sábado, 4 de abril de 2015

O Sábado Santo


Hoje é um dia de silêncio na Igreja: Cristo jaz no sepulcro e a Igreja medita, admirada, o que fez este Senhor nosso por nós. Guarda silêncio para aprender do Mestre, ao contemplar o seu corpo destroçado.

Cada um de nós pode e deve unir-se ao silêncio da Igreja. E ao considerar que somos responsáveis por essa morte, esforçar-nos-emos para que as nossas paixões, as nossas rebeldias, tudo o que nos afaste de Deus, guardem silêncio. Mas sem estarmos meramente passivos: é uma graça que Deus nos concede quando a pedimos diante do Corpo morto do seu Filho, quando nos empenhamos por tirar da nossa vida tudo o que nos afasta d’Ele.

O Sábado Santo não é um dia triste. O Senhor venceu o demônio e o pecado, e dentro de poucas horas vencerá também a morte com a sua gloriosa Ressurreição. Reconciliou-nos com o Pai celestial: já somos Filhos de Deus! É necessário fazer propósitos de agradecimento, que tenhamos a segurança de superar todos os obstáculos, sejam de que tipo for, se nos mantivermos bem unidos a Jesus pela oração e pelos sacramentos.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo: ECCE HOMO: "Eis aqui o homem".

"Eis aqui o homem"

1. Pilatos, vendo o Redentor reduzido a um estado tão digno de toda a compaixão, pensou que a sua só vista comoveria os judeus e por isso, conduziu-o a uma varanda, levantou o farrapo de púrpura e, mostrando ao povo o corpo de Jesus coberto de chagas e dilacerado, disse-lhe: “Eis aqui o homem” (Jo 19,4).

Ecce homo, como se quisesse dizer: Eis o homem que acusastes perante mim como se
O homem das dores
pretendesse fazer-se rei; eu, para Vos agradar, condenei-o aos flagelos, ainda que inocente. “Eis o homem, não ilustre pelo império, mas repleto de opróbrio”
(St. Ag. Trac. 11 in Jo 6). Ei-lo reduzido a tal estado que parece um homem esfolado ao qual restam poucos instantes de vida. Se, apesar de tudo, pretendeis que eu o condene à morte, afirmo-Vos que não posso fazê-lo, porque não encontro motivo para o condenar. Mas os judeus, à vista de Jesus assim maltratado, mais se enfurecem: “Ao verem-no, os pontífices e ministros clamavam, dizendo: ‘Crucifica-o, crucifica-o’. Vendo Pilatos que não se acalmavam, lavou as mãos à vista do povo, dizendo: ‘Sou inocente do sangue deste justo: Vós lá Vos avinde’. E eles responderam: ‘Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27,23-26).
 
Ó meu amado Salvador, Vós sois o maior de todos os reis, mas agora eu Vos vejo como o homem mais desprezado, dentre todos: se esse povo ingrato não Vos conhece, eu Vos conheço e Vos adoro por meu verdadeiro rei e Senhor. Agradeço-Vos, ó meu Redentor, por tantos ultrajes por mim recebidos e suplico-Vos me deis amor aos desprezos e aos sofrimentos, já que Vós os abraçastes com tanto afeto.

Envergonho-me de haver no passado amado tanto as honras e os prazeres, chegando por sua causa a renunciar tantas vezes à Vossa graça e ao Vosso amor; arrependo-me disso mais que de todas as coisas. Abraço, Senhor, todas as dores e ignomínias que vossas mãos me enviarem; dai-me aquela resignação de que necessito. Amo-Vos, meu Jesus, meu amor, meu tudo.

Paixão do Senhor: Quantos prisioneiros na mesma condição de Jesus!


CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DO SENHOR
ECCE HOMO!

Basílica de São Pedro
Sexta-feira, 03 de abril de 2015

Acabamos de ouvir o relato do julgamento de Jesus perante Pilatos. Há nele um momento que nos pede uma atenção especial.

