Depois da polêmica gerada pelo texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) 2021, por apresentar conteúdo de ideologia de gênero, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu uma nota de esclarecimento, por meio da qual reforça que “a Igreja tem sua doutrina estabelecida a respeito das questões de gênero e se mantém fiel a ela” e apresenta outras indicações sobre a CFE.
A Campanha da Fraternidade (CF) é celebrada pela Igreja no Brasil no tempo da Quaresma. A cada cinco anos, é realizada de forma ecumênica, como ocorre neste ano de 2021, quando tem como tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e como lema o trecho da carta de Paulo aos Efésios: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2, 14).
Quando ocorre a Campanha da Fraternidade Ecumênica, a coordenação e preparação da mesma – incluindo o seu texto-base – é de responsabilidade do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), do qual também faz parte da Igreja Católica.
Nos últimos dias, começou-se a questionar, sobretudo nas redes sociais, o conteúdo do texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE)2021, por suas referências à ideologia de gênero.
O texto afirma em um de seus trechos que “é importante salientar que as relações sociais de classe, de gênero, de raça, de etnia estão historicamente interligadas”.
Em seguida, afirma que um “grupo social que sofre as consequências da política estruturada na violência e na criação de inimigos, é a população LGBTQI+”, e cita dados do ‘Grupo Gay da Bahia’ apresentadas no Atlas da Violência 2020 para falar sobre a violência contra essas pessoas.
Diante da polêmica causada por este conteúdo, a CNBB afirmou em nota que, “respeitando a autonomia de cada irmão bispo junto aos seus diocesanos e como não poucos irmãos nos têm solicitado indicações para informar ao povo sobre a CF 2021”, considera importante destacar alguns aspectos da CFE 2021.
Entre estes, declara que “a Campanha da Fraternidade é um valor que não podemos descartar”. Em seguida, admite que “alguns temas, conforme seu modo de ser apresentado, tornam-se mais difíceis que outros”.
Especificamente sobre o tema polêmico, a CNBB assegura que “a Igreja tem sua doutrina estabelecida a respeito das questões de gênero e se mantém fiel a ela”.
Além disso, fala em concreto sobre o Fundo Nacional da Solidariedade, cujos recursos são arrecadados por meio da Coleta da Solidariedade, durante o ofertório nas Missas de Domingo de Ramos, e destinados a apoiar diferentes projetos no Brasil.
“Os recursos do Fundo Nacional de Solidariedade serão aplicados em situações que não agridam os princípios defendidos pela Igreja Católica”, garantem os Bispos.
Em seguida, o último aspecto que ressalta a nota é sobre a “causa ecumênica” e afirma que esta “se mantém importante”. Neste sentido, cita a Encíclica Ut Unum Sint,de São João Paulo II, ao ressaltar que “uma comunidade cristã que crê em Cristo e deseja com o ardor do Evangelho a salvação da humanidade não pode de forma alguma fechar-se ao apelo do Espírito que orienta todos os cristãos para a unidade plena e visível … O ecumenismo não é apenas uma questão interna das comunidades cristãs, mas diz respeito ao amor que Deus, em Cristo Jesus, destina ao conjunto da humanidade; e criar obstáculos a este amor é uma ofensa a Ele e ao Seu desígnio de reunir todos em Cristo”.
A questão de gênero
Na nota assinada pela presidência da CNBB, ressalta-se o fato de o texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021ter sido elaborado pelo CONIC. “Não se trata, portanto, de um texto ao estilo do que ocorreria caso fosse preparado pela comissão da CNBB, pois são duas compreensões distintas, ainda que em torno do mesmo ideal de servir a Jesus Cristo”, afirmam os Bispos.
Além disso, afirmam que as reações geradas pelo conteúdo do texto-base “apresentam argumentos que esquecem da origem do texto, desejando, por exemplo, de uma linguagem predominantemente católica”.
Coleta da Solidariedade
A nota faz ainda referência a recentes iniciativas que sugerem que “não se faça a oferta da solidariedade no Domingo de Ramos, uma vez que existiria o risco de aplicação dos recursos em causas que não estariam ligadas à doutrina católica”.
A CNBB afirma, então, que o Fundo Nacional da Solidariedade “segue rigorosa orientação, obedecendo não apenas a legislação civil vigente para o assunto, mas também preocupação quanto à identidade dos projetos atendidos”.
Por fim, os Bispos concluem afirmando que a Campanha da Fraternidade é uma marca da história da evangelização do Brasil e que “cabe-nos cuidar dela, melhorá-la sempre mais por meio do diálogo, assim como nos cabe cuidar da causa ecumênica, um ideal que se nos impõe”.
Confira a nota da CNBB: