quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Indonésia: Caritas distribui alimentos aos sobreviventes do Tsunami


A Cáritas Indonésia começou a distribuir alimentos e suprimentos básicos aos sobreviventes do tsunami depois da erupção do vulcão Anak Krakatau em 22 de dezembro, provocando a morte de mais de 370 pessoas e deixando cerca de mil feridas.

De acordo com especialistas, a erupção do Anak Krakatau (“Filho de Krakatoa”, referindo-se ao vulcão que causou a morte de mais de 36 mil pessoas no final do século XIX), provocou um movimento de terra debaixo d'água no estreito de Sunda que causou o tsunami atingiu as ilhas de Java e Sumatra.

Yohannes Baskoro, responsável pela atividade da Caritas Indonésia, contou que a logística de trabalho nas duas ilhas é muito boa, “mas nessa fase de emergência não é fácil se comunicar com as Caritas locais”.

Em declarações à imprensa internacional indicou que “Caritas Tanjung Karang em Sumatra já está distribuindo alimentos aos sobreviventes”, graças aos voluntários conseguiram entregar até este momento 700 pacotes de comida, entre eles, 500 foram destinados ao hospital da cidade de Lampung e 200 no distrito de Kalianda. “No dia do Natal, outros mil pacotes foram distribuídos", afirmou.

Natal 2018: Mensagem Urbi et Orbi do Papa Francisco


MENSAGEM «URBI ET ORBI»
DO PAPA FRANCISCO

NATAL 2018
Sacada Central da Basílica Vaticana
Terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!

A vós, fiéis de Roma, a vós, peregrinos, e a todos vós que, das mais variadas partes do mundo, estais sintonizados connosco, renovo o jubiloso anúncio de Belém: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado» (Lc 2, 14).

Como os pastores, os primeiros que acorreram à gruta, ficamos maravilhados com o sinal que Deus nos deu: «Um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura» (Lc 2, 12). Em silêncio, ajoelhamo-nos e adoramos.

E que nos diz aquele Menino, nascido, para nós, da Virgem Maria? Qual é a mensagem universal do Natal? Diz-nos que Deus é um Pai bom, e nós somos todos irmãos.

Esta verdade está na base da visão cristã da humanidade. Sem a fraternidade que Jesus Cristo nos concedeu, os nossos esforços por um mundo mais justo ficam sem fôlego, e mesmo os melhores projetos correm o risco de se tornar estruturas sem alma.

Por isso, as minhas boas-festas natalícias são votos de fraternidade.

Fraternidade entre pessoas de todas as nações e culturas.

Fraternidade entre pessoas de ideias diferentes, mas capazes de se respeitar e ouvir umas às outras.

Fraternidade entre pessoas de distintas religiões. Jesus veio revelar o rosto de Deus a todos aqueles que o procuram.

E o rosto de Deus manifestou-se num rosto humano concreto. Apareceu, não sob a forma dum anjo, mas dum homem, nascido num tempo e lugar concretos. E assim, com a sua encarnação, o Filho de Deus indica-nos que a salvação passa através do amor, da hospitalidade, do respeito por esta nossa pobre humanidade que todos compartilhamos numa grande variedade de etnias, línguas, culturas... mas todos irmãos em humanidade!

Então, as nossas diferenças não constituem um dano nem um perigo; são uma riqueza. Como no caso dum artista que queira fazer um mosaico: é melhor ter à sua disposição ladrilhos de muitas cores, que de poucas.

A experiência da família no-lo ensina: irmãos e irmãs são diferentes um do outro e nem sempre estão de acordo, mas há um laço indissolúvel que os une, e o amor dos pais ajuda-os a quererem-se bem. O mesmo se passa com a família humana, mas, nesta, é Deus o «pai», o fundamento e a força da nossa fraternidade.

Que este Natal nos faça redescobrir os laços de fraternidade que nos unem como seres humanos, interligando todos os povos. Permita a Israelitas e Palestinenses retomar o diálogo e embocar um caminho de paz que ponha fim a um conflito que, há mais de setenta anos, dilacera a Terra escolhida pelo Senhor para nos mostrar o seu rosto de amor.

