quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Cardeal Hummes: questão da ordenação de homens casados será retomada no Vaticano



Após a apresentação da Exortação Apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, ocorrida hoje no Vaticano, o Cardeal brasileiro Claudio Hummes ofereceu algumas declarações à imprensa afirmando que o tema da ordenação de homens casados será retomado junto ao Papa e as instâncias da Santa Sé.

As declarações do purpurado, que também é presidente da REPAM (Rede Eclesial Panamazônica), responsável pela  sondagem que deu origem ao Instrumentum Laboris do Sínodo, documento em que já se vislumbrava o pedido de admissão de homens casados ao sacerdócio, tiveram lugar na apresentação da Exortação Querida Amazônia na sede da CNBB em Brasília, na manhã de hoje, 12, e vão na contramão do que pediu o Papa Francisco no recém lançado documento.

Nos números 89 e 90 do texto que foi apenas divulgado, o Santo Padre não contempla a possibilidade de que homens casados sejam ordenados sacerdotes, antes, pede que os bispos promovam vocações missionárias e enviem sacerdotes para a região panamazônica.

Dom Claudio ofereceu estas declarações no contexto de uma pergunta sobre este pedido do Sínodo que não foi mencionado na Exortação. O Prefeito Emérito do Clero explicou primeiramente que “a questão da eventual ordenação de homens casados, não significa que o clero vai casar, mas, que homens casados em certas circunstâncias, possam ser ordenados padres continuando a viver como casados”.

“Esta questão como todas as outras [do documento final], deverão ser trabalhadas agora junto ao Santo Padre e as instâncias da Santa Sé que tratam desses assuntos”, afirmou Dom Hummes, asseverando que o tema será retomado no Vaticano e que este pedido do Sínodo, contido no numeral 111 do Documento Final, deverá “ser elaborado e eventualmente, com um processo, ir sendo cumprido”.

Neste sentido, disse o Cardeal brasileiro afirmou que será muito importante a atuação de um organismo eclesial a ser criado para a região amazônica. “Assim como existem as conferências (episcopais) nos países, exista lá também, dado que é uma região que inclui vários países, um tipo de organismo que ainda tem, de certa forma, que se formular, ver quais serão as suas competências”, disse.

“Este organismo terá uma função muito importante junto com as instâncias do Papa no Vaticano, para irmos discutindo, e em que caso se poderia, de fato, realizar este pedido do Sínodo. (...) Certamente é este organismo que iria assumir a coordenação e a animação de todo este processo de aplicação do Sínodo”, ressaltou. 

Papa Francisco recebe Lula nesta quinta: tudo que se sabe sobre o encontro



O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou para o Vaticano acompanhado por dois de seus advogados: Cristiano Zanin e Manoel Caetano e deve se encontrar com o papa Francisco nesta quinta-feira (13). Lula embarcou para Roma, na Itália, na última terça-feira (11) – é a primeira viagem internacional de Lula após deixar a prisão, em novembro.

No Twitter, o ex-presidente disse querer agradecer pessoalmente a solidariedade recebida do pontífice durante o período em que esteve preso e pela dedicação do líder da Igreja Católica ao povo oprimido. "Também quero debater a experiência brasileira no combate à miséria”, escreveu.

A visita ao Vaticano, de fato, faz parte de sua estratégia de defesa. Lula quer um depoimento do papa Francisco absolvendo-o de seus crimes mas a visita do ex-presidente não consta na agenda oficial do Santo Padre e é tratada com discrição pelo Vaticano, que a considera uma audiência privada.

Em Roma para se encontrar com Papa Francisco, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou as primeiras horas na cidade para discutir com políticos da esquerda italiana a situação do Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro.

Acompanhado de seu ex-ministro Celso Amorim, que comandou o Itamaraty nos seus oito anos de governo (2003-10), e de alguns poucos assessores, Lula desembarcou na manhã desta quarta-feira em um voo comercial. Ele e sua pequena comitiva estão hospedados num hotel a dois quilômetros do Vaticano.

— Vim para ouvir — disse o ex-presidente sobre o encontro com Francisco. Será a primeira vez que o brasileiro e o argentino estarão juntos.

O encontro entre os dois foi intermediado pelo presidente da Argentina, Alberto Fernández, que visitou o conterrâneo no Vaticano no dia 31 de janeiro. 

Gilberto Carvalho, ex-ministro de Lula e um dos interlocutores do PT com a Igreja Católica (que não viajou a Roma por questões pessoais), conta que o pedido foi prontamente atendido por Jorge Mario Bergoglio.