“Pilatos mandou então flagelar Jesus. Os soldados teceram de espinhos uma coroa, puseram-na sobre a sua cabeça e o cobriram com um manto de púrpura. Aproximavam-se dele e diziam: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas. Pilatos saiu outra vez e disse-lhes: Eis que vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele nenhum motivo de acusação. Apareceu então Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse: Ecce homo! Eis o homem!” (Jo 19,1-5).

Entre as muitas pinturas que retratam o Ecce Homo, há uma que sempre me impressionou. É de Jan Mostaert, pintor flamengo do século XVI, e está na National Gallery de Londres. Tentarei descrevê-la. Ela nos ajudará a imprimir melhor na mente o episódio, já que o pintor transcreve fielmente, em cores, os dados do relato evangélico, especialmente do relato de Marcos (Mc 15,16-20).

Jesus tem na cabeça uma coroa de espinhos. Um feixe de arbustos espinhosos que estava no pátio, talvez para fazer fogo, deu aos soldados a ideia dessa cruel zombaria da sua realeza. Da cabeça de Jesus descem gotas de sangue. Sua boca está semiaberta, como que lutando para respirar. Sobre os ombros, sulcados pelos golpes recentes da flagelação, um manto pesado e desgastado, mais próximo da lata que da estopa. Ele tem os pulsos amarrados por uma corda grosseira; em uma das mãos, eles colocaram um pedaço de pau a fazer as vezes de cetro e, na outra, um feixe de varetas, símbolos que ridicularizavam a sua majestade. Jesus não pode mover sequer um dedo; é o homem reduzido à total impotência, o protótipo de todos os algemados da história. 

Por que não tem Missa na Sexta-feira Santa?


Para a Igreja Católica, a Sexta-feira Santa é um dia muito especial, marcado pelo silêncio. Este dia pertence ao Tríduo Pascal, em que a Igreja celebra e contempla a paixão e morte de Cristo, sendo este o único dia em que não se celebra a Eucaristia.

Durante a Sexta-feira Santa, contempla-se de modo especial Jesus Cristo crucificado. As regras litúrgicas orientam que neste dia e no seguinte (Sábado Santo) se venere o crucifixo com o gesto da genuflexão, ou seja, de joelhos.

Jesus, após sua prisão, foi interrogado, humilhado e torturado durante toda a noite. Até as três horas, os católicos acompanham este sofrimento como se estivesse acontecendo “agora”. Por isso, a Sexta-feira Santa é dia de jejum, abstinência e uma oportunidade de rever ações e objetivos de vida.

Em todas as Igrejas, fieis se reúnem junto aos sacerdotes para realizar a solene Ação Litúrgica da Paixão de Cristo, que deve ser celebrada depois do meio-dia e antes das 21h00.

Com algumas semelhanças na estrutura da Missa, mas sem a Oração Eucarística, a celebração da morte do Senhor consiste na leitura da Sagrada Escritura e as dez orações especiais para o bem do mundo; adoração da Santa Cruz; e Comunhão Eucarística. Presidida por um presbítero ou bispo, com os paramentos que usa para a missa, de cor vermelha, a celebração é o memorial da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Meditações da Via Sacra presidida hoje pelo Papa Francisco.


MEDITAÇÕES DA VIA SACRA
COM O PAPA FRANCISCO

Coliseu Romano
Sexta-feira Santa, 03 de Abril de 2015

“A cruz, ápice luminoso do amor de Deus que nos guarda.
Chamados, também nós, a sermos guardiões por amor”



INTRODUÇÃO

Estávamos no dia 19 de Março de 2013. O Papa Francisco tinha sido eleito poucos dias antes. Fez a homilia sobre São José, dizendo que fora o «guardião» de Maria e de Jesus e que o seu estilo era feito de discrição, humildade, silêncio, presença constante e fidelidade total.


Na Via-Sacra que estamos prestes a começar, haverá uma referência constante ao dom de sermos guardados pelo amor de Deus, nomeadamente por Jesus crucificado, e ao dever de, por nossa vez, sermos por amor guardiões da criação inteira, de todas as pessoas, especialmente da mais pobre, de nós mesmos e das nossas famílias, para fazer brilhar a estrela da esperança.


