quarta-feira, 24 de maio de 2017

Homilética: Solenidade da Ascensão do Senhor - Ano A: "A exaltação, o senhorio de Cristo e a evangelização".


Quarenta dias depois da Páscoa, a Igreja celebra a Ascensão do Senhor. Na realidade, o que se celebra hoje é bem mais do que uma aparição na qual Jesus é elevado ao céu. É toda a realidade de sua glorificação que celebramos, aquilo que os primeiros cristãos chamaram de “estar sentado à direita do Pai”. Assim, a última aparição de Jesus aos apóstolos aponta para uma realidade que ultrapassa o quadro da narração. Por isso, não precisamos preocupar-nos em “harmonizar” a ascensão segundo At 1,1-11, em Jerusalém (I leitura), com a de Mt 28,16-20, na Galileia (evangelho). Pode tratar-se de duas aparições, dois acontecimentos diferentes, que têm o mesmo sentido: Jesus, depois de sua ressurreição, não veio retomar sua atividade de antes na terra (cf. sua advertência a Maria Madalena em Jo 20,17) nem implantar um reino político de Deus no mundo, como muitos achavam que ele deveria ter feito (cf. At 1,6). Não. Jesus realiza-se agora em outra dimensão, a dimensão de sua glória, de seu senhorio transcendente. A atividade aqui na terra, ele a deixa a nós (“Sede as minhas testemunhas… até os confins da terra” [At 1,8]), e nós é que devemos reinventá-la a cada momento. Na ressurreição, Jesus volta a nós, não mais “carnal”, mas em condição gloriosa, para nos animar com seu Espírito (At 1,8; Mt 16,20; cf. Jo 14,15-20, evangelho do domingo passado).

Os donos deste mundo haviam jogado Jesus lá embaixo (se não fosse José de Arimateia a sepultá-lo, seu corpo teria terminado na vala comum…). Mas Deus o colocou lá em cima, “à sua direita”, deu-lhe o “poder” sobre o universo não só como “Filho do homem”, no fim dos tempos (cf. Mc 14,62), mas, desde já, por meio da missão universal daqueles que na fé aderem a ele e nós participamos desse poder, pois Cristo não é completo sem o seu “corpo”, que é a Igreja, como nos ensina a II leitura.

O livro dos Atos dos Apóstolos narra que Jesus, depois da sua Ressurreição, apareceu aos discípulos durante quarenta dias e depois “elevou – se à vista deles” ( At 1, 9). O significado deste último gesto de Cristo é duplo. Em primeiro lugar, “elevando – se”, Ele revela de modo inequívoco a sua divindade; volta para lá, de onde veio, isto é, para Deus, depois de ter cumprido a sua Missão na Terra. Além disso Cristo sobe ao Céu com a humanidade que assumiu e que ressuscitou dos mortos: aquela humanidade é a nossa, transfigurada, divinizada, que se tornou eterna. Portanto, a Ascensão revela a “altíssima vocação” ( Gaudium et Spes, 22) de cada pessoa humana: ela está chamada à vida eterna no Reino de Deus, Reino de amor, de luz e de paz.

Com a ascensão de Jesus, começa o tempo para anunciá-lo como Senhor de todos os povos. Mas não um senhor ditador! Seu “poder” não é o dos que se apresentam como donos do mundo. Jesus é o Senhor que se tornou servo e deseja que todos, como discípulos, o imitem nisso: mandou que os apóstolos fizessem de todos os povos discípulos seus (evangelho). Nessa missão, ele está sempre conosco, até o fim dos tempos.

O testemunho cristão, que Jesus nos encomenda, não é triunfalista. É fruto da serena convicção de que, apesar de sua rejeição e morte infame, “Jesus estava certo”. Essa convicção se reflete em nossas atitudes e ações, especialmente na caridade. Assim, na serenidade de nossa fé e na vivência radical da caridade, damos um testemunho implícito. Mas é indispensável o testemunho explícito, para orientar o mundo àquele que é a fonte de nossa prática, o “Senhor” Jesus.

