Alguns
dias antes da Comissão Real de Resposta Oficial dos Abusos Sexuais de Menores
na Austrália começar a sua audiência final sobre a resposta da Igreja a esta crise, os bispos do país emitiram várias declarações
expressando seu pesar pelas falhas ocorridas e se comprometeram a proteger os
menores de idade.
“Profundamente consciente da dor causada pelo abuso, peço mais
uma vez desculpas em nome da Igreja Católica”, expressou o Arcebispo de
Melbourne e Presidente da Conferência Episcopal da Austrália, Dom Denis Hart,
em uma carta dirigida aos fiéis em 5 de fevereiro.
“Sinto o dano causado à vida das vítimas de abuso sexual. Como
disse recentemente o Papa Francisco, ‘é um pecado que nos envergonha’”,
sublinhou.
De
acordo com inúmeros testemunhos recolhidos, 384 sacerdotes diocesanos, 188
sacerdotes religiosos, 579 religiosos e 96 religiosas foram acusados de
cometer abusos sexuais contra menores desde 1950.
Também
foram realizadas denúncias contra aproximadamente 543 trabalhadores leigos da
igreja e outras 72 pessoas cujo status religioso é “desconhecido”.
Entre
os institutos religiosos, 40% dos membros dos Irmãos de São João de Deus na
Austrália foram acusados de abuso sexual infantil. Assim como mais de 20% dos
Irmãos Cristãos, Salesianos e Irmãos Maristas.
O
Arcebispo emitiu a declaração enquanto a Comissão Real Oficial dos Abusos
Sexuais de Menores começava a revisão final – de três semanas de duração –
sobre como a Igreja Católica na Austrália havia respondido às acusações.
A
comissão foi estabelecida em 2013 e investiga o controle das denúncias de abuso
sexual infantil dos grupos religiosos, escolas, organizações governamentais e
associações esportivas.
Em
seu comunicado, o Arcebispo Hart assinalou que durante a próxima audiência
muitos bispos do país e líderes católicos darão seus testemunhos, explicando o
que a Igreja fez até agora para mudar a “antiga cultura” que permitiu que o
abuso continuasse durante tanto tempo, assim como o que está sendo feito
atualmente para proteger as crianças.
Referindo-se
novamente a uma declaração realizada pelo Papa Francisco, o Arcebispo exortou
toda a Igreja a “encontrar a coragem necessária para tomar todas as medidas a
fim de proteger de todas as maneiras a vida dos nossos filhos, para que tais
crimes nunca se repitam”.
Em
uma mensagem semelhante, o Arcebispo de Sydney, Dom Anthony Fisher, disse que
pessoalmente se sente “estremecido e humilhado” pelo que a Comissão Real
descobriu.
“A
Igreja lamenta e eu lamentos pelos fracassos anteriores que causaram danos a
muitas pessoas. Sei que muitos dos nossos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos
sentem a mesma coisa: como católicos, abaixamos as nossas cabeças com
vergonha”, disse.
Dom Fisher afirmou que até agora os resultados foram
“devastadores” e explicou que a comissão ouviu os “casos angustiantes e
vergonhosos” de abusos sexuais relatados pelos “valentes sobreviventes” dos
anos cinquenta.
Em março de 2015, o Prefeito da Secretaria de Economia da Santa
Sé e ex-Arcebispo de Sydney, Cardeal George Pell, testemunhou ante a comissão,
pela terceira vez, depois que as acusações ressurgiram em 2014. Eles diziam que
o Purpurado havia transferido o pedófilo Pe. Gerald Ridsdale, subornando uma
vítima e não agindo ante as reclamações de outra.
Apesar de ter declarado duas vezes ante a comissão pelas mesmas
acusações e não ter sido declarado culpado, o Cardeal Pell ofereceu de maneira
voluntária depor novamente.
No dia 7 de fevereiro, a Comissão Real retomou a audiência
pública sobre as políticas e procedimentos atuais que a Igreja na Austrália
providenciou a respeito das regras de proteção e segurança infantil, incluindo
como responder a denúncias de abuso sexual.
“Reconhecemos a nossa responsabilidade de garantir que todas as
medidas estejam em seu lugar a fim de evitar que isso aconteça novamente.
Também reconhecemos que há vítimas de maus-tratos que ainda não se apresentaram
e talvez nunca se apresentem”, disse Dom Fisher, assinalando que até então
foram apresentadas reclamações contra 7% dos sacerdotes que trabalham nas três
dioceses de Sydney desde 1950.
Entretanto, “enfrentando como deve ser, continuo determinado a
fazer tudo o que for possível para ajudar aqueles que foram prejudicados pela
Igreja e trabalhar para uma cultura mais transparente, responsável e segura
para todas as crianças”.
Finalmente, Dom Fisher solicitou que qualquer pessoa que tenha
sido abusada entre em contato com a polícia e pediu orações “para que todos os
envolvidos nesta audiência tenham sabedoria e compaixão”.
“Acima de tudo, rezem pelos sobreviventes e pelas suas famílias
neste momento tão difícil”, concluiu.
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ACI Digital
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