Homilia do Papa Francisco na Missa da Noite de Natal 2018


SOLENE CELEBRAÇÃO DA SANTA MISSA
NA NOITE DO NATAL DO SENHOR

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica Vaticana
Segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Juntamente com Maria sua esposa, José subiu «à cidade de David, chamada Belém» (Lc 2, 4). Nesta noite, também nós subimos a Belém, para lá descobrir o mistério do Natal.

1. Belém: o nome significa casa do pão. Hoje, nesta «casa», o Senhor marca encontro com a humanidade. Sabe que precisamos de alimento para viver. Mas sabe também que os alimentos do mundo não saciam o coração. Na Sagrada Escritura, o pecado original da humanidade aparece associado precisamente com o ato de tomar alimento: «…agarrou do fruto, comeu» – diz o livro do Génesis (3, 6). Agarrou e comeu. O homem tornou-se ávido e voraz. Para muitos, o sentido da vida parece ser possuir, estar cheio de coisas. Uma ganância insaciável atravessa a história humana, chegando ao paradoxo de hoje em que alguns se banqueteiam lautamente enquanto muitos não têm pão para viver.

Belém é o ponto de viragem no curso da história. Lá Deus, na casa do pão, nasce numa manjedoura; como se quisesse dizer-nos: Estou aqui ao vosso dispor, como vosso alimento. Não agarra, oferece de comer; não dá uma coisa, mas dá-Se a Si mesmo. Em Belém, descobrimos que Deus não é alguém que agarra a vida, mas Aquele que dá a vida. Ao homem, habituado desde os primórdios a agarrar e comer, Jesus começa a dizer: «Tomai, comei. Este é o meu corpo» (Mt 26, 26). O corpo pequenino do Menino de Belém lança um novo modelo de vida: não devorar e acumular, mas partilhar e dar. Deus faz-Se pequeno, para ser nosso alimento. Nutrindo-nos d’Ele, Pão de vida, podemos renascer no amor e romper a espiral da avidez e da ganância. A partir da «casa do pão», Jesus traz o homem de regresso a casa, para que se torne familiar do seu Deus e irmão do seu próximo. Diante da manjedoura, compreendemos que não são os bens que alimentam a vida, mas o amor; não a voracidade, mas a caridade; não a abundância ostentada, mas a simplicidade que devemos preservar.

O Senhor sabe que precisamos de nos alimentar todos os dias. Por isso, ofereceu-nos todos os dias da sua vida, desde a manjedoura de Belém até ao cenáculo de Jerusalém. E ainda hoje, no altar, faz-Se pão partido para nós: bate à porta, para entrar e cear connosco (cf. Ap 3, 20). No Natal, recebemos Jesus, Pão do céu na terra: trata-se de um alimento cuja validade é ilimitada, fazendo-nos saborear já agora a vida eterna. 

Em Belém, descobrimos que a vida de Deus corre nas veias da humanidade. Se a acolhermos, a história muda a partir de cada um de nós; com efeito, quando Jesus muda o coração, o centro da vida já não é o meu «eu» faminto e egoísta, mas Ele, que nasce e vive por amor. Nesta noite, chamados a ir até Belém, casa do pão, interroguemo-nos: Qual é o alimento de que não posso prescindir na minha vida? É o Senhor ou outra coisa qualquer? Depois, entrando na gruta, ao vislumbrar na terna pobreza do Menino uma nova fragrância de vida, a da simplicidade, perguntemo-nos: Será verdade que preciso de tantas coisas, de receitas complicadas para viver? Quais são os contornos supérfluos de que consigo prescindir para abraçar uma vida mais simples? Em Belém, ao pé de Jesus, vemos pessoas que caminharam, como Maria, José e os pastores. Jesus é o Pão do caminho. Não Se compraz com as digestões lentas, longas e sedentárias, mas pede que nos levantemos rapidamente da mesa a fim de servir como pães partidos para os outros. Perguntemo-nos: No Natal, reparto o meu pão com aqueles que estão sem ele?