A ideia do testemunho levou a Igreja a fazer da festa da Ascensão o dia dos meios de comunicação social – a “mídia”: imprensa, rádio, televisão, internet. Para uma espiritualidade “ativa”, a comunidade eclesial deve se tornar presente na mídia.

Ao mesmo tempo, para a espiritualidade mais “contemplativa”, o dia de hoje enseja um aprofundamento da consciência do “senhorio” de Cristo. Deus elevou Jesus acima de todas as criaturas, mostrando que ele venceu o mal mediante sua morte por amor e dando-lhe o poder universal sobre a humanidade e a história. Por isso, a Igreja recebe a missão de fazer de todas as pessoas discípulos de Jesus.

Uma ideia que permeia a liturgia deste dia (como de todo o tempo pascal) e se exprime na oração sobre as oferendas e na oração depois da comunhão é que o cristão deve viver com a mente no céu, comungando na realidade da glorificação do Cristo. Essa participação é novo modo de presença junto ao mundo; não uma alienação, mas, antes, o exercício do senhorio escatológico sobre este mundo. Viver com a mente junto ao Senhor glorioso não nos dispensa de estar com os dois pés no chão; significa encarnar, neste chão, aquele sentido da história e da existência que em Cristo foi coroado de glória.

Nessa semana, que precede a Solenidade de Pentecostes, fiquemos unidos em oração, como disse Jesus: “Permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 24,48). Assim a vida da Igreja não começa com a ação, mas com a oração, junto com Maria, a Mãe de Jesus.

A festa de hoje nos fortalece a esperança pelo destino que nos aguarda, mas também nos lembra que a nossa missão hoje é continuar o projeto de Jesus, Não fiquemos de braços cruzados, parados, olhando para o Céu! É hora de olhar ao nosso redor e começar a Missão!

“Esse Jesus que vos foi levado para o Céu, virá do mesmo modo como O vistes partir para o Céu” ( At 1,11 ).

Ascensão! Pensar no Céu dá uma grande serenidade. Nada aqui na terra é irreparável, nada é definitivo, todos os erros podem ser retificados. O único fracasso definitivo seria não acertarmos com a porta que conduz à Vida. Ali nos espera também a Santíssima Virgem. 

​Na audiência geral Papa indica a missão da Igreja no encontro de Emaús.


CATEQUESE
Praça de São Pedro, no Vaticano
Quarta-feira, 24 de maio de 2017

A Esperança cristã –
Emaús, o caminho da Esperança

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de me deter sobre a experiência dos dois discípulos de Emaús, dos quais fala o Evangelho de Lucas (cfr. 24,13-35). Imaginemos a cena: dois homens caminham decepcionados, tristes, convencidos a deixar pra traz a amargura de uma situação que não acabou bem.

Antes daquela Páscoa eram cheios de entusiasmo: convencidos de que aqueles dias seriam decisivos para aquilo que aguardavam e para a esperança de todo o povo. Jesus, a quem tinham confiado a sua vida, parecia ter chegado a batalha decisiva: agora teria mostrado a sua potência, após um longo período de preparação e escondimento. Era isso o que eles esperavam. E não foi assim.

Os dois peregrinos cultivavam uma esperança somente humana, que agora estava em pedaços. Aquela cruz erguida no Calvário era o sinal mais eloquente de um fracasso que não poderiam prever. Se verdadeiramente aquele Jesus era segundo o coração de Deus, deveriam concluir que Deus era inerme, indefeso nas mãos dos violentos, incapaz de opor resistência ao mal.

Assim, naquela manhã de domingo, estes dois foram à Jerusalém. Nos olhos têm ainda os acontecimentos da paixão, a morte de Jesus; e no ânimo o penoso angustiar-se sobre aqueles acontecimentos, durante o forçado repouso de sábado. Aquela festa de Páscoa, que deveria entoar o canto da libertação, ao invés de disso transformou-se no dia mais doloroso da vida deles.

