Amor a quem? Aos inimigos? Sim. Aos que nos odeiam e aos que nos maltratam, aos que nos perseguem e aos que falam mal de nós, nem excluímos os que difamam a Igreja e os que injuriam os ministros de Deus. Também os insensatos que afirmam disparates contra a fé e os bons costumes tentando corromper a família, a juventude e as crianças, devem ser objetos do nosso amor que perdoa. Enfim, todos os que nos consideram inimigos – nós, ao contrário, não somos inimigos de ninguém – se sintam amados e perdoados por nós. O amor de Cristo não conhece fronteiras e nós, seus discípulos, também devemos desconhecê-las.
Cristo não pregou essa doutrina somente com a palavra, mas também com o exemplo. Do alto da cruz, depois de crucificado por aqueles deicidas, ou seja, por todos os pecadores, pronuncia aquelas palavras que continuam nos comovendo profundamente: “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Faz dois mil anos que essas palavras ressoam aos ouvidos do Pai que, em atenção a essa súplica do seu Filho, ao qual não fizeram justiça, continua perdoando e nos levando ao Paraíso.
Cristo não pregou essa doutrina somente com a palavra, mas também com o exemplo. Do alto da cruz, depois de crucificado por aqueles deicidas, ou seja, por todos os pecadores, pronuncia aquelas palavras que continuam nos comovendo profundamente: “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Faz dois mil anos que essas palavras ressoam aos ouvidos do Pai que, em atenção a essa súplica do seu Filho, ao qual não fizeram justiça, continua perdoando e nos levando ao Paraíso.
A primeira leitura nos ensina a
amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. O amor a Deus
e o amor ao próximo estão interligados. A prática desses amores leva-nos a
imitar Deus: ser santos como Deus é santo!
Na segunda leitura, Paulo sustenta
que a comunidade cristã é templo de Deus. E, como templo de Deus, todos os seus
membros devem abraçar a sabedoria da cruz. A cruz revela quão gratuito é o amor
de Deus! Revela também a força de Deus: a desmedida do seu amor! Sua sabedoria
consiste numa vida doada, inteiramente gratuita. A cruz indica qual deve ser a
vida do cristão. Quem se deixa conduzir por sua sabedoria possui já, aqui e
agora, a vida eterna!
O Evangelho faz uma referência à chamada “lei de talião” (vv. 38-42), consagrada na conhecida fórmula “olho por olho, dente por dente” e que aparece em vários textos do Antigo Testamento (cf. Ex 21,24; Lv 24,20; Dt 19,21). Trata-se de uma expressão que se tornou proverbial, e que descreve a falta de compaixão, a recusa de usar a clemência em relação ao culpado. Essa lei tinha sido imposta para defender o réu das vinganças sem limites, das represálias brutais, dos excessos nas punições. Nos tempos antigos, quem conseguisse capturar o responsável por alguma maldade cometida, podia submetê-lo a punições severas, visando a dissuadi-lo, como também dissuadir os demais, a não cometer erros semelhantes. A pessoa teria que pagar não só pelo seu crime, mas também por todos os outros crimes cujos responsáveis não tinham sido descobertos.
Esta vingança era um método antiquado e desumano de praticar a justiça, mas servia para manter a ordem naquela sociedade. Neste contexto social, foi introduzida esta nova norma: “Olho por olho, dente por dente”, alicerçada sob a ideia da recusa do perdão, baseada em uma justiça exigente de igualdade, que acaba fazendo surgir, pela sua própria dureza, um convívio atroz.
Esta vingança era um método antiquado e desumano de praticar a justiça, mas servia para manter a ordem naquela sociedade. Neste contexto social, foi introduzida esta nova norma: “Olho por olho, dente por dente”, alicerçada sob a ideia da recusa do perdão, baseada em uma justiça exigente de igualdade, que acaba fazendo surgir, pela sua própria dureza, um convívio atroz.
Contudo, Jesus propõe algo novo, pois, na sua perspectiva, é preciso
interromper o curso da violência e, para isso, propõe aos seus discípulos a não
resposta às eventuais provocações e a não retribuir o outro com o mal, mas com
o bem. O Senhor nos adverte não só a
receber com paciência os golpes que nos ferem, mas a apresentar com humildade a
outra face. A finalidade da lei era ensinar a não fazer ao outro aquilo que não
queremos que nos façam. Por isto, somos chamados a amputar as nossas más ações.
Com o objetivo de tornar mais clara a sua proposta, Jesus apresenta
alguns casos concretos. Inicialmente, pede para não responder com a mesma moeda
àquele que nos agride fisicamente, mas que se desarme o violento, oferecendo a
outra face (v. 39); em seguida, Jesus recomenda que, diante de uma exigência
exorbitante, como a entrega da túnica, isto é, da peça de roupa mais
fundamental, que não era tirada senão àquele que era vendido como escravo (cf.
Gn 37,23), se responda entregando ainda mais (v. 40).
Não olhemos as pessoas desde cima, como se fossem inferiores a nós, ainda que nos considerem inimigos. A caridade exige justamente o contrário: colocar-nos ao serviço deles, ver os aspectos positivos dos demais, fomentar as qualidades que o outro tem e entrar – de certa maneira – no universo dele para procurar compreendê-lo. E, dessa maneira, desde a visão do outro, ainda que errônea, procurar encaminhar tudo para o bem, para Deus.
Toda a reinterpretação que Jesus
apresenta no capítulo quinto do Evangelho de Mateus bem como o programa de vida
do discípulo, exposto nas bem-aventuranças, culminam no último versículo desse
capítulo: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”. Ser santos (Lv
19,2), ser misericordiosos como ele (Lc 6,36) e ser perfeitos como o Pai (Mt
5,48) se equivalem! Ser santo, misericordioso e perfeito consiste em amar
gratuitamente!