domingo, 23 de dezembro de 2018

A Nova Criação


“Transcorridos muitos séculos desde que Deus criou o mundo e fez o homem à sua imagem; - séculos depois de haver cessado o dilúvio, quando o Altíssimo fez resplandecer o arco-íris, sinal de aliança e de paz; - vinte e um séculos depois do nascimento de Abraão, nosso pai; - treze séculos depois da saída de Israel do Egito, sob a guia de Moisés; - cerca de mil anos depois da unção de Davi, como rei de Israel; - na septuagésima quinta semana da profecia de Daniel; - na nonagésima quarta Olimpíada de Atenas; - no ano 752 da fundação de Roma; - no ano 538 do edito de Ciro, autorizando a volta do exílio e a reconstrução de Jerusalém; - no quadragésimo segundo ano do império de César Otaviano Augusto, enquanto reinava a paz sobre a terra, na sexta idade do mundo: JESUS CRISTO DEUS ETERNO E FILHO DO ETERNO PAI, querendo santificar o mundo com a sua vinda, foi concebido por obra do Espírito Santo e se fez homem; transcorridos nove meses, nasceu da Virgem Maria, em Belém de Judá. Eis o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a natureza humana. Venham, adoremos o Salvador! Ele é Emanuel, Deus Conosco”. Este é o solene anúncio oficial do Natal, feito pela Igreja na primeira Missa da noite de Natal!

O Natal é a primeira festa litúrgica, o recomeçar do ano religioso, como a nos ensinar que tudo recomeçou ali. O nascimento de Jesus foi o princípio da revelação do grande mistério da Redenção que começava a se realizar e já tinha começado na concepção virginal de Jesus, o novo Adão. Deus queria que o seu projeto para a humanidade fosse reformulado num novo Adão, já que o primeiro Adão havia falhado por não querer se submeter ao seu Senhor, desejando ser o senhor de si mesmo e juiz do bem e do mal. Assim, Deus enviou ao mundo o seu próprio Filho, o Verbo eterno, por quem e com quem havia criado todas as coisas. Esse Verbo se fez carne, incarnou-se no puríssimo seio da Virgem, por obra do Espírito Santo, e começou a ser um de nós, nosso irmão, Jesus. Veio ensinar ao homem como ser servo de Deus. Por isso, sendo Deus, fez-se em tudo semelhante a nós, para que tivéssemos um modelo bem próximo de nós e ao nosso alcance. Jesus é Deus entre nós, o “Emanuel – Deus conosco”, a face da misericórdia do Pai. Uma nova criação!

Desenho Super Drags é cancelado pela Netflix após pressão popular


Após suscitar polêmicas no Brasil e Estados Unidos, a série animada Super Drags foi cancelada pela Netflix. Dessa forma, a animação desenvolvida por brasileiros não terá uma segunda temporada.

A série animada contava com o cantor Pablo Vittar entre os dubladores e zombava das convicções bíblicas que veem a homossexualidade como um pecado, e apresentava um “pastor” caricato entre os personagens, perpetuando a compreensão equivocada da visão bíblica de libertação da prática, apelidada pejorativamente de “cura gay”.

O “pastor” é mostrado como alguém radical, e o roteiro da série carrega na ironia ao mostrar o filho de Sandoval Pedroso, que o auxilia no campo, como alguém que se rebela contra a forma de pensar do pai, e ao final, os obreiros da instituição se tornam todos homossexuais.

A decisão de cancelar foi divulgada na última sexta-feira, 21 de dezembro. O jornalista Lauro Jardim, de O Globo, noticiou a escolha da empresa como sendo fruto “onda conservadora”.