Deixam Jerusalém para ir para outro lugar, um vilarejo tranquilo. Têm o aspecto de pessoas que querem remover uma recordação que queima. Estão, portanto, na estrada, e caminham tristes. Este cenário – a estrada – já era importante na narração evangélica; agora se tornará sempre mais importante, do momento em que se começa a contar a história da Igreja. 

O encontro de Jesus com os dois discípulos parece simplesmente coincidência: se assemelha a tantos encontros que acontecem na vida. Os dois discípulos caminham pensativos e um desconhecido os alcança. É Jesus; mas os olhos deles não são capazes de reconhecê-Lo. Então Jesus começa a sua “terapia da esperança”. O que acontece nessa estrada é uma terapia da esperança. Quem a faz? Jesus.

Antes de tudo, pergunta e escuta: o nosso Deus não é um Deus invasivo. Mesmo se já conhece o motivo da desilusão daqueles dois, deixa a eles o tempo para poder medir a profundidade da própria amargura. Então surge uma confissão que é um “refrão” da existência humana: “Nós esperávamos, mas… Nós esperávamos, mas…” (v. 21). Quanta tristeza, quanta derrota, quantos fracassos existem na vida de cada pessoa! No fundo somos todos um pouco como aqueles dois discípulos.

Quantas vezes na vida esperamos, quantas vezes nos sentimos a um passo da felicidade, e depois nos vemos desiludidos. Mas Jesus caminha com todas as pessoas que perderam a confiança que caminham com a cabeça baixa. E caminhando com eles, de modo discreto, consegue fazer retornar a esperança.

Jesus fala a eles, antes de tudo, através das Escrituras. Quem toma nas mãos o livro de Deus não encontrará histórias de heroísmo fácil, grandes campanhas de conquista. A verdadeira esperança não é nunca a pouco preço: passa sempre através das derrotas. A esperança de quem não sofre, talvez não seja nem mesmo esperança. A Deus não agrada ser amado como se amaria um condutor que leva a vitória o seu povo destruindo no sangue os seus adversários. O nosso Deus é uma luz discreta que arde no dia de frio e de vento, e mesmo que pareça frágil a sua presença neste mundo, Ele escolheu o lugar que todos desdenhamos.

Depois Jesus repete aos dois discípulos o gesto central de cada Eucaristia: toma o pão, o abençoa, o parte e o dá. Nesta série de gestos, não está contida toda a história de Jesus? E não há, em cada Eucaristia, também um sinal de que coisa deve ser a Igreja? Jesus nos toma, nos abençoa, “parte” a nossa vida – porque não há amor sem sacrifício – e oferece aos outros, a oferece a todos. 

Desde o Vaticano II a liturgia vive uma “crise profunda”, diz Cardeal Sarah.


A liturgia da Igreja foi afetada por uma “grave e profunda crise” desde o Concílio Vaticano II, disse o cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

“É preciso reconhecer que a grave e profunda crise que atingiu a liturgia e a própria Igreja desde o Concílio se deve ao fato de que seu centro não é mais Deus e a adoração a Ele, mas sim os homens e sua suposta capacidade de “fazer” algo para manter-se ocupado durante as celebrações eucarísticas.”

O Cardeal fez estas declarações em um colóquio na Alemanha para comemorar o 10° aniversário do motu próprio do Papa Emérito Bento XVI, Summorum Pontificum, que permitiu um maior uso do que agora é chamado de Forma Extraordinária da Missa (Missa Tridentina).

Cardeal Sarah disse que não pensava que a extensão deste problema fosse reconhecida na Igreja:

“Ainda hoje, um número significativo de líderes da Igreja subestimam a grave crise que atravessa a Igreja: o relativismo no ensino doutrinário, moral e disciplinar, graves abusos, a dessacralização e banalização da Sagrada Liturgia e uma visão meramente social e horizontal da Missão da Igreja.” 

terça-feira, 23 de maio de 2017

O que a Igreja nos orienta em caso de guerra?


