quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

São Miguel Febres


Nascido no Equador, em 1854, São Miguel Febres recebeu como nome de batismo Francisco. Nasceu com uma grave deformação física nos pés, mas seus pais amaram, acima de tudo, aquele filho do Senhor. Sua deficiência não o impediu de dar passos concretos para a vontade de Deus.

O santo entrou para a Congregação dos Lassalistas depois de conhecer a vida religiosa e, ali, foi dando frutos para o Reino de Deus. Dotado de muitos dons para lecionar e escrever, pertenceu à Academia de Letras do Equador. Prestou um grande serviço em Quito, no colégio de La Salle coordenando 1200 crianças. Em tudo buscou a vontade de Deus.

Numa pobreza interior muito grande, a infância espiritual foi o seu segredo; colocou-se no lugar do ser humano, que é o coração de Deus. Totalmente dependente d’Ele e amando o próximo, seu nome de batismo era Francisco, mas seu nome religioso era Miguel. Mais do que uma mudança de nome, uma mudança constante de vida.

Como todos os santos, conseguiu corresponder ao belo chamado do Senhor. São Miguel Febres deu o seu testemunho até o último instante. Quando, no Equador, rompeu-se a perseguição aos cristãos e um grande levante anticlerical, por obediência este santo foi para a Europa. Lá, ele pôde lecionar línguas.

Em 1910, ele partiu para a glória. Suas últimas palavras foram: “Jesus, José e Maria, eu vos dou o meu coração e a minha alma”. Palavras essas que bem representam toda uma vida entregue nas mãos de Deus.

Rezemos, pedindo a intercessão desse santo para que a nossa vida seja assim também.


Santo Irmão Miguel, amigo de crianças e jovens, curado numa aparição da Virgem Maria das pernas entrevadas, que tantos favores já obtiveste de Deus para teus devotos, alcança-me, te peço com fervor, a graça, (pedido). Por Nosso Senhor Jesus Cristo.Amém.


São Miguel Febres, rogai por nós!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Cardeal Muller dá interpretação final da Amoris Lætitia


Na semana passada foi publicada uma entrevista com o Cardeal Gerhard Muller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Além do Papa, é ele que tem autoridade para interpretar os documentos da Igreja de acordo com o Magistério, como ele próprio diz na entrevista.

Nos últimos meses surgiram entre alguns bispos dúvidas sobre a interpretação correcta da exortação apostólica Amoris Lætitia. Nesta entrevista o Cardeal Muller não disse nenhuma novidade, mas voltou a esclarecer que a única interpretação possível da Amoris Lætitia é a que está de acordo com o Catecismo da Igreja Católica.

Aqui fica parte da entrevista:
  
Pode haver alguma contradição entre a Tradição e a própria consciência?

Não, é impossível. Por exemplo, não se pode dizer que haja circunstâncias em que um adultério não constitui um pecado mortal. Para a doutrina católica é impossível a coexistência entre o pecado mortal e a graça santificante. Para superar esta absurda contradição, Cristo instituiu para os fiéis o Sacramento da Penitência e Reconciliação com Deus e com a Igreja.

Esta é uma questão que se discute muito a propósito do debate em torno da exortação pós-sinodal Amoris Lætitia.

Amoris Lætitia deve ser interpretada claramente à luz de toda a doutrina da Igreja. (...) Eu não gosto disto, não está certo que tantos bispos estejam a interpretar a Amoris Lætitia de acordo com a sua maneira de entender o ensinamento do Papa. Isto não está de acordo com a doutrina Católica. O magistério do Papa é interpretado apenas por ele ou pela Congregação para a Doutrina da Fé. O Papa interpreta os bispos, não são os bispos que interpretam o Papa, isto é uma inversão da estrutura da Igreja Católica. Eu insisto com todos os que estão a falar demais para estudarem a doutrina sobre o papado e o episcopado. O bispo, como mestre da Palavra, tem que ser primeiro bem formado para não cair no risco do cego a guiar os cegos. (...)

A exortação Familiaris Consortio de São João Paulo II estipula que os casais divorciados e recasados que não se podem separar, para receberem os sacramentos, têm que decidir viver em continência. Este requisito ainda é válido?

