domingo, 2 de junho de 2019

Papa beatifica 7 bispos: "deixaram ao povo romeno uma herança preciosa".


VIAGEM APOSTÓLICA À ROMÊNIA

DIVINA LITURGIA COM A BEATIFICAÇÃO
DE 7 BISPOS GRECO-CATÓLICOS MÁRTIRES

HOMILIA DO SANTO PADRE
Campo da Liberdade em Blaj, Romênia
Domingo, 2 de junho de 2019

«Rabi, quem foi que pecou para este homem ter nascido cego? Ele, ou os seus pais?» (Jo 9, 2). Esta pergunta dos discípulos dirigida a Jesus desencadeia uma série de movimentos e ações que permeiam toda a narração evangélica, desvendando e colocando em evidência aquilo que realmente cega o coração humano.

Jesus, como os seus discípulos, vê o cego de nascença, é capaz de o reconhecer e colocá-lo no centro. Depois de ter declarado que a sua cegueira não era fruto do pecado, mistura o pó da terra com a sua saliva e, com a lama feita, unge-lhe os olhos; depois ordena-lhe que vá lavar-se à piscina de Siloé. Depois de se ter lavado, o cego recupera a vista. É interessante notar que o milagre é narrado apenas em dois versículos; todos os outros concentram-se, não sobre o cego curado, mas sobre as discussões que levanta. Parece que a sua vida e especialmente a sua cura se tornem banais, jocosas ou motivos de debate bem como de enfado e irritação. O cego curado é interrogado primeiro pela multidão atónita, depois pelos fariseus; e estes interrogam também os seus pais. Colocam em dúvida a identidade do homem curado; depois negam a ação de Deus, tomando como desculpa que Deus não trabalha ao sábado; chegam até a duvidar que aquele homem tivesse nascido cego.

Toda a cena e as discussões revelam como é difícil entender as ações e as prioridades de Jesus, capaz de trazer para o centro aquele que estava na periferia, especialmente quando se pensa que a primazia é dada ao «sábado» e não ao amor do Pai, que procura salvar todos os homens (cf. 1 Tm 2, 4); o cego tinha de conviver não apenas com a sua própria cegueira, mas também com a daqueles que o rodeavam. É o que fazem as resistências e hostilidades que surgem no coração humano, quando no centro, em vez das pessoas, se colocam interesses particulares, rótulos, teorias, abstrações e ideologias, que, onde campeiam, nada mais fazem senão cegar tudo e a todos. Mas a lógica do Senhor é diferente: longe de se esconder na inatividade ou na abstração ideológica, procura a pessoa com o seu rosto, com as suas feridas e a sua história. Vai ao encontro dela, e não Se deixa enganar por discursos que são incapazes de dar a prioridade e pôr no centro aquilo que realmente é importante.

Estas terras conhecem bem o sofrimento do povo, quando o peso da ideologia ou dum regime é mais forte do que a vida e se antepõe como norma à própria vida e à fé das pessoas; quando a capacidade de decisão, a liberdade e o espaço para a criatividade se veem reduzidos e até eliminados (cf. Francisco, Carta enc. Laudato si’, 108). Irmãos e irmãs, vós suportastes os discursos e as intervenções baseadas no descrédito que chegavam à expulsão e aniquilação de quem não se pode defender, e silenciavam as vozes dissonantes. Pensemos, em particular, nos sete Bispos greco-católicos que tive a alegria de proclamar Beatos. Perante a feroz opressão do regime, demonstraram uma fé e um amor exemplares pelo seu povo. Com grande coragem e fortaleza interior, aceitaram ser sujeitos a dura prisão e a todo o tipo de maus-tratos, para não renegar a pertença à sua amada Igreja. Estes pastores, mártires da fé, recuperaram e deixaram ao povo romeno uma preciosa herança que podemos resumir em duas palavras: liberdade e misericórdia.

Discurso do Papa Francisco no encontro com jovens e famílias na Romênia




VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À ROMÊNIA
(31 DE MAIO - 2 DE JUNHO DE 2019)

ENCONTRO MARIANO COM OS JOVENS E AS FAMÍLIAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

Largo do Palácio da Cultura, Iaşi
Sábado, 1 de junho de 2019

Queridos irmãos e irmãs, bună seara!