“Mais que um dom de Deus para o homem e um projeto humano conforme o desígnio divino, a paz é primeiramente um atributo essencial de Deus: “Iahweh-shalom” (Senhor-paz).” (Jz 6, 24) 

A Paz é um atributo essencial de Deus, assim nos ensina as Sagradas Escrituras, ela não é uma ausência de guerra, não pode ser uma construção humana, porque é um sumo dom divino oferecido a todos os homens, comporta o efeito da bênção de Deus sobre o seu povo.

Mas o que devemos fazer se a Paz for ameaçada e vidas estiverem em perigo?
A Igreja ensina que os governantes devem esgotar todos os recursos de negociações pacíficas, no entanto, não tendo alcançado a concórdia, não se pode negar aos governos o direito da legítima defesa.

Entretanto, a Igreja pede um rigor as estritas condições duma legítima defesa pela força das armas. Essa é uma escolha muito difícil e de uma grande gravidade, por isso a Igreja orienta que antes de uma nação escolher a legítima defesa armada, submeta-se a condições rigorosas de legitimidade moral:

– que o prejuízo causado pelo agressor à nação ou comunidade de nações seja duradouro, grave e certo;

– que todos os outros meios de lhe pôr fim se tenham revelado impraticáveis ou ineficazes;

– que estejam reunidas condições sérias de êxito;

– que o emprego das armas não traga consigo males e desordens mais graves do que o mal a eliminar. O poder dos meios modernos de destruição tem um peso gravíssimo na apreciação desta condição.

Estes são alguns dos elementos que tradicionalmente são apontados na doutrina da chamada “guerra justa”. 

São Julião (Juliano)

 

Julião era filho de um casal cristão da Antioquia, muito devotado. Para realizar o sonho dos pais, o jovem futuro santo - então com 18 anos - casou-se com Basilissa, uma moça cuja família seguia os mesmos preceitos do clã de seu noivo. O casal resolveu fazer um pacto de consagração a Deus, para poder se dedicar a Seu serviço, apesar do casamento. A união carnal não se concretizou e Basilissa permaneceu virgem. Somente após a morte dos pais é que ambos puderam viver a vida espiritual que queriam.

Usaram seus bens para fundar um mosteiro cada um - um masculino, outro feminino - e o restante empregaram em obras de caridade. Mas o Cristianismo vivia os tempos trágicos da perseguição mortal feita pelos imperadores Diocleciano e Maximiniano. No ano de 305, o imperador Diocleciano começou uma perseguição aos cristãos. Assim, Julião abrigou em seu mosteiro dezenas de cristãos refugiados. Aos poucos, foi vendo um a um ser julgado e condenado ao martírio e à morte, até que chegou sua vez. 

Alguns homens denunciaram Juliano. Ele foi arrancado de casa e levado ao tribunal. Como se recusasse a adorar os ídolos pagãos, foi martirizado por longo período, época em que os Escritos registram como de muito sofrimento, mas também de muitos milagres ocorridos através de suas mãos. São Julião foi finalmente decapitado em 9 de Janeiro de 308 (ou 313) e pôde descansar em paz. Hoje, ele vive com Cristo na Glória. Continuamos em tempos de perseguição, velada em alguns lugares e, em outros, bem visível.

Quanto a Santa Basilissa viveu seus últimos dias rodeada de pobres a quem tratou como filhos.

Que o santo de hoje possa interceder para que, o Espírito Santo, nos ajude a sermos ousados em nosso testemunho, sem medo da morte e das perseguições, certos de que a nossa recompensa se encontra no céu.


São Juliano, vós que fostes esmagado pela dor do sucedido e para penitenciardes deixastes todo o farto luxo de seu castelo para cuidar dos mais necessitados junto a vossa santa esposa louvo a Deus por vossa vida, mesmo com um fatalidade tão dramática. Mas soubestes ambos perseverar no bem e não tivestes medo de oferecer-vos em holocausto pelo amor à justiça de Deus. Nada mais é agradável a Deus, do que um coração realmente contrito. Que recebamos a graça de perceber claramente os nossos erros e a graça de um arrependimento tal como tivestes. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.