Escolhidos para ver a grande luz


O Natal nos possibilita viver o acontecimento descrito pelo evangelista Lucas: “Completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,6-7). O nascimento de Jesus parecia fazer parte apenas de uma estatística, ainda mais que, como descreve Lucas, aconteceu em meio a um recenseamento oficial, ordenado pelo imperador romano César Augusto. Para muitos, seria um nascimento a mais. O que tinha de diferente eram as circunstâncias: não acontecia em uma casa, mas numa gruta, ordinariamente reservada para abrigo de animais.

Certamente, nem os moradores de Belém nem os que eram da família de Davi e estavam chegando à cidade por serem seus descendentes poderiam imaginar que naquela noite, ali, perto deles, estavam se cumprindo as palavras do profeta Isaías, muitas vezes lidas e meditadas pelo povo de Israel: “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz… Porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho” (Is 9,1.5).

Ninguém em Belém poderia pensar que exatamente naquela noite as palavras de Isaías, escritas cerca de 720 anos antes, estavam se concretizando. Quem por primeiro viu a luz do Natal foram os pastores, que pernoitavam nos campos, guardando seus rebanhos durante a noite. Os pastores eram filhos daquele povo que andava na escuridão e, ao mesmo tempo, foram os representantes escolhidos para aquele momento, escolhidos para ver a grande luz. Foi o que escreveu Lucas: “Um anjo do Senhor apareceu aos pastores, a glória do Senhor os envolveu em luz, e eles ficaram com muito medo” (Lc 2,9).

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Horror: ocultando gravidez, blogueira matou e jogou no lixo filhos recém-nascidos


O canal de TV norte-americano WBTW 13 divulgou que a youtuber e blogueira de maquiagem Alyssa Anne Dayvault, de 30 anos, foi presa sob a acusação de matar dois filhos recém-nascidos, em duas gestações diferentes, e jogá-los no lixo para manter escondidas essas duas ocasiões em que havia ficado grávida.

Pela gravidade dos dois crimes, ela aguarda julgamento no estado da Carolina do Sul sem possibilidade de fiança.

De acordo com a imprensa, Alyssa chegou com sangramento vaginal a um hospital de North Myrtle Beach, onde os médicos constataram a presença de um cordão umbilical e de placenta e acionaram a polícia para esclarecer o paradeiro do bebê.

Alyssa confessou que tinha dado à luz e que o bebê havia nascido vivo, mas morreu por falta do atendimento médico necessário e das medidas mínimas para a preservação da sua vida. A blogueira de moda ainda admitiu que jogou o corpo numa lixeira e que não informou às autoridades nem sobre o nascimento nem sobre o óbito de seu bebê.

O caso ganhou proporções ainda mais impactantes quando Alyssa assumiu que já tinha feito a mesma coisa com um filho anterior, nascido em novembro de 2017. As autoridades conseguiram registros médicos de um ultrassom feito por Alyssa no início do ano passado, no qual se comprovava uma gravidez saudável. 

A Pena de Morte e o Papa: progresso ou rotura?


Para mim, simples leigo há muito atraído pela teologia e gostando de compreender a fé católica que professo, a primordial questão é a do alcance, naquela frase, do significado da palavra inadmissível.

No passado dia 2 (de agosto), foi publicado no site do Vaticano [1] uma nova redação do nº 2267 do Catecismo da Igreja Católica, que trata da pena de morte, assim como uma carta endereçada aos bispos com esclarecimentos a respeito do mesmo assunto, aprovada pelo Papa e subscrita pelo Cardeal Ladaria, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé — o departamento que tem por missão tutelar, conforme a designação indica, justamente pela ortodoxia da doutrina da fé e da moral católicas. No terceiro parágrafo da nova redação conclui-se assim:

“Por isso a Igreja ensina, à luz do Evangelho, que «a pena de morte é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa»[1], e empenha-se com determinação a favor da sua abolição em todo o mundo”.

Sendo que a nota [1] que ali aparece remete para um Discurso aos participantes no encontro promovido pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, proferido pelo Papa a 11 de Outubro de 2017, o qual mais à frente citarei.

