sábado, 6 de janeiro de 2018

Os santos e os papas ensinam o objetivo da Arte Sacra


Além de possuírem o mesmo nome e de terem ingressado na mesma ordem religiosa - as carmelitas descalças - as santas Teresa D'Ávila e Teresa do Menino Jesus têm outro ponto em comum: ambas deram grandes saltos espirituais a partir da contemplação da imagem das chagas de Cristo.

"Aconteceu-me de, entrando um dia no oratório, ver uma imagem guardada ali (...). Era um Cristo com grandes chagas que inspirava tamanha devoção que eu, ao vê-lo, fiquei perturbada, visto que ela representava tão bem o que Ele passou por nós. Foi tão grande o meu sentimento por ter sido tão mal agradecida àquelas chagas que o meu coração quase se partiu; lancei-me a seus pés, derramando muitas lágrimas e suplicando-Lhe que me fortalecesse de uma vez para que eu não O ofendesse." - Sta. Teresa D'Ávila (Vida 9,1)

Tratava-se de uma imagem do Senhor flagelado, atado à coluna. Essa meditação marcou profundamente a vida da futura reformadora do Carmelo; a partir de então, ela teve uma mudança de vida radical, passando a trilhar com muito mais fidelidade e firmeza o caminho que a levaria a ser uma grande mística.


Notem essa observação da santa: a imagem representava muito bem o que o Senhor passou por nós, e inspirava grande devoção. As peças de arte sacra em estilo moderno ou contemporâneo também podem ser capazes de inspirar a devoção e a reflexão profunda sobre a nossa fé. Por exemplo: o Cristo atado à coluna, presente na fachada do Templo da Sagrada Família, em estilo cubista (foto acima); a expressão no rosto da escultura comunica intensamente a solidão e o sofrimento de Jesus.

Uma obra de arte sacra, seja qual for o estilo adotado pelo artista, deve ter a capacidade de "conduzir o espírito do homem até Deus” (Sacrosanctum Concilium).

Agora, com a palavra, a santa de Lisieux:

"Num domingo, ao olhar uma foto de Nosso Senhor na Cruz, fiquei impressionada com o sangue que caía de uma das suas mãos divinas. Senti grande aflição pensando que esse sangue caía no chão sem que ninguém se apressasse em recolhê-lo. Resolvi ficar, em espírito, ao pé da Cruz para receber o divino orvalho que se desprendia, compreendendo que precisaria, a seguir, espalhá-lo sobre as almas...". - Sta. Teresinha do Menino Jesus (História de uma Alma)

Daí em diante, muita gente conhece a história: Santa Teresinha descobriu a sua vocação para a vida de oração, e "adotou" um criminoso condenado à morte como seu "primeiro filho" espiritual. Bem, vamos fazer um esforço imaginativo. Construam em suas mentes a cena descrita pela santa, pensem nela olhando a imagem do Senhor na cruz. Agora, digam com sinceridade: tal meditação poderia ter sido desencadeada pela visão do "crucifixo" abaixo (fica em uma igreja na Tijuca, no Rio de Janeiro)? Por favor, pensem.


Quando postamos esta imagem na nossa fanpage (com a devida gongada), recebemos algumas críticas. Teve gente nos chamando de radicais, dizendo que esse lance de bonito ou feio não importa muito em arte sacra, que o que interessa é a "intenção do artista". Ora, não é isso que ensina a Igreja por meio da sua Tradição e dos seus documentos; devemos nos preocupar com o impacto objetivo que a obra provoca.

A arte sacra produz efeitos, tem consequências profundas sobre a alma das pessoas. Ela deve ser facilmente compreensível (nada de coisas estranhas e indecifráveis), pra qualquer pessoa simples ou criança poder se instruir e contemplar. Deve ser “teologia em imagens”.

Na Encíclica Mediator Dei, o Papa Pio XII determina que a obra de arte sacra deve considerar “as exigências da comunidade cristã, mais do que o juízo e o gosto pessoal dos artistas...”. E a constituição conciliar Sacrosanctum Concilium esclarece que as obras de arte sacra feitas pelas mãos humanas devem tender, de algum modo, a exprimir “a infinita beleza de Deus”.

É fato: os critérios de feio ou bonito variam, razoavelmente, de pessoa para pessoa. Porém, há alguns padrões que são praticamente universais. Alguém aí acha que o "crucifixo" acima exprime, ainda que de raspão, a "beleza infinita de Deus"? Vou consultar a opinião da Britney, que é uma jurada internacionalmente reconhecida. E então, curtiu, Bri?


