segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

É possível ler o horóscopo “só por diversão”?


A leitura do horóscopo do dia parece coisa que pode ser feita por simples diversão. Basta abrir o jornal local e encontrar as “previsões diárias” ali pela vizinhança das tirinhas cômicas ou das palavras cruzadas. Se preferir, você vai encontrá-las também numa vasta quantidade de páginas, internet afora.

Acontece que a Igreja não considera que a astrologia seja “simples diversão”: ela ensina que existem riscos muito mais sinistrosenvolvidos nas “artes da adivinhação do futuro” – riscos capazes de colocar em contato com a presença do mal.

Antes de mais, o que é astrologia?

Trata-se, basicamente, de considerar as posições das estrelas e os movimentos dos planetas e interpretar qual é a sua suposta influência em acontecimentos diversos, inclusive na vida e no comportamento das pessoas. A astrologia é uma prática antiga, com raízes bem anteriores ao nascimento de Cristo e presente em várias religiões pagãs. Seu objetivo principal é a predição do futuro com base nas dinâmicas dos corpos celestes.

Tudo isso coloca a astrologia na categoria da “adivinhação“, com a esperança subjacente de que, se uma pessoa puder saber como se desenrolará um determinado dia, ela terá uma espécie de “poder” sobre o tempo. É neste sentido que a leitura dos horóscopos se presta às estratégias do diabo.

Somente Deus conhece o futuro, já que Ele não vive dentro dos limites do tempo e sim na eternidade, no eterno “agora”. Tudo o que é, foi e será está sempre diante dos olhos de Deus. Satanás e seus asseclas não conhecem o futuro; no entanto, por serem espíritos dotados de alto intelecto e observarem o que ocorre no tempo, eles podem oferecer aos indivíduos certas especulações do que viria a acontecer. O recurso a entidades espirituais que não são Deus a fim de adivinhar o futuro é algo que se manifesta em práticas como a “leitura da mão” ou a consulta com “médiuns”, que procuram o auxílio de algum espírito (ou demônio) para prever algo da vida de alguém.

Quem participa da criação de horóscopos pode ou não ter relação aberta com o mal, mas, em algum nível, está se abrindo à influência de espíritos nefastos. Satanás, desde o Jardim do Éden, está constantemente nos oferecendo a “maçã do conhecimento” na esperança de nos levar para longe da filial confiança em Deus Pai. A “lógica” por trás disso é uma tentação antiquíssima: se “soubermos” mais do que Deus, teremos poder. 

Nossa Senhora de Guadalupe


Num sábado, no ano de 1531, a Virgem Santíssima apareceu a um indígena que, de seu lugarejo, caminhava para a cidade do México a fim de participar da catequese e da Santa Missa enquanto estava na colina de Tepeyac, perto da capital. Este índio convertido chamava-se Juan Diego (canonizado pelo Papa João Paulo II em 2002).

Nossa Senhora disse então a Juan Diego que fosse até o bispo e lhe pedisse que naquele lugar fosse construído um santuário para a honra e glória de Deus.

O bispo local, usando de prudência, pediu um sinal da Virgem ao indígena que, somente na terceira aparição, foi concedido. Isso ocorreu quando Juan Diego buscava um sacerdote para o tio doente: “Escute, meu filho, não há nada que temer, não fique preocupado nem assustado; não tema esta doença, nem outro qualquer dissabor ou aflição. Não estou eu aqui, a seu lado? Eu sou a sua Mãe dadivosa. Acaso não o escolhi para mim e o tomei aos meus cuidados? Que deseja mais do que isto? Não permita que nada o aflija e o perturbe. Quanto à doença do seu tio, ela não é mortal. Eu lhe peço, acredite agora mesmo, porque ele já está curado. Filho querido, essas rosas são o sinal que você vai levar ao Bispo. Diga-lhe em meu nome que, nessas rosas, ele verá minha vontade e a cumprirá. Você é meu embaixador e merece a minha confiança. Quando chegar diante dele, desdobre a sua “tilma” (manto) e mostre-lhe o que carrega, porém, só em sua presença. Diga-lhe tudo o que viu e ouviu, nada omita…”

O prelado viu não somente as rosas, mas o milagre da imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, pintada prodigiosamente no manto do humilde indígena. Ele levou o manto com a imagem da Santíssima Virgem para a capela, e ali, em meio às lágrimas, pediu perdão a Nossa Senhora. Era o dia 12 de dezembro de 1531.