— Foi tudo muito rápido. Na mesma hora que o Alberto comentou, o papa pediu a seu secretário particular para marcar a reunião — disse Carvalho, ressaltando a deferência do pontífice com o brasileiro.

Gilberto Carvalho afirma que o papa estava acompanhando toda a situação de Lula, lembrando das visitas de brasileiros ao Vaticano para tratar da condenação do petista.

Segundo a Folha de S. Paulo, Lula também aproveitará a audiência, que será reservada, para afirmar a Francisco que foi vítima de lawfare, termo criado para indicar uma “perseguição política” travada no Judiciário. 

CNBB esclarece detalhes da Exortação Apostólica Querida Amazônia



O Papa Francisco publicou nesta manhã (12/02) a Exortação Apostólica “Querida Amazônia”, documento feito a partir da realização da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, realizado entre os dias 6 e 27 de outubro de 2019, no Vaticano. Veja os detalhes do documento aqui.

Em seguida, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) promoveram uma coletiva de imprensa sobre a Exortação Apostólica e os desdobramentos no Brasil. O evento foi realizado na sede da CNBB, em Brasília. Participaram da coletiva o arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, e o relator do Sínodo para a Amazônia, cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo. A coletiva está disponível no Facebook da CNBB @cnbbnacional .

O tema do Sínodo foi “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral”. O objetivo traçado pelo Papa Francisco foi “identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta”.

Papa cumprimenta representante indígena em Porto Maldonado, no Peru, em janeiro de 2018. Foto: REUTERS/Henry Romero

Durante o processo do Sínodo, religiosos e religiosas, leigos e leigas e representantes das populações tradicionais prepararam um documento com as reflexões sobre novos caminhos para a Igreja na Amazônia e para a ecologia integral, que foi encaminhado ao Papa como ajuda à construção do texto final.

Do anúncio da realização do Sínodo pelo Santo Padre, em Porto Maldonado, no Peru, em janeiro de 2018 até o lançamento da Exortação “Querida Amazônia” um longo processo sinodal foi desenvolvido. Por isto, antes de conhecermos a Exortação é importante retomar todo caminho percorrido.

Fase de preparação e escuta sinodal

De junho 2018 a abril de 2019, foi desenvolvida, nos países que integram a região Pan-Amazônica (Brasil, Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname), uma série de atividades como parte do processo de escutas pré-sinodais coordenado pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM). A escuta ouviu os povos amazônicos, com destaque para indígenas, ribeirinhos, quilombolas, mulheres, jovens, religiosos e religiosas.

Ao todo foram realizadas 57 assembleias, 21 fóruns nacionais, 17 fóruns temáticos e 179 rodas de conversa. No Brasil, foram 182 atividades. Ao todo, estima-se que 87 mil pessoas tenham sido ouvidas na fase de preparação. Como fruto desta escuta, a secretaria-executiva do Sínodo elaborou o Instrumentum Laboris (Instrumento de Trabalho) do Sínodo Amazônico, material de estudo dos bispos em preparação ao evento.

O papa convocou bispos dos 9  países que integram a Pan-Amazônia. O Brasil ficou com a maior delegação entre os participantes, sendo 58 bispos da região amazônica, além de outros nomes na cúpula do encontro como o cardeal brasileiro dom Claudio Hummes, relator-geral do sínodo. O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, também participou. O pontífice convidou ainda cientistas, nomes ligados à Organização das Nações Unidas (ONU), representantes de igrejas evangélicas, de ONGs e povos indígenas. 

Conheça a Querida Amazônia, a Exortação do Papa por uma Igreja com rosto amazônico



“A Amazônia querida apresenta-se aos olhos do mundo com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério.” Assim tem início a Exortação apostólica pós-sinodal, Querida Amazônia. O Pontífice, nos primeiros pontos, (2-4) explica “o sentido desta Exortação”, rica de referências a documentos das Conferências episcopais dos países amazônicos, mas também a poesias de autores ligados à Amazônia. Francisco destaca que deseja “expressar as ressonâncias” que o Sínodo provocou nele. E esclarece que não pretende substituir nem repetir o Documento final, que convida a ler “integralmente”, fazendo votos de que toda a Igreja se deixe “enriquecer e interpelar” por este trabalho e que a Igreja na Amazônia se empenhe “na sua aplicação”. O Papa compartilha os seus “Sonhos para a Amazônia” (5-7), cujo destino deve preocupar a todos, porque esta terra também é “nossa”. Assim, formula “quatro grandes sonhos”: que a Amazônia “que lute pelos direitos dos mais pobres”, “que preserve a riqueza cultural”, que “que guarde zelosamente a sedutora beleza natural”, que, por fim, as comunidades cristãs sejam “capazes de se devotar e encarnar na Amazônia”.

