terça-feira, 13 de setembro de 2011

Nossa Senhora das Dores - 15 de Setembro

 
Possui um firme fundamento bíblico na profecia de Simeão[1], como também na presença de Maria junto à cruz[2]. A realidade da dor, que assume uma importância tal, a ponto de englobar toda a vida de Maria, assemelhou-se a mãe de Jesus também à vida sofredora dos homens.

Naturalmente, na base deste motivo da dor havia também outra estrutura, que nem sempre era compreendida e avaliada de maneira justa, quando se exaltava Maria no sentido puramente individual como Rainha dos Mártires, e dizia-se dela, que, “tendo amado mais que todos, também tinha sofrido mais que todos”.


Assim, no Ocidente, Ambrósio (+397) se perguntava se o que Maria tinha sofrido com o Senhor não tinha contribuído para a Redenção.


“A beatíssima Virgem cooperou na salvação... com efeito, só ela suportou os sofrimentos quando os discípulos fugiram”.


Maria, propriamente falando, não fez nada mais que não fosse realizado por toda a Igreja e por todo cristão; ela completou – no sentido das palavras de São Paulo a propósito do valor do sofrimento para a edificação da Igreja – “o que ainda falta à paixão de Cristo” [3].


Maria realizou com uma dedicação e uma eficácia universal, aquilo que é também tarefa de todos os redimidos, isto é, receber a obra do Redentor e, com uma receptividade ativa, transmiti-la aos outros. Neste sentido (limitado), Nossa Senhora das Dores reveste-se de uma importância única como cooperadora da Redenção.


A nova liturgia romana das horas não tem mais os responsórios das matinas do velho breviário, que cantavam a série das sete dores de Maria fazendo eco às palavras da Escritura:


1º A Profecia de Simeão (cf. Lc 2,35);

2º A fuga para o Egito (cf. Mt 1,13-15);

3º A experiência de sentir Jesus como um estranho, segundo as suas próprias palavras (cf. Lc 2,48s);

4º Jesus chorado pelas mulheres ao longo da via-crucis (cf. Lc 23,27s);


5º A crucifixão (cf. Lc 23,33) e a mãe sob a cruz (cf. Jo 19,25) como realização da profecia de Simeão;


6º O cadáver de Jesus deposto da cruz (cf. Jo 19,38) e colocado nos braços da mãe;


7º A sepultura de Jesus (cf. Jo 19,40-42).


Embora Jesus seja sinal de salvação, encontrará oposição. Lembremos a este propósito como, alguns anos atrás, um turista despedaçou com um martelo o rosto da “pietá” de Michelângelo, conservada na Basílica de São Pedro, em Roma. Tratou-se do gesto de um desequilibrado, ou antes, de algo que se assemelha a um sinal profético de nossos tempos?
O desesperado odeia e destrói a imagem da beleza que ele não possui.  

“Os indivíduos que já não têm esperança não procuram o que pode melhorá-los, mas algo que possam ferir” (Santo Agostinho).


Todos aqueles para os quais Jesus se tornou “ressurreição” encontrarão oposição e deverão “aprender a obediência das coisas que sofrem” [4]. Ser mãe e irmão de Jesus significa co-sofrer com Ele, por isso Maria não está sozinha porque todos os que ouvem e seguem a Palavra de Deus são mães e irmãos de Jesus[5].


Maria se torna a mãe dos discípulos de Jesus. 

Igreja e discipulado são inseparáveis. O discipulado – o renascer do Alto, da “água e do Espírito” – significa ao mesmo tempo, nascer da Esposa de Cristo, de quem Maria é a imagem: a Igreja que existe através dos séculos até que Ele venha. Enquanto não chega este momento, para os discípulos serão válidas as palavras de Jesus: “O servo não é maior que seu Senhor. Se me perseguiram, perseguirão também a vós” (Jo 15,20a).


Portanto, a paixão de Jesus apresenta um quádruplo aspecto:


1- Quem toma a sua cruz e segue a Jesus, quem no sofrimento aprende a obediência da fé e assim configura a própria paixão à paixão e morte de Cristo, gritando esperançoso no Espírito do Filho: “Abbá, Pai”[6], este experimentará em sua fraqueza a força de Deus[7] como uma luz nas trevas[8], que manifesta a “vida de Jesus no nosso corpo”[9].

2- Aquele que, animado de zelo missionário do verdadeiro discípulo, se empenha em pregar e espalhar a mensagem salvífica de Jesus Cristo, quem trabalha para a edificação de seu Corpo, a Igreja, este participará da Paixão de Cristo também através da oposição que experimentará[10].

3- A carta de Paulo aos Colossensses 1,24-25 mostra também que os sofrimentos suportados para a edificação do Corpo de Cristo são também expressão de união com este único e mesmo Corpo: “Se um membro sofre todos os membros sofrem” [11]. Por isso, os cristãos, além de se preocuparem e rezarem uns pelos outros, podem igualmente sofrer uns pelos outros e assim ajudar-se mutuamente e amadurecer na graça de Cristo.

4- Quem foi conquistado pelo Amor de Cristo, vivendo em comunhão de Amor com Ele, sente-se atingido por todo golpe dirigido contra o Senhor e toda parte no sofrimento do Amado.

No dia da memória de Nossa Senhora das Dores, estão em primeiro plano, sobretudo os três primeiros aspectos, ao passo que o quarto caracteriza principalmente a antiga festa das sete dores de Nossa Senhora.

[1] E uma espada traspassará também a tua própria alma; para que se manifestem os pensamentos de muitos corações” (Lc 2,35).

[2] E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria mulher de Clopas, e Maria Madalena” (Jo 19,25).

[3] Cf. Cl 1,24

[4] Cf. Hb 5,8

[5] Mas, respondendo ele, disse-lhes: Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a executam” (Lc 8,21).

[6] Cf. Gl 4,6

[7] cf. 2Cor 12,9-10

[8] Cf. 2Cor 4,6ss

[9] Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos” (2Cor 4,10).

[10] Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja; Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus” (Cl 1,24-25).

[11] Cf.1 Cor 12,26
_____________________________
Fonte: exceto as citações bíblicas, texto extraído do livro: O Culto a Maria Hoje, Paulinas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário