Meditando no
Livro da Sabedoria, dei com estas palavras: “Nenhum homem pode modelar um deus
à sua semelhança: porque, sendo mortal, forja com suas mãos iníquas um morto!
De fato, ele é melhor do que aqueles aos quais cultua, porquanto pelo menos
vive, mesmo sendo mortal, ao passo que aqueles nunca viverão!” (Sb 15,16b-17).
São palavras contra a idolatria, culto aos falsos deuses e seus simulacros. No sentido bíblico mais profundo, a idolatria consiste em o homem endeusar, divinizar e idolatrar a criatura ao invés do Criador, divinizar a obra de suas mãos, como se fosse um deus que lhe pudesse dar a vida.
Nossa cultura tem
modelado tantos deuses: a tecnologia, a razão, as ciências tão avançadas, o
divertimento, o culto do corpo e do bem estar, do sucesso e da fama, o prazer
em todas as formas possíveis e imagináveis... E tem colocado em tudo isso a sua
esperança de uma vida feliz, de realizar sua existência...
Mas, é uma ilusão, uma armadilha: essas coisas não salvam, não dão o sentido, não podem servir de fundamento válido e duradouro para a existência! Elas simplesmente não são Deus; elas são vaidade, isto é, inconsistência! Aliás, como adverte o texto sagrado, o homem mortal – pó que o vento leva – não pode modelar um Deus imortal!
Tudo quanto modelam os filhos de Adão não passa de pó e não pode servir para dar sustento à nossa existência: nem a filosofia, nem a sociologia, nem a psicanálise, nem a economia, nem as ciências várias, nem a tecnologia... Tudo isto pode ter valor, mas nada disto é absoluto, nada disto é Deus! Pode, no máximo, tornar-se um ídolo miserável...
A humanidade
nunca foi tão iludida e enganada, tão superficial como nestes nossos tempos!
Como diz ainda o texto santo, este homem de agora “ignora Aquele que o plasmou,
que nele inspirou uma alma ativa e nele insuflou o espírito que faz viver.
Chega a considerar nossa vida um jogo e nossas atividades como voltadas para o
lucro; por isso diz que deve tirar proveito de tudo, até do mal” (Sb 15,11-12).