O sonho social: a Igreja ao lado dos oprimidos

O primeiro capítulo de Querida Amazônia é centralizado no “Sonho social” (8). Destaca que “uma verdadeira abordagem ecológica” é também “abordagem social” e, mesmo apreciando o “bem viver” dos indígenas, adverte para o “conservacionismo”, que se preocupa somente com o meio ambiente.Com tons vibrantes, fala de “injustiça e crime”(9-14). Recorda que já Bento XVI havia denunciado “a devastação ambiental da Amazônia”. Os povos originários, afirma, sofrem uma “sujeição” seja por parte dos poderes locais, seja por parte dos poderes externos. Para o Papa, as operações econômicas que alimentam devastação, assassinato e corrupção merecem o nome de “injustiça e crime”. E com João Paulo II, reitera que a globalização não deve se tornar um novo colonialismo.

Os pobres sejam ouvidos sobre o futuro da Amazônia

Diante de tanta injustiça, o Pontífice fala que é preciso “indignar-se e pedir perdão” (15-19). Para Francisco, são necessárias “redes de solidariedade e de desenvolvimento” e pede o comprometimento de todos, inclusive dos líderes políticos. O Papa ressalta o tema do “sentido comunitário” (20-22), recordando que, para os povos amazônicos, as relações humanas “estão impregnadas pela natureza circundante”. Por isso, escreve, vivem como um verdadeiro “desenraizamento” quando são “forçados a emigrar para a cidade”. A última parte do primeiro capítulo é dedicado às “Instituições degradadas” (23-25) e ao “Diálogo social” (26-27). O Papa denuncia o mal da corrupção, que envenena o Estado e as suas instituições. E faz votos de que a Amazônia se torne “um local de diálogo social” antes de tudo “com os últimos. A voz dos pobres, exorta, deve ser “a voz mais forte” sobre a Amazônia.

O sonho cultural: cuidar do poliedro amazônico

O segundo capítulo é dedicado ao “sonho cultural”.Francisco esclarece que “promover a Amazônia” não significa “colonizá-la culturalmente” (28). E recorre a uma imagem que lhe é cara: “o poliedro amazônico”(29-32). É preciso combater a “colonização pós-moderna”. Para Francisco, é urgente “cuidar das raízes” (33-35). Citando Laudato si’ Christus vivit, destaca que a “visão consumista do ser humano” tende a “a homogeneizar as culturas” e isso afeta sobretudo os jovens. A eles, o Papa pede que assumam as raízes, que recuperem “a memória danificada”.

Não a um indigenismo fechado, é preciso um encontro intercultural

A Exortação se concentra depois sobre o “encontro intercultural” (36-38). Mesmo as “culturas aparentemente mais evoluídas”, observa, podem aprender com os povos que “desenvolveram um tesouro cultural em conexão com a natureza”. A diversidade, portanto, não deve ser “uma fronteira”, mas “uma ponte”, e diz não a “um indigenismo completamente fechado”. A última parte do segundo capítulo é dedicada ao tema “culturas ameaçadas, povos em risco” (39-40). Em qualquer projeto para a Amazônia, esta é a recomendação do Papa, “é preciso assumir a perspectiva dos direitos dos povos”. Estes, acrescenta, dificilmente podem ficar ilesos se o ambiente em que nasceram e se desenvolveram “se deteriora”.

O sonho ecológico: unir cuidado com o meio ambiente e cuidado com as pessoas

O terceiro capítulo, “Um sonho ecológico”, é o mais relacionado com a Encíclica Laudato si’. Na introdução (41-42), destaca-se que na Amazônia existe uma relação estreita do ser humano com a natureza. Cuidar dos irmãos como o Senhor cuida de nós, reitera, “é a primeira ecologia que precisamos”. Cuidar do meio ambiente e cuidar dos pobres são “inseparáveis”. Francisco dirige depois a atenção ao “sonho feito de água” (43-46). Cita Pablo Neruda e outros poetas locais sobre a força e a beleza do Rio Amazonas. Com suas poesias, escreve, “ajudam a libertar-nos do paradigma tecnocrático e consumista que sufoca a natureza”.