Esta nova redação – nova relativamente à da edição típica latina de 1997 – logo atiçou inúmeras polêmicas interpretativas, expostas sobretudo nos meios digitais internacionais. Polêmicas essas que já tinham sido ateadas na sequência do referido discurso de Outubro de 2017; e até já antecipadas pelo livro By Man Shall His Blood Be Shed: A Catholic Defense of Capital Punishment, de Edward Feser e Joseph Bessette, editado pela editora Ignatius dos Estados Unidos, em Maio de 2017.

A polêmica centra-se na questão de saber se a nova redação desejada pelo Papa Francisco, é apenas mais um progresso ou desenvolvimento da doutrina católica de sempre que admite a moralidade da pena de morte em si mesma, independentemente do facto de aquela constar ou não da legislação penal e da sua aplicação concreta; ou, ao contrário, se estamos perante uma rotura ou corrupção da doutrina. É sobre isto que aqui me debruço, sendo que me parece fundamental ainda antes recuar ao século V para ir beber a um tratado escrito por um santo monge.

Vejamos:por mais vivo e verdadeiro que se considere serem a Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério dos sucessores dos apóstolos (ou seja, o ensino do Papa sozinho; ou o do bispos em comunhão com ele), também é muito exato e verdadeiro o que São Vicente de Lérins – um monge que morreu algures antes do ano 450 – afirmou num seu tratado que ficou conhecido pelo nome de Commonitorium, sobre os critérios como a doutrina deve ou pode progredir (do latim profectus) ao longo do tempo, sem se corromper ou desdizer-se [2].

Neste contexto, vale a pena lembrar aos católicos – e outros interessados – que estes mesmos critérios do documento do monge de Lérins (assim como as passagens referidas no final, na nota 2), são referência de diversos documentos do mais alto Magistério da Igreja [3]. Este facto observável, constitui um indubitável reconhecimento, por parte das mesmas instâncias do Magistério da Igreja, da autoridade daquele tratado de São Vicente de Lérins.

Já mais contemporaneamente – como exemplo mais recente – permito-me transcrever aqui, apenas os seguintes três excertos em que isso se pode notar.

Do discurso de João XXIII, ao inaugurar o Concílio Vaticano II, dia 11 de Outubro de 1962, as seguintes palavras apontam claramente para a doutrina exposta por São Vicente no Commonitorium, nomeadamente para o capítulo XXIII, versículo 3 (itálico meu):

«4. A finalidade principal deste Concílio não é, portanto, a discussão de um ou outro tema da doutrina fundamental da Igreja, repetindo e proclamando o ensino dos Padres e dos Teólogos antigos e modernos, que se supõe sempre bem presente e familiar ao nosso espírito. 5. Para isto, não havia necessidade de um Concílio. Mas da renovada, serena e tranquila adesão a todo o ensino da Igreja, na sua integridade e exatidão, como ainda brilha nas Atas Conciliares desde Trento até ao Vaticano I, o espírito cristão, católico e apostólico do mundo inteiro espera um progresso na penetração doutrinal e na formação das consciências; é necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo. Uma coisa é a substância do «depositum fidei», isto é, as verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a formulação com que são enunciadas, conservando-lhes, contudo, o mesmo sentido e o mesmo alcance.»

E daquele mesmo Concílio, leia-se esta passagem (do nº 62) da Constituição pastoral Gaudium et Spes, de 7 de Dezembro de 1965, onde a mesma alusão ao Commonitorium é óbvia (itálicos meus):

«62. Ainda que a Igreja muito tem contribuído para o progresso cultural, mostra, contudo, a experiência que, devido a causas contingentes, a harmonia da cultura com a doutrina nem sempre se realiza sem dificuldades.

