Descida de Cristo ao Inferno |
No Antigo Testamento, antes da Vinda do Cristo, pensava-se que quem
morria ficava no sheol (mansão dos mortos), à espera da Vinda do Senhor, quando
se dariam a Ressurreição dos mortos e o Juízo Final. Até lá, o sheol era igual
para todo mundo, bons e maus: era o reino da morte para todos! Os mortos
ficavam numa situação de espera até à consumação final.
Aos poucos, porém, foi nascendo a ideia de que, mesmo no sheol, havia diferença entre os bons e os maus; basta pensar na parábola do rico epulão e do pobre Lázaro: os dois estão no sheol (no seio de Abraão), mas um está feliz enquanto o outro pena (cf. Lc 16,19-26).
Em resumo: segundo os textos mais antigos do Antigo Testamento, os mortos ficavam “dormindo” no sheol até a ressurreição final, quando o Messias viesse; nos textos mais recentes, os judeus já não pensavam que os mortos ficavam dormindo, numa sentido de inconsciência, mas num estado de espera, bom para os justos e tormentoso para os maus, até que o Messias viesse para o julgamento definitivo.
No Novo
Testamento, com a chegada do Messias, tudo muda! Com Cristo, que é o Messias
esperado, os mortos não mais ficarão esperando, pois chegaram os últimos
tempos! Recordemos aquela passagem de Lucas 23,42s, do Bom Ladrão: “E falou:
‘Jesus, lembra-Te de mim quando vieres como Rei’. E Jesus lhe respondeu: ‘Eu te
asseguro: ainda hoje estarás Comigo no paraíso’”. O ladrão, como os judeus da
época de Jesus, esperava a Ressurreição no final dos tempos, quando o Senhor
viria em Glória: “Lembra-Te de mim, quando vieres com Teu Reino!” Mas, o Reino
já chegou, com a Ressurreição de Jesus chegaram os tempos finais. Por isso
mesmo, Jesus responde: “Hoje mesmo estarás comigo!”
Agora que Ele chegou, que venceu a morte, não há mais o que ficar esperando: com Cristo, os mortos não têm mais o que esperar: já chegou o dia do julgamento! O futuro esperado torna-se hoje, torna-se presente em Cristo: a salvação definitiva não é uma realidade meramente futura, mas surte efeitos imediatos para quem parte desta vida na comunhão com Cristo; o paraíso, estado final da bem-aventurança, é estar com Cristo, “já”, “agora”!. A morte de Cristo abre as portas do paraíso, de modo que a morte do cristão é entrada na Vida eterna.
Por isso mesmo São Paulo afirma preferir ausentar-se desta vida terrena para ir estar com Cristo: “Estamos, repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos do corpo para morar junto do Senhor” (2Cor 5,8). Aqui aparece claramente que o término da existência terrena leva imediatamente a habitar junto do Senhor. Não tem essa de ficar dormindo: morrer é ir estar imediatamente com o Senhor; por isso Paulo prefere morrer logo! Os que morrem antes da Vinda de Cristo na glória vivem já com o Senhor. O Apóstolo acrescenta, em outra carta: “Para mim viver é Cristo e a morte, lucro. Entretanto, se o viver na carne ainda me permitir um trabalho frutuoso, não sei o que escolher. Estou como que na alternativa. Pois de um lado desejo partir para estar com Cristo, o que é muito melhor” (Fl 1,21ss).
Note-se que aqui o importante é que “o viver é Cristo”: a morte não é um lucro em si mesmo, mas somente se for um partir para estar logo com Cristo. Uma morte que fosse separação de Cristo ou que interrompesse a comunhão com ele, não seria “lucro” para Paulo. A morte somente é desejável porque permite a entrada na plenitude da comunhão com Cristo, que constitui o objetivo último da esperança cristã.