Aqui, convosco, sente-se o calor de estar em família, rodeados de pequenos e grandes. Vendo-vos e ouvindo-vos, é fácil sentir-se em casa. O Papa, no vosso meio, sente-se em casa. Obrigado pela vossa calorosa receção e pelos testemunhos que nos oferecestes. Ao apresentar-vos, o bispo D. Petru – como bom e brioso pai da família – abraçou-vos a todos nas suas palavras; e viu-se confirmado por ti, Eduard, quando nos dizias que este encontro não quer ser apenas de jovens, nem apenas de adultos, nem apenas de outros quaisquer, mas «esta tarde [quisemos] que, juntamente connosco, estivessem os nossos pais e os nossos avós».

Por estes lados, hoje é o dia da criança. Um aplauso às crianças! Quero que a primeira coisa a fazer seja rezar por elas: peçamos à Virgem que as proteja com o seu manto. Jesus colocou-as no meio dos seus Apóstolos; também nós queremos colocá-las no centro e reafirmar o nosso compromisso de querer amá-las com o mesmo amor com que as ama o Senhor, empenhando-nos pelo direito delas ao futuro. Esta é uma boa herança: dar às crianças o direito ao futuro.

Alegra-me saber que, nesta praça, se encontra o rosto da família de Deus, que envolve crianças, jovens, esposos, pessoas consagradas, idosos romenos de várias regiões e tradições, bem como da Moldávia, e ainda quantos vieram da outra margem do rio Prut, os fiéis de língua csango, polaca e russa. O Espírito Santo convoca-nos a todos e ajuda-nos a descobrir a beleza de estar juntos, de nos podermos encontrar para caminhar juntos; cada qual com a sua própria língua e tradição, mas feliz por se encontrar entre irmãos. Com aquela alegria que partilhavam connosco Elizabete e Ioan – são admiráveis estes dois! – com os seus onze filhos, todos diferentes, vindos de vários lugares, mas «hoje encontram-se todos reunidos, da mesma forma que, alguns anos atrás, cada domingo de manhã se encaminhavam todos juntos para a Igreja». A felicidade dos pais ao verem os filhos reunidos! De certeza hoje, no céu, fazem festa ao ver tantos filhos que decidiram estar juntos.

É a experiência dum novo Pentecostes, como ouvimos na Leitura, onde o Espírito abraça as nossas diferenças e nos dá a força para abrir sendas de esperança, fazendo valer o melhor de cada um; é o mesmo caminho que encetaram os Apóstolos há dois mil anos, sendo hoje a nossa vez de agarrar o testemunho e nos decidirmos a semear. Não podemos esperar que sejam os outros a fazê-lo; toca-nos a nós! Somos responsáveis; toca a nós!

É difícil caminhar juntos, não é verdade? É uma graça que devemos pedir, uma peça artesanal que somos chamados a construir e um dom maravilhoso a transmitir. Mas, por onde começar para caminhar juntos?

Papa Francisco: "Não deixemos que nos seja roubada a fraternidade".



VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À ROMÊNIA
(31 DE MAIO - 2 DE JUNHO DE 2019)

SANTA MISSA

HOMILIA DO SANTO PADRE

Santuário Șumuleu Ciuc
Sábado, 1 de junho de 2019

Com alegria e gratidão a Deus, encontro-me hoje convosco, amados irmãos e irmãs, neste querido santuário mariano, rico de história e fé, tendo vindo aqui, como filhos, para encontrar a nossa Mãe e reconhecer-nos como irmãos. Os santuários, lugares quase «sacramentais» duma Igreja-hospital-de-campanha, guardam a memória do povo fiel, que, no meio das suas tribulações não se cansa de procurar a fonte de água viva onde avivar a esperança. São lugares de festa e celebração, de lágrimas e súplicas. Vimos aos pés da Mãe, sem muitas palavras, a fim de nos deixarmos olhar por Ela e para que, com o seu olhar, nos conduza Àquele que é «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14, 6).