Uma linda confirmação deu-se quando Juan Diego fora visitar o seu tio, que sadio narrou: “Eu também a vi. Ela veio a esta casa e falou a mim. Disse-me também que desejava a construção de um templo na colina de Tepeyac e que sua imagem seria chamada de ‘Santa Maria de Guadalupe’, embora não tenha explicado o porquê”. Diante de tudo isso muitos se converteram e o santuário foi construído.

O grande milagre de Nossa Senhora de Guadalupe é a sua própria imagem. O tecido, feito de cacto, não dura mais de 20 anos e este já existe há mais de quatro séculos e meio. Durante 16 anos, a tela esteve totalmente desprotegida, sendo que a imagem nunca foi retocada e até hoje os peritos em pintura e química não encontraram na tela nenhum sinal de corrupção.

No ano de 1971, alguns peritos inadvertidamente deixaram cair ácido nítrico sobre toda a pintura. E nem a força de um ácido tão corrosivo estragou ou manchou a imagem. Com a invenção e ampliação da fotografia descobriu-se que, assim como a figura das pessoas com as quais falamos se reflete em nossos olhos, da mesma forma a figura de Juan Diego, do referido bispo e do intérprete se refletiu e ficou gravada nos olhos do quadro de Nossa Senhora. Cientistas americanos chegaram à conclusão de que estas três figuras estampadas nos olhos de Nossa Senhora não são pintura, mas imagens gravadas nos olhos de uma pessoa viva.

Declarou o Papa Bento XIV, em 1754: “Nela tudo é milagroso: uma Imagem que provém de flores colhidas num terreno totalmente estéril, no qual só podem crescer espinheiros… uma Imagem estampada numa tela tão rala que através dela pode se enxergar o povo e a nave da Igreja… Deus não agiu assim com nenhuma outra nação”.

Coroada em 1875 durante o Pontificado de Leão XIII, Nossa Senhora de Guadalupe foi declarada “Padroeira de toda a América” pelo Papa Pio XII no dia 12 de outubro de 1945.

No dia 27 de janeiro de 1979, durante sua viagem apostólica ao México, o Papa João Paulo II visitou o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe e consagrou a Mãe Santíssima toda a América Latina, da qual a Virgem de Guadalupe é Padroeira.

Nossa Senhora de Guadalupe, rogai por nós!



Mãe Maria, Senhora de Guadalupe, abençoai nosso continente e conduzi-nos sempre ao encontro de Jesus Cristo. Olhai as populações pobres da América latina e ajudai-as a manter a fé e a fidelidade ao evangelho. Amém.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Explosão em igreja copta deixa ao menos 25 mortos no Egito


Um novo massacre de fiéis coptas voltou a ensanguentar o Egito. Uma bomba foi deflagrada na manhã deste domingo na Capela dos Santos Pedro e Paulo, adjacente à Catedral de São Marcos, no Cairo, deixando ao menos 25 mortos e dezenas feridos, sobretudo mulheres e crianças.

Segundo a emissora por satélite CBC extra, a explosão teria ocorrido na seção feminina da igreja. A adjacente Catedral de São Marcos é a residência do Patriarca copta Papa Tawadros II, a quem o Papa Francisco se dirigiu expressando sua proximidade durante a oração do Angelus, este domingo, na Praça São Pedro.

Segundo a agência missionária AsiaNews, o ministro dos assuntos internos do Egito Magdi Abdel-Ghaffar visitou a igreja, cuja explosão deixou vitrais e janelas destruídas e marcas de sangue espalhadas no templo. Até o momento não houve nenhuma reivindicação.

