O mundo ocidental, fundado hoje numa sociedade de mentalidade imanentista, adoradora do bem-estar e do prazer, não compreende nem deseja compreender a linguagem da Cruz. Aliás, sobre isto a Escritura Santa sempre nos advertiu: "O que está em Deus, ninguém o conhece senão o Espírito de Deus. Quanto a nós, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que vem de Deus, a fim de que conheçamos os dons da graça de Deus. Desses dons não falamos segundo a linguagem ensinada pela sabedoria humana, mas segundo aquela que o Espírito ensina, exprimindo realidades espirituais em termos espirituais. O homem psíquico (aquele no simples limite de sua razão) não aceita oque vem do Espírito de Deus. É loucura para ele; não pode compreender, pois isso deve ser julgado espiritualmente (isto é, no Espírito do Cristo)"(1Cor 2,11ss).
Pode-se ter título universitário de teólogo, pode-se ser professor de teologia... sem piedade, sem oração, sem a obediência da fé, sem docilidade ao Espírito, somente se pensará e se falará segundo o mundo, segundo o homem carnal ou, pelo menos, segundo o homem psíquico. Não por acaso, Santo Atanásio de Alexandria, no século IV, observada: "Não se conhece a Divindade só com raciocínios, mas com a fé o raciocínios piedosos!"
Pois bem, vivendo neste mundo tão secularizado e insensível para Deus, a Igreja precisa sempre se converter, sim. Mas, não ao mundo pagão! A conversão da Igreja deverá ser sempre mais a Cristo, com todas as Suas exigências! Somente assim ela será sal e luz. Não são uma doutrina e uma moral feitas sob medida para o mundo que prestarão um serviço à humanidade! Uma Igreja sob medida não serveria para mais nada a não ser para ser jogada fora e pisada pelos homens!
A verdade é Cristo – e é o homem quem deve converter-se a Ele, não Ele ao homem. Os primeiros cristãos encantaram o mundo não facilitando as coisas, mas crendo no Senhor e amando-O de todo o coração, até a morte quando preciso. Penso, sinceramente, que o caminho que a Igreja deve percorrer é exatamente o oposto daquilo que muitos setores secularizastes da Igreja propõem. Sonho com uma Igreja cada vez mais fascinada por Cristo, que apresente o escândalo do Seu Evangelho sem medo nem meias palavras, na verdade que o Espírito infunde e sustenta, na alegria com a qual o Espírito do Ressuscitado embriaga os discípulos do Cristo. Sonho com uma Igreja de cristãos que não tenham medo de ser diferentes, de viver radicalmente na Palavra do Senhor e na fidelidade à Sua Igreja. Seremos, certamente, minoria, aquele pequeno rebanho que servirá de luz, sal e referencial para o mundo.
No nosso meio podemos ver isso claramente: o futuro da Igreja não está em multidões descomprometidas, mas naquelas comunidades pequenas mas fervorosas, dispostas à santa loucura por Cristo – a loucura dos santos, a loucura do amor. E só o amor encanta, só o amor faz os santos, só o amor empolga, só o amor contagia, só o amor merece fé!
E os demais, que não aceitam um Evangelho assim? Entreguemo-los à misericórdia de Deus, que tem Seus caminhos, como Jesus entregou o jovem rico, deixando-o ir embora livremente por não aceitar suas exigências. A nós, o Senhor dirá sempre: “Vós também quereis ir embora?” Uma coisa é certa: o Evangelho não está para negócio. Não se negocia o tesouro de grande valor. Quanto aos que não aceitam e se afastam e não creem, lembrem-nos que o Senhor Deus, nos Seus caminhos, é o dono até mesmo da fé dos afastados e dos ateus!
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares, PE
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