domingo, 8 de dezembro de 2013

Paranóia protestante e a origem do Natal


Recebemos uma mensagem de uma leitora protestante em que a mesma nos pede para analisarmos um texto segundo o qual o Natal é uma festa pagã. A mensagem da leitora segue em preto, a nossa resposta em azul.

Quero conhecer a versão dos católicos

Meu nome é Simone tenho 23 anos e moro no Recife. Sou evangélica há alguns anos. Sempre tive uma opinião formada a respeito do catolicismo oriundas de muito estudo bíblico que fiz e faço acerca da fé. Estudos como: Protestantismo versos Catolicismo, Mariolatria, Nova Era e outros temas relevantes, desenvolveram em mim uma identidade evangélica bem construída. Entretanto nos últimos anos comecei a questionar se a minha concepção de catolicismo é (no total ou em parte) de fato verossímil. Foi o contato com uma família católica praticante que me fez reavaliar os meus conceitos, pondo em meu íntimo a semente da dúvida. Eu seria desonesta comigo mesma se simplesmente ignorasse este sentimento. Por isso escrevo a vocês, pedindo que por caridade me ajudem a retificar ou ratificar algumas "verdades" que acredito. Mando a seguir um artigo que tenho sobre a verdadeira origem do Natal. Este artigo é uma síntese de como nós, os evangélicos, vemos a Igreja Católica. Logo em seguida farei algumas perguntas baseadas no texto. O meu intuito é conhecer os contra-argumentos (como um bom julgamento requer) e só então com o auxílio do Espírito Santo, dá o meu veredicto. Procuro a verdade, pois não quero fazer a minha vontade nem a dos homens, e sim à vontade de meu Salvador...

O NATAL VEIO DO PAGANISMO


DURANTE OS TRÊS PRIMEIROS SÉCULOS DA NOSSA ERA, OS CRISTÃOS NÃO CELEBRARAM O NATAL

Trata da festa de Natal de Jesus Cristo, paganismo, Roma, Babilônia, seja católica, Papai Noel, presépio, árvore presentes, crente, cristianismo, evangelho, Bíblia. Enciclopédia Católica (edição 1911): " A festa de Natal não estava incluída entre as primeiras festividades da Igreja. Os primeiros indícios são proveniente do Egito. Os costumes pagãos relacionados com o princípio do ano se concentravam na festa do Natal".

Orígenes, um dos chamados pais da Igreja (mesma enciclopédia): "... não vemos nas Escrituras que haja celebrado uma festa ou celebrado um grande banquete no dia do seu natalício. Somente os pecadores (como Faraó e Herodes) celebraram com grande regozijo o dia em que nasceram neste mundo".

Autoridades históricas demonstram que, durante os três primeiros séculos da nossa era, não celebraram o Natal. Esta festa só começou a ser introduzida após o início da formação daquele sistema que hoje é conhecido como Igreja Romana (isto é, no séc. 4ª). Somente no séc. 5ª foi oficialmente ordenado que o Natal fosse observado como festa cristã, no mesmo dia da secular festividade romana em honra ao nascimento do deus sol, já que não se sabia o dia em que Cristo nasceu.

1. Jesus não nasceu em 25/12

Quando Ele nasceu "... havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam durante as vigílias da noite, o seu rebanho" (Lucas 2.8). Isto jamais pôde acontecer na Judéia durante o mês de dezembro: os pastores tiravam seus rebanhos dos campos em meados de outubro e (ainda mais à noite) os abrigavam para protegê-los do inverno que se aproximava, tempo frio de muitas chuvas (Adam Clark Commentary, vol. 5, pág. 370). A Bíblia mesmo prova, em Ct 2.1 e Ed 10.9,13, que o inverno era época de chuvas, o que tornava impossível a permanência dos pastores com seus rebanhos durante as frígidas noites, no campo. É também pouco provável que um recenseamento fosse convocado para a época de chuvas e frio (Lc 2.1)

2. Como esta festa se introduziu nas igrejas? 

A nova Enciclopédia de Conhecimento Religioso, de Schaff-Herzog, explica claramente em seu artigo sobre Natal: "Não se pode determinar com precisão até que ponto a data desta festividade teve origem na pagã Brumália (25 de dezembro), que seguia a Saturnália (17 a 24 de dezembro) e comemorava o nascimento do deus sol, no dia mais curto do ano.

As festividades pagãs de Saturnália e Brumália estava demasiadamente arraigada nos costumes populares para serem suprimidas pela influência cristã. Essas festas agradavam tanto que os cristãos viram com simpatia uma desculpas para continuar celebrando-as sem maiores mudanças no espírito e na forma de sua observância. Pregadores cristãos do ocidente e do oriente próximo protestaram contra a frivolidade indecorosa com que se celebravam o nascimento de Cristo, enquanto os cristãos da Mesopotâmia acusavam a seus irmãos ocidentais de idolatria e de culto ao sol por aceitar essa festividade pagã.

Recordemos que o mundo romano havia sido pagão. Antes do séc. 4ª os cristãos eram poucos, embora estivessem aumentando em número, e eram perseguidos pelo governo e pelos pagãos. Porém com vinda do imperador Constantino (no séc.4ª) que se declarou cristão, elevando o cristianismo a um nível de igualdade com o paganismo, o mundo romano começou a aceitar este cristianismo popularizado e os novos adeptos somaram a centenas de milhares. Tenhamos em conta que essa gente havia sido educada nos costumes pagãos, sendo o principal aquela festa idólatra de 25 de dezembro. Era uma festa de alegria carnal, muito especial. Agradava ao povo! Não queriam suprimi-la.

O artigo já citado revela como Constantino e a influência do maniqueísmo (que identificava o Filho de Deus com o deus sol) levaram aqueles pagãos do séc. 4ª (que tinham pseudamente se "convertido em massa" ao pseudo "cristianismo") a adaptarem a sua festa do dia 25 de dezembro (dia do nascimento do deus sol), dando-lhe o título de dia do natal do Filho de Deus. Assim foi como o Natal se introduziu em nosso mundo ocidental! Ainda que tenha outro nome, continua sendo, em espírito, a festa pagã de culto ao sol.

A Enciclopédia Britânica diz: "A partir do ano 354 alguns latinos puderam mudar de 6 de janeiro para 25 de dezembro a festa que até então era chamada de Mitraica, o aniversário do invencível sol... os sírios e os armênios idólatras e adoradores do sol, apegando-se a data de 6 de janeiro, acusavam os romanos, sustentando que a festa de 25 de dezembro havia sido inventada pelos discípulos".

A origem do Natal 

O Natal é uma da principais tradições do sistema corrupto chamado Babilônia, fundado por Nimrode, neto de Cão, filho de Noé. O nome Nimrode deriva-se da palavra "marad", que significa "rebelar". Nimrode foi poderoso caçador contra Deus (Gn 10.9). Para combater a ordem de espalhar-se criou a instituição de ajuntamento (cidades); construiu a torre de Babel (a Babilônia original) como um quádruplo desafio a Deus (ajuntamento, tocar aos céus, fama eterna, adoração aos astros); fundou Nínive e muitas outras cidades; organizou o primeiro reino deste mundo.

A Babilônia é um sistema organizado de impérios e governos humanos, de explorações económicas, e de todos os matizes de idolatria e ocultismo. Nimrode era tão pervertido que, segundo escritos, casou-se com sua própria mãe, cujo nome era Semíramis. Depois de prematuramente morto, sua mãe-esposa propagou a perversa doutrina da reencarnação de Nimrode em seu filho Tamuz. Ela declarou que, em cada aniversário de seu natal (nascimento), Nimrode desejaria presentes em uma árvore. A data de seu nascimento era 25 de dezembro. Aqui está a verdadeira origem da arvore de Natal.