Ouvir o grito da Amazônia, o desenvolvimento seja sustentável

Para o Papa, é urgente ouvir o “grito da Amazônia” (47-52). Recorda que o equilíbrio planetário depende da sua saúde. Escreve que existem fortes interesses não somente locais, mas também internacionais. A solução, portanto, não é “a internacionalização” da Amazônia; ao invés, deve crescer “a responsabilidade dos governos nacionais”. O desenvolvimento sustentável, prossegue, requer que os habitantes sejam sempre informados sobre os projetos que dizem respeito a eles e auspicia a criação de “um sistema normativo” com “limites invioláveis”. Assim, Francisco convida à “profecia da contemplação” (53-57). Ouvindo os povos originários, destaca, podemos amar a Amazônia “e não apenas usá-la”; podemos encontrar nela “um lugar teológico, um espaço onde o próprio Deus Se manifesta e chama os seus filhos”. A última parte do terceiro capítulo é centralizada na educação e hábitos ecológicos” (58-60). O Papa ressalta que a ecologia não é uma questão técnica, mas compreende sempre “um aspecto educativo”. 

Rede Aparecida exibe grande evento do Santuário Nacional com show musical e ação solidária



Entre os dias 14 e 16 de fevereiro, toda a Rede Aparecida (TV, Rádio e Portal A12) vai se mobilizar em torno da 12ª Romaria do Terço dos Homens. Trata-se de um dos maiores eventos religiosos realizados no Santuário Nacional de Aparecida. Para que se tenha uma ideia, no ano passado,  cerca de 78 mil devotos estiveram presentes nestes dias do evento.

Além das muitas celebrações, que acontecerão durante os três dias da Romaria do Terço dos Homens, em diferentes horários no Santuário Nacional, a TV Aparecida irá transmitir, ao vivo, em sua programação o Show Canções de Amor e Fé, no sábado (15/02), às 20h, com as seguintes participações: a cantora e apresentadora Mariangela Zan, os padres Antonio Maria, Reginaldo Carreira e Camilo Júnior, bem como a cantora Adriana Arydes e a dupla Althair e Alexandre.

Ação Solidária

Neste ano, a Romaria do Terço dos Homens está sendo convidada a realizar uma campanha de doação de alimentos não perecíveis, que irão beneficiar 15 obras sociais selecionadas pelo Santuário Nacional.

Missão do movimento
O fundamento do Terço dos Homens é resgatar, para o seio do catolicismo, homens de todas as idades, pois a presença masculina na Igreja é imprescindível na formação da família e da sociedade cristã. 

“Querida Amazônia”: Papa evita polêmica sobre ordenação sacerdotal de homens casados, pede novas formas de liderança e mais Missionários



O Papa apela no seu novo documento “Querida Amazônia” a uma maior presença de missionários neste território e a formas de liderança que envolvam leigos, religiosas e diáconos permanentes, sem abordar a possível ordenação sacerdotal de homens casados.

“Não se trata apenas de facilitar uma presença maior de ministros ordenados que possam celebrar a Eucaristia. Isto seria um objetivo muito limitado, se não procurássemos também suscitar uma nova vida nas comunidades”, escreve, na exortação apostólica pós-sinodal publicada hoje pela Santa Sé.

Após dois anos de consultas alargadas e três semanas de debate no Vaticano, em outubro de 2019, o documento final do Sínodo especial para a Amazônia sugeria a ordenação sacerdotal de diáconos casados, tendo em vista a celebração dominical da Eucaristia nas zonas mais remotas desta região.

Francisco evita comentar diretamente esta proposta, sem fazer qualquer referência, no seu texto, à palavra “celibato”.

A exortação, documento de caráter pastoral, admite que é “urgente fazer com que os povos amazônicos não estejam privados” dos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação.

“Esta premente necessidade leva-me a exortar todos os bispos, especialmente os da América Latina, a promover a oração pelas vocações sacerdotais e também a ser mais generosos, levando aqueles que demonstram vocação missionária a optarem pela Amazônia”, escreve.

Em nota de rodapé, o Papa comenta que o impressiona o fato de “haver, em alguns países da bacia amazônica, mais missionários para a Europa ou os Estados Unidos do que para ajudar nos próprios Vicariatos da Amazônia”.

A exortação apostólica pós-sinodal aponta para a necessidade de ordenar mais diáconos permanentes – o primeiro grau do sacramento da Ordem (diáconos, presbíteros e bispos), a que podem aceder homens casados.

Um diácono pode batizar, abençoar matrimônios, celebrar a Liturgia da Palavra ou pregar, por exemplo, mas, ao contrário do sacerdote, não pode presidir ao sacramento da Eucaristia, confessar ou administrar a unção dos doentes.

