quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Por que algumas pessoas alcançam milagres e outras não?


Em toda história do povo de Deus e da Igreja, existem relatos de verdadeiros milagres. Milagres são intervenções de Deus, sobre os quais podemos dizer que, por amor, Ele abre uma exceção para aquilo que supera a nossa natureza e compreensão. Milagre é uma prova de Deus, uma prática exclusiva de Seu amor onipotente, que faz parte de um plano maior. O Senhor não quer mimar seus filhos, mas os salvar; logo, todo milagre faz parte de Seu plano salvífico.

Ofereço aqui um pequeno “diagnóstico”, em seis partes, para você entender por que o milagre de que você precisa ainda não chegou.

1. Não clamar por milagres

Parece meio óbvio, mas muitos não alcançam milagres, porque não os pedem, embora existam graças que conseguimos sem pedir. Um exemplo muito claro disso é o sol nascer todas as manhãs. “O Pai faz nascer o sol sobre os justos e injustos” (cf. Mt 5,45).

É preciso clamar por um milagre se você o quer. Muitas pessoas perdem seu tempo lamuriando, reclamando, mas se esquecem de que Deus pode tudo, em tudo e em todos. Pegue esse tempo que você está reclamando ou murmurando e faça dele uma oração Àquele para quem nada é impossível. Ofereça suas lágrimas em oração. Ele o ouvirá.

2. Não ter fé

“Em verdade vos digo: se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que fiz com a figueira, mas também, se disserdes a montanha: ‘Arranca-te daí e joga-te no mar’, acontecerá. Tudo o que na oração, pedirdes com fé, vós o recebeis” ( Mt 21, 21-22).

Se já estamos clamando, mas não conseguimos alcançar o milagre, pode ser que nos esteja faltando fé. Em Hebreus, está uma ótima definição: “A fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se vê. Por ela os antigos receberam um bom testemunho de Deus” (Hb 11,1-2). O bom testemunho justamente é essa intervenção divina.

Clamar um milagre com fé é ter a certeza de que somente Deus é capaz de fazê-lo, pois se depender exclusivamente da mão humana, nada vai acontecer.

3. Não perseverar

Somos da geração fast food e da internet sem limites, onde, a todo momento, buscamos o ilimitado. Geração de alta tecnologia e muitas facilidades, onde somos acostumados ao agora, onde nada demora. No entanto, a lógica divina não mudou, nem tudo é espontâneo. Quantas pessoas foram curadas de doenças depois de anos a família se ajoelhar e clamar por um milagre? Para entendermos a lógica de Deus, aprendamos com Jesus: «Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que deviam orar sempre e nunca desanimar, dizendo: ‘Havia, em certa cidade, um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. Havia também, naquela mesma cidade, uma viúva que vinha constantemente ter com ele, dizendo: Defende-me do meu adversário. Ele, por algum tempo, não a queria atender, mas depois disse consigo: Se bem que eu não tema a Deus nem respeite os homens; todavia como esta viúva me incomoda, julgarei a sua causa, para que ela não continue a molestar-me com as suas visitas. Ouvi, acrescentou o Senhor, o que disse este juiz injusto. Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora seja demorado em defendê-los? Digo-vos que bem depressa lhes fará justiça. Contudo quando vier o Filho do homem, achará, porventura, fé na terra?» (Lc 18,1-8).

Quando queremos algo, de fato, não lutamos por isso? Assim é no mundo espiritual. Ao persistir na oração, vamos tomando consciência mais e mais de que Deus é o único capaz de realizá-lo, e acontece que nossa fé cresce. 

São João da Cruz


João nasceu na Espanha em 1542. Ainda na infância, ficou órfão de pai. Sua mãe mudou-se então para Medina, onde João trabalhava num hospital de dia e estudava gramática a noite. 

Ainda jovem sentiu-se atraído pela vida religiosa e tornou-se carmelita, indo estudar em Salamanca. Mesmo dedicando-se totalmente aos estudos, encontrava tempo para visitar doentes em hospitais ou em suas casas, prestando serviço como enfermeiro. Ordenou-se sacerdote aos vinte e cinco anos.