Semirâmis se converteu a "rainha do céu" e Nimrode, sob diversos nomes, se tornou o "divino filho do céu". Depois de várias gerações desta adoração idólatra, Nimrode também se tornou um falso messias, filho de Baal, o deus-sol, neste falso sistema babilônico, a mãe e o filho (Semíramis e Nimrode encarnado em seu tamuz) se converteram nos principais objetos de adoração. Esta veneração de "a Madona e se filho"(o par mãe influente + filho poderoso e obediente `a mãe) se estendeu por todo o mundo, com variação de nomes segundo o países e a línguas. Por surpreendentemente que pareça, encontramos o equivalente na "Madona", da Mariolatria, muito antes do nascimento de Jesus Cristo!

Nos séculos 4ª e 5ª os pagãos do mundo romano se "converteram" em massa ao "cristianismo", levando consigo suas antiga crenças e costumes pagãos, dissimulando-os sob nomes cristãos. Foi quando se popularizou também a idéia de "a Madona e seu filho", especialmente na época do Natal. Os cartões de Natal, as decorações e as cenas do presépio refletem este mesmo tema.

A verdadeira origem do Natal está na antiga Babilônia. Está envolvida na apostasia organizada que tem mantido o mundo no engano desde há muitos séculos! No Egito sempre se creu que o filho de Ísis (nome egípcio da "rainha do céu") nasceu em 25 de dezembro. Os pagãos já celebravam esta data séculos antes de Cristo.

Jesus, o verdadeiro Messias, em 25 de dezembro. Os apóstolos e a Igreja Primitiva jamais celebraram o natalício de Cristo. Nem nessa data nem em nenhuma outra. Não existe na Bíblia ordem nem instrução alguma para fazê-lo. Porém, existe sim, a ordem de atentarmos bem a lembrança sempre a Sua MORTE (1Co11.24-26; Jo 13.14-17). (Continua na próxima edição.)

Hélio de M. Silva

Perguntas:

1° Procede à afirmação do artigo: "...entre os primeiros séculos da nossa era, não se celebravam o Natal..."

2° Não se faziam recenseamento no período de inverno?

3° Os cristãos da Mesopotâmia realmente acusaram a igreja no ocidente de idolatria ao deus sol?

4° Para nós, a Igreja Católica apostatou-se da fé cristã com a conversão de Constantino. Podem contra-argumentar esta afirmação?

5° Em Resumo o que Constantino fez foi apenas mudar o nome da comemoração do dia 25 de dezembro para o Natal de Cristo, mantendo o espírito pagão da festa?

6° Quem foi Nimrode, personagem ou mito?

7° Hélio de M. silva afirma que: "o par mãe influente + filho poderoso e obediente à mãe" tem origem com Semírames e Nimrode na Babilônia e desta forma insinua que os católicos adorariam a tais deuses, explicando então o porquê desta relevância exagerada à Maria. Jesus e Maria seriam apenas uma nova aparência para Nimrode e Semírames, deste modo mesmo sendo sinceros todo os católicos invariavelmente, se não se arrependerem, perderão suas almas por idolatria. Por isso não respondemos com "amem" às bênçãos desejadas a nós por católicos. Pode refutar esta nossa verdade? 

8° O presépio realmente representa de forma disfarçada o nascimento de Nimrode? 

9° Como a Igreja Romana consegue fazer seus fieis adorar Nimrode sem o uso da consciência?

10° O artefato que os padres e bispos erguem para ser adorado nas missas é uma imagem do deus sol? 

Se quiser falar outros pontos do artigo que achar importante ser observado fique à vontade. Agradeço desde já. Que Deus o abençoe.


Minha cara Simone,

Eu gostaria, primeiramente, de te parabenizar pelo esforço empenhado na busca da verdade. Você quer, antes de formar a tua opinião, ouvir os dois lados, o que é muito mais do que faz a imensa maioria dos protestantes. Quase todos nos acusam das coisas mais escabrosas sem nos darem, ao menos, o direito de defesa. 

Além disto, eu gostaria de te agradecer pela confiança em nós depositada. Você, desejando conhecer a opinião católica a respeito deste tema, escolheu buscá-la no VS, o que muito nos alegra, animando-nos a continuar em nosso trabalho em defesa da Santa Igreja.

Por fim, eu gostaria de bendizer ao Senhor por eu ser católico. Ao ler os textos que você nos enviou, a superioridade do catolicismo sobre o protestantismo tornou-se, para mim, ainda mais evidente. Os textos, minha cara Simone, deixam patente a paranóia reinante em vastíssimos setores protestantes. Paranóia esta que acaba por denegrir a imagem do próprio Cristo Jesus.

A tese central do autor é das mais conhecidas. O cristianismo teria se mantido fiel às palavras de Jesus Cristo apenas por poucos séculos, antes que viesse a grande apostasia (a Igreja Carólica, claro), fazendo com que a verdadeira mensagem do Senhor desaparecesse por séculos a fio, até que algum iluminado de plantão a resgatasse (não deixe de ler o nosso "A Teoria do Resgate", para entender este ponto mais profundamente).

A tese é sempre esta. Variam, apenas, as verdades que foram perdidas (ou encobertas) e mais tarde encontradas. O autor do texto, por exemplo, afirma que a Igreja encobriu a adoração de Jesus Cristo por uma falsa adoração de Nimrode (esta foi das mais rematadas bobagens de que já tive notícia), fazendo cessões escandalosas ao paganismo. Hodiernamente, um grupo de eleitos resgatou esta verdade, muito embora todo o cristianismo e todos os cristãos, durante mais de quinze séculos, prestassem, desavisadamente, culto a um deus pagão.

Ainda que não o percebam, os adeptos desta "Teoria do Resgate" (e todos os protestantes o são, inclusive, e infelizmente, você, minha cara Simone) reduzem o cristianismo à irrelevância histórica. A verdadeira religião de Cristo não possui importância histórica alguma, visto que poucos (aliás, pouquíssimos) verdadeiramente a conheceram. Todos (ou pelo menos, quase todos) os que nEle puseram sua esperança foram traídos, relegados sem qualquer auxílio do Altíssimo ao "sistema babilônico", perdendo suas almas para o inferno enquanto Deus, sadicamente, esperava, séculos a fio, para que Seus iluminados pudessem, finalmente, resgastar a "pureza" do cristianismo.

E, mesmo resgatada tal "pureza", a mesma continuaria adstrita a um fechadíssimo círculo de indivíduos, verdadeiros privilegiados, enquanto todos nós (os abandonados pela Providência Divina) estaríamos adorando Nimrode, ainda que tenhamos a firme convicção de prestarmos culto a Jesus Cristo.

Percebe, minha cara Fabiana, que cenário devastador o texto te apresenta? E olhe que as paranóias típicas do protestantismo não param por aí. Existem tantas e tão escabrosas que eu me sento constrangido apenas em lembrá-las.

Há, por exemplo, os que pensam que o nome "Jesus" encerra uma invocação a Zeus. Somente o nome hebraico do Senhor (Yohushua) seria verdadeiramente cristão, pelo que todos os que O invocam sob o nome de Jesus estão, na verdade, invocando um deus pagão.

Você inclusive, Simone! 

Há os que se recusam a comprar produtos com códigos de barra, por acharem que tais códigos contém o número da Besta.