Claro, não é dispensável. Porque isto não é apenas uma lei positiva de João Paulo II. Ele expressou um ensinamento essencial da teologia moral Cristã e da teologia dos sacramentos. A confusão neste ponto também tem a ver com a incapacidade de aceitar a encíclica Veritatis Splendor, com a doutrina clara sobre o "intrinsece malum." (...) Para nós o matrimónio é a expressão da participação na união entre o noivo, Cristo, e a Igreja, sua noiva. Isto não é, como alguns diziam durante o Sínodo, uma analogia simples e vaga. Não! É a substância do sacramento, e nenhuma autoridade no céu ou na terra, nem um anjo, nem o Papa, nem um concílio, nem a lei dos bispos, tem o poder para mudar isso. 

Austrália: Bispos se desculpam por fracasso ante crise de abusos sexuais


Alguns dias antes da Comissão Real de Resposta Oficial dos Abusos Sexuais de Menores na Austrália começar a sua audiência final sobre a resposta da Igreja a esta crise, os bispos do país emitiram várias declarações expressando seu pesar pelas falhas ocorridas e se comprometeram a proteger os menores de idade.

“Profundamente consciente da dor causada pelo abuso, peço mais uma vez desculpas em nome da Igreja Católica”, expressou o Arcebispo de Melbourne e Presidente da Conferência Episcopal da Austrália, Dom Denis Hart, em uma carta dirigida aos fiéis em 5 de fevereiro.

“Sinto o dano causado à vida das vítimas de abuso sexual. Como disse recentemente o Papa Francisco, ‘é um pecado que nos envergonha’”, sublinhou.

De acordo com inúmeros testemunhos recolhidos, 384 sacerdotes diocesanos, 188 sacerdotes religiosos, 579 religiosos e 96 religiosas foram acusados de cometer abusos sexuais contra menores desde 1950.

Também foram realizadas denúncias contra aproximadamente 543 trabalhadores leigos da igreja e outras 72 pessoas cujo status religioso é “desconhecido”.

Entre os institutos religiosos, 40% dos membros dos Irmãos de São João de Deus na Austrália foram acusados de abuso sexual infantil. Assim como mais de 20% dos Irmãos Cristãos, Salesianos e Irmãos Maristas.

O Arcebispo emitiu a declaração enquanto a Comissão Real Oficial dos Abusos Sexuais de Menores começava a revisão final – de três semanas de duração – sobre como a Igreja Católica na Austrália havia respondido às acusações.

A comissão foi estabelecida em 2013 e investiga o controle das denúncias de abuso sexual infantil dos grupos religiosos, escolas, organizações governamentais e associações esportivas. 

Em seu comunicado, o Arcebispo Hart assinalou que durante a próxima audiência muitos bispos do país e líderes católicos darão seus testemunhos, explicando o que a Igreja fez até agora para mudar a “antiga cultura” que permitiu que o abuso continuasse durante tanto tempo, assim como o que está sendo feito atualmente para proteger as crianças. 

Papa: "A esperança é fonte de conforto recíproco".


PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Não se aprende, sozinho, a esperar. Não é possível. A esperança, para se alimentar, precisa dum «corpo», no qual os vários membros se apoiem e animem mutuamente. Isto significa que esperamos, porque muitos irmãos e irmãs nos ensinaram a esperar e mantiveram viva a nossa esperança. A morada natural da esperança é um «corpo» solidário; no caso da esperança cristã, este corpo é a Igreja. Nela, os primeiros chamados a alimentar a esperança são aqueles a quem está confiado o cuidado e a orientação pastoral; e não por serem melhores do que os outros, mas em virtude dum ministério divino, que supera de longe as suas próprias forças. Por isso têm tanta necessidade do apoio orante, do respeito e compreensão de todos. Depois dos responsáveis, o apóstolo Paulo pede a nossa atenção aos irmãos e irmãs cuja esperança corre maior risco de apagar-se: os desanimados, os frágeis, os oprimidos pelo peso da vida e das próprias culpas que estão sem forças para se levantar. Nestes casos, a proximidade solidária da Igreja deve fazer-se ainda mais intensa e amorosa, sob as formas de compaixão, conforto e consolação. Como escreve Paulo aos Romanos, «nós, os fortes, temos o dever de carregar com as fraquezas dos que são frágeis e não procurar aquilo que nos agrada». Este dever não está circunscrito aos membros da comunidade eclesial, mas estende-se a todo o contexto civil e social como apelo a não criar muros mas pontes, a não pagar o mal com o mal mas vencer o mal com o bem, a ofensa com o perdão, a viver em paz com todos. Esta é a Igreja; e isto é o que realiza a esperança cristã, quando assume os lineamentos fortes e, ao mesmo tempo, ternos do amor. Ora o sopro vital, a alma desta esperança é o Espírito Santo; é Ele a moldar as nossas comunidades, num Pentecostes perene, como sinais vivos de esperança para a família humana. 

