“Surgiu no Egito um novo rei, que não conhecera José. Ele disse a seu povo: ‘Olhai como a população israelita ficou mais numerosa e mais forte que nós. Vamos tomar providências em relação a eles, para impedir que continuem crescendo e, em caso de guerra, se unam aos nossos inimigos, lutem contra nós e acabem saindo do país.’ (…) Depois o rei do Egito disse às parteiras dos hebreus, chamadas Sefra e Fua: ‘Quando assistirdes as mulheres hebreias no parto e chegar o tempo do parto, se for menino, matai-o; se for menina, deixai-a viver. Mas as parteiras tinham temor de Deus: não faziam o que o rei do Egito lhes tinha mandado e deixavam viver os meninos. (…) Um homem da casa de Levi casou-se com uma mulher de seu clã.
A mulher concebeu e deu à luz um filho. Ao ver que era um menino, manteve-o escondido durante três meses. Não podendo escondê-lo por mais tempo, pegou uma cesta de papiro, calafetou-a com betume e piche, pôs dentro dela o menino e deixou-o entre os juncos na margem do rio. A irmã do menino ficou parada à distância para ver o que ia suceder. A filha do faraó desceu para se banhar no rio, enquanto suas companheiras passeavam na margem. Ela viu a cesta no meio dos juncos e mandou que uma criada o apanhasse. Quando abriu a cesta, viu a criança: era um menino que chorava. Ficou com pena e disse: ‘É uma criança dos hebreus’. A irmã do menino disse, então, à filha do faraó: ‘Queres que eu te vá chamar uma mulher hebreia, que possa amamentar o menino?’ ‘Vai’, respondeu-lhe a filha do faraó. E a menina foi chamar a mãe do menino.” A filha do faraó disse à mulher: ‘Leva este menino, amamenta-o para mim, e eu te pagarei o teu salário.’ A mulher levou o menino e o criou.” (Ex 1,8-10. 2,1-9).
A escravidão do povo hebreu e o infanticídio dos meninos são pecados do poder político, no Egito.
A política dos “faraós” de hoje, em países da Ásia e da África, penaliza, especialmente, as meninas. A prática do “aborto seletivo de fetos do sexo feminino é aparentemente generalizado em países asiáticos como a China, Índia e Coréia do Sul”. Com efeito, “A discriminação de gênero começa cedo. Modernos instrumentos de diagnóstico para a gestação tornaram possível determinar o sexo do bebê logo no início. Nos locais em que há uma evidente preferência econômica ou cultural por filhos homens, o mau uso dessas técnicas pode facilitar o feticídio feminino. Embora não haja evidências conclusivas para confirmar esse mau uso ilegal, histórias sobre nascimentos e dados de recenseamentos na Ásia – principalmente na China e na Índia – revelam uma proporção excepcionalmente alta de nascimentos de meninos, assim como de meninos com menos de 5 anos de idade. Essa constatação sugere a ocorrência de feticídio e infanticídio seletivos por sexo nos dois países mais populosos do mundo – apesar das iniciativas para erradicar essas práticas nos dois países.” Como consequência da “política do filho único” na China, “O número de moças que falta já estaria na casa de milhões e as causas são facilmente identificáveis: elas foram vítimas de infanticídios, de abortos provocados pelos pais quando descobriam que o feto era uma menina ou foram abandonadas nas encruzilhadas das ruas quando recém-nascidas. Alguns pais as escondem e não as declaram ao Estado, correndo perigos de sanções e prisão, se forem descobertos.” Em alguns países da África, a mentalidade da população e a política governamental são, igualmente, discriminatórias, em relação às meninas.
Moisés, como diz o seu nome, foi “salvo das águas”, graças à sensibilidade da “filha do faraó”, diante da decretação do infanticídio de meninos hebreus, no Egito, por razões políticas. O infanticídio de meninos e meninas, apenas nascidos ou em tenros anos de vida, continua acontecendo, por motivo político e em razão da mentalidade arraigada na prática de alguns povos. A face cruel do feticídio e do infanticídio se generaliza, no mundo, por razões sociais. Por isso, a legalização do aborto é um pecado do poder político e social.
Dom Genival Saraiva
Bispo de Palmares - PE
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