Até o iogurte que você compra no supermercado faz parte desta gigantesca rede conspiratória de Babilônia contra os pobres cristãos...

Haveria outros exemplos tão contundentes quanto estes, mas paro por aqui.

A julgar pelos "iluminados" que Deus tem mandado à Terra, ninguém pode, realmente, considerar-se um verdadeiro cristão. Todos estão, em maior ou menor medida, adorando ídolos e abominando a Deus. Todos estão, claro, enganados pela Igreja Católica, ainda que católicos não sejam.

O primeiro equívoco do autor do texto foi o de acreditar que os cristão não comemoravam o nascimento de Jesus anteriormente à Pax Constantiniana. Isto é mais falso do que nota de três reais! Os cristãos, desde o segundo século já comemoravam o natalício de Nosso Senhor Jesus Cristo, muito embora a data deste acontecimento somente tenha se fixado séculos mais tarde.

Afinal, ainda que de uma forma indireta, foi o próprio Deus quem determinou que se celebrasse o nascimento de Seu Filho. E o fez em duas passagens bíblicas bastante significativas. A primeira é Lc 2, 10- 12. Os anjos, logo após o nascimento do Menino-Deus, dirigem-se aos pastores de Belém: "Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura."

Como você vê, minha cara Simone, o nascimento de Jesus Cristo é um motivo de alegria (e, portanto, de festa) para todo o povo. Todos os cristãos, de todos os tempos, devem se alegrar, imensamente, com este fato e com esta Boa Notícia.

Já no AT, em IS 9, se afirmava que os cristãos devem festejar este nascimento, num texto dos mais belos das Escrituras: 

"O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz. Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita, como exultam na partilha dos despojos. (...) Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz."

Como você vê, minha cara, os cristãos (o povo que caminhava nas trevas, mas sobre o qual brilhou a luz de Deus, segundo Cl 1, 13) festejam o nascimento de Cristo. Se você está acostumada com o semitismo típico do AT, deve saber que a "alegria da colheita" e a "partilha dos despojos" de uma guerra eram celebrados com festas públicas e públicas manifestações de alegria.

O nascimento do "Menino que nos foi dado" requer, de nossa parte, uma celebração. Uma manifestação pública de alegria. E o Natal é o cumprimento desta profecia.

Isto bastaria para demonstrar o equívoco do texto enviado. 

É por isto que, ao contrário do que afirma o autor do texto, já há relatos de celebrações do nascimento de Jesus Cristo por volta do ano 200 de nossa era. Segundo a Catholic Encyclopedia, Clermente de Alexandria, em sua Stromata, afirma que os teólogos egípcios não guardavam nenhum dia do ano, a não ser o natalício do Senhor. 

Além disto, a mesma enciclopédia nos dá conta que escritos datados de 243 d. C (atribuídos erroneamente a São Cipriano) também mencionam o Natal, com data de 28 de Março, dia em que se acreeditava que Deus havia criado o sol (ponto este, como se verá abaixo, muitíssimo significativo).

Ou seja, para quem começou sua argumentação citando a Enciclopédia Católica, o desempenho do autor do texto foi absolutamente pífio. Citou apenas aquilo que julgou ser útil à sua argumentação, deixando de lado todas as outras evidências (e são muitas) que a mesma enciclopédia dá em favo da observação do Natal.

Portanto, minha cara Simone, os cristãos, séculos antes de constantino já Celebravam o Natal, bendizendo a Deus pelo nascimento do Messias. Nem em seus mais sombrios pesadelos eles poderiam prever que, um dia, paranóicos iriam acabar por ver, neste ato, um ato de idolatria instituído pelo "sistema babilônico", um subterfúgio para que os cristãos adorem Nimrode.

É verdade que, a princípio, nem todos celebram o Natal sendo certo que, ademais, as datas variavam. Como acima apontado, alguns celebravam o Natal em Março. No entanto, a fixação definitiva do dia 25 de Dezembro como sendo o dia da celebração natalina é assunto muito mais complexo do que sonha o autor do texto por você enviado.

Segundo este autor, a Igreja escolheu esta data porque, nela, os pagãos do Império Romano celebravam o dia do Sol Invicto. Com isto, a Igreja acabou por permitir a entrada de elementos pagãos dentro do cristianismo, deturpando mais ainda a mensagem de Cristo.

Apesar do autor ser protestante, esta sua explicação é de uma simplicidade franciscana...

Além de simplista, a explicação é inverossímel. Se a Igreja obrigou os pagãos a aceitarem, ainda que formalmente, um culto a Jesus Cristo, então ela estaria inserindo um elemento cristão em cultos pagãos. E não o contrário, como sugere o autor.

Verdadeiramente, uma lástima!

Além disto, a fixação do dia 25 de Dezembro deve ser analisada muito mais a fundo do que se atraveu ir o texto sob comento. Um manuscrito de Hipólito, do ano 205 (novamente, séculos antes de Constantino), afirma em grego: 

"He gar prote parousia tou kyriou hemon he ensarkos [en he gegennetai] en Bethleem, egeneto [pro okto kalandon ianouarion hemera tetradi] Basileuontos Augoustou [tessarakoston kai deuteron etos, apo de Adam] pentakischiliosto kai pentakosiosto etei epathen de triakosto trito [pro okto kalandon aprilion, hemera paraskeun, oktokaidekato etei Tiberiou Kaisaros, hypateuontos Hrouphou kai Hroubellionos. -- (Comm. In Dan., iv, 23; Brotke; 19)".

A tradução do texto seria a seguinte: "pois a primeira vinda de Nosso Senhor na carne na qual Ele foi gerado, em Belém, ocorreu no dia 25 de Dezembro, o quarto dia, no 42º ano do reinado de Augusto, e no ano 5500 desde Adão. E Ele sofreu em Seu 33º ano, no dia 25 de Março, a parascevem no oitavo ano de Tibério César."

E não é só. Se admitirmos que Jesus Cristo nasceu em DEzembro do ano 749 da Fundação de Roma (data bastante provável), seríamos obrigados a admitir que a Anunciação do Anjo ocorreu em Março daquele ano. Desta forma, a aparição do anjo a Zacarias (pia de João Batista) para lhe anunciar a gravidez de sua esposa teria ocorrido em Outubro do ano 748 da Fundação de Roma.

Há evidências históricas que tal, de fato, ocorreu.

Ora, existiam 24 classes de sacerdotes que se revezavam, semanalmente, no serviço do Templo. Zacarias pertencia à classe de Abia. Segundo uma antiga tradição rabínica, a classe de Jojaribe é a que estava servindo por ocasião da destruição do templo em Abril de 70 d. C. Fazendo-se um retrocesso, semana a semana, e admitindo-se que o serviço do Templo jamais foi interrompido, chega-se à conclusão que Zacarias estava servindo no Templo precisamente na semada que vai de 2 a 9 de Outubro do ano 748 da fundação de Roma.

É claro que, neste terreno, não se pode afirmar nada com certeza. Nem o manuscrito nem o cálculo acima apresentados são provas absolutas da data em que Jesus de fato nasceu. Mas eles provam que a fixação do dia do Natal possui razões muito mais profundas do que jamais sonhou o autor do texto que você nos remeteu. 

Não deve ser descartada a hipótese de que a Igreja tenha, realmente, utilizado-se do 25 de Dezembro por ser esta a data em que os pagãos festejavam o dia do Sol Invicto. Isto, contudo, nem de longe representa uma pusilanimidade católica em relação ao paganismo. Muito pelo contrário.

