coração: lá encontrou o desejo de ser compreendida, perdoada e libertada. A miséria do pecado foi revestida pela misericórdia do amor. Da parte de Jesus, nenhum juízo que não estivesse repassado de piedade e compaixão pela condição da pecadora. A quem pretendia julgá-la e condená-la à morte, Jesus responde com um longo silêncio, cujo intuito é deixar emergir a voz de Deus tanto na consciência da mulher como nas dos seus acusadores. Estes deixam cair as pedras das mãos e vão-se embora um a um (cf. Jo 8, 9). E, depois daquele silêncio, Jesus diz: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? (...) Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar» (8, 10.11). Desta forma, ajuda-a a olhar para o futuro com esperança, pronta a recomeçar a sua vida; a partir de agora, se quiser, poderá «proceder no amor» (Ef 5, 2). Depois que se revestiu da misericórdia, embora permaneça a condição de fraqueza por causa do pecado, tal condição é dominada pelo amor que consente de olhar mais além e viver de maneira diferente.

2. Aliás Jesus ensinara-o claramente quando, em casa dum fariseu que O convidara para almoçar, se aproximou d’Ele uma mulher conhecida por todos como pecadora (cf. Lc 7, 36-50). Esta ungira com perfume os pés de Jesus, banhara-os com as suas lágrimas e enxugara-os com os seus cabelos (cf. 7, 37-38). À reação escandalizada do fariseu, Jesus retorquiu: «São perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa, pouco ama» (7, 47).

O perdão é o sinal mais visível do amor do Pai, que Jesus quis revelar em toda a sua vida. Não há página do Evangelho que possa ser subtraída a este imperativo do amor que chega até ao perdão. Até nos últimos momentos da sua existência terrena, ao ser pregado na cruz, Jesus tem palavras de perdão: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34).

Nada que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do seu perdão. É por este motivo que nenhum de nós pode pôr condições à misericórdia; esta permanece sempre um ato de gratuidade do Pai celeste, um amor incondicional e não merecido. Por isso, não podemos correr o risco de nos opor à plena liberdade do amor com que Deus entra na vida de cada pessoa.

A misericórdia é esta ação concreta do amor que, perdoando, transforma e muda a vida. É assim que se manifesta o seu mistério divino. Deus é misericordioso (cf. Ex 34, 6), a sua misericórdia é eterna (cf. Sal 136/135), de geração em geração abraça cada pessoa que confia n’Ele e transforma-a, dando-lhe a sua própria vida.

3. Quanta alegria brotou no coração destas duas mulheres: a adúltera e a pecadora! O perdão fê-las sentirem-se, finalmente, livres e felizes como nunca antes. As lágrimas da vergonha e do sofrimento transformaram-se no sorriso de quem sabe que é amado. A misericórdia suscita alegria, porque o coração se abre à esperança duma vida nova. A alegria do perdão é indescritível, mas transparece em nós sempre que a experimentamos. Na sua origem, está o amor com que Deus vem ao nosso encontro, rompendo o círculo de egoísmo que nos envolve, para fazer também de nós instrumentos de misericórdia.

Como são significativas, também para nós, estas palavras antigas que guiavam os primeiros cristãos: «Reveste-te de alegria, que é sempre agradável a Deus e por Ele bem acolhida. Todo o homem alegre trabalha bem, pensa bem e despreza a tristeza. (...) Viverão em Deus todas as pessoas que afastam a tristeza e se revestem de toda a alegria».[2] Experimentar a misericórdia dá alegria; não no-la deixemos roubar pelas várias aflições e preocupações. Que ela permaneça bem enraizada no nosso coração e sempre nos faça olhar com serenidade a vida do dia-a-dia.

Numa cultura frequentemente dominada pela tecnologia, parecem multiplicar-se as formas de tristeza e solidão em que caem as pessoas, incluindo muitos jovens. Com efeito, o futuro parece estar refém da incerteza, que não permite ter estabilidade. É assim que muitas vezes surgem sentimentos de melancolia, tristeza e tédio, que podem, pouco a pouco, levar ao desespero. Há necessidade de testemunhas de esperança e de alegria verdadeira, para expulsar as quimeras que prometem uma felicidade fácil com paraísos artificiais. O vazio profundo de tanta gente pode ser preenchido pela esperança que trazemos no coração e pela alegria que brota dela. Há tanta necessidade de reconhecer a alegria que se revela no coração tocado pela misericórdia! Por isso guardemos como um tesouro estas palavras do Apóstolo: «Alegrai-vos sempre no Senhor!» (Flp 4, 4; cf. 1 Ts 5, 16).

4. Celebramos um Ano intenso, durante o qual nos foi concedida, em abundância, a graça da misericórdia. Como um vento impetuoso e salutar, a bondade e a misericórdia do Senhor derramaram-se sobre o mundo inteiro. E perante este olhar amoroso de Deus, que se fixou de maneira tão prolongada sobre cada um de nós, não se pode ficar indiferente, porque muda a vida.

Antes de mais nada, sentimos necessidade de agradecer ao Senhor, dizendo-Lhe: «Vós abençoastes a vossa terra (…). Perdoastes as culpas do vosso povo» (Sal 85/84, 2.3). Foi mesmo assim: Deus esmagou as nossas culpas e lançou ao fundo do mar os nossos pecados (cf. Miq 7, 19); já não Se lembra deles, lançou-os para trás de Si (cf. Is 38, 17); como o Oriente está afastado do Ocidente, assim os nossos pecados estão longe d’Ele (cf. Sal 103/102, 12).

Neste Ano Santo, a Igreja pôde colocar-se à escuta e experimentou com grande intensidade a presença e proximidade do Pai, que, por obra do Espírito Santo, lhe tornou mais evidente o dom e o mandato de Jesus Cristo relativo ao perdão. Foi realmente uma nova visita do Senhor ao meio de nós. Sentimos o seu sopro vital efundir-se sobre a Igreja, enquanto, mais uma vez, as suas palavras indicavam a missão: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos» (Jo 20, 22-23).