Tais dificuldades não são necessariamente danosas para a vida da fé; antes, podem levar o espírito a uma compreensão mais exata e mais profunda da mesma fé. Efetivamente, as recentes investigações e descobertas das ciências, da história e da filosofia, levantam novos problemas, que implicam consequências também para a vida e exigem dos teólogos novos estudos. Além disso, os teólogos são convidados a buscar constantemente, de acordo com os métodos e exigências próprias do conhecimento teológico, a forma mais adequada de comunicar a doutrina aos homens do seu tempo; porque uma coisa é o depósito da fé ou as suas verdades, outra o modo como elas se enunciam, sempre, porém, com o mesmo sentido e significado (12) [4]. Na atividade pastoral, conheçam-se e apliquem-se suficientemente, não apenas os princípios teológicos, mas também os dados das ciências profanas, principalmente da psicologia e sociologia, para que assim os fiéis sejam conduzidos a uma vida de fé mais pura e adulta.»

Por fim: também o Santo Padre Francisco, já citou aquele tratado de São Vicente de Lérins, designadamente o capítulo XXIII, versículos 1 e 9 – ainda que, infelizmente, de forma incompleta, como se pode constatar pela comparação com os originais [5]. Foi justamente no discurso que proferiu aos participantes no encontro por ocasião do XXV aniversário do Catecismo da Igreja Católica, dia 11 de Outubro de 2017, em que aludiu à necessidade de mudar o texto do Catecismo, no que respeita à pena de morte. Disse então o Papa:

[…] «Aqui não estamos perante qualquer contradição com a doutrina do passado, porque a defesa da dignidade da vida humana desde o primeiro instante da concepção até à morte natural sempre encontrou, no ensinamento da Igreja, a sua voz coerente e autorizada. O desenvolvimento harmônico da doutrina, porém, requer que se abandone tomadas de posição em defesa de argumentos que agora se apresentem decididamente contrários à nova compreensão da verdade cristã. Aliás, como já recordava São Vicente de Lérins, «talvez alguém pergunte: Não haverá progresso algum dos conhecimentos religiosos na Igreja de Cristo? Há, sem dúvida, e muito grande. Com efeito, quem será tão malévolo para com a humanidade e tão inimigo de Deus que pretenda impedir este progresso?» (Commonitorium,  23.1: PL50, 667). Por isso é necessário reiterar que, por muito grave que possa ter sido o delito cometido, a pena de morte é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa.» (na transcrição que aqui faço deste parágrafo o itálico e sublinhado é meu).

«”A Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita” (Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Dei Verbum, 8). No Concílio, os Padres não podiam encontrar afirmação sintética mais feliz para expressar a natureza e missão da Igreja. Não só na “doutrina”, mas também na “vida” e no “culto”, é oferecida aos crentes a capacidade de ser Povo de Deus. Com uma sequência evolutiva de verbos, a Constituição dogmática sobre a Divina Revelação exprime a dinâmica resultante do processo: «esta Tradição progride (…), cresce (…), tende continuamente para a plenitude da verdade divina, até que nela se realizem as palavras de Deus» (ibid.). (itálico conforme está na versão original portuguesa do Vaticano).

«A Tradição é uma realidade viva; e somente uma visão parcial pode conceber o “depósito da fé” como algo de estático. A Palavra de Deus não pode ser conservada em naftalina, como se se tratasse de uma velha coberta que é preciso proteger da traça! Não. A Palavra de Deus é uma realidade dinâmica, sempre viva, que progride e cresce, porque tende para uma perfeição que os homens não podem deter. Esta lei do progresso – segundo a fórmula feliz de São Vicente de Lérins: « annis consolidetur, dilatetur tempore, sublimetur aetate – fortalece-se com o decorrer dos anos, cresce com o andar dos tempos, desenvolve-se através das idades» ( Commonitorium, 23.9: PL50, 668) – pertence à condição peculiar da verdade revelada, enquanto transmitida pela Igreja, e não significa de modo algum uma mudança de doutrina.» (itálico conforme está na versão original portuguesa do Vaticano).

Como se vê – para além das duas citações do Commonitorium –– a frase sublinhada no primeiro parágrafo, é exatamente a mesma que agora o Papa entendeu usar na nova redação do nº 2267 do Catecismo.