Em primeiro lugar, tenha em vista que, desde os primeiros anos do cristianismo, os cristãos viam, no sol, uma metáfora de Jesus Cristo. Afinal, é do sol que nos vem a vida, e é ele quem, com sua luz, expulsa as trevas da noite.

Não bastasse isto, Jesus Cristo ressuscitou num domingo, que, em todo o mundo pagão, era o dia dedicado ao deus sol. Este dia (o primeiro da semana) foi chamado, desde o princípio, de Dies Domine, Dia do Senhor. Ou seja, minha caríssima Simone, por um desígnio divino, o dia em que os pagãos de todo o mundo celebravam o deus sol, é o mesmíssimo dia em que os cristãos, dede o princípio, celebravam Jesus Cristo.

Além disto, se você visitar, um dia, a Basílica de São Pedro, verá uma imagem muito significativa (datada, mais ou menos, da mesma época em que a Igreja Romana começava a celebrar o Natal aos 25 de Dezembro). É uma imagem de Jesus Cristo, tendo, à Sua direita e à Sua esquerda, os apóstolos São Pedro e São Paulo (representando toda a Igreja). Nesta imagem, Cristo lhes entrega dois rolos (representando a Nova Aliança), enquanto pisa na cabeça do deus Urano (deus dos céus) (Cf Sl 99, 1). 

O significado desta imagem é claríssimo: Cristo e a Igreja dominam e vencem o paganismo. Os deuses pagãos são pisados pelo Messias de todas as nações.

Esta, minha cara Simone, e precisamente esta, é a razão pela qual a fixação do Natal no mesmo dia do "Sol Invicto" não é uma manifestação de fraqueza da Igreja diante do paganismo. Ao contrário, trata-se de uma solene declaração da vitória da fé cristã sobre o politeísmo pagão. Cristo e a Igreja triunfam, enquanto os falsos deuses são derrotados pelo esplendor da verdade.

Antes este era o dia do deus sol? Pois bem, a partir de agora, passa a ser o dia de Jesus Cristo, Luz que, vindo ao mundo, a todo homem ilumina.

É por isto que Cipriano, no terceiro século (antes, portanto de Constantino) já afirmava: "O quam præclare providentia ut illo die quo natus est Sol . . . nasceretur Christus." Traduzindo: "oh, que maravilhosa Providência que, no dia em que nasceu o Sol, Cristo também deveria nascer.".

E Crisóstomo, já no quarto século, asseverou: "Sed et dominus noster nascitur mense decembris . . . VIII Kal. Ian. . . . Sed et Invicti Natalem appelant. Quis utique tam invictus nisi dominus noster? . . . Vel quod dicant Solis esse natalem, ipse est Sol iustitiæ." Traduzindo: "mas nosso Senhor, igualmente, nasceu no mês de Dezembro, o oitavo antes das calendas de Janeiro (25 de Dezembro)... Eles chamavam este dia de dia do Sol Invencível. De fato, quem é mais invencível do que Nosso Senhor? E, se disserem que este é o dia do nascimento do sol, Ele é o Sol da Justiça."

Portanto, minha caríssima Simone, a fixação de 25 de Dezembro, além de seguir uma tradição muito anterior a Constantino, representou, ainda, um grito de vitória de Cristo sobre o paganismo. Não se tratou de pusilanimidade, nem de uma forma de "inculturação" muito em voga hoje em dia. Tratou-se, isto sim, de vitória, segundo o Salmo 99: 

"Eis o oráculo do Senhor que se dirige a meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu faça de teus inimigos o escabelo de teus pés. O Senhor estenderá desde Sião teu cetro poderoso: Dominarás, disse ele, até no meio de teus inimigos. No dia de teu nascimento, já possuis a realeza no esplendor da santidade; semelhante ao orvalho, eu te gerei antes da aurora. O Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec. O Senhor está à tua direita: ele destruirá os reis no dia de sua cólera. Julgará os povos pagãos, empilhará cadáveres; por toda a terra esmagará cabeças. Beberá da torrente no caminho; por isso, erguerá a sua fronte."

Que diferença entre esta verdade triunfante e o irrelevantismo histórico ao qual muitos protestantes relegam o cristianismo, hein, cara, Simone?

Feitos os comentários acima, passo, agora, a responder às tuas perguntas.

1° Procede à afirmação do artigo: "...entre os primeiros séculos da nossa era, não se celebravam o Natal..."?

Como visto acima, trata-se de uma meia verdade. Desde o início século II já havia comunidades cristãs que celebravam o natalício do Senhor. O que ocorre é que tal celebração não era universal, nem havia uma data consensual na qual fixá-la.

2° Não se faziam recenseamento no período de inverno?

Isto é uma bobagem enorme. O Império Romano não tinha as sutilizas da ONU. O simples fato de Roma ter determinado o recenseamento de judeus já mostra o espírito de pilhéria para com os mesmos, visto que tal era por eles visto como uma afronta. Nada, rigorosamente nada impediria Roma de fazer seus recenseamentos no inverno, embora não se possa afirmar, com certeza de que o recenseamento narrado nos Evangelhos tenha, de fato, ocorrido nesta época do ano.

3° Os cristãos da Mesopotâmia realmente acusaram a igreja no ocidente de idolatria ao deus sol?

Houve, de fato, acusações deste jaez, muito embora o texto por você enviado tenha omitido um dado muitíssimo relevante, qual seja, o de que a própria cristandade ocidental se levantou contra indícios de um possível sincretismo religioso. Santo Agostinho advertiu seus irmãos ocidentais para não confundirem o sol físico com Jesus Cristo, e o próprio Papa Leão I escreveu condenando, veementemente, os festivais em homenagem ao sol.

Estes fatos demonstram o zelo de Roma com a pureza do cristianismo, e são absolutamente incompatíveis com a tese apresentada no texto.

4° Para nós, a Igreja Católica apostatou-se da fé cristã com a conversão de Constantino. Podem contra-argumentar esta afirmação?

Cara Simone, não só podemos contra-argumentar, como já o fizemos. A suposta "apostasia" católica pós-Constantino (perdoe-me) é uma das maiores bobagens que circulam nos meios protestantes. Verifique os seguintes "links": 

O protestantismo não quer ser protestante

5° Em Resumo o que Constantino fez foi apenas mudar o nome da comemoração do dia 25 de dezembro para o Natal de Cristo, mantendo o espírito pagão da festa?

Em primeiro lugar, não foi Constantino que fixou a data do Natal. O dia 25 de Dezembro foi se impondo naturalmente, até que a Igreja (e não Constantino) tornou-o obrigatório para todos. Além disto, como acima demonstrei, o Natal cristão triunfou sobre as festividades pagãs relativas ao deus sol, tomando o seu lugar.

Minha cara Simone, se você, alguma vez, já celebrou o Natal deve saber que não existe rigorosamente nada de pagão nesta data. A liturgia expõe leituras bíblicas relativas ao nascimento do Messias, os cristãos bendizem ao Pai por Seu Filho, as orações são todas de conteúdo cristão. Portanto, a verdade é oposta àquilo que afirma o texto que você nos enviou: o dia do Sol Invicto foi inteiramente esvaziado de seu conteúdo pagão, transformando-se num dia cristão por excelência.

6° Quem foi Nimrode, personagem ou mito?