Francisco convida à valorização do ministério diaconal e do serviço das religiosas, leigos e leigas. 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Abstinência sexual, as críticas infundadas e o que dizem os números



Provocou histeria na mídia o programa de educação sexual da ministra Damares Alves baseado na abstinência. Jornais publicaram vários textos críticos, assinados por jornalistas e toda sorte de ditos especialistas. Todos dizendo não haver evidências científicas; alguns em tom de deboche, citando palavras de ordem dos “progressistas” e chamando de “negacionistas” quem não concorde com eles.

O ponto alto desta abordagem “científica” foi quando a colunista Flávia Oliveira, de O Globo, citou um grupo médico feminista ao afirmar que “há muitos estudos provando que abstinência não produz resultado em evitar gravidez e HIV”. Se não evita gravidez, não sei o que faria! Mas não termina aí: uma integrante do grupo Porta dos Fundos, com autoridade de expert no tema, disse que não há embasamento em se dizer que a abstinência é o único método contraceptivo 100% eficaz. Estou curioso em saber qual seria o outro. Há dezenas de casos documentados de gestações ectópicas mesmo em mulheres que retiraram seu útero. Ou seja, nem retirar o útero é 100% confiável. Mas nunca soube de gravidez sem contato com espermatozoide.

Assim como há um método contraceptivo apropriado para cada pessoa, também há diversas formas de educação sexual que podem ser complementares entre si, cada uma sendo adequada a um determinado público. Além disso, a proposta do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos é complementar à educação sexual já feita pelo Ministério da Saúde, não excludente. Assim como também é mentira que a proposta seja a de promover a abstinência até o casamento; ela serve para o período da adolescência, quando uma gravidez tem um enorme potencial de comprometer toda a vida da pessoa pelo prejuízo aos estudos.

A iniciação sexual precoce, com idade aproximada aos 15 anos, está associada ao menor uso de preservativo, ao aumento de relações sexuais e de parceiros, e a maior chance de DSTs e gestações indesejadas. Então, como não incluir a abstinência sexual em uma política dirigida para este público de adolescentes? O método da abstinência é dos mais promovidos nos Estados Unidos, que têm uma taxa de gravidez de adolescentes de 22 casos a cada mil meninas de 15 a 19 anos. A taxa brasileira é de 56. Na Região Norte, chega a 80. Creio que nisso nossos especialistas não tenham muito a ensinar aos norte-americanos.

Sabendo da má vontade de grande parte da mídia com as propostas conservadoras, realmente deveria ter havido uma melhor explicação do tema por parte do ministério, antecipando-se às críticas que seriam certas por parte daqueles que não conseguem aceitar o fato de a sociedade brasileira ter optado por um governo diferente do anterior, que pregava a descriminalização do aborto e a educação sexual baseada na “redução de danos”. E, com o baixo nível das críticas, é preciso trazer ciência para o tema. 

Adolescência sem sexo: um debate necessário



Trago aqui um tema para reflexão: adolescência sem sexo e a importância de nós, adultos, discutirmos isso sem dar margem à paixão ideológica ou à polarização política.

Temos abordado o assunto em muitas reportagens na Gazeta do Povo (a imprensa toda está cobrindo). Estranhamente, o tema virou alvo de uma gigantesca polêmica, quando não deveria. A saúde física, mental e emocional de adolescentes deveria ser motivo de união, jamais de discórdia.

Há vários pontos importantes nessa discussão. Primeiro é preciso olhar para a questão legal, o que a legislação brasileira entende por adolescente. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) descreve a adolescência como o período que vai dos 12 aos 18 anos de idade. A partir do 12.° aniversário, portanto, a criança brasileira já é considerada adolescente. Seria o momento de começar a vida sexual? Aos 12 anos?"

"O Código Penal responde, em seu artigo 217-A. Lá está escrito que "ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos é crime de estupro de vulnerável", com pena de reclusão de 8 a 15 anos.

Então tem uma faixa da adolescência (de 12 a 14 anos) que fica protegida pela lei, mas desprotegida pelos costumes, já que a pressão para o jovem perder a virgindade é constante neste país onde letras e coreografias de funk vulgarizam o sexo e seriados de TV ou vídeos do YouTube banalizam o amor, o casamento e a família.

Quando se fala em abstinência sexual de adolescentes, o foco não está nos jovens que já estão mais perto da fase adulta, mas nesses de 12 ou 13 anos, que acabaram de sair da infância e ainda não têm maturidade para lidar com o sexo e tudo que ele pode ocasionar, inclusive gravidez.