Ok, a Britney considerou apenas a tragédia estética do "crucifixo" (o que, em si, já é algo de grande peso), mas a isso podemos acrescentar a inadequação litúrgica, além da falta de sentido catequético. Essa imagem pode ser mesmo considerada um crucifixo católico? Ela favorece o culto divino, como manda a Igreja? Ora, vemos um homem de barriga tanquinho com os braços e pernas esticados (parece mais um ginasta fazendo exercício nas argolas). Mas cadê as santas chagas? Onde foi parar a coroa de espinhos, saiu da moda? Cadê a cruz? E os pregos?

Não digo que um crucifixo, tenha, necessariamente, que apresentar todos esses elementos típicos, mas... Nenhum deles?! É uma descaracterização quase que completa. "Crucifixos" assim - ainda que sejam belíssimos - não evangelizam, não remetem à Paixão de Cristo e não ajudam a transportar a mente para o Calvário. Portanto, apresentam sérias lacunas em termos de espiritualidade, de liturgia e de teologia.

Pra quem pensa que deveríamos nos dedicar a "assuntos mais importantes", considerem então no site da BBC este caso pitoresco de uma igreja (creio que é anglicana) na Grã-Bretanha: o crucifixo que colocaram na fachada do templo era tão grotesco que repelia as pessoas. As criancinhas, em especial, ficavam morrendo de medo de se aproximar dali.


E sobre esse crucifixo, Britney, o que você tem a dizer?


É hoje que a Bri não vair dormir à noite, coitada! Para não ter que fechar a igreja por falta de fiéis, o vigário britânico recobrou a lucidez e decidiu remover a tal imagem pavorosa pra bem longe dali. E aí, ao saber de uma situação dessas, vocês ainda se animam a seguir em frente com essa teoria de que o importante é a "intenção do artista"?

SÃO JOÃO PAULO II: 
"A BELEZA É A CHAVE DO MISTÉRIO E APELO AO TRANSCENDENTE"

Segundo o São João Paulo II, a beleza da arte sacra interfere, de modo crucial, na vida da Igreja e na evangelização. Vejam a seguir alguns trechos da sua "Carta aos Artistas" (grifos nossos).

"O tema da beleza é qualificante, ao falar de arte. Esse tema apareceu já, quando sublinhei o olhar de complacência que Deus lançou sobre a criação. Ao pôr em relevo que tudo o que tinha criado era bom, Deus viu também que era belo. A confrontação entre o bom e o belo gera sugestivas reflexões. Em certo sentido, a beleza é a expressão visível do bem, do mesmo modo que o bem é a condição metafísica da beleza. (...)

"...os Padres, no final do Concílio, dirigiram aos artistas uma saudação e um apelo, nestes termos: 'O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero. A beleza, como a verdade, é a que traz alegria ao coração dos homens, é este fruto precioso que resiste ao passar do tempo, que une as gerações e as faz comungar na admiração' (...)

"...desejo a todos vós, artistas caríssimos, que sejais abençoados, com particular intensidade, por essas inspirações criativas. A beleza, que transmitireis às gerações futuras, seja tal que avive nelas o assombro. (...)

"Precisamente neste sentido foi dito, com profunda intuição, que 'a beleza salvará o mundo'. (...)

"A beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente. É convite a saborear a vida e a sonhar o futuro." - João Paulo II (Carta aos Artistas, 1999)

No seu "Encontro com os Artistas na Capela Sistina", em 2009, o Papa Bento XVI também fez um discurso muito interessante, chamando os artistas de "guardiões da beleza". Bem, o testemunho sincero de um cristão é mais representativo e convincente do que milhões de argumentos teóricos. Então, pra terminar, vejam o que disse um leitor:

“Eu comecei a me interessar pela Igreja quando criança, atraído pela beleza do estilo neoclássico da Igreja Matriz da Paróquia Santo Antônio de Bento Gonçalves-RS... voltava pra casa desenhando as imagens dos santos que via por lá... e assim que tudo começou”. - Rafael De Mesquita Diehl

Neste2017, o Santuário de Fátima, em Portugal, encomendou esse presépio com três peças, que foi colocado na nave da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Quando meu filho de 7 anos viu essa imagem, falou: "Papai, o Menino Deus tá parecendo uma batata Ruffles!". Triste...


Em seus documentos, a Igreja nos ensina que o objetivo da arte sacra é levar os fiéis a adorar e contemplar.
__________________________________
O Catequista 

Nenhum comentário:

Postar um comentário