Não o fazemos de qualquer modo; somos peregrinos. Aqui vindes em peregrinação cada ano, no sábado de Pentecostes, para honrar o voto dos vossos antepassados e fortalecer a fé em Deus e a devoção a Nossa Senhora, representada na sua estátua monumental de madeira. Esta peregrinação anual pertence à herança da Transilvânia, mas honra conjuntamente as tradições religiosas romena e húngara; e participam nela também fiéis doutras confissões, sendo um símbolo de diálogo, unidade e fraternidade; um apelo a recuperar os testemunhos de fé tornada vida e de vida feita esperança. Peregrinar é saber que vimos como povo à nossa casa. É saber que temos consciência de ser um povo. Um povo, cuja riqueza são os seus mil rostos, mil culturas, línguas e tradições; o santo Povo fiel de Deus que, com Maria, caminha peregrino cantando a misericórdia do Senhor. Se, em Caná da Galileia, Maria intercedeu junto de Jesus para que realizasse o primeiro milagre, em cada santuário, vela e intercede não só diante do seu Filho, mas também diante de cada um de nós, para não deixarmos que nos seja roubada a fraternidade pelas vozes e as feridas que alimentam a divisão e a fragmentação. As complexas e tristes vicissitudes do passado não devem ser esquecidas nem negadas, mas também não podem constituir um obstáculo ou um argumento para impedir a ansiada convivência fraterna. Peregrinar significa sentir-se chamados e impelidos a caminhar juntos, pedindo ao Senhor a graça de transformar rancores e desconfianças, antigos e atuais, em novas oportunidades de comunhão; significa desligar-se das nossas seguranças e comodidades e partir à procura duma nova terra que o Senhor nos quer dar. Peregrinar é desafio a descobrir e transmitir o espírito de viver juntos, de não ter medo de se misturar, de nos encontrarmos e ajudarmos. Peregrinar significa participar naquela maré um pouco caótica que se pode transformar numa verdadeira experiência de fraternidade, caravana sempre solidária para construir a história (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 87). Peregrinar é ver não tanto aquilo que poderia ter sido (e não foi), como sobretudo aquilo que nos espera e não podemos adiar mais. Significa crer no Senhor que vem e está no meio de nós promovendo e estimulando a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, verdade e justiça (cf. ibid., 71). Peregrinar é o compromisso de lutar para que, quantos ontem tinham ficado para trás, se tornem os protagonistas do amanhã, e os protagonistas de hoje não sejam deixados para trás amanhã. E isto, irmãos e irmãs, requer o trabalho artesanal de tecer juntos o futuro. Eis o motivo por que estamos aqui! Para dizer juntos: Mãe, ensinai-nos a esboçar o futuro.

Papa em Bucareste: "Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos"


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À ROMÊNIA
(31 DE MAIO - 2 DE JUNHO DE 2019)

SANTA MISSA

HOMILIA DO SANTO PADRE
NA FESTA DA VISITAÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA

Catedral Católica de São José, Bucareste
Sexta-feira, 31 de maio de 2019

O Evangelho que escutamos introduz-nos no encontro de duas mulheres que se abraçam e fazem transbordar tudo de felicidade e louvor: exulta de alegria o menino e Isabel bendiz a prima pela sua fé; Maria canta as maravilhas que o Senhor realizou na sua humilde serva, com o grande hino de esperança para aqueles que já não podem cantar porque perderam a voz... Canto de esperança, que nos quer despertar também a nós convidando-nos a entoá-lo hoje por meio de três elementos preciosos que nascem da contemplação da primeira discípula: Maria caminha, Maria encontra, Maria rejubila.

Maria caminha... de Nazaré até casa de Zacarias e Isabel: é a primeira das viagens de Maria que narra a Sagrada Escritura. A primeira de muitas. Irá da Galileia a Belém, onde nascerá Jesus; fugirá para o Egito, a fim de salvar o Menino de Herodes; além disso dirigir-Se-á cada ano a Jerusalém pela Páscoa, até à última em que seguirá o Filho até ao Calvário. Estas viagens têm uma caraterística: nunca foram caminhos fáceis, exigiram coragem e paciência. Dizem-nos que Nossa Senhora conhece as subidas, conhece as nossas subidas: é nossa irmã no caminho. Especialista em trabalhar duro, sabe como tomar-nos pela mão nas asperezas, quando nos encontramos perante as viragens mais acentuadas da vida. Como boa mãe, Maria sabe que o amor se concretiza nas pequenas coisas diárias. Amor e inventiva materna, capaz de transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 286). Contemplar Maria permite-nos estender o olhar sobre tantas mulheres, mães e avós destas terras que, com sacrifício sem alarde, abnegação e empenho moldam o presente e tecem os sonhos do futuro. Doação silenciosa, tenaz e despercebida, que não tem medo de «arregaçar as mangas» e carregar as dificuldades aos ombros para levar por diante a vida dos seus filhos e de toda a família, esperando «para além do que se podia esperar» (Rm 4, 18). Permanece inesquecível o facto de um forte sentido de esperança que vive e pulsa no vosso povo para além de todas as condições que possam ofuscá-la ou procurem extingui-la. Olhando Maria e tantos rostos maternos, experimenta-se e alarga-se o espaço à esperança (cf. Documento de Aparecida, 536), que gera e abre o futuro. Digamo-lo com força: no nosso povo, há espaço para a esperança. Por isso, Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos.

