Caro
Amigo, gostaria de partilhar com você algumas ponderações sobre a leitura [de Atos dos Apóstolos, 17]... Talvez
lhes pareçam meio técnicas; mas são importantes... Deveriam nos ajudar a pensar
sobre como ser cristãos, como ser Igreja e como anunciar o Evangelho nos dias
atuais...
Trata-se
do capítulo 17 dos Atos dos Apóstolos.
São Paulo está na sua segunda viagem missionária. Chegado da Macedônia, onde
tinha sido colocado para correr de Filipos, de Tessalônica e de Bereia, o Apóstolo
alcançou Atenas, na Ática.
Aí,
pregava e discutia com judeus e tementes a Deus, na sinagoga, e pregava e
debatia com os pagãos na ágora, na praça pública ateniense (cf. v. 17).
Falando
aos pagãos na ágora, no Areópago, São Paulo, procurou entrar em diálogo com
eles a partir da própria cultura gentia, pagã.
Ele tinha consciência de que aqueles pagãos eram pecadores diante de Deus, eram
idólatras (cf. vv. 16.24.29.30.31); sabia muito bem que aqueles pagãos viviam
na ignorância e precisavam ser notificados do Evangelho para que tivessem a
chance de se converterem receberem a salvação em Jesus nosso Senhor (cf. vv.
30s). O Apóstolo não mascarou a verdade, não relativizou nem escondeu Jesus:
"Ele é o homem a Quem Deus designou... ao ressuscitá-Lo dos mortos"
(v. 31).
Contudo,
procurou dialogar: começou elogiando a religiosidade dos gregos, eles que
dedicaram um altar ao Deus desconhecido... Nas verdade, o altar era "aos
deuses desconhecidos" mas São Paulo, num gesto de boa vontade, deu uma
arrumadinha no sentido da dedicatória: "Ao Deus desconhecido!" E se
saiu com esta: "O que adorais sem conhecer, isto venho anunciar-vos!"
(v. 23)
Aí,
usando a pura razão humana e a filosofia grega, mostrou que Deus é o criador de
tudo, é o criador e o provedor dos homens e, portanto, não é um ídolo. Por fim,
avisou aos atenienses com franqueza que esse Deus único a todos jugaria através
de um homem que Ele enviara e ressuscitara dos mortos, Jesus!
O
resultado da pregação foi um fracasso quase completo! Os atenienses não deram
bola! Desapontado, São Paulo partiu para Corinto, capitada Acaia, uma das
cidades mais depravadas do Império Romano (cf. 18.1).
Em Corinto, o Apóstolo mudou de tática completamente: agora
resolveu não mais partir da lógica humana, da razão e das razões da cultura
helenista, mas do escândalo da Cruz!
Ele mesmo escreveu isto aos coríntios: "Eu mesmo, quando fui ter convosco,
irmãos, não me apresentei com o prestígio da palavra ou da sabedoria para vos
anunciar o mistério de Deus. Pois não quis saber de outra coisa entre vós a não
ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado... a fim de que a vossa fé não se
baseie na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus" (cf. 2,1-5).
O que
pensar disto tudo?
A Igreja, os cristãos, a pregação cristã certamente pode e deve dialogar com as
culturas, dialogar com as mentalidades de cada época... Mas, NUNCA, sobre
pretexto algum, pode esconder o escândalo da Cruz e a loucura do Evangelho! A
fé não se baseia em floreios da razão e das razões humanas! O arrazoado humano
pode ser caminho, pode ser pretexto de diálogo, mas não pode nunca mutilar ou
condicionar a fé!
Esta não pode ser negociada, a integridade da doutrina e a inteireza do dogma
não podem ser arranhados sob o pretexto de compreensão, compaixão, ou seja lá o
que for! Não se pode colocar o homem e seus estreitos limites, sua razão
embotada pelo pecado, no lugar do Senhor Deus e do Seu Cristo!