Graças aos dois encontros históricos nos últimos meses, a Coreia do Norte tornou-se a notícia de destaque na mídia recentemente. O primeiro encontro ocorreu em Abril, entre os respectivos chefes de Estado da Coreia do Norte e da Coreia do Sul, com o intuito de acabar com o estado de hostilidades que marcaram as relações bilaterais desde a Guerra da Coreia (1950-1953). O segundo encontro foi em 12 de Junho, quando o Presidente dos EUA, Donald Trump, e Kim Yong Un, realizaram uma reunião de Cúpula em Singapura. Fora desses encontros sob os holofotes da mídia, o que realmente sabemos sobre a situação do povo norte-coreano? Sobre a Igreja Católica na Coreia do Norte? Como vivem os cristãos e como professam sua fé?
A fim de descobrir algo além das manchetes dos jornais, a Fundação Pontifícia ACN, entrevistou o Padre Kang Ju-Seok, diretor do Instituto Católico para a Paz e Cooperação, localizado em Paju (Coreia do Sul); muito perto da zona desmilitarizada na fronteira entre as duas Coreias. O objetivo do instituto é desenvolver métodos para a construção da paz no nordeste da Ásia e trabalhar para a evangelização do norte.
A entrevista para a ACN, foi conduzida por Mark Riedemann.
Como sabemos muito pouco sobre a Coreia do Norte, poderia nos dar uma visão de como é a vida neste país?
Muitas vezes, a Coreia do Norte é identificada apenas com um problema de segurança e um ditador potencialmente irracional com mísseis. No entanto, muitas vezes nos esquecemos da história dos 24 milhões de pessoas comuns que, assim como você e eu, estão vivendo suas vidas naquele país. Na verdade, não sabemos muito sobre suas histórias. De acordo com os refugiados vindos da Coreia do Norte, não há maneiras de sobreviver dentro de uma economia de estado socialista – por exemplo, há falta de alimentos para as pessoas – dessa forma, as pessoas tiveram que tomar uma iniciativa, contrabandeando mercadorias da China. Muitos refugiados dizem que a mídia estrangeira está se se infiltrando no país e que há, portanto, mais informações. De fato, os norte-coreanos têm tido mais acesso a telefones celulares, aparelhos de DVD e computadores; e cada vez mais assistem, secretamente, a filmes sul-coreanos, novelas e até filmes de Hollywood.
O país tem cerca de 24 milhões de habitantes. É verdade que metade deles vive abaixo da linha da pobreza?
Na década de 90, houve uma grande quantidade de mortos por consequência da fome. Embora não saibamos os números exatos, acreditamos que, naquele período, cerca de um milhão de pessoas morreram e, até os dias de hoje, a maioria dos norte-coreanos tem sofrido com a extrema pobreza. Como o regime norte-coreano violou as regras de relações internacionais, a ONU impôs sanções por um longo período. Me preocupo com as pessoas, especialmente os pobres e vulneráveis, pois são os que mais sofrem com essas sanções.
Poucos entendem a estrutura política na Coreia do Norte e o culto à dinastia Kim por norte coreanos. Pode explicá-los?
Muitos especialistas dizem que o país é uma espécie de grupo religioso e que as pessoas praticam o culto à dinastia da família Kim. Não sabemos exatamente o motivo pelo qual as pessoas fazem isso, nem como funciona o sistema da sociedade. No entanto, presumimos que o medo e o ódio do povo [em relação à Coreia do Sul] poderiam ser uma razão. Durante a Guerra da Coreia, cerca de dois ou três milhões de pessoas morreram na Coreia do Norte, e o governo norte-coreano permanece aproveitando esse trauma que persiste por parte da população.
Antes do reinado da dinastia Kim, no início de 1900, a capital norte-coreana de Pyongyang era uma fonte de atividade cristã conhecida como a Jerusalém Oriental. No seu auge, três em cada dez habitantes eram cristãos praticantes; além disso, mais de duas mil igrejas foram construídas na região. O que aconteceu para que o cristianismo fosse dizimado tão rapidamente?
No início do regime norte-coreano, o governo achou que a religião seria seu principal inimigo. Portanto, começaram a perseguir grupos religiosos de diversas maneiras. Mesmo antes da guerra da Coreia, muitos norte-coreanos, a maioria cristãos, cruzaram a fronteira em busca de liberdade religiosa. Além disso, antes e durante a guerra em que milhões de pessoas foram assassinadas, os cristãos foram perseguidos incessantemente.