O atentado da manhã deste domingo é um dos mais graves sofridos pela comunidade cristã copta. Na celebração do Natal copta, em 1º de janeiro de 2011, em Alexandria, um ataque terrorista causou a morte de 21 pessoas e o ferimento de mais de 70. 

Alegra-te, Filha de Sião!


“Exulta de alegria, ó filha de Sião,
porque Eu, o Senhor, vou morar em teu meio!” (Liturgia do Advento).

Quem é esta “filha de Sião”? Por que deve se alegrar?

A Filha de Sião é primeiramente o povo de Israel, simbolizado pela própria cidade de Jerusalém, situada no Monte Sião.

Israel, o da Antiga Aliança, pode ainda hoje escutar este convite à alegria, presente em tantos profetas: o Senhor não abandonou o Seu povo; vem a ele para salvá-lo nos apertos da história. O Senhor vem!

E Israel, o antigo povo, continua a esperar o Messias prometido, como sinal da proximidade e da salvação abençoada do Senhor Deus. E, um dia, no Dia de Cristo, Dia da Aparição do Senhor nosso em Sua Glória, o Israel segundo a carne verá o seu Salvador!

Mas, a Filha de Sião é também a Virgem Maria, que em si sintetiza e personifica o povo da Antiga Aliança.

Isto aparece bem claro na Escritura se compararmos a profecia de Sofonias 3,14-17 e Lc 1,26-31.

No Novo Testamento a Virgem santíssima é declarada Filha de Sião, personificação do antigo povo.

Veja só, comparando os textos sagrados segundo Lucas e Sofonias: 

“Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto!” (Fl 4,4s).


Este terceiro domingo do Advento tem um tema predominante: a alegria provocada pela vinda do Senhor. Por isso, a cor rosa, que pode ser usada como um roxo atenuado, melhor ainda: a mistura do roxo do Advento com o branco do Natal que se aproxima. Alegrai-vos (Gaudete!) – convida-nos a liturgia, inspirando-se nas palavras do Apóstolo: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto!” (Fl 4,4s).

Mas, pensando bem: há motivos para alegria verdadeira, profunda, responsável? Ante as lutas e fardos da vida, podemos realmente alegrar-nos? Antes as feridas e machucaduras do nosso coração, é possível uma alegria duradoura e verdadeira? Ante as desacertos e desvios do mundo, é realmente possível este gáudio a que nos convida a Igreja, com as palavras de São Paulo? E, no entanto, o convite é insistente: Alegrai-vos!

Contudo, antes do convite à alegria, ao júbilo, à exultação, permiti-me um outro convite: pensemos na vida de frente, como ela é, para cada um de nós e para os outros. Faço este convite porque somente assim nossa alegria poderá ser realista e verdadeira. Não esqueçamos que há também uma alegria boba, tola, tonta, irresponsável, que brota da superficialidade ou da ilusão... Não é dessa que falamos aqui...

Pois bem! A nossa vida – a minha, a sua! - gostaríamos que ela fosse como quiséramos, gostaríamos de controlá-la, de garantir que tudo saísse bem para nós e para os nossos, para os nossos e para todos... E, no entanto, constatamos com pesar que não temos em nossas mãos a nossa existência... Que duras as palavras de Jeremias profeta: “Eu sei, Senhor, que não pertence ao homem o seu caminho, que não é dado ao homem, que caminha, dirigir os seus passos” (10,23).

O mundo não é como gostaríamos, os nossos caros não são e não vivem como esperávamos e nós mesmos, tampouco, vivemos a vida que sonhamos...

2ª Pregação do Advento 2016: “O Espírito Santo e o discernimento".


BEBAMOS, SÓBRIOS, A EMBRIAGUEZ DO ESPÍRITO

Continuamos as nossas reflexões sobre a obra do Espírito Santo na vida do cristão. São Paulo menciona um carisma particular chamado de "discernimento dos espíritos" (1 Cor 12, 10). Originalmente, este termo tem um significado muito específico: indica o dom que permite distinguir, entre as palavras inspiradas ou proféticas pronunciadas durante uma assembleia, aquelas que vêm do Espírito de Cristo daquelas que vêm de outros espíritos, a saber, ou do espírito do homem, ou do espírito demoníaco, ou do espírito do mundo.