Desejando uma disciplina mais rígida, São João da Cruz quase saiu da Ordem para ir ingressar na Ordem dos Cartuxos, mas, felizmente, encontrou-se com a reformadora dos Carmelos, Santa Teresa D’Ávila, a qual havia recebido autorização para a reforma dos conventos masculinos. João, empenhado na reforma, conheceu o sofrimento, as perseguições e tantas outras resistências. Chegou a ficar nove meses preso num convento em Toledo, até que conseguiu fugir. Dessa forma, o santo espanhol transformou, em Deus e por Deus, todas as cruzes num meio de santificação para si e para os irmãos. Três coisas pediu e acabou recebendo de Deus: primeiro: força para trabalhar e sofrer muito; segundo: não sair deste mundo como superior de uma comunidade; e terceiro: morrer desprezado e escarnecido pelos homens.

Escreveu obras bem conhecidas como: Subida do Monte Carmelo; Noite escura da alma (estas duas fazem parte de um todo, que ficou inacabado); Cântico espiritual e Chama viva de amor. No decurso delas, o itinerário que a alma percorre é claro e certeiro. Negação e purificação das suas desordens sob todos os aspectos. Os escritos sobre sua vida dão conta de que abraçou a cruz dos sofrimentos e contrariedades.

Conta-se que ele pedia insistentemente três coisas a Deus. Primeiro, dar-lhe forças para trabalhar e sofrer muito. Segundo, não deixá-lo sair desse mundo como superior de uma Ordem ou comunidade. Terceiro, e mais surpreendente, que o deixasse morrer desprezado e humilhado pelos homens. 

Pregador, místico, escritor e poeta, esse grande santo da Igreja faleceu após uma penosíssima enfermidade, em 14 de dezembro de 1591, com 49 anos de idade, na Espanha. Foi canonizado no ano de 1726 e, em 1926, o Papa Pio XI o declarou Doutor da Igreja.

São João da Cruz é o Doutor Místico por antonomásia, da Igreja, o representante principal da sua mística no mundo, a figura mais ilustre da cultura espanhola e uma das principais da cultura universal. Foi adotado como Patrono da Rádio, pois, quando pregava, a sua voz chegava muito longe.


Senhor, Nosso Deus, que inspirastes a São João da Cruz extraordinário amor à Cruz e perfeita abnegação de si mesmo, concedei que, imitando o seu exemplo, cheguemos à contemplação eterna da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.

São João da Cruz, rogai por nós!

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Homilética: 4º Domingo do Advento - Ano A: "A mãe do Salvador".


No Quarto Domingo do Advento entra em cena Maria. Seu Filho é o Deus conosco e já se faz presente, ainda de modo velado, mas real, no seio da Virgem, que concebeu por obra do Espírito Santo (cf. Mt 1, 18 – 24).

Ao descrever a genealogia de Jesus, Mateus demonstra que é verdadeiro homem, filho de Davi, filho de Abraão; ao narrar o Seu nascimento de Maria Virgem, que foi mãe por virtude do Espírito Santo, afirma que é verdadeiro Deus; e, finalmente, ao citar o profeta Isaias, declara que Ele é o Salvador prometido pelos profetas, o Emanuel, o Deus conosco.

Nossa Senhora fomenta na alma a alegria, porque, quando procuramos a sua intimidade, leva-nos a Cristo. Ela é Mestra de esperança. Maria proclama que a chamarão bem-aventurada todas as gerações (Lc. 1, 18).

Como o Evangelho da Infância segundo São Mateus é escrito desde a perspectiva de José – diferente de Lucas, escrito desde a perspectiva de Maria – vamos pensar hoje, na presença de Deus e à luz do texto evangélico, na figura desse grande homem, São José, no Tempo do Advento.

Uma das primeiras coisas que chama a nossa atenção na vida de José é o grande privilégio que ele teve: morar com Jesus e com Maria, cuidar deles, sustentá-los e ensinar-lhes muitas coisas. De fato, o nome “José” significa “Deus acrescentará”. E como acrescentou! Nós também pedimos a Deus que ele acrescente em nossas vidas a companhia de Jesus e de Maria, e de José. Nunca andemos sozinhos podendo estar tão bem acompanhados.

José é um homem justo (cfr. Mt 1, 19): convencido da inocência de Maria, ele sabe que não pode proceder ao rigoroso cumprimento da lei, que consistia em apedrejar os culpados (cfr. Dt 22,20ss). Maria não era culpada. Por outro lado, como proteger uma criança sob o próprio nome quando não se sabe quem é o pai? Se José fosse um legalista, não pensaria duas vezes: cumprimento da lei tal qual. Mas S. José não ficou somente na letra da Lei. Desde a sua infância meditava a Lei de Deus e a tinha gravada no coração, tinha atingido o espírito da Lei e procurava conhecer realmente a vontade de Deus em cada circunstância concreta. A justiça de José não é “justiça de José”, mas de Deus. Essa justiça está, ademais, banhada pela prudência, pela bondade e por um grande desejo de conhecer e praticar a vontade de Deus, que é bom.