Acerca de Nimrode, tudo o que se sabe é aquilo que dele nos conta a Bíblia (Gn 10, 9-12):

"Cus gerou Nemrod, que foi o primeiro homem poderoso da terra. Ele foi um grande caçador diante do Senhor. Donde a expressão: "Como Nemrod, grande caçador diante do Eterno."Ele estabeleceu o seu reino primeiramente em Babilônia, Arac, Acad e em Calane, na terra de Senaar. Daí foi para Assur e construiu Nínive, Recobot-Ir, Cale e Resem, a grande cidade entre Nínive e Cale."

Tudo o mais não passa de pura fantasia de alguns protestantes paranóicos. Que ele teria se rebelado contra Deus, construído a Torre de Babel, desposado a sua mãe, construído o "sistema babilônico", etc., tudo é fantasia de mentes não muito afeitas ao senso crítico.

Mas é sintomático que protestantes, ferrenhos defensores da balela chamada sola scriptura, não temam lançar mãos de elementos extra-bíblicos para defenderem suas idéias (por mais absurdas que sejam) quando isto lhes convém.

O autor do texto crê (é um ponto de sua fé) que Nimrode é o pai de todas as abominações, e, de uma certa forma, é a divindade mais adorada da história, enganando os pobres cristãos desprotegidos por Deus. Então, caso o mesmo se preocupasse minimamente com a coerência, ele deveria apontar textos bíblicos descrevendo todos estes fatos. 

Pifiamente, não aponta nada.

7° Hélio de M. silva afirma que: "o par mãe influente + filho poderoso e obediente à mãe" tem origem com Semírames e Nimrode na Babilônia e desta forma insinua que os católicos adorariam a tais deuses, explicando então o porquê desta relevância exagerada à Maria. Jesus e Maria seriam apenas uma nova aparência para Nimrode e Semírames, deste modo mesmo sendo sinceros todo os católicos invariavelmente, se não se arrependerem, perderão suas almas por idolatria. Por isso não respondemos com "amem" às bênçãos desejadas a nós por católicos. Pode refutar esta nossa verdade? 

Minha cara Simone, a coerência é virtude desejável em todos os que se põem a atacar ou defender uma tese. O autor deste texto passa longe da coerência, razão pela qual os seus escritos nada mais são do que uma peça bufa e infundada.

Havia, sim, antes de Cristo, religiões pagãs em que podemos ver o par "deusa e seu filho poderoso". A mais famosa destas lendas é a da deusa egípcia Ísis e de seu filho Hórus. Cultos semelhantes existiam por toda a bacia do Mediterrâneo.

Ocorre que há muitos outros elementos pretensamente pagãos e que, no entanto, são curiosamente próximos ao cristianismo. A idéia de um deus morto e ressuscitado também já estava presente no culto a Ísis: trata-se do deus Osíris, morto por Seth, que dividiu o corpo daquele em 14 pedaços e os espalhou mundo afora. Ísis reuniu todos os pedaços permitindo a ressurreição de Osíris.

Igualmente, no mazdaísmo, Orzmud envia o seu filho Mitra à terra. Mitra nasceu de uma virgem, morreu e ressuscitou.

Ora, se a simples existência de cultos a deusas e a seus filhos é uma prova da influência pagã acerca do catolicismo, então, coerentemente (e, repito, falta coerência ao autor do texto) as cenas bíblicas do nascimento virginal, da Morte e da Ressurreição de Cristo também devem ser encaradas como meras repetições de mitos pagãos dentro da religião cristã.

Você se atreveria a endossar esta tese, Simone?

Como diz o ditado popular, vento que bate lá bate cá.

E não é só. A própria idéia de uma Trindade todo poderosa preexistia no hinduísmo. Também o batismo é uma cerimônia existente na Índia séculos antes de ser repetida na Judéia. O pensamento de um juízo dos mortos fazia parte da religião egípcia.

Aliás, a própria noção de monoteísmo não surgiu, pela primeira vez, entre os judeus, mas entre os egípcios.

As coisas vão ainda mais longe. Festas como a Páscoa, ou as luas novas eram muito comuns em todos os povos de origem semita, antes de serem ordenadas por Deus a Moisés.

Seriam a Trindade, o batismo, o juízo dos mortos, a Páscoa meros reflexos do paganismo na religião cristã?

Esta é a opinião de muitos ateus e de muitos adversários da fé cristã. Seria a opinião do autor do texto se ele fosse coerente. Se fosse. Ocorre que não é!

O fato é que dificilmente exista alguma religião pagã sem qualquer ponto de contato com o cristianismo. Em todas existem as "sementes da verdade", que preparam os seus adeptos para receberem a plenitude da revelação pertencente apenas à Igreja Católica Apostólica Romana. São estas sementes da verdade que explicam as semelhanças que, para o autor do texto, são reflexo do paganismo.

8° O presépio realmente representa de forma disfarçada o nascimento de Nimrode? 

Basta olhar um presépio para que você obtenha, por si mesma, a resposta a esta pergunta. A cena é inteirinha bíblica: o presépio, Maria, São José o Menino-Deus (Lc 2, 7), a estrela-guia (Mt 2, 10), os Reis Magos e as suas ofertas (Mt 2, 11), os pastores de Belém (Lc 2, 8), os Anjos dando glória a Deus (Lc 2, 13-14).

Ou seja: o presépio somente é uma "forma disfarçada de representar o nascimento de Nimrode" se a própria narrativa bíblica acerca do nascimento de Cristo também o for.

Seria paranóia demais para a cabeça de qualquer um...

9° Como a Igreja Romana consegue fazer seus fieis adorar Nimrode sem o uso da consciência?

Como você já pôde perceber, esta história de "Nimrode" é uma tosca e rematada bobagem. Além disto, minha cara Simone, não existe adoração inconsciente. 

Adorar é colocar uma criatura no lugar do Criador. Por definição, é um ato de consciência e de escolha. Não se adoram deuses pagãos inconscientemente. Se um fiel, olhando para uma imagem de Jesus Cristo, adora Cristo representado pela imagem, então, ainda que numa paranóia delirante aquela imagem fosse uma metáfora de Nimrode, ainda assim o cristão estaria adorando a Cristo.

10° O artefato que os padres e bispos erguem para ser adorado nas missas é uma imagem do deus sol? 

Não. O artefato é uma representação de Cristo Jesus, luz que, vindo ao mundo, a todo homem ilumina. Luz que vence as trevas. É, igualmente, símbolo da Ressurreição, ocorrida ao nascer do sol de um domingo (na antiguidade, dia do sol).

Estas, minha cara Simone, são as considerações que tínhamos a fazer. Espero que te ajudem a não beliscar este paranóico engodo acerca das pretensas origens pagãs do Natal. Espero, igualmente, que te ajudem a formar, acerca da Igreja Católica, uma visão mais correlata à realidade histórica desta que é, verdadeiramente, a Igreja de Cristo.

Fique com Deus,


Alexandre.
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sábado, 7 de dezembro de 2013

Francisco de Assis e a reforma da Igreja por meio da santidade


O propósito destas três meditações do Advento é preparar-nos para o Natal na companhia de Francisco de Assis. Dele, nesta primeira meditação, gostaria de destacar a natureza do seu retorno ao Evangelho. O teólogo Yves Congar, em seu estudo sobre "Verdadeira e falsa reforma na Igreja” vê em Francisco o exemplo mais claro de reforma da Igreja pelo caminho da santidade[1]. Gostaríamos de procurar compreender em que consistiu a sua reforma pelo caminho da santidade e o que o seu exemplo implica para cada época da Igreja, inclusive a nossa.