Alemanha: Bispos 'autorizam' distribuição da Eucaristia a divorciados em segunda união.


Na Alemanha, os católicos, depois de uma separação e de um casamento posterior, não estão mais, em princípio, excluídos da comunhão. A decisão é da Conferência Episcopal Alemã, que chegou a essa conclusão a partir da exortação apostólica Amoris laetitia, do ano passado.

Nesse documento, o Papa Francisco ressaltou a importância da decisão em consciência, comunicaram os bispos na quarta-feira em Bonn. Assim, em casos individuais, a decisão de se aproximar da Eucaristia deve ser respeitada. O processo de decisão deve ser acompanhado por um diretor espiritual.

Não se trataria, portanto, de uma liberalização geral, enfatizaram os bispos: “Nem todos os fiéis cujo matrimônio fracassou e que estão separados e se casaram de novo podem receber os sacramentos indiscriminadamente”.

Até agora, os divorciados que contraíram um novo matrimônio não podem receber a comunhão, porque, segundo a doutrina católica, vivem em estado de culpa grave. Durante um ano inteiro, os bispos católicos alemães tentaram chegar a uma declaração pastoral comum, para poderem implementar as indicações do documento do papa em todas as dioceses.

Alguns bispos conservadores alertavam contra uma liberalização dos sacramentos, o que colocaria em discussão a indissolubilidade do matrimônio. Os cardeais alemães Joachim Meisner e Walter Brandmüller, por isso, se opuseram à linha proposta pelo papa. Junto com outros dois cardeais, um italiano e um estadunidense, pediram a Francisco, no ano passado, um esclarecimento sobre alguns pontos ambíguos, na opinião deles. 

Somos herdeiros de Deus e herdeiros com Cristo


Como diz o Apóstolo, aquele que pelo Espírito faz morrer as obras da carne viverá. E não é para estranhar que viva, pois quem tem o Espírito de Deus torna-se filho de Deus. Como filho de Deus, não recebe o espírito de escravidão mas o espírito de adoção filial, e é o Espírito Santo que dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. Este testemunho é do Espírito Santo, pois é Ele que clama em nossos corações: Abá, Pai, como vem escrito na Epístola aos Gálatas. Verdadeiramente grande é também o testemunho de que somos filhos de Deus, porque somos herdeiros de Deus e herdeiros com Cristo. É herdeiro com Cristo aquele que participa da sua glória; mas só participa da sua glória aquele que toma parte na sua paixão, sofrendo com Ele.

Para nos animar a tomar parte na paixão de Cristo, acrescenta que todos os nossos sofrimentos são inferiores e desproporcionados à recompensa dos bens futuros que havemos de receber pelas nossas fadigas, quando, renovada plenamente em nós a imagem de Deus, merecermos contemplar a sua glória face a face.