Grande privilégio de S. José: é ele quem dá nome e sobrenome a Jesus. O anjo já tinha dito a José que colocasse o nome de Jesus no menino que nasceria. Além do mais, José, fazendo tudo o que o anjo lhe disse, assumiu Jesus como seu filho adotivo e lhe deu também o sobrenome real: da casa de Davi. Por causa de José, Jesus pode ser chamado também “filho de Davi” e dessa maneira se cumpriu a promessa de que viria um Messias da casa de Davi.

Faltam poucos dias para que vejamos no presépio Aquele que os profetas predisseram, que a Virgem esperou com amor de mãe, que João anunciou estar próximo e depois mostrou presente entre os homens.

Desde o presépio de Belém até o momento da sua Ascensão aos céus, Jesus Cristo proclama uma mensagem de esperança. Ele é a garantia plena de que alcançaremos os bens prometidos. Olhamos para a gruta de Belém, em vigilante espera, e compreendemos que somente com Ele poderemos aproximar-nos confiadamente de Deus Pai.

Nas festas que celebramos por ocasião do Natal, lutemos com todas as nossas forças, agora e sempre, contra o desânimo na vida espiritual, o consumismo exagerado, e a preocupação quase exclusiva pelos bens materiais. Na medida em que o mundo se cansar da sua esperança cristã, a alternativa que lhe há de restar será o materialismo, do tipo que já conhecemos; isso e nada mais. Por isso, nenhuma nova palavra terá atrativo para nós se não nos devolver à gruta de Belém, para que ali possamos humilhar o nosso orgulho, aumentar a nossa caridade e dilatar o nosso sentimento de reverência com a visão de uma pureza deslumbrante.

O Espírito do Advento consiste em boa parte em vivermos unidos à Virgem Maria neste tempo em que Ela traz Jesus em seu seio.


A devoção a Nossa Senhora é a maior garantia de que não nos faltarão os meios necessários para alcançarmos a felicidade eterna a que fomos destinados. Nestes dias que precedem o Natal e sempre, peçamos-Lhe a graça de saber permanecer, cheios de fé, à espera do seu Filho Jesus Cristo, o Messias anunciado pelos Profetas.

Aborto: uma questão religiosa?


Numa entrevista dada ao jornal "O Estado de S. Paulo" (01.12.2016), a respeito da decisão da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal que, no dia anterior, entendeu que não é crime a interrupção da gravidez até o terceiro mês de gestação, o ministro Luís Roberto Barroso falou sobre o aborto: "A decisão procura fazer com que cada pessoa possa viver a própria crença e convicção... [O Estado] deve permitir que cada um viva a própria crença... Se você utiliza um argumento religioso, você exclui do debate quem não compartilha do mesmo sentimento religioso."

Para mim, aqui está um ponto que, pela sua gravidade, merece uma reflexão: julgar  a questão do aborto como se esse tema fosse  apenas de ordem religiosa. É verdade que a Igreja Católica sempre defendeu a vida, reafirmando que a vida humana começa a existir a partir do  momento da concepção. Aliás, por que razões ela começaria a partir dos noventa dias de gestação? Por que o aborto não seria crime no - por exemplo - 87º dia de gestação e seria no 95º? O que aconteceria no 90º dia para afirmar que abortar antes não seria matar uma pessoa e abortar depois o seria?  

A Embriologia nos ensina "que o desenvolvimento do embrião é regulado por propriedades próprias, ou seja, é um crescimento contínuo, interno, coordenado e gradual. Ele é um "ser" totalmente diferente da mãe. O que a mãe oferece é apenas o ambiente adequado (útero) e os nutrientes necessários para ele se desenvolver. O embrião "está" na mãe, mas não é da mãe nem uma parte dela, assim como um recém-nascido não é da mãe" (G. Cipriani). 

