A Diocese de Guaira é o retrato da pobreza em que se encontra a Venezuela. É apenas uma das dioceses da Venezuela. Mas o que se passa em Guaira retrata, com fidelidade, o drama que se vive em todo o país, com cada vez mais pessoas de mão estendida, numa angústia que parece não ter fim. De Guaira chegam-nos também histórias de gente extraordinária, de irmãs que estão no meio do povo, no meio dos pobres, e que são sinal de esperança, mesmo quando muitas vezes pouco mais têm para oferecer do que a ternura dos seus sorrisos…
A situação agrava-se de dia para dia. A Venezuela é um país mergulhado numa crise sem fim com uma população amordaçada pela fome, com uma inflação que cresce sem parar, com famílias incapacitadas para comprar o pão ou medicamentos. As prateleiras vazias das lojas são o sinal do desmoronamento de um país onde a farinha, o arroz, o leite ou artigos de higiene parecem ser já um luxo inacessível à maior parte das pessoas. É assim em todo o lado. É assim também em Guaira. Nesta diocese, perante o desalento geral, quando tudo parece estar a desmoronar-se, sobram os gestos, o carinho e a coragem de um punhado de mulheres consagradas a Deus. São apenas 46 irmãs, mas parecem ser muitas mais graças à energia contagiante com que todos os dias vão ao encontro dos mais pobres dos pobres, das famílias mais desesperadas, dos que já tantas vezes desistiram de lutar. “Nós permanecemos com os pobres”, diz madre Felipa. Esta religiosa espanhola, das Irmãzinhas dos Pobres, está em Maiquetía, ao lado do povo que adoptou como seu. Não ficar seria trair aquelas pessoas, avós e netos de olhar triste, famílias com doentes a seu cargo, casas com pessoas com fome e panelas vazias… Maria Larissa é outra destas 46 heroínas. Ela pertence a outra congregação, as Irmãs Missionárias da Caridade. Tal como madre Felipa, também não é venezuelana. Veio da Índia e tal como ela também o seu vocabulário se reduz quase por completo à palavra amor. São nove religiosas que tomam conta, entre outros, de 21 crianças com síndrome de Down.