São Juliano, rogai por nós!

segunda-feira, 22 de maio de 2017

O escândalo da corrupção


Já falamos no assunto. Mas como a corrupção é um dos piores crimes, disseminada por toda a parte, o Papa Francisco voltou a tratar do assunto na semana passada.

Ainda quando Cardeal, o Papa falava de uma corrupção que é “o joio do nosso tempo”. E o pior: “o corrupto não percebe sua corrupção. Ocorre como com o mau hálito: dificilmente aquele que tem mau hálito o percebe. Os outros é que o sentem e têm que lhe dizer. Por isso, também, dificilmente o corrupto pode sair de seu estado por remorso interno. Seu bom espírito dessa área está anestesiado”. Falando agora, o Papa diferencia a corrupção do simples pecado. Segundo ele, “aquele que peca e se arrepende, pede perdão, se sente frágil, se sabe filho de Deus, se humilha e pede a salvação a  Jesus”. Mas quem é corrupto, “escandaliza”, não pelas suas culpas, mas porque “não se arrepende”, “continua a pecar e, mesmo assim, finge que é cristão”. É alguém que leva, enfim, uma “vida dupla”. E isso “faz muito mal” para a Igreja, para a sociedade e para o próprio homem.

“É inútil que alguém diga ‘Eu sou um benfeitor da Igreja! Eu coloco a mão no bolso e ajudo a Igreja’, se depois, com a outra mão, rouba do Estado, rouba dos pobres”. E o Papa recorda a afirmação de Jesus no Evangelho: “Mais vale a esse que lhe pendurem uma pedra de moinho ao pescoço e seja lançado ao mar!”. “Aqui não se fala de perdão”, observa o papa, o que esclarece ainda mais a diferença entre corrupção e pecado. Jesus “não se cansa de perdoar” e nos exorta a perdoar até sete vezes por dia o irmão que se arrepende. No mesmo Evangelho, porém, Cristo adverte: “Ai daquele que provoca escândalos!”. Jesus “não está falando de pecado, mas de escândalo, que é outra coisa”, ressalta o papa. Quem escandaliza engana, e “onde há engano não há o Espírito de Deus. Esta é a diferença entre o pecador e o corrupto”: quem leva “vida dupla é corrupto”; quem “peca, mas gostaria de não pecar”, é apenas “fraco”: este “recorre ao Senhor” e pede perdão. “Deus o ama, o acompanha, está com ele”.

Lutar ao lado dos pobres


Estamos celebrando no Brasil os 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição nas águas do Rio Paraíba, em Aparecida, São Paulo. Um evento milagroso que viu envolvido três pescadores pobres. Entre os dias 9 e 12 deste mês de maio bispos de 22 países da América Latina estiveram reunidos em El Salvador para a Assembleia do CELAM, Conselho Episcopal Latino-americano. O tema do encontro foi “Uma Igreja pobre para os pobres”. Para a ocasião, o Papa Francisco enviou uma mensagem inspirada na Padroeira do Brasil e no tema da pobreza. Tema que Francisco se diz fortemente preocupado pela corrupção que atinge o continente americano.

Três séculos depois, o encontro da imagem de Nossa Senhora nas águas do Paraíba, - escreveu o Papa -, “nos faz crescer na fé e a nos imergir em um caminho de apostolado”. Antes de tudo, os três pescadores, homens pobres com famílias que viviam na insegurança do viver cotidiano, contando com a generosidade e a inclemência do rio. Uma imagem que nos traz às dificuldades de vida de muitos de nossos irmãos nos dias de hoje.

O que mais doe – denuncia Francisco – é como seja quase normal ver o nosso irmão de hoje enfrentar “um dos pecados mais graves que aflige o nosso continente: a corrupção, a corrupção que nivela as vidas submergindo-as na extrema pobreza”. Corrupção que destrói populações inteiras submetendo-as à precariedade. Corrupção, que, como um câncer, vai corroendo a vida cotidiana do povo.