“Um dia vamos agradecer à Igreja pela sua posição contra o aborto”, diz comentarista da Fox News, ao vivo


O comentarista político Charles Krauthammer fez uma declaração nada comum na televisão hoje em dia. Ao vivo no canal norte-americano Fox News, ele declarou que um dia “todos nós vamos agradecer à Igreja católica pela sua posição firme contra o aborto”.

O tema do comentário era a recente decisão do Papa Francisco de estender a todos os sacerdotes católicos a autorização para perdoar o pecado do aborto nas confissões sacramentais. Até então, a autorização precisava ser concedida a cada sacerdote pelo seu respectivo bispo. Krauthammer comentou:

Eu acho que ele fez algo maravilhoso. Tudo que o Papa está fazendo é estender essa delegação de poderes um pouco mais para baixo, como um jeito de tornar [o perdão desse pecado] mais acessível. Eu acho que isso é realmente um ato de misericórdia e mostra que não existe um ‘desejo de vingança’ da Igreja”.

E prosseguiu:

Mesmo assim, a situação continua inalterada. Eles [a Igreja] são absolutamente comprometidos com a ideia de que isto [o aborto] é uma coisa terrível e que não deve ser feito. E eu acho que, daqui a alguns anos ou décadas, as pessoas vão olhar para trás, a respeito desta questão, e vão agradecer à Igreja católica pela sua posição, que é hoje muito impopular, diante dessa onda de legalização do aborto e dessa tentativa de torná-lo tão comum quanto uma operação de apêndice. A Igreja foi a única instituição que não recuou, apesar de ser ridicularizada, apesar das zombarias e dos ataques que sofreu. Eu acho que, no fim, o nosso país vai chegar em algum ponto que não queríamos. E nós vamos agradecer à Igreja por ter reduzido os danos e impedido uma espécie de legalização radical, de recurso generalizado e radical ao aborto”.

Colégio na Espanha pede que pais celebrem “Natal sem símbolos religiosos”.


Uma iniciativa da escola Hispanidad Elche para decorar a sala de aula para o Natal semeou a controvérsia entre as famílias da comunidade educativa. O centro tem incentivado os alunos através de uma circular, fazer decorações de Natal para a sala de aula.

No entanto, na mesma carta é para pedir famílias para evitar tomar ornamentos grandes como árvores de Natal, e aqueles que contêm elementos religiosos , como as figuras dos presépios.

A intenção de remover os elementos religiosos destinados a evitar ferir sensibilidades estudantes de outras religiões não católicas.. No entanto, a medida provocou controvérsia. Neste sentido, há pais que são a favor e contra a iniciativa da escola.

O que seria um Natal sem Jesus? Sem presépio? Sem… Natal! O que se celebraria no “Natal” sem que fosse o nascimento de Jesus?

É isto o que se estão perguntando muitos pais de alunos do colégio Hispanidad de Elche, em Alicante, na Espanha.

O colégio pediu, mediante uma circular, que, para decorar o colégio este ano, os pais fizessem o “favor” de levar adornos “sem motivo religioso”. A circular “circulou” rapidamente pelas redes sociais, como não poderia deixar de ser, dado o absurdo da orientação cristofóbica. Aliás, vários pais acusaram o colégio de promover um “natal anticatólico”.

Mas a quem é que pode incomodar aquele Menino nascido num pobre estábulo de Belém? 

Papa Francisco confirma Ano Mariano e concede indulgência plenária aos fiéis


Os fiéis brasileiros poderão alcançar indulgência plenária durante o Ano Nacional Mariano. A Penitenciária Apostólica anunciou o pedido do papa Francisco para o reconhecimento do ano jubilar em curso no Brasil e a concessão da indulgência para aqueles que “verdadeiramente penitentes e impulsionados pela caridade” visitarem na forma de peregrinação a basílica do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), ou qualquer igreja paroquial do Brasil dedicada à padroeira do país.

Convocado pela Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Ano Nacional Mariano foi estabelecido como um tempo para celebrar, fazer memória e agradecer pelos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição no rio Paraíba do Sul. A iniciativa de proclamação, aprovada pela 54ª Assembleia Geral da CNBB, teve início no dia 12 de outubro de 2016 e segue até o dia 11 de outubro de 2017.

Indulgência

Para alcançar a indulgência plenária, serão necessárias as condições habituais: a confissão sacramental, a comunhão eucarística e a oração na intenção do santo padre, o papa. O documento enviado pelo Supremo Tribunal da cúria romana ressalta que a remissão será concedida “aos fiéis verdadeiramente penitentes e impulsionados pela caridade, se em forma de peregrinação visitarem a basílica de Aparecida ou qualquer Igreja paroquial do Brasil, dedicada a Nossa Senhora Aparecida”. 