Também para o evangelista João este é o sentido fundamental. O discernimento consiste em "colocar à prova as inspirações a fim de testar se provêm realmente de Deus" (1 Jo 4,1-6). Para Paulo, o critério fundamental do discernimento é a confissão de Cristo como "Senhor" (1 Cor 12, 3); Para João é a confissão de que Jesus "veio na carne", ou seja, a encarnação. Já com ele o discernimento começa a ser usado em função teológica, como critério para discernir as verdadeiras das falsas doutrinas, a ortodoxia da heresia, o que será fundamental mais tarde.

1. O discernimento na vida eclesial

Existem dois campos nos quais se deve exercer esse dom do discernimento da voz do Espírito: o eclesial e o pessoal. No campo eclesial, o discernimento dos espíritos é exercido com autoridade pelo magistério, mas deve levar em conta, entre outros critérios, também o "senso dos fiéis", o "sensus fidelium".

Quero me concentrar em um ponto em particular, que pode ser útil na discussão atual na Igreja sobre alguns problemas particulares. Trata-se do discernimento dos sinais dos tempos. O concílio declarou:
"É dever permanente da Igreja perscrutar os sinais dos tempos e de interpreta-los à luz do Evangelho, de modo que em uma linguagem inteligível para cada geração, possa responder às questões perenes que os homens se fazem sobre o sentido desta vida presente e futura e sobre sua relação mútua "

É claro que, se a Igreja deve perscrutar os sinais dos tempos à luz do Evangelho, não é para aplicar aos "tempos", ou seja, às situações e aos novos problemas que surgem na sociedade, os remédios e as regras de sempre, mas sim para dar novas respostas a eles, “adequadas para cada geração", como diz o texto do concílio que acabamos de citar. A dificuldade encontrada neste caminho - e que deve ser tomada com toda a sua seriedade - é o medo de comprometer a autoridade do magistério, reconhecendo as mudanças em seus pronunciamentos.

Há uma consideração que pode ajudar, eu acho, a superar, em espírito de comunhão, esta dificuldade. A infalibilidade que a Igreja e o Papa reivindicam para si, não é certamente de grau superior à que se atribui à própria Escritura revelada. Bom, a inerrância bíblica garante que o Escritor sagrado expressa a verdade no modo e no grau em que ela podia ser expressada no momento em que escreve. Vemos que muitas verdades são formadas lentamente e gradualmente, como a da vida após a morte e da vida eterna.

Também no âmbito moral, muitos usos e leis anteriores são, em seguida, abandonados para dar lugar a leis e critérios mais correspondentes ao espírito da Aliança. Um exemplo entre todos: no Êxodo se afirma que Deus pune os pecados dos pais nos filhos (cf. Ex 34, 7), mas Jeremias e Ezequiel dirão o contrário, ou seja, que Deus não pune os pecados dos pais nos filhos, mas que cada um deverá responder pelas próprias ações (cf. Jer 31, 29-30; Ez 18,1ss).

No Antigo Testamento, o critério pelo qual são superadas as prescrições anteriores é o de uma melhor compreensão do espírito da Aliança e da Torá; na Igreja o critério é o de uma contínua releitura do Evangelho à luz das novas questões. "Scriptura cum legentibus crescit", dizia São Gregório Magno: A Escritura cresce com aqueles que a leem .

Agora sabemos que a regra constante da ação de Jesus no Evangelho, em termos de moralidade, é resumida em poucas palavras: "Não ao pecado, sim ao pecador”. Ninguém é mais severo do que ele para condenar a riqueza injusta, mas se auto-convida para a casa de Zaqueu e com a sua simples aproximação muda-lhe a vida. Condena o adultério, até mesmo o do coração, mas perdoa a adúltera e lhe dá de novo a esperança; reafirma a indissolubilidade do matrimônio, mas conversa com a Samaritana que havia tido cinco maridos e lhe revela o segredo que não havia dito a ninguém mais, de forma tão explícita: "Este sou eu (o Messias) que vos fala" (Jo 4 , 26).