Falando em seguida de Maria, Francisco afirma que Ela é uma Mãe atenta, que acompanha a vida de seus filhos. E ela vai aonde não se espera. Na história de Aparecida ela é encontrada no rio em meio ao barro. Ali ela esperava os seus filhos, ali Ela estava com os seus filhos em meio às lutas e buscas, estava onde os homens tentam ganhar suas vidas.

Depois do encontro da imagem, depois de restaurá-la, limpá-la, o que fazem os pescadores? Levam-na para casa, uma casa aonde os moradores da região iam para encontrá-la. Essa presença se fez comunidade, Igreja, disse Francisco. 

De fato, as redes não se encheram de peixe mas de uma presença que encheu suas vidas e deu a eles a certeza de que nos seus propósitos e lutas não estariam mais sozinhos. Redes que se transformaram em comunidade, a de um povo que crê, que se confessa pecador e salvado, um povo forte e obstinado, consciente de que as suas redes, suas vidas, “estão cheias de uma presença que os encoraja a não perder a esperança”.

Hoje, 300 anos depois, como filhos, somos chamados a escutar e aprender o que aquele acontecimento continua a nos dizer: “Aparecida não traz receitas mas chaves, critérios, pequenas grandes certezas para iluminar e sobretudo, acender o desejo de nos despojar de todo o desnecessário e voltar às raízes, ao essencial, à atitude que fez de nosso continente a terra da esperança. Aparecida renova nossa esperança em meio a tantas inclemências”.

Como os ensinamentos de São Bento podem salvar o nosso século?


Pelo final do século V, o Império Romano estava em ruínas. Enfraquecida desde dentro pela corrupção, pela opulência, pela luxúria e pelo comodismo, a cidade de Roma foi, durante boa parte do século, violentamente invadida por povos estrangeiros.

O Império foi à falência, tanto moral quanto financeiramente, e, por volta do ano 500, Bento — um jovem nobre da cidade de Núrsia — decidiu que a melhor coisa que poderia fazer era subir para as montanhas e tornar-se eremita. Primeiro, ele foi a Subiaco e viveu em uma caverna, onde foi orientado por um monge mais velho. Finalmente, mudou-se para o sul, em Monte Cassino, onde estabeleceu pequenas comunidades de homens e mulheres que pudessem seguir uma vida simples e digna de trabalho, estudo e oração.

G. K. Chesterton diz que cada século é salvo pelo santo que lhe é mais contrário. A simplicidade monástica de São Bento era justamente a resposta de que a corrupção e a opulência do decadente Império Romano precisavam. Ele respondeu à luxúria com a pureza, à avareza com a simplicidade, à ignorância com a sabedoria, à decadência com a diligência e ao cinismo com a fé. Suas comunidades nas montanhas se tornaram faróis em uma época de trevas e um refúgio para as tempestades que estavam prestes a cair.

Vale a pena lembrar o exemplo de Bento hoje, quando muitos veem aproximar-se as mesmas tempestades do que parece ser a derrocada da civilização ocidental. Quando consideramos o fim que levou a Roma pagã, os paralelos são sensivelmente similares.

Também a nossa cultura está enfraquecida desde dentro por incríveis opulência, luxúria e sensualidade. Como os antigos romanos, a nossa sociedade mata os seus filhos que ainda não nasceram em um nível alarmante e também investe grandes montantes em máquinas militares para dominar o mundo. Nossos ricos “patrícios” reinam de seus templos de poder sem nenhuma preocupação com o povo, enquanto os “plebeus” comuns rangem os dentes com descontentamento cada vez maior. Também nós nos sentimos ameaçados por bárbaros desconhecidos que vêm do outro lado do mundo e também nós nos preocupamos em defender-nos das hordas que cruzam as nossas fronteiras.