No local, deverão “devotamente participar das celebrações jubilares ou de promoções espirituais ou ao menos, por um conveniente espaço de tempo, elevarem humildes preces a Deus por Maria”. A conclusão deste momento deve acontecer com a Oração Dominical, pelo Símbolo da Fé e pelas invocações da Beata Maria Virgem, em favor da fidelidade do Brasil à vocação cristã, impetrando vocações sacerdotais e religiosas e em favor da defesa da família humana”.

"A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa. O fiel bem-disposto obtém esta remissão, em determinadas condições, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui a aplica, por sua autoridade, o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos" (Paulo VI, Constituição Apostólica Indulgentarium doctrina, Normae I: AAS 59 (1967) 21). 

O esplendor da alma ilumina a graça do corpo


Tu, que vieste de entre o povo, do meio da multidão, e és agora uma das virgens, que iluminas com o esplendor da alma a graça do teu corpo – e, por isso, és uma imagem fiel da Igreja – recolhe-te no teu aposento e durante a noite pensa sempre em Cristo e espera a todo o momento a sua chegada. 

É isto que Ele deseja de ti, para isto te escolheu. Ele entrará certamente, se encontrar a porta aberta; Ele prometeu vir e não faltará à sua promessa. E quando vier, abraça Aquele a quem buscavas, aproxima-te d’Ele e serás iluminada; conserva-O junto de ti, roga-Lhe que não parta tão depressa, suplica-Lhe que não Se afaste de ti. Porque o Verbo de Deus corre velozmente: onde vê desinteresse, não Se demora; onde sente negligência, não Se detém. Concentra a tua alma para escutar a sua palavra e segue atentamente a ressonância da sua voz, porque Ele passa depressa. 

Que diz a esposa do Cântico dos Cânticos? Procurei-o e não o encontrei; chamei por ele e não me respondeu. Se partiu tão depressa Aquele a quem tu chamaste, a quem suplicaste e a quem abriste a porta, não penses que Lhe desagradaste, pois muitas vezes Ele permite que sejamos postos à prova. E que respondeu no Evangelho às multidões que Lhe pediam para não partir dali? Tenho de pregar a palavra de Deus noutras cidades, porque para isso fui enviado. Mas se te parece que se foi embora, sai tu uma vez mais e busca-O de novo. 

Quem, senão a Igreja, te ensinará o modo de conservares a Cristo contigo? Aliás, já to ensinou, se bem entendes o que lês: Mal passei pelos guardas, encontrei aquele que meu coração ama; segurei-o e não o deixarei partir. 

Com que laços se pode segurar a Cristo? Não com laços de violência, nem com cordas bem apertadas, mas com os vínculos da caridade, com as cadeias do espírito e o afecto da alma. 

Se queres conservar a Cristo contigo, busca-O incansavelmente e não temas o sacrifício. Muitas vezes Ele encontra- se mais facilmente no meio dos suplícios corporais e nas mãos dos perseguidores. 

Mal passei pelos guardas, diz o Cântico. De facto, passado um breve espaço de tempo, quando te vires livre dos perseguidores e vitoriosa sobre os poderes do mundo, Cristo virá ao teu encontro e não permitirá que se prolongue mais a tua prova. 

Aquela que assim busca a Cristo e O encontra, pode exclamar: Segurei-O e não O deixarei mais, até que O tenha introduzido na casa de minha mãe, no quarto daquela que me concebeu. Qual é a casa de tua mãe e o seu quarto senão o santuário mais íntimo do teu ser? 

Guarda bem esta casa, limpa todos os seus recantos, para que assim, purificada de toda a mancha, se levante como um templo espiritual fundado sobre a pedra angular, até se formar um sacerdócio santo e habite nela o Espírito de Deus. 

Aquela que assim busca a Cristo, aquela que assim Lhe suplica, jamais se verá abandonada por Ele; ao contrário, será visitada por Ele com frequência, porque Ele está connosco até ao fim do mundo.



Do Livro de Santo Ambrósio, bispo, sobre a virgindade
(Cap. 12, 68. 74-75; 13, 77-78: PL 16 [ed. 1845], 281. 283. 285-286) (Sec. IV)