1.     A conversão de Francisco

Para entender um pouco da aventura de Francisco é preciso partir da sua conversão. Desse evento existem, nas fontes, diferentes descrições com notáveis diferenças entre si. Felizmente temos uma fonte absolutamente confiável que nos dispensa de escolher entre as várias versões. Temos o mesmo testemunho de Francisco no seu Testamento, a suaipsissima vox, como se diz das palavras certamente ditas por Cristo no Evangelho. Diz:

«O Senhor concedeu a mim, irmão Francisco, que começasse a fazer penitência assim: quando eu estava nos pecados parecia-me muito amargo ver os leprosos: e o próprio Senhor conduziu-me entre eles e fui misericordioso para com eles. E ao afastar-me deles, o que me parecia amargo foi-me trocado por doçura de alma e corpo. E, depois, demorei só um pouco e saí do mundo” » (FF 110).

É sobre esse texto que justamente se baseiam os historiadores, mas com um limite intransponível para eles. Os historiadores, mesmo os mais bem intencionados e mais respeitosos com as peculiaridades da vida de Francisco, como era, entre os italianos Raoul Manselli, não conseguem entender o porquê último da sua mudança radical. Detêm-se – e com razão, por causa do seu método - na porta, falando de um "segredo de Francisco", destinado a permanecer assim para sempre.

O que se consegue constatar historicamente é a decisão de Francisco de mudar o seu status social. De pertença à classe superior, que contava na cidade por nobreza e riqueza, ele escolheu colocar-se no extremo oposto, compartilhando a vida dos últimos, daqueles que não eram nada, os assim chamados “menores”, atingidos por todos os tipos de pobreza.

Os historiadores justamente insistem no fato de que Francisco não escolheu a pobreza e muito menos o pauperismo; escolheu os pobres! A mudança é motivada mais pelo mandamento; “Ama o teu próximo como a ti mesmo”, que pelo conselho: “Se queres ser perfeito, vai’, vende tudo o que tens e dá aos pobres, depois vem e segue-me”. Era a compaixão pela pobre gente, mais do que a busca da própria perfeição que o movia, a caridade mais do que a pobreza.

Tudo isso é verdade , mas ainda assim não toca o fundo do problema. É o efeito da mudança, não a sua causa. A escolha verdadeira é muito mais radical: não se tratou de escolher entre riqueza e pobreza, nem entre ricos e pobres, entre a pertença a uma classe mais do que a outra, mas de escolher entre si mesmo e Deus, entre salvar a própria vida ou perdê-la pelo Evangelho.

Houve alguns (por exemplo, em tempos mais recentes, Simone Weil ), que chegaram a Cristo por meio do amor aos pobres e houve outros que chegaram aos pobres partindo do amor por Cristo. Francisco pertence a este segundo grupo. A razão profunda da sua conversão não é de natureza social, mas evangélica. Jesus tinha formulado a lei uma vez por todas com uma das frases mais solenes e mais certamente autênticas do Evangelho:

"Se alguém quer vir após mim , negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá , mas quem perder a sua vida por minha causa a encontrará " (Mt 16 , 24-25) .

Francisco, beijando o leproso, negou-se a si mesmo naquilo que era mais “amargo” e repugnante à sua natureza. Fez violência a si mesmo. O detalhe não escapou ao seu primeiro biógrafo que descreve assim o episódio:

"Um dia um leproso parou diante dele: fez violência a si mesmo, aproximou-se dele e o beijou. A partir daquele momento decidiu desprezar-se sempre mais, até que pela misericórdia do Redentor obteve plena vitória”[2].

Francisco não foi voluntariamente aos leprosos, motivado por humana e religiosa compaixão. “O Senhor, escreve, levou-me no meio deles”. É nesse pequeno detalhe que os historiadores não sabem – nem poderiam – dar um juízo, e de fato é a origem de tudo. Jesus tinha preparado o seu coração para que a sua liberdade, no momento certo, respondesse à graça. O sonho de Spoleto tinha servido para isso e a pergunta de se preferia servir o servo ou o patrão, a doença, a prisão em Perugia e aquele mal-estar estranho que não lhe permitia mais encontrar alegria nas diversões e lhe fazia procurar lugares solitários.

Embora sem pensar que se tratasse de Jesus em pessoa sob as aparências de um leproso (como mais tarde tentou-se fazer, pensando no caso análogo da vida de São Martinho de Tours[3]), naquele momento o leproso para Francisco representava em todos os aspectos Jesus. Não tinha ele dito: “O fizestes comigo”? Naquele momento escolheu entre si mesmo e Jesus. A conversão de Francisco é da mesma natureza daquela de Paulo. Para Paulo, em um certo momento, aquilo que antes tinha sido “lucro” mudou e tornou-se "perda", "por amor de Cristo" (Fil 3, 5ss); para Francisco aquilo que tinha sido amargo converteu-se em doçura, também aqui “por Cristo”. Depois deste momento, ambos podem dizer: “Já não sou eu que vivo, mas Cristo vive em mim".

Tudo isso nos obriga a corrigir uma certa imagem de Francisco popularizada pela literatura posterior e aceita por Dante na Divina Comedia. A famosa metáfora das núpcias de Francisco com a Senhora Pobreza que deixou marcas profundas na arte e na poesia franciscanas pode ser enganosa. Não apaixona-se por uma virtude, nem mesmo pela pobreza; apaixona-se por uma pessoa. As núpcias de Francisco foram, como aquelas de outros místicos, um casamento com Cristo.

Aos companheiros que lhe perguntavam se ele pretendia ter uma mulher, vendo-o uma noite estranhamente ausente e brilhante, o jovem Francisco respondeu : "Terei a esposa mais nobre e bela que vocês jamais viram”. Esta resposta é muitas vezes mal interpretada. Do contexto aparece claro que a esposa não é a pobreza, mas o tesouro escondido e a pérola preciosa, ou seja, Cristo. “Esposa, comenta Celano que narra o episódio, é a verdadeira religião que ele abraçou; e o reino dos céus é o tesouro escondido que ele procurou”[4].

Francisco não se casou com a pobreza, nem sequer com os pobres; casou-se com Cristo e foi por amor a ele que se casou, por assim dizer “em segundas núpcias” com a Senhora pobreza. Assim será sempre na santidade cristã. Na base do amor pela pobreza e pelos pobres, ou está o amor por Cristo, ou os pobres serão, de um modo ou de outro, instrumentalizados e a pobreza se tornará facilmente um fato polêmico contra a Igreja, ou uma ostentação de maior perfeição com relação a outros na Igreja, como aconteceu, infelizmente, também em alguns dos seguidores do Poverello. Em ambos os casos, faz-se da pobreza a pior forma de riqueza, aquela da própria justiça.

Onda de violência na Argentina: Igreja diz que causa não é pobreza, mas vandalismo


Por causa da onda de violência que assolou a província argentina de Córdoba, o novo bispo auxiliar local, dom Pedro Javier Torres, nomeado em 16 de novembro, descreveu os atos de violência como “saques e criminalidade, e não atos de um movimento social que reage contra a fome”.

“Tudo isso não aconteceu por causa da pobreza e da procura de comida, mas por causa da delinquência na província”. 

A situação em Córdoba se tornou caótica depois de um pedido de reajuste salarial da polícia. Os policiais entraram em greve e alguns grupos de vândalos e delinquentes aproveitaram para saquear lojas de todo tipo. Parte da população se juntou aos saques.

Não foram saqueados apenas os supermercados e os pontos de venda de alimentos, mas também lojas de eletrodomésticos e de produtos supérfluos. Em muitos casos, os roubos foram cometidos com violência e com a destruição dos locais. Enfrentamentos violentos aconteceram entre os vândalos e as famílias que queriam proteger seus estabelecimentos comerciais. 