Queremos viver esta Via-Sacra numa profunda intimidade com Jesus. Vendo com atenção aquilo que está escrito nos Evangelhos, individuar-se-ão discretamente alguns sentimentos e pensamentos que poderiam ocupar a mente e o coração de Jesus naquelas horas de provação.


Ao mesmo tempo, deixar-nos-emos interpelar por algumas situações de vida que caracterizam – positiva ou negativamente – os nossos dias. Expressaremos assim uma ressonância, que traduz o nosso desejo de realizar algum passo de imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo na sua paixão.
Oração

Ó Pai, que quisestes salvar os homens com a morte do vosso Filho na Cruz, concedei-nos que, tendo conhecido na terra o seu mistério de amor, sejamos suas testemunhas, por palavras e obras, junto de todos aqueles que nos fazeis encontrar na vida diária. Por Cristo Senhor Nosso. Amen.



I ESTAÇÃO

Jesus é condenado à morte

Intimidade, traição, condenação

V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.

Do Evangelho segundo São Lucas


«Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós (…). Este cálice é a nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós».

Do Evangelho segundo São Marcos


«Tomando novamente a palavra, Pilatos disse-lhes: “Então que quereis que faça daquele a quem chamais rei dos judeus?” Eles gritaram novamente: “Crucifica-o!” (…) Pilatos, desejando agradar à multidão, soltou-lhes Barrabás; e, depois de mandar flagelar Jesus, entregou-o para ser crucificado»


SENTIMENTOS E PENSAMENTOS DE JESUS

Acabei de celebrar a Páscoa com os meus discípulos. Tinha-o desejado ardentemente: a última Páscoa, antes da paixão, antes de voltar para Ti! Inesperadamente, porém, senti-me turbado. A um discípulo meu, o diabo meteu-lhe no coração a ideia de me trair. No jardim do Getsémani, veio ter comigo. Com um gesto que significa amor, saudou-me dizendo: «Salve, Mestre!». E deu-me um beijo. Que amargura, naquele momento! Durante a ceia, implorei-Te, Pai, que guardasses os meus discípulos no teu nome, para serem um só, como Nós o somos.

A NOSSA RESSONÂNCIA

Nós somos, ó Jesus, ainda mais frágeis na fé do que os primeiros discípulos. Corremos o risco de Vos trair, quando o vosso amor deveria levar-nos a crescer no amor por Vós. Precisamos de oração, vigilância, sinceridade e verdade. Assim a fé crescerá. E será robusta e jubilosa.

OREMOS

Guardados pela Eucaristia

«O vosso corpo e o vosso sangue, Senhor Jesus, nos guardem para a vida eterna».[8] Que este milagre se realize para os sacerdotes que presidem à Eucaristia e para todos nós, fiéis, que nos aproximamos do altar para receber-Vos a Vós, pão vivo descido do céu.

Todos:


Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.
Stabat Mater dolorosa
iuxta crucem lacrimosa,
dum pendebat Filius.

A Sexta-feira Santa


Hoje queremos acompanhar Cristo na Cruz. Recordo umas palavras de São Josemaria, numa Sexta-Feira Santa. Convidava-nos a reviver pessoalmente as horas da Paixão: desde a agonia de Jesus no Horto das Oliveiras até à flagelação, a coroação de espinhos e a morte na Cruz. Dizia: atada a omnipotência de Deus por mão de homem levam o meu Jesus de um lado para outro, entre os insultos e os empurrões da multidão.

Cada um de nós pode se ver no meio daquela multidão, porque foram os nossos pecados a causa da imensa dor que se abate sobre a alma e o corpo do Senhor. Sim: cada um de nós leva Cristo, convertido em objeto de troça, de uma a outra parte. Somos nós que, com os nossos pecados, reclamamos aos gritos a sua morte. E Ele, perfeito Deus e perfeito Homem, deixa-nos agir. Tinha-o predito o profeta Isaías: maltratado, não abriu a sua boca; como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda ante os tosquiadores.

