Com a proximidade da homologação da Base
Nacional Curricular Comum (BNCC), que deve ocorrer neste mês de novembro,
ativistas e entidades em defesa da família intensificaram o alerta à população
sobre os riscos que o atual texto pode trazer à formação moral dos alunos. O
principal problema é o uso, em vários trechos do documento, do termo “questões
de gênero”, o que pode ser interpretado como obrigatoriedade de se ensinar o controverso
conceito da ideologia de gênero na educação básica.
A Rede Nacional de Direitos e Defesa da Família, presidida pelo pedagogo Felipe Nery,
é uma das entidades que trabalha para mudar o texto que pode ser homologado
pelo Ministério da Educação neste mês. O grupo produziu e publicou um vídeo nas
redes sociais em que o próprio Nery mostra como a ideologia de gênero tem
avançado pelo mundo e como ela pode ser nociva às crianças. De acordo com o
educador, na Inglaterra, o número de crianças que se submeteram a tratamento
transgênero aumentou em 1000% nos últimos cinco anos e que na Escócia o
crescimento dos casos foi de 500% em quatro anos. “Isso não é por acaso. O
número de crianças confusas a respeito do próprio sexo está explodindo nos
países que promovem a ideologia de gênero em suas escolas”, alerta.
O propósito da BNCC é o de ser um
documento orientador sobre de que maneira os conteúdos disciplinares devem ser
ofertados nas redes pública e privada do país. Por meio dele, a intenção é
garantir que os estudantes, independentemente da região em que estejam, recebam
o mínimo comum de conhecimentos que sejam essenciais ao seu desenvolvimento. Se
for aprovada com a menção ao termo “questões de gênero”, portanto, ficaria
muito mais difícil para um diretor de escola ou professor negar-se a ensinar
aos seus alunos teses como a de que existem dezenas gêneros sexuais, e que cada
criança pode ser escolher o seu.
Trechos problemáticos
Um dos trechos mais problemáticos
estaria na página 159, onde o documento diz que “o professor de artes deve
desenvolver as aulas, discutindo experiências corporais pessoais e coletivas,
de modo a problematizar questões de gênero e corpo”. Em outro momento, na página
165, diz que o professor de artes também “deve refletir sobre as experiências
pessoais e coletivas desenvolvidas em aula ou vivenciadas em outros contextos,
de modo a problematizar questões de gênero, corpo e sexualidade” e, na página
305, o texto estabelece que “na área de ciências humanas a diversidade de
gênero deve ganhar especial destaque”. Já nas páginas 351 e 378,
respectivamente, a BNCC sugere que o professor de história “coloque em destaque
as temáticas voltadas para as questões de gênero” e o motiva a trabalhar em
suas aulas as “questões de gênero, o anarquismo e protagonismos femininos
mostrando as transformações ocorridas no debate sobre as questões de gênero no
Brasil durante o século XX”.
Para pressionar o governo federal a não
homologar o documento tal como está, uma petição online foi lançada pelo site CitizenGo,
incentivando a população a manifestar-se contra a ideologia de gênero nas
escolas.
Em 2014, numa disputa semelhante, a pressão popular prevaleceu
quando o Ministério da Educação (MEC) tentou manipular a decisão de 2014 do
Congresso, que retirou do Plano Nacional de Educação (PNE) as menções à
ideologia. Naquele ano, foram enviados aos 6 mil municípios brasileiros que
estavam votando seus planos, um documento que apontava a ideologia de gênero,
como uma diretriz educativa. No entanto, grupos contrários se reuniram em suas
cidades, na frente das Câmaras Municipais e, mobilizados, conseguiram que as
propostas não fossem aprovadas. Em quase sua totalidade, os municípios
não incluíram o gênero como meta dos sistemas estaduais e municipais de
educação.
Em entrevista ao Sempre Família, Nery
reforça que, assim como ocorreu em 2014, é preciso um maior envolvimento da
população para que a BNCC não seja homologada. Por mexer com a educação dos
filhos, ele avalia como essencial que pais estejam em contato com os deputados
federais, seja por e-mail ou telefone, pressionando para que eles estejam atentos
ao conteúdo trazido pela proposta. “Parece algo inalcançável, mas não é. Quando
o PNE foi votado, houve manifestação popular e o Congresso foi sensível ao povo
dizendo não às menções de gênero no documento. É possível sim”, comenta.