O depósito da Cáritas em Córdoba também foi saqueado durante a onda de vandalismo, de acordo com a vice-diretora da entidade, Ana Campoli.


Falando na televisão local, dom Torres denunciou as autoridades argentinas pelo “abandono total da província por parte do governo central, coisa que nos dói muito”. Ele considerou “justo e digno de ser escutado” o pedido da polícia de Córdoba, mas afirmou também que “o fim não justifica os meios. É necessário dar um basta a essa anarquia”. 

A Conferência Episcopal Argentina enviou hoje uma mensagem ao arcebispo e à população de Córdoba expressando “solidariedade e apoio diante dos graves fatos ocorridos na província”.

O texto do Conselho Permanente, enviado à Agência Fides, declara: “Peçamos que nosso Senhor inspire serenidade e calma neste tempo de Advento, e que Maria, Rainha da paz, proteja todos os cordobeses”.


O fato aconteceu no dia 24 de novembro de 2013, na porta central da Catedral de San Juan, na Argentina. O templo foi cercado por jovens católicos, que com o rosário nas mãos, passaram a ser agredidos e insultados por feministas, ativistas pró-aborto e casamento gay. Após inúmeros ataques, o grupo queimou um boneco que representava o Papa Francisco.

Imagens extremamente duras e desagradáveis:


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Texto disponível em: ZENIT

Mandela e o aborto!


Que ainda em vida Nelson Mandela tenha se tornado uma referência ética, não me surpreende... Não por quem ele fosse, mas por quem dá tais títulos nos dias atuais. Aos "santos" dos dias atuais - gente como Al Gore, Bill Gates, Steven Jobs e outros mais - basta-lhes apenas agradar ao mundo. Mandela sai deste mundo e mesmo antes de sair já constava nos livros de história como um destes "santos".

Sinto discordar da onda de unanimidade que provavelmente varrerá nossa imprensa e principalmente a mídia social, alvo fácil de todo pensamento politicamente correto produzido atualmente.

Mandela e seu partido, African National Congress (ANC), por décadas têm uma relação muito próxima ao Partido Comunista da África do Sul, que, como é corriqueiro entre os esquerdistas, encara o aborto como direito da mulher, sem, claro, fazer qualquer referência à humanidade do nascituro. Eis um trecho do posicionamento deste partido em relação ao assunto:

"The South African Communist Party believes that every woman has the right to control over her own body and thus the right to make independent reproductive decisions. In addition, every woman therefore should have the right to choose whether or not she wishes to terminate a pregnancy." 

"[O Partido Comunista da África do Sul acredita que toda mulher tem direito ao controle sobre seu próprio corpo e também direito a tomar decisões independentes sobre sua vida reprodutiva. Somado a isto, toda mulher deveria ter o direito a escolher se ou não deseja terminar uma gravidez.]"


Já Mandela, que sempre direcionou politicamente o ANC, deu a seguinte declaração sobre o aborto

"As mulheres têm o direito de decidir o que querem fazer com seus corpos."

Tanto a declaração do Partido Comunista Sul-Africano como as palavras de Nelson Mandela reverberam o discurso do abortismo internacional, que se lixa para os "corpos" dos nascituros, seres humanos como qualquer um de nós. 

Mas Mandela não ficou apenas nas palavras... Após ganhar a histórica eleição na qual foi eleito presidente em 1994, Mandela e seu então ministro da Saúde, Nkosazana Dlamini-Zuma, apresentaram ao parlamento de seu país um projeto de legislação, posteriormente aprovado, que tornou a legislação sul-africana relacionada ao aborto uma das mais liberais do mundo. Adicionado a isto, Mandela, seu partido e coligados tiveram um preponderante papel na confecção da nova constituição sul-africana, por ele assinada em 1996, que deu relevante papel aos"direitos reprodutivos", um conhecido eufemismo para abortos, esterilizações, etc.

Para se ter uma idéia da liberalidade da legislação introduzida por Mandela, até 12 semanas de gestação nem mesmo é necessário um médico para fazer o procedimento, sequer uma enfermeira, bastando para tanto uma simples parteira. Mais um detalhe: o acesso ao aborto é garantido para mulheres de qualquer idade, mesmo menores. Resultado disto? O número de abortos na África do Sul teve um aumento gigantesco enquanto que, bem ao contrário do que previam os abortistas, também o número de mortes maternas teveaumento.

Esta é a obra de Nelson Mandela em relação aos seres humanos mais fragilizados que estão entre nós, os não-nascidos. Suas ações tiveram, tem e terão um efeito desastroso para seu país e para a humanidade em geral. Se muitas mulheres se vêem pressionadas e em momento de desespero e falta de perspectiva recorrem ao aborto, é exatamente esta mulher que deveria ser amparada pela sociedade. E são políticos como Nelson Mandela, que têm os instrumentos para minimizar este drama e escolhem não agir assim, preferindo muito mais o caminho fácil dos tais "direitos reprodutivos" enquanto lavam as mãos pelo sangue derramado dos inocentes, qual um Pilatos do mundo pós-moderno.

Que Nelson Mandela encontre a misericórdia e a proteção do Senhor Deus, a mesma proteção que ele negou aos não-nascidos através de sua atuação política.
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Papa: "Para anunciar Cristo, internet não basta. Anúncio requer relações humanas diretas"


O Papa Francisco recebeu esta manhã, no Vaticano, os participantes da Plenária do Pontifício Conselho para os Leigos, que se reuniram por três dias para debater o tema “Anunciar Cristo na era digital”.

Em seu discurso, o Pontífice usou uma expressão utilizada por João Paulo II, de que “chegou a hora do laicato”, e recordou alguns eventos organizados pelo Dicastério nos últimos meses cujos protagonistas foram os leigos. Entre eles, citou o seminário sobre os 25 anos da Encíclica Mulieris dignitatem, lembrando que a mulher se encontra na linha de frente na batalha pela proteção do humano na crise cultural do nosso tempo, e a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, que definiu como “uma verdadeira festa da fé”.

O tema debatido na Plenária, a era digital, disse o Papa, é um campo privilegiado para a ação dos jovens, para os quais a rede é, por assim dizer, conatural. A Internet é uma realidade difundida, complexa e em contínua evolução, e o seu desenvolvimento repropõe a questão sempre atual da relação entre a fé e a cultura”. 

Entre as oportunidades que a rede oferece, afirmou o Pontífice, devemos fazer como pede São Paulo: “Discerni tudo e ficai com o que é bom”, cientes de que, certamente, “encontraremos moedas falsas, ilusões perigosas e ciladas e evitar. Mas, guiados pelo Espírito Santo, descobriremos também preciosas oportunidades para conduzir os homens à face luminosa do Senhor”.

Para Francisco, entre as possibilidades oferecidas pela comunicação digital, a mais importante diz respeito ao anúncio do Evangelho. Não se trata somente de adquirir competências tecnológicas, mas antes de tudo encontrar mulheres e homens reais, muitas vezes feridos ou perdidos, para oferecer a eles verdadeiras razões de esperança.


“A internet não basta, a tecnologia não é suficiente”, afirmou, recordando que o anúncio requer relações humanas autênticas e diretas. 

Todavia, a presença da Igreja na rede não é inútil, pelo contrário, é indispensável estar presente, sempre com estilo evangélico, para indicar o caminho que leva Àquele que é a resposta. E concluiu:


“A Igreja está sempre em caminho, em busca de novas vias para o anúncio do Evangelho. A contribuição e o testemunho dos leigos se demonstram sempre mais indispensáveis.”
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Tudo o que um papa diz é infalível?

