Após a apresentação da Exortação Apostólica
pós-sinodal Querida Amazônia, ocorrida hoje no Vaticano, o Cardeal brasileiro
Claudio Hummes ofereceu algumas declarações à imprensa afirmando que o tema da
ordenação de homens casados será retomado junto ao Papa e as instâncias da
Santa Sé.
As declarações do purpurado, que também é
presidente da REPAM (Rede Eclesial Panamazônica), responsável pela sondagem que deu origem ao Instrumentum
Laboris do Sínodo, documento em que já se vislumbrava o pedido de admissão de
homens casados ao sacerdócio, tiveram lugar na apresentação da Exortação Querida
Amazônia na sede da CNBB em Brasília, na manhã de hoje, 12, e vão na contramão
do que pediu o Papa Francisco no recém lançado documento.
Nos números 89 e 90 do texto que foi apenas
divulgado, o Santo Padre não contempla a possibilidade de que homens casados
sejam ordenados sacerdotes, antes, pede que os bispos promovam vocações
missionárias e enviem sacerdotes para a região panamazônica.
Dom Claudio ofereceu estas declarações no
contexto de uma pergunta sobre este pedido do Sínodo que não foi mencionado na
Exortação. O Prefeito Emérito do Clero explicou primeiramente que “a questão da
eventual ordenação de homens casados, não significa que o clero vai casar, mas,
que homens casados em certas circunstâncias, possam ser ordenados padres
continuando a viver como casados”.
“Esta questão como todas as outras [do
documento final], deverão ser trabalhadas agora junto ao Santo Padre e as
instâncias da Santa Sé que tratam desses assuntos”, afirmou Dom Hummes,
asseverando que o tema será retomado no Vaticano e que este pedido do Sínodo,
contido no numeral 111 do Documento Final, deverá “ser elaborado e
eventualmente, com um processo, ir sendo cumprido”.
Neste sentido, disse o Cardeal brasileiro
afirmou que será muito importante a atuação de um organismo eclesial a ser
criado para a região amazônica. “Assim como existem as conferências
(episcopais) nos países, exista lá também, dado que é uma região que inclui
vários países, um tipo de organismo que ainda tem, de certa forma, que se
formular, ver quais serão as suas competências”, disse.
“Este organismo terá uma função muito
importante junto com as instâncias do Papa no Vaticano, para irmos discutindo,
e em que caso se poderia, de fato, realizar este pedido do Sínodo. (...)
Certamente é este organismo que iria assumir a coordenação e a animação de todo
este processo de aplicação do Sínodo”, ressaltou.
Vale recordar que os bispos presentes na
assembleia sinodal em Roma, votaram o pedido da criação de um organismo
eclesial para a região e que o mesmo não seria uma Conferência Episcopal.
Em outubro de 2019, ainda durante o Sínodo,
Dom Walmor Oliveira, atual presidente da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil e Arcebispo de Belo Horizonte (MG), disse a ACI Digital:
"Não estamos falando de conferência
específica para a Amazônia”, ressaltou na ocasião, explicando que “estamos
falando do fortalecimento de instâncias e do comprometimento de instâncias,
inclusive novas, para que nós possamos fortalecer nosso caminho e nosso
trabalho missionário na Amazônia”.
Dom Cláudio durante a Conferência de imprensa
também falou que o Documento Final do Sínodo, não deve “ir para a estante” e
que o fato de não ser citado na Exortação não implica que o mesmo deverá ser
rechaçado.
“O Papa não cita nenhum para não dizer que
este é mais importante ou este deve ser rejeitado”, disse o Cardeal, que foi o
Relator Geral do Sínodo Amazônico.
“Ele [o Papa] não fala de nenhum [ponto do
documento final] e isso mostra que ele aprecia todos. E, por que ele aprecia?
Porque são frutos do sínodo, não são frutos de um pequeno grupo de teólogos,
mas é um sínodo que a Igreja ouviu. Tudo aquilo que o Sínodo decidiu ali e
aprovou tem igual importância”, completou, sublinhando que “isso será
trabalhado, certamente, para que possa atender na medida do necessário esse
pedido”, afirma.
Segundo Dom Hummes, a necessidade de insistir
sobre o tema da ordenação de homens casados é a preocupação pela celebração da
Eucaristia nas comunidades mais remotas da Amazônia.
“A Eucaristia é “o que de fato nos preocupa,
em Aparecida em 2007 já se falou disso e cada vez mais se falou dessa questão,
depois que o Papa João Paulo II havia dito que a Eucaristia edifica a Igreja,
que não pode haver uma Igreja sem Eucaristia. Então, se perguntava: é possível
continuar como estamos continuando? É possível continuar assim? Temos o direito
de continuar assim, sem tomar nenhuma nova prática ou nova forma de viver o
ministério para que também essas comunidades tenham normalmente a Eucaristia e
outros sacramentos necessários na vida cotidiana?”.
Nesse sentido, reforçou que “devemos continuar
trabalhando com as populações e vendo como é possível construir essa questão
para ver como é possível que tenham a Eucaristia e outros sacramentos e
trabalhar junto com o Vaticano, com os organismos que tratam desse assunto e,
sobretudo, o próprio Papa. É preciso que nós cheguemos juntos a conclusões”.
“Portanto, esse processo vai continuar,
certamente, a ser animado e levado para frente”, concluiu.
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ACI Digital
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