Para exaltar a magnificência da revelação futura, acrescenta ainda que toda a criação – agora submetida à caducidade deste mundo, não por sua vontade, mas na esperança de ser libertada – aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus; e espera de Cristo a graça de ser ajudada a cumprir a sua função, até ser também ela liberta da corrupção e admitida a tomar parte na liberdade gloriosa dos filhos de Deus, de modo que, ao revelar-se esta glória, seja uma e a mesma liberdade, a das criaturas e a dos filhos de Deus. Entretanto, enquanto esta manifestação é adiada, toda a criação geme na expectativa da glória da nossa adoção e redenção, e sofre as dores da maternidade, ansiosa por dar à luz aquele espírito de salvação e ser libertada da escravidão da caducidade presente.

No seu sentido imediato, isto quer dizer que os que têm as primícias do Espírito gemem na expectativa da adoção filial, que é a redenção de todo o homem. Esta adoção filial terá a sua realização perfeita quando todo aquele que tem as primícias do Espírito, como filho adotivo de Deus, chegar a ver finalmente face a face o bem divino e eterno. De fato, a Igreja do Senhor possui desde já a adoção filial, por meio do Espírito que nela clama: Abá, Pai, como se pode ler na Epístola aos Gálatas. Mas só será perfeita quando ressuscitarem para a vida incorruptível e gloriosa todos aqueles que mereceram ver a face de Deus; então sim, a natureza humana terá alcançado a verdadeira e plena redenção. Por isso afirma o Apóstolo, cheio de confiança: Fomos salvos na esperança. De facto, a esperança também nos salva, como a fé, da qual se disse: A tua fé te salvou.


Das Cartas de Santo Ambrósio, bispo

(Ep. 35, 4-6, 13: PL 16 [ed. 1845], 1078-1079.1081) (Sec. IV)

Cristo subiu aos Céus está sentado à direita de Deus Pai Todo Poderoso


Depois de se afirmar a Ressurreição de Cristo, convém crer na sua Ascensão, pois Ele subiu para o céu após quarenta dias de ressuscitado. Eis porque se diz no Credo: “Subiu aos céus”.

Devemos considerar as três características principais deste acontecimentos, isto é, que ele foi sublime, racional e útil.

Foi sublime, porque Ele subiu para os céus. Explica-se isto por três maneiras:

Primeiro, porque Ele subiu acima de todos os céus corpóreos1, conforme se lê em São Paulo: “Subiu acima de todos os céus” (Ef 4, 10).

Tal ascensão foi realizada pela primeira vez por Cristo, porque até então o corpo terreno estivera somente na terra, sendo o paraíso, onde esteve Adão, situado também na terra.

Segundo, porque subiu sobre todos os céus espirituais, isto é, acima das naturezas espirituais, como se lê também em São Paulo: “Colocando (o Pai) Jesus à sua direita nos céus, sobre todo Principado, Potestade, Virtude, Dominação e acima de todo nome que se pronuncia não só neste século, mas também nos futuros, e tudo colocou sob os seus pés” (Ef 1, 20).

Terceiro, porque subiu até ao trono do Pai. Lê-se nas Escrituras: “Eis que vinha sobre as nuvens do céu como o Filho de Homem; Ele dirigiu-se para o Ancião, e foi conduzido à sua presença” (Dn 7, 13). Lê-se também em São Marcos: “E o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado subiu ao céu, e sentou-se à direita de Deus” (Mc 16, 19).

A expressão direita de Deus não deve ser entendida no sentido corporal, mas em sentido metafórico. Enquanto Deus, diz-se que Cristo está sentado à direita de Deus, porque é igual ao Pai; enquanto homem, diz-se que Cristo está sentado à direita do Pai, porque goza dos melhores bens. O diabo aspirou também semelhante elevação, como se lê em Isaías: “Subirei ao céu, acima dos astros de Deus colocarei o meu trono; sentar-me-ei no Monte da Promessa, que está do lado do Aquilão; subirei acima da elevação das nuvens, serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14, 13) 2.

Mas a semelhante altura não se elevou senão Cristo, razão pela qual se diz no Credo: “Subiu aos céus está sentado à direita do Pai”, o que é confirmado no Livro dos Salmos: “Disse o Senhor ao meu Senhor, senta-te a minha direita” (Sl 109, 1).


A Ascensão de Cristo foi racional por três motivos3. 