O que um católico deve saber quando lê uma notícia sobre o Papa na mídia

Nesta era da comunicação global, a Igreja, tranquila mestra de comunicação durante dois milênios, adverte que a figura do Papa nunca havia sido tão observada quanto agora.
 
Se os últimos papas, conscientes da importância das comunicações, entraram na aldeia global sem intermediários, como faz o Papa Francisco, ao deixar-se entrevistar por vários veículos de comunicação, e o jornalista interpreta e elabora a seu critério o material obtido, a desorientação pode ser grande. Isso foi o que aconteceu no caso da entrevista concedida a Eugenio Scalfari e ao jornal italiano de esquerda “La Repubblica”.
 
Diante desta situação, por outro lado inevitável, se a Igreja quer estar nos meios de comunicação, os cristãos precisam formar mais ainda seu senso crítico, para discernir sobre a informação que recebem, inclusive sobre o Papa. Não podemos nos esquecer de que existe uma obrigação moral, mais ainda no caso dos cristãos, de informar-se bem, na medida do possível, antes de formar sua opinião.
 
Sobre este tema, a Aleteia conversou com o Pe. Ramiro Pellitero, conhecido professor de teologia na Universidade de Navarra (Espanha), especialista em eclesiologia e teologia pastoral, e membro da CatholicTheologicalSocietyofAmerica.
 

Tudo o que um papa diz é infalível?

 
É claro que não. Primeiramente, infalível, em termos absolutos, só Deus é. A Igreja participa da infalibilidade divina em algumas condições, que são, segundo a tradição da própria Igreja: as declarações de um concílio ecumênico presidido pelo Papa; a definição “ex cathedra” de um papa, quando proclama um novo dogma; os ensinamentos dos bispos em comunhão com o Papa; o que pertence à fé do povo de Deus (chamado de “senso fidei”), em comunhão com os seus pastores.
 
Passamos de uma tradição milenar de comunicação eclesial pausada e medida a uma superexposição midiática dos papas, o que os torna cada vez mais próximos, mais “humanos” e menos “sacralizados” que em épocas passadas. No entanto, isso não significa que o Papa seja menos infalível em seus pronunciamentos. Como podemos entender esta nova situação?
 
Fora das condições de infalibilidade anteriormente comentadas, o Papa continua sendo o Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, e todos os seus ensinamentos devem ser escutados pelos católicos com muito respeito e consideração.
 
As afirmações papais contidas em documentos como encíclicas, exortações etc., terão mais ou menos valor doutrinal segundo sua relação com as verdades da fé cristã.
 
Um valor ainda mais diferente têm suas afirmações em livros ou entrevistas, segundo sua relação com doutrinas já proclamadas pela Igreja como tais. Mas, nestes casos, como já aconteceu com João Paulo II e Bento XVI, o Papa se submete à crítica (sobretudo a uma crítica saudável e construtiva) dos especialistas nas diversas matérias, e inclusive a qualquer pessoa.
 
Talvez um dos problemas seja a compreensão do que é a opinião pública dentro da Igreja, especialmente entre os próprios cristãos. Pode ou deve haver uma opinião pública? Quais seriam seus limites?
 
Especialmente desde a época do Concílio Vaticano II, vem se falando da necessidade de uma “opinião pública” dentro da Igreja. Se entendermos bem este conceito, trata-se de algo saudável e conveniente, mas que tem seus limites.
 
E os limites estão na revelação cristã. Se algo pertence claramente à revelação e foi declarado como tal pela Igreja, cabe continuar aprofundando e desenvolvendo seus conteúdos, mas sempre na mesma linha.
 
Na nova exortação apostólica, o Papa fala de renovar as estruturas, de conversão pastoral, inclusive do próprio papado, e de não ter medo de revisar os costumes que foram úteis em outras épocas, mas que hoje podem já não ser mais adequados para a evangelização. Devemos entender que isso inclui a comunicação?
 
Uma exortação apostólica como a “Evangeliigaudium”, especialmente se chega depois de um sínodo universal, tem um grande valor, igual ou maior que uma encíclica, no conjunto dos ensinamentos de um papa – sem querer, com isso, dizer que tem o mesmo valor que os dogmas já declarados pela Igreja.
 
Além disso, esta exortação tem um grande sentido programático. As expressões mencionadas por você são propostas que o Papa apresenta com toda a sua força de pastor e mestre, ainda que, insisto, tenham valores diferentes inclusive dentro do próprio documento, segundo se refiram a temas que pertencem aos núcleos da fé ou da vida cristã.
 
Com relação ao caso concreto da comunicação, pelo que o Papa faz, primeiro, e depois pelo que ele diz, podemos entender que também propõe certa mudança de estilo.

 
Em suma, trata-se de um falar combinado com uma escuta (e o Papa escuta muito), para dar testemunho da tradição cristã, e esta tradição tem muitos caminhos. Dessa maneira, também aprendemos o valor do testemunho, da vida e da palavra que precisamos dar da nossa fé, como cristãos, tudo isso unido a uma preocupação efetiva pelos outros, sobretudo pelos mais pobres e necessitados.
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Disponível em: Aleteia

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

CONIC emite nota pelos 16 Dias de Ativismo


O QUE DEUS EXIGE DE NÓS? (Mq 6.6-8)


Desde o dia 25 de novembro se realizam os 16 Dias de Ativismo pelo fim da violência contra a mulher. Organizações de mulheres, de direitos humanos, universidades e comunidades religiosas promovem debates, reflexões e outros tipos de ações com o objetivo de chamar atenção para os diferentes tipos de violência contra mulheres.

Como Igrejas não podemos nos calar! Segundo um estudo realizado entre 2001 e 2010, foram assassinadas 40 mil mulheres em nosso país. No ano de 2010, a média de assassinatos foi de 4,5 para cada 100 mil mulheres. Para o ano de 2013, a projeção é que 4.717 mulheres serão assassinadas. Mais do que números, estes índices revelam uma violência fundamentada em uma cultura que há muito naturalizou a violência contra a mulher.

Enquanto Igrejas, cabe-nos refletir sobre nossa tarefa diante desta realidade. A pergunta do profeta Miqueias “O que Deus exige de nós?” nos provoca a identificarmos as ações concretas com vistas a contribuirmos para a transformação das relações humanas violentas.


No contexto dos 16 Dias de Ativismo pelo fim da violência contra a mulher, vale igualmente chamar a atenção para outra violência de gênero, que são as agressões sofridas pela população LGBT. Dados revelam que apenas no ano de 2012 foram cometidos 338 assassinatos por motivação homofóbica ou transfóbica.

A violência contra mulheres e LGBTs  é uma realidade que expõe uma face nada simpática de nosso país, conhecido como a terra da tolerância. É necessário falar abertamente sobre nossas limitações em conviver com o diferente.

A Lei Maria da Penha é uma forma concreta de minimizar os impactos da violência contra a mulher. Agora, urge uma Lei que contribua para minimizar as consequências do preconceito homofóbico e transfóbico. A aprovação do PLC 122/06 pode significar um passo concreto nesta direção.

A violência é contrária ao Evangelho, portanto, todo o discurso, inclusive religioso, que legitima ou justifica estas formas de violência está em contradição com a Boa Nova. O que Deus exige de nós, cristãos e cristãs diante destes dados de violência? É a pergunta sobre a qual queremos refletir nestes 16 Dias de Ativismo.