Se nos perguntarmos como se justifica teologicamente uma distinção tão clara entre pecado e pecador, a resposta é simples: o pecador é uma criatura de Deus, feita à sua imagem, e preserva a própria dignidade, apesar de todas as aberrações; o pecado não é obra de Deus, não vem Dele, mas do inimigo. É a mesma razão pela qual Cristo se tornou "semelhante a nós em tudo, exceto no pecado" (Hb 4, 15).

Um fator importante para cumprir esta tarefa de discernir os sinais dos tempos é a colegialidade dos bispos. Diz um texto da Lumen Gentium, que essa colegialidade permite "decidir em comum todas as questões mais importantes, por meio de uma decisão que a opinião do conjunto permite equilibrar". O exercício efetivo da colegialidade traz como consequência o discernimento e à solução dos problemas a variedade das situações locais e dos pontos de vista, as luzes e os vários dons, dos quais cada Igreja e cada bispo é um portador.

Temos um claro exemplo disso precisamente no primeiro “concílio” da Igreja, o de Jerusalém. Lá se deu amplo espaço aos dois pontos de vista em contraste, o dos judaizantes e o dos favoráveis à abertura aos pagãos; houve uma “discussão acalorada”, mas, no fim isso lhes permitiu anunciar as decisões com aquela extraordinária fórmula: “Decidimos, o Espírito Santo e nós, ... (Atos 15, 6ss).

Percebe-se disso como o Espírito guia a Igreja de duas maneiras diferentes: às vezes diretamente e carismaticamente, através da revelação e inspiração proféticas; outras vezes, colegialmente, através do paciente e difícil confronto, e até mesmo o acordo, entre as partes e os diferentes pontos de vista. O discurso de Pedro no dia de Pentecostes e na casa de Cornélio é muito diferente daquele feito depois, para justificar a sua decisão diante dos anciãos (cf. Atos 11, 4-18; 15, 14); o primeiro é do tipo carismático, o segundo é do tipo colegial.

Devemos, portanto, ter confiança na capacidade do Espírito para realizar, no final, o acordo, embora às vezes pareça que todo o processo esteja saindo do controle. Toda vez que os pastores das Igrejas cristãs, a nível local ou universal, se reúnem para fazer discernimento ou tomar decisões importantes, deveria haver no coração de cada um a confiante certeza de que o Veni Creator está contido nos nossos dois versos: Ductore sic te praevio – vitemusomne noxium, “contigo, que es nosso guia, evitaremos todo mal”. 

João é a voz, Cristo é a Palavra


João era a voz, mas o Senhor era a Palavra desde o prin­ cípio. João era uma voz passageira; Cristo era desde o princípio a Palavra eterna.

Sem a palavra, que vem a ser a voz? Vazia de qualquer sentido inteligível, não é mais que um simples ruído. A voz sem a palavra entra nos ouvidos, mas não chega ao coração.

Entretanto, vejamos o que sucede na comunicação do nosso pensamento. Se penso no que vou dizer, já está a palavra presente em meu coração; mas se pretendo falar contigo, procuro o modo de fazer chegar ao teu coração o que já está no meu.

Então, para conseguir que chegue a ti e cale em teu coração a palavra que já está no meu, recorro à voz e, mediante ela, falo contigo. O som da voz leva ao teu espírito o sentido da minha palavra; e quando o som da voz te fez chegar o sentido da minha palavra, esse mesmo som desaparece; mas a palavra que o som te transmitiu está já em ti sem deixar de permanecer em mim.

Não te parece que esse som que te comunicou a minha palavra está dizendo: Convém que ela cresça e eu diminua? O som da voz fez-se sentir para cumprir a sua tarefa e desapareceu, como se dissesse: Com isto a minha alegria está completa. Retenhamos a palavra; não percamos essa palavra concebida no mais íntimo do nosso coração.