É justo que sintamos a responsabilidade dos nossos pecados. É lógico que estejamos muito agradecidos a Jesus. É natural que procuremos a reparação, porque às nossas manifestações de desamor, Ele responde sempre com um amor total. Neste tempo da Semana Santa, vemos o Senhor mais próximo, mais semelhante aos seus irmãos os homens... Meditemos umas palavras de João Paulo II: Quem crê em Jesus crucificado e ressuscitado leva a Cruz como um triunfo, como prova evidente de que Deus é amor... Mas a fé em Cristo nunca se pode dar por pressuposta. O mistério pascal, que reviveremos nos dias da Semana Santa, é sempre atual. (Homilia, 24-III-2002).

Peçamos a Jesus, nesta Semana Santa, que desperte na nossa alma a consciência de ser homens e mulheres verdadeiramente cristãos, para que vivamos de cara a Deus e, com Deus, voltados a todas as pessoas. 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Ataque a cristãos em universidade no Quênia deixa ao menos 147 mortos


Ao menos 147 cristãos foram mortos e cerca de 80 ficaram feridas nesta quinta-feira (02/04), quando combatentes do grupo radical islâmico Al Shabaab invadiram um campus universitário na cidade de Garissa, no nordeste do Quênia, mantendo cristãos como reféns e trocando tiros com forças de segurança por várias horas.

Segundo a Cruz Vermelha queniana, os atacantes ocuparam e controlam os edifícios da residência universitária, onde residem várias centenas de estudantes.

“Há muitos cadáveres de cristãos no interior da universidade” afirmou, à agência Reuters, um porta-voz do grupo terrorista que diz que “os muçulmanos foram libertados”.

Ainda segundo a Cruz Vermelha, pelo menos 50 estudantes foram libertados.

Collins Wetangula, vice-presidente do diretório estudantil da universidade, relatou que os atiradores invadiram os dormitórios perguntando se os presentes eram cristãos ou muçulmanos. "Quem fosse cristão era baleado ali mesmo", disse. "A cada tiro que ouvia, pensava que iria morrer."


O ataque aconteceu ao amanhecer, quando muitos estudantes ainda estavam nos dormitórios. Esse é o pior ataque no país desde o atentado contra a embaixada dos Estados Unidos, em 1998, quando 213 pessoas morreram.

Permanecei aqui e vigiai comigo!


Há palavras que nascem eternas. Há gritos de dor que, embora tenham ecoado séculos e séculos atrás, continuam inquietando as atuais gerações. Em todos os tempos, muitos homens e mulheres perceberam que seus sofrimentos, sua experiência de abandono e de solidão foram vividos antes por Jesus de Nazaré. Na Semana Santa que está começando seremos confrontados com a observação que o Mestre fez aos amigos, quando eles o abandonaram: “A minha alma está triste até a morte. Permanecei aqui e vigiai comigo...” (Mt 26,38). Depois, fez um pedido a esses mesmos amigos: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação”.

Seus apelos não tiveram eco. Por isso, sozinho, dirigiu-se àquele que podia livrá-lo daquele momento: “Meu pai, se é possível, que passe de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26,39).

Na dor de Jesus Cristo estava a dor da humanidade. Na entrega que fez de si mesmo ao Pai e na aceitação do cálice que não escolhera, Cristo tinha presente os sofrimentos inesperados da jovem que ficou paralítica, após um acidente de carro, e a dor daquele casal que não conseguia dar aos filhos o pão, a saúde e a escola de que necessitavam. Tinha presente a jovem esposa que perdeu o marido inesperadamente e a criança que viu, impotente, seus pais se separarem. Tinha presente também a angústia e a dor sem limites dos familiares das 150 vítimas do acidente aéreo nos Alpes franceses. É imenso o cálice, é enorme a dor da humanidade, mas infinitamente maiores são o amor e misericórdia do Filho de Deus, ao ver o sofrimento de tantos homens e mulheres, de inúmeros jovens e crianças.