Além de possuírem o mesmo nome e de terem ingressado na mesma ordem
religiosa - as carmelitas descalças - as santas Teresa D'Ávila e Teresa do
Menino Jesus têm outro ponto em comum: ambas deram grandes saltos espirituais a
partir da contemplação da imagem das chagas de Cristo.
"Aconteceu-me de, entrando um dia no oratório, ver uma imagem
guardada ali (...). Era um Cristo com grandes chagas que inspirava tamanha
devoção que eu, ao vê-lo, fiquei perturbada, visto que ela representava tão bem
o que Ele passou por nós. Foi tão grande o meu sentimento por ter sido tão mal
agradecida àquelas chagas que o meu coração quase se partiu; lancei-me a seus
pés, derramando muitas lágrimas e suplicando-Lhe que me fortalecesse de uma vez
para que eu não O ofendesse." - Sta. Teresa D'Ávila (Vida 9,1)
Tratava-se de uma imagem do Senhor flagelado, atado à coluna. Essa
meditação marcou profundamente a vida da futura reformadora do Carmelo; a
partir de então, ela teve uma mudança de vida radical, passando a trilhar com
muito mais fidelidade e firmeza o caminho que a levaria a ser uma grande
mística.
Notem essa observação da santa: a imagem representava muito bem o que
o Senhor passou por nós, e inspirava grande devoção. As peças
de arte sacra em estilo moderno ou contemporâneo também podem ser capazes de
inspirar a devoção e a reflexão profunda sobre a nossa fé. Por exemplo: o
Cristo atado à coluna, presente na fachada do Templo da Sagrada Família, em
estilo cubista (foto acima); a expressão no rosto da escultura comunica
intensamente a solidão e o sofrimento de Jesus.
Uma obra de arte sacra, seja qual for o estilo adotado pelo artista,
deve ter a capacidade de "conduzir o espírito do homem até Deus”
(Sacrosanctum Concilium).
Agora, com a palavra, a santa de Lisieux:
"Num domingo, ao olhar uma foto de Nosso Senhor na Cruz, fiquei
impressionada com o sangue que caía de uma das suas mãos divinas. Senti grande
aflição pensando que esse sangue caía no chão sem que ninguém se apressasse em
recolhê-lo. Resolvi ficar, em espírito, ao pé da Cruz para receber o divino
orvalho que se desprendia, compreendendo que precisaria, a seguir, espalhá-lo
sobre as almas...". - Sta. Teresinha do Menino Jesus
(História de uma Alma)
Daí em diante, muita gente conhece a história: Santa Teresinha descobriu
a sua vocação para a vida de oração, e "adotou" um criminoso
condenado à morte como seu "primeiro filho" espiritual. Bem, vamos
fazer um esforço imaginativo. Construam em suas mentes a cena descrita pela
santa, pensem nela olhando a imagem do Senhor na cruz. Agora, digam com
sinceridade: tal meditação poderia ter sido desencadeada pela visão do
"crucifixo" abaixo (fica em uma igreja na Tijuca, no Rio de Janeiro)?
Por favor, pensem.
Quando postamos esta imagem na nossa fanpage (com a devida gongada),
recebemos algumas críticas. Teve gente nos chamando de radicais, dizendo que
esse lance de bonito ou feio não importa muito em arte sacra, que o que
interessa é a "intenção do artista". Ora, não é isso que ensina a
Igreja por meio da sua Tradição e dos seus documentos; devemos nos preocupar
com o impacto objetivo que a obra provoca.
A arte sacra produz efeitos, tem consequências profundas sobre a alma
das pessoas. Ela deve ser facilmente compreensível (nada de coisas
estranhas e indecifráveis), pra qualquer pessoa simples ou criança poder se
instruir e contemplar. Deve ser “teologia em imagens”.
Na Encíclica Mediator Dei, o Papa
Pio XII determina que a obra de arte sacra deve considerar “as
exigências da comunidade cristã, mais do que o juízo e o gosto pessoal dos
artistas...”. E a constituição conciliar Sacrosanctum Concilium
esclarece que as obras de arte sacra feitas pelas mãos humanas devem tender, de
algum modo, a exprimir “a infinita beleza de Deus”.
É fato: os critérios de feio ou bonito variam, razoavelmente, de pessoa
para pessoa. Porém, há alguns padrões que são praticamente universais. Alguém
aí acha que o "crucifixo" acima exprime, ainda que de raspão, a
"beleza infinita de Deus"? Vou consultar a opinião da Britney, que é
uma jurada internacionalmente reconhecida. E então, curtiu, Bri?
Ok, a Britney considerou apenas a tragédia estética do
"crucifixo" (o que, em si, já é algo de grande peso), mas a isso
podemos acrescentar a inadequação litúrgica, além da falta de sentido
catequético. Essa imagem pode ser mesmo considerada um crucifixo católico?
Ela favorece o culto divino, como manda a Igreja? Ora, vemos um homem de
barriga tanquinho com os braços e pernas esticados (parece mais um ginasta
fazendo exercício nas argolas). Mas cadê as santas chagas? Onde foi parar a
coroa de espinhos, saiu da moda? Cadê a cruz? E os pregos?
Não digo que um crucifixo, tenha, necessariamente, que apresentar todos
esses elementos típicos, mas... Nenhum deles?! É uma descaracterização quase
que completa. "Crucifixos" assim - ainda que sejam belíssimos - não
evangelizam, não remetem à Paixão de Cristo e não ajudam a transportar a mente
para o Calvário. Portanto, apresentam sérias lacunas em termos de
espiritualidade, de liturgia e de teologia.
Pra quem pensa que deveríamos nos dedicar a "assuntos mais
importantes", considerem então no site da BBC este caso pitoresco
de uma igreja (creio que é anglicana) na Grã-Bretanha: o crucifixo que
colocaram na fachada do templo era tão grotesco que repelia as
pessoas. As criancinhas, em especial, ficavam morrendo de medo de se
aproximar dali.
E sobre esse
crucifixo, Britney, o que você tem a dizer?
É hoje que a Bri não vair dormir à noite, coitada! Para não ter que
fechar a igreja por falta de fiéis, o vigário britânico recobrou a lucidez e
decidiu remover a tal imagem pavorosa pra bem longe dali. E aí, ao saber de uma
situação dessas, vocês ainda se animam a seguir em frente com essa teoria de
que o importante é a "intenção do artista"?