Queres ver como a voz passa, enquanto a divindade da Palavra permanece? Que foi feito do baptismo de João? Cumpriu a sua missão e desapareceu. Agora é o baptismo de Cristo que está em vigor. Todos acreditamos em Cristo, todos esperamos a salvação em Cristo. Foi isto que a voz anunciou.

Precisamente porque é difícil não confundir a palavra com a voz, tomaram João pelo Messias. A voz foi confundida com a Palavra. Mas a voz reconheceu-se a si mesma como tal, para não lesar a Palavra. Disse: Não sou Cristo, nem Elias, nem o Profeta. Quando lhe perguntaram: Então, quem és? Respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor. Voz do que clama no deserto, voz de quem quebra o silêncio. Preparai o caminho do Senhor, como se dissesse: Sou a voz que se faz ouvir apenas para introduzir a Palavra no vosso coração; mas Esta não se dignará entrar onde pretendo introduzi-la, se não preparardes o caminho.

Que quer dizer: Preparai o caminho, senão: «Suplicai insistentemente»? Que quer dizer: Preparai o caminho, senão:

«Sede humildes de coração»? Imitai o exemplo de humildade de João Baptista. Consideram-no o Messias, mas ele responde que não é o que julgam; não se aproveita do erro alheio para uma afirmação pessoal.

Se houvesse dito: «Eu sou o Messias», facilmente teriam acreditado na sua palavra, pois que já o tinham como tal antes de o haver dito. Mas não disse; antes, reconheceu o que era, disse o que não era, foi humilde.

Compreendeu donde lhe vinha a salvação; compreendeu que não era mais que uma tocha ardente e luminosa, e receou que o vento da soberba a pudesse apagar.


Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo 
Sermo 293, 3: PL 1328-1329 (Sec. V)

Você sabia que é possível ganhar indulgências com o Santo Rosário?


Muitas pessoas escreveram sobre o poder espiritual do Santo Rosário, mas talvez algo pouco conhecido é a graça da indulgência que é possível ganhar com esta devoção mariana que, segundo a tradição, foi dada pela própria Mãe de Deus.

São João Paulo II em sua Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae (Rosário da Virgem Maria, 37) assinalou que “para fomentar esta projeção eclesiástica do Rosário, a Igreja quis enriquecê-lo com santas indulgências para quem o recita com as devidas disposições”.

A respeito, a Concessão 17 da Enchiridion Indulgentiarum (Manual de Indulgências) da Penitenciária Apostólica do Vaticano, indica que “confere-se uma indulgência plenária se o Terço for rezado em uma igreja ou em um oratório público ou em família, em uma comunidade religiosa ou em piedosa associação”.

Do mesmo modo, a indulgência é concedida ao fiel que “se une devotamente à recitação dessa mesma devoção quando é feita pelo Supremo Pontífice e é transmitida através da televisão ou do rádio. Em outras circunstâncias ganha a indulgência parcial”.

Em seguida, explica que, “se a obra, enriquecida com a indulgência plenária, se pode dividir ajustadamente em partes (como o Rosário de Nossa Senhora em dezenas), quem por motivo razoável não terminou a obra por inteiro, pode ganhar a indulgência parcial pela parte que fez”.

Nesse sentido, destaca que no caso da oração vocal “deve acrescentar a devota meditação dos mistérios” e que na oração pública, “os mistérios devem ser meditados conforme o costume aprovado no local; mas na recitação privada, basta que o fiel acrescente à oração vocal a meditação dos mistérios”.

Como se sabe, só é possível ganhar uma indulgência plenária por dia (exceto em perigo de morte). É possível obtê-la se cumprir as devidas disposições que a Igreja pede, ou seja, a confissão sacramental, a comunhão eucarística e as orações pelas intenções do Papa. Se desejar, a indulgência pode-se ganhar a indulgência para um falecido.