Primeiro, porque o céu era devido a Cristo por exigência da sua natureza. É, com efeito, natural que cada coisa retorne à sua origem. Cristo tem sua origem em Deus, que está acima de todas as coisas, conforme Ele mesmo disse: “Saí do Pai, e vim ao mundo; deixo agora o mundo e voto para o Pai” (Jo 16, 18).

Disse também: “ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem que está no céu” (Jo 3, 13).

Apesar de os Santos irem para o céu, todavia não o fazem como Cristo: porque Cristo o fez por seu próprio poder; os santos, porém, levados por Cristo. Lê-se no Livro dos Cânticos: “Leva-me na Vossa seqüência” (Ct 1, 3).

Pode-se explicar de outra maneira porque se diz que ninguém subiu ao céu a não ser Cristo: os santos não sobem senão enquanto membros de Cristo, que é a cabeça da Igreja, conforme está escrito em São Mateus: “Onde estiver o corpo, aí as águias se congregarão” (Mt 24, 28)4.

Em segundo lugar, a Ascensão de Cristo foi racional devido à sua vitória. Sabemos que Cristo veio ao mundo para lutar contra o diabo, e o venceu. Por isso mereceu ser exaltado sobre todas as coisas. Confirma-o o Apóstolo: “Eu venci, e sentei-me com o Pai no seu trono” (Ap 3, 21).

A Ascensão de Cristo foi racional, em terceiro lugar por causa da humildade de Cristo, que, sendo Deus, quis fazer-se homem; sendo Senhor, quis suportar a condição de escravo, fazendo-se obediente até à morte, segundo se lê na Carta aos Filipenses, (2, 1), descendo ainda até o inferno. Por isso mereceu ser exaltado até ao céu e sentar-se à direita de Deus. A humildade é, com efeito, o caminho da exaltação, como se lê em São Lucas: “Quem se humilha, será exaltado” (Lc 14, 11). Escreveu também São Paulo: “O que desceu do céu, este é o que subiu acima de todos os céus” (Ef 4, 10). 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2017: "A Palavra é um dom. O outro é um dom".


MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
PARA A QUARESMA DE 2017

A Palavra é um dom. O outro é um dom

Amados irmãos e irmãs!

A Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor. Jesus é o amigo fiel que nunca nos abandona, pois, mesmo quando pecamos, espera pacientemente pelo nosso regresso a Ele e, com esta espera, manifesta a sua vontade de perdão (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).

A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola. Na base de tudo isto, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). Deixemo-nos inspirar por esta página tão significativa, que nos dá a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão.

1. O outro é um dom

A parábola inicia com a apresentação dos dois personagens principais, mas quem aparece descrito de forma mais detalhada é o pobre: encontra-se numa condição desesperada e sem forças para se solevar, jaz à porta do rico na esperança de comer as migalhas que caem da mesa dele, tem o corpo coberto de chagas, que os cães vêm lamber (cf. vv. 20-21). Enfim, o quadro é sombrio, com o homem degradado e humilhado.

A cena revela-se ainda mais dramática, quando se considera que o pobre se chama Lázaro, um nome muito promissor pois significa, literalmente, «Deus ajuda». Não se trata duma pessoa anônima; antes, tem traços muito concretos e aparece como um indivíduo a quem podemos atribuir uma história pessoal. Enquanto Lázaro é como que invisível para o rico, aos nossos olhos aparece como um ser conhecido e quase de família, torna-se um rosto; e, como tal, é um dom, uma riqueza inestimável, um ser querido, amado, recordado por Deus, apesar da sua condição concreta ser a duma escória humana (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).

Lázaro ensina-nos que o outro é um dom. A justa relação com as pessoas consiste em reconhecer, com gratidão, o seu valor. O próprio pobre à porta do rico não é um empecilho fastidioso, mas um apelo a converter-se e mudar de vida. O primeiro convite que nos faz esta parábola é o de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido. A Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós encontra-o no próprio caminho. Cada vida que se cruza conosco é um dom e merece aceitação, respeito, amor. A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil. Mas, para se poder fazer isto, é necessário tomar a sério também aquilo que o Evangelho nos revela a propósito do homem rico.