Maria encontra Isabel (cf. Lc 1, 39-56), já de idade avançada (cf. Lc 1, 7). Mas é ela, a idosa, que fala de futuro, que profetiza: «cheia do Espírito Santo» (Lc 1, 41), proclama Maria «feliz» porque acreditou (cf. Lc 1, 45), antecipando a última bem-aventurança dos Evangelhos: felizes os que creem (cf. Jo 20, 29). E assim a jovem vai ao encontro da idosa procurando as raízes, e a idosa renasce e profetiza acerca da jovem, dando-lhe futuro. Assim se encontram jovens e anciãos, abraçam-se e cada um é capaz de despertar o melhor do outro. É o milagre suscitado pela cultura do encontro, na qual ninguém é descartado nem rotulado; antes pelo contrário, todos são procurados, porque necessários para fazer transparecer o rosto do Senhor. Não têm medo de caminhar juntos e, quando isto acontece, Deus chega e realiza prodígios no seu povo. Com efeito, é o Espírito Santo que nos encoraja a sair de nós mesmos, dos nossos fechamentos e particularismos, para nos ensinar a olhar para além das aparências e oferecer-nos a possibilidade de dizer bem dos outros – «bendizê-los» –, especialmente de tantos irmãos nossos que ficaram expostos às intempéries, talvez privados não apenas dum teto ou dum bocado de pão, mas sobretudo da amizade e do calor duma comunidade que os abrace, proteja e acolha. Cultura do encontro que nos impele, a nós cristãos, a experimentar o milagre da maternidade da Igreja que procura, defende e une os seus filhos. Na Igreja, quando se encontram ritos diferentes, quando em primeiro lugar não vêm as próprias afiliações, o próprio grupo ou a própria etnia, mas o Povo que, junto, sabe louvar a Deus, então acontecem grandes coisas. Digamo-lo com força: felizes os que creem (cf. Jo 20, 19) e têm a coragem de criar encontro e comunhão.

sexta-feira, 31 de maio de 2019

Netflix quer boicotar o Estado da Geórgia por não permitir que seus bebês sejam assassinados

Os conservadores da Georgia, em resposta a Netflix, ameaçaram cancelar as suas assinaturas e ir para a concorrência

O governador republicano da Georgia, Brian Kemp, assinou uma lei, no dia 07/05, que proíbe o aborto de fetos que já possuem batimentos cardíacos.

Devido a esse lei, a Netflix ameaça tirar os investimentos do Estado da Georgia, o que acarretaria em não produzir mais filmes e séries no Estado.

Ted Sarandos, chefe de conteúdo da Netflix, afirmou a revista Variety:

“Temos muitas mulheres trabalhando em produções na Geórgia, cujos direitos, juntamente com milhões de outros, serão duramente restringidos por esta lei”

Tragédia no México: 21 peregrinos morrem depois de visitarem a Basílica de Guadalupe


A tristeza tomou conta do México depois que 21 pessoas morreram e 30 ficaram feridas em um acidente na região conhecida como Cumbres de Maltrata. As vítimas eram peregrinos pertencentes à Arquidiciocese de Tuxtla Guitérrez.

Eles tinham ido até a Cidade do México para visitar a Basílica de Guadalupe. Quando voltavam para casa, o ônibus em que viajavam perdeu os freios, bateu contra um caminhão e pegou fogo.

Nas redes sociais, fotos dos peregrinos na Basílica, e também as imagens assustadoras do terrível acidente.

Papa Francisco incentiva Patriarca Daniel e Igreja Ortodoxa da Romênia a "caminhar juntos"


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À ROMÊNIA
(31 DE MAIO - 2 DE JUNHO DE 2019)

ENCONTRO COM O PATRIARCA DANIEL E O SÍNODO PERMANENTE DA IGREJA ORTODOXA
Bucareste- Patriarcado Ortodoxo
Sexta-feira, 31 de maio de 2019

Beatitude, venerados Metropolitas e Bispos do Santo Sínodo,

Cristos a înviat! [Cristo ressuscitou!] A ressurreição do Senhor é o coração da proclamação apostólica, transmitida e guardada pelas nossas Igrejas. No dia de Páscoa, os Apóstolos ficaram cheios de alegria ao ver o Ressuscitado (cf. Jo 20, 20). Neste tempo de Páscoa, rejubilo também eu ao contemplar um reflexo disso mesmo nos vossos rostos, queridos Irmãos. Há vinte anos, diante deste Sínodo, disse o Papa João Paulo II: «Vim contemplar o Rosto de Cristo esculpido na vossa Igreja; vim venerar este Rosto sofredor, penhor duma esperança renovada» [Discurso ao Patriarca Teoctist e ao Santo Sínodo, 8/V/1999, n. 3: Insegnamenti di Giovanni Paolo II XXII/1 (1999), 938]. Também eu, desejoso de ver o rosto do Senhor no rosto dos irmãos, vim aqui, peregrino, para vos ver; de coração, agradeço a vossa recepção.

Os vínculos de fé que nos unem, remontam aos Apóstolos, testemunhas do Ressuscitado, em particular ao laço que unia Pedro e André, o qual – segundo a tradição – trouxe a fé a estas terras. Irmãos de sangue (cf. Mc 1, 16), foram-no também e de forma singular ao derramarem o seu sangue pelo Senhor. Lembram-nos que existe uma fraternidade do sangue que nos antecede e que ao longo dos séculos, como uma silenciosa corrente vivificante, nunca cessou de irrigar e sustentar o nosso caminho.

Aqui – como em tantos outros lugares, nos nossos dias – experimentastes a Páscoa de morte e ressurreição: muitos filhos e filhas deste país, de várias Igrejas e comunidades cristãs, sofreram a sexta-feira da perseguição, atravessaram o sábado do silêncio, viveram o domingo do renascimento. Quantos mártires e confessores da fé! Em tempos recentes, muitos de diferentes Confissões encontraram-se lado a lado nas prisões, sustentando-se mutuamente. O seu exemplo está hoje diante de nós e das novas gerações que não conheceram aquelas condições dramáticas. Aquilo por que sofreram, até dar a vida, é uma herança demasiado preciosa para ser esquecida ou aviltada. E é uma herança comum, que nos chama a não nos distanciarmos do irmão que a partilha. Unidos a Cristo no sofrimento e na aflição, unidos por Cristo na Ressurreição, para que «também nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6, 4).

Beatitude, Irmão querido, há vinte anos o encontro entre os nossos Predecessores foi um dom pascal, um acontecimento que contribuiu não só para o reflorescimento das relações entre ortodoxos e católicos na Romênia, mas também para o diálogo entre católicos e ortodoxos em geral. Aquela viagem – a primeira que um bispo de Roma dedicava a um país de maioria ortodoxa – abriu o caminho para outros eventos semelhantes. O meu pensamento dirige-se para o Patriarca Teoctist, de grata memória. Como não recordar o grito «unitate, unitate!» que se levantou, espontâneo, aqui em Bucareste naqueles dias? Foi um anúncio de esperança nascido do Povo de Deus, uma profecia que inaugurou um tempo novo: o tempo de caminhar juntos na redescoberta e avivamento da fraternidade que já nos une.

Caminhar juntos com a força da memória. Não a memória dos agravos sofridos e infligidos, dos juízos e preconceitos, que nos fecham num círculo vicioso e levam a atitudes estéreis, mas a memória das raízes: os primeiros séculos em que o Evangelho, anunciado com audácia e espírito de profecia, encontrou e iluminou novos povos e culturas; os primeiros séculos dos mártires, dos Santos Padres e dos confessores da fé, da santidade diariamente vivida e testemunhada por tantas pessoas simples que partilham o mesmo Céu. Graças a Deus, as nossas raízes apresentam-se sãs e firmes e, embora o crescimento tenha conhecido as distorções e os transes do tempo, somos chamados – como o salmista – a conservar grata recordação de tudo aquilo que operou em nós o Senhor, a elevar-Lhe um hino de louvor de uns pelos outros (cf. Sal 77, 6.12-13). A lembrança dos passos que demos juntos encoraja-nos a continuar rumo ao futuro com a consciência – certamente – das diferenças, mas sobretudo na ação de graças dum ambiente familiar que deve ser redescoberto, na memória de comunhão que se deve reavivar, que como lâmpada projete luz sobre os passos do nosso caminho.

Caminhar juntos na escuta do Senhor. Serve-nos de exemplo aquilo que o Senhor fez no dia de Páscoa, ao caminhar com os discípulos pela estrada de Emaús. Estes falavam de tudo o que sucedera, das suas preocupações, dúvidas e questões. O Senhor escutou-os pacientemente e conversou francamente com eles, ajudando-os a entender e discernir os acontecimentos (cf. Lc 24, 15-27).

Discurso do Papa diante de autoridades, sociedade civil e diplomatas na Romênia


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À ROMÊNIA
(31 DE MAIO - 2 DE JUNHO DE 2019)

ENCONTRO COM AS AUTORIDADES,
A SOCIEDADE CIVIL E O CORPO DIPLOMÁTICO

DISCURSO DO SANTO PADRE
Sala Unirii do Palácio Presidencial, Bucareste
Sexta-feira, 31 de maio de 2019

Senhor Presidente,
Senhora Primeiro-Ministro,
Santidade,
Ilustres Membros do Corpo Diplomático,
Distintas Autoridades,
Representantes das várias Confissões Religiosas e da sociedade civil,
Queridos irmãos e irmãs!

Dirijo uma cordial saudação e os meus agradecimentos ao senhor Presidente e à senhora Primeiro-Ministro pelo convite para visitar a Romênia e as amáveis expressões de boas-vindas que o senhor Presidente me dirigiu em nome próprio e também das outras autoridades da nação e do vosso amado povo. Saúdo os membros do Corpo Diplomático e os expoentes da sociedade civil aqui reunidos.

Saúdo, com amor fraterno, o meu irmão Daniel. Com deferência, apresento as minhas saudações a todos os Metropolitas e Bispos do Santo Sínodo e a todos os fiéis da Igreja Ortodoxa Romena. Saúdo com afeto os Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e todos os membros da Igreja Católica, que venho confirmar na fé e encorajar no seu caminho de vida e testemunho cristãos.

Estou feliz por me encontrar na vossa linda terra, vinte anos depois da visita de São João Paulo II e no semestre em que a Romênia – pela primeira vez desde que começou a fazer parte da União Europeia – preside ao Conselho Europeu.

Trata-se dum momento propício para uma vista de conjunto aos trinta anos passados desde que a Romênia se libertou dum regime que oprimia a sua liberdade civil e religiosa e a isolava dos outros países europeus levando-a também à estagnação da sua economia e ao exaurimento das suas forças criativas. Durante este período, a Romênia empenhou-se na construção dum projeto democrático através do pluralismo das forças políticas e sociais e do seu diálogo mútuo, através do reconhecimento fundamental da liberdade religiosa e da plena integração do país no mais amplo cenário internacional. É importante reconhecer os numerosos passos realizados neste caminho, mesmo no meio de grandes dificuldades e privações. A vontade de progredir nos vários campos da vida civil, social e científica pôs em movimento tantas energias e projetação, libertou inúmeras forças criativas que antes estavam prisioneiras e deu novo impulso às múltiplas iniciativas empreendidas, transportando o país para o século XXI. Encorajo-vos a prosseguir no trabalho de consolidar as estruturas e as instituições que são necessárias não só para dar resposta às justas aspirações dos cidadãos, mas também para estimular o vosso povo permitindo-lhe expressar todo o potencial e engenho de que sabemos ser capaz.

Ao mesmo tempo é preciso reconhecer que as transformações, tornadas necessárias pela abertura duma nova era, acarretaram consigo – juntamente com as conquistas positivas – o aparecimento de inevitáveis obstáculos que se devem superar e de consequências para a estabilidade social e a própria administração do território nem sempre fáceis de gerir. Penso, em primeiro lugar, no fenômeno da emigração, que envolveu vários milhões de pessoas que deixaram a casa e a pátria à procura de novas oportunidades de trabalho e duma vida digna. Penso no despovoamento de tantas aldeias, que em poucos anos viram partir uma parte considerável dos seus habitantes; penso nas consequências que tudo isto pode ter sobre a qualidade da vida em tais terras e no enfraquecimento das vossas raízes culturais e espirituais mais ricas que vos sustentaram nos momentos mais duros, nas adversidades. Presto homenagem aos sacrifícios de tantos filhos e filhas da Romênia que enriquecem os países para onde emigraram, com a sua cultura, o seu patrimônio de valores e o seu trabalho e, com o fruto do seu empenho, ajudam a família que ficou na própria pátria. Pensar nos irmãos e irmãs que estão no estrangeiro é um ato de patriotismo, é um ato de fraternidade, é um